Os sobrinhos queriam um animalzinho. Pesamos pós e contras. Eu não o queria, pois meu animalzinho de estimação sempre foi ostra fresca, pimenta do reino branca, limão e champanhe ou sidra. Tive a ideia de ler-lhes um poema de Manoel Bandeira. Eles toparam na hora: porquinhos-da-índia. Ela Capitu, ele Casmurro. Ouvimos dizer que se socializam melhor, quando lhes falamos. Inventamos uma língua. Acho ridículo usar o vernáculo. Assim Pedro dizia: Capitu! Du bist ço xoene xivaine mere, poverina, pur troppo. Capitu soltava um “esquinche”. Comia capim e fazia bolinhas iguais a pinóis, verdes. Tudo se desenvolveu: nossa língua, nossa amizade e nossas preocupações com a ninhada de filhotes. Mas Josefine, a siamesa da vizinha, levou-nos o vermelho e preto, depois a malhadinha, o todo branco, por fim Capitu, o último a ser levado, Casmurro, que deixou marcas de sangue no quintal de sua luta com a gata. Josefine ainda costuma assustar-me, caminhando sobre o telhado de casa. Às vezes me irrita com seus namoros demorados e barulhentos. Mas é só uma gata. e seu dono! Seu dono: só mais um idiota.
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