Até o século 18 o
indivíduo não havia sido inventado em parte alguma do planeta. De
outro modo, o indivíduo estava para ser inventado. O valor dado à
obra, segundo a autoria, é posterior ao séc 18, o pintor
Caravaggio era um artesão, um sujeito que manejava convenções,
pintava o religioso, a natureza morta, movimentos etc. Realizações
subjetivas não existiam. Por isso havia tanta ''autoria'' anônima.
Por exemplo, Gregório de Matos:
Triste
Bahia.
Triste Bahia! Ó quão
dessemelhante
Estás e estou do nosso
antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu
a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a
mi abundade.
A ti trocou-te a
máquina mercante,
Que em tua larga barra
tem entrado,
A mim foi-me trocando,
e tem trocado,
Tanto negócio e tanto
negociante.
Deste em dar tanto
açúcar excelente
Pelas drogas inúteis
que abelhuda
Simples aceitas do
sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que
de repente
um dia amanheceras tão
sisuda
Que fora de algodão o
teu capote!
Atribui-se a Gregório
de Matos este poema. Somos instados a lê-lo e o temos lido como
critica a uma situação colonial, mas não é uma critica aos
fundamentos, ele se vale da convenção, dos limites preestabelecidos
por uma convenção, que é a produção de sátira. É uma sátira
que prevê a critica, nada de revolucionaria; critica esperada aos
costumes, modos de vida e situações. O poeta que fazia sátira
tinha que criticar. Como um crucifixo nos dias de hoje, não quer
dizer que seu portador seja um cristão. A cultura letrada era então
o manipular de convenções.
O séc 18 conhece
Basílio da gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga, Cláudio Manoel
da Costa, Alvarenga Peixoto, Tomas Antônio Gonzaga, todos
portugueses, manipulando convenções típicas de sua época. Não
extrapolam os limites, reproduzindo a sociedade. Na inconfidência
não se produziram inconfidências.
Não há ninguém à
frente de seu tempo. Os gênios conseguem se expressar sintetizando
coisas que o mundo oferece, o artista é talvez mais do seu tempo
que todos os outros.
A logica constitutiva
do império português é a diversidade em alguns eixos, populações
diferentes, territórios diferentes, realidades diferentes integrando
um governo à distância. O império é todo diversidade mas é
português e é católico. Estruturas do império português são a
monarquia e a igreja católica. Um rei e uma religião.
Por que a cultura
letrada deveria seguir uma lógica discrepante?
Há elementos específicos num império cheio de especificidades,
são criticas esperadas, como em Cartas Chilenas. Não se critica o
alto escalão, mas seus representantes, e o representante ao final é
aquele que não honrou o Rei. Se o governador é ruim, mata-se o
mal governo, para preservar e fortalecer a autoridade máxima. João
Adolfo Hansen. Suposta brasilidade. Antônio Cândido. A formação
da literatura brasileira. Sérgio Buarque as voltas com antecipação
de um Brasil, via letras, parte de um mundo mais amplo. Antônio
Cândido propõe que a brasilidade deve ser trocada pela formação
da brasilidade, pois está em formação a literatura brasileira em
formação.
Formação do Brasil
contemporâneo, se forma no passado, a colonização dá feições,
constituição a largo prazo.
A poesia do séc 18 é
portuguesa eivada de especificidades da colônia. Vocabulário,
dicção etc, onde a sociedade estamental, colonial e escravista, não
elimina a matriz europeia, prolongamento de manifestação do império
sem ser o império.
Nenhum comentário:
Postar um comentário