Durante as celebrações
da escolha e posse do novo Papa pude perceber a grandeza das
vestimentas e as sutis diferenças que marcam status e estilo.
Resplandecente seda verde, faustosos chapéus, diversidade de cores e
vestimentas, joias deslumbrantes, ouro, prata. Todos zelosamente
protegidos, franqueados aos quatro costados pela guarda suíça.
Havia diversidade de culturas, diversidade de etnias, mas nem uma só
mulher.
Há no Gênesis a
narração, por excelência, da criação da mulher da costela do
homem; depois há a carta de São Paulo que fala do lugar da mulher
dentro da igreja. Estas coisas foram passando por minha cabeça
enquanto via o cerimonial, em momentos que tanto se fala em inclusão,
igualdade e direitos de inclusão e igualdade, sensação
desagradável, porque pareceu-me, simplesmente, que tinha que ser
assim. Os Padres não poderiam seguir sua função se as mulheres
reais estivessem presentes. Pareceu-me necessário, levando em conta
o quê me passava diante dos olhos, que para os santos padres as
mulheres são invisíveis, melhores sendo ausentes. No entanto não
há justificação teológica para esta situação, razão alguma
para que as mulheres não possam representar Jesus no altar, nem
tampouco possam tomar parte do círculo de pessoas que ali apareciam,
domínio exclusivo dos homens. Obviamente que isso não é teológico.
Há algo mais profundamente inscrito na cultura dos corpos, algo que
vai além da representação da igualdade de direitos. Não é novo o
modo em que os corpos das mulheres e os papéis de gênero são
considerados pela igreja, e como consequência a negativa do seu
acesso criativo ou positivo à ordem simbólica, porque são as
vilãs, desde Gênesis, e devem ser rechaçadas para que as esferas
políticas e simbólicas possam funcionar. Pode não ser novo, mas
ali na praça de São Pedro o Papa Novo e seus homens faziam parte do
cenário, faziam do cenário esta negação às mulheres. O quê esta
em jogo?
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