15 de abr. de 2013

Letras e Letrados do Séc 18. Breve estudo.


Até o século 18 o indivíduo não havia sido inventado em parte alguma do planeta. De outro modo, o indivíduo estava para ser inventado. O valor dado à obra, segundo a autoria, é posterior ao séc 18, o pintor Caravaggio era um artesão, um sujeito que manejava convenções, pintava o religioso, a natureza morta, movimentos etc. Realizações subjetivas não existiam. Por isso havia tanta ''autoria'' anônima. Por exemplo, Gregório de Matos:

           Triste Bahia.

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundade.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Atribui-se a Gregório de Matos este poema. Somos instados a lê-lo e o temos lido como critica a uma situação colonial, mas não é uma critica aos fundamentos, ele se vale da convenção, dos limites preestabelecidos por uma convenção, que é a produção de sátira. É uma sátira que prevê a critica, nada de revolucionaria; critica esperada aos costumes, modos de vida e situações. O poeta que fazia sátira tinha que criticar. Como um crucifixo nos dias de hoje, não quer dizer que seu portador seja um cristão. A cultura letrada era então o manipular de convenções.
O séc 18 conhece Basílio da gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto, Tomas Antônio Gonzaga, todos portugueses, manipulando convenções típicas de sua época. Não extrapolam os limites, reproduzindo a sociedade. Na inconfidência não se produziram inconfidências.
Não há ninguém à frente de seu tempo. Os gênios conseguem se expressar sintetizando coisas que o mundo oferece, o artista é talvez mais do seu tempo que todos os outros.
A logica constitutiva do império português é a diversidade em alguns eixos, populações diferentes, territórios diferentes, realidades diferentes integrando um governo à distância. O império é todo diversidade mas é português e é católico. Estruturas do império português são a monarquia e a igreja católica. Um rei e uma religião.
Por que a cultura letrada deveria seguir uma lógica discrepante? Há elementos específicos num império cheio de especificidades, são criticas esperadas, como em Cartas Chilenas. Não se critica o alto escalão, mas seus representantes, e o representante ao final é aquele que não honrou o Rei. Se o governador é ruim, mata-se o mal governo, para preservar e fortalecer a autoridade máxima. João Adolfo Hansen. Suposta brasilidade. Antônio Cândido. A formação da literatura brasileira. Sérgio Buarque as voltas com antecipação de um Brasil, via letras, parte de um mundo mais amplo. Antônio Cândido propõe que a brasilidade deve ser trocada pela formação da brasilidade, pois está em formação a literatura brasileira em formação.
Formação do Brasil contemporâneo, se forma no passado, a colonização dá feições, constituição a largo prazo.
A poesia do séc 18 é portuguesa eivada de especificidades da colônia. Vocabulário, dicção etc, onde a sociedade estamental, colonial e escravista, não elimina a matriz europeia, prolongamento de manifestação do império sem ser o império.

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