16 de abr. de 2013

Classes. A luta de Classes. Conceito e Categoria.



      Como todo e qualquer fenômeno histórico, as palavras que nós usamos, também se modificam ao longo do tempo e do espaço, ainda que muita besta 'ache' que não, as bestas não pensam, quando muito 'acham'.
                 As formas de aproximação com a realidade expressa linguisticamente são historicizáveis. Que nada mais quer dizer que são passiveis de análise histórica. Deveríamos fazer uma história das palavras, porque afinal de contas, são ferramentas essenciais, tradicionais de expressão do conhecimento, da realidade, de expressão de visão e vivências do mundo. Ainda que nem tudo no mundo se expresse por palavras.
Como fazer a história das palavras?
               Óbvio que as formas das palavras mudam ou se mantêm ao longo da história, tudo muda ao longo da história, mas algumas dessas formas podem se manter por longos períodos, de modo que podemos consultar um glossário, um dicionário, um vocabulário antigos e constatar a existência de palavras idênticas às que usamos hoje. Também constataremos nestes repertórios da língua a existência de palavras que não existem mais, ou hoje muito pouco utilizadas. E em contrapartida se abrirmos hoje o grande Houaiss, que tem uma besta como detrator, várias palavras lá lexicografadas, não faziam parte dos repertórios antigos de nossa língua.
                Esta é a dinâmica a ser percebida: as pessoas se expressam ao largo do tempo usando
a) mesmas palavras com sentido iguais;
b) mesmas palavras com sentidos distintos e
c) novas palavras.
d) Além de alguma matização, gradação.
                Há portanto uma vasta gama de fenômenos que se escondem por detrás desta dinâmica.
Não é difícil imaginá-los, suponho. Imaginemos se pudéssemos rastrear a linguagem não erudita, seria de enlouquecer! Porque neste âmbito, o plano das transformações são muito mais rápidos. Palavras como as gírias que são empregadas por lapsos de tempo muito restrito, nem é possível imaginar, imaginem um diálogo entre um tapuia e um cidadão do tempo da colônia! Nem é passível de imaginação. Enfim. Porque nos expressamos coloquialmente de modos diferentes entre pequenos grupos, famílias etc. Em casa falamos pón, cidón, caminhón, avión etc. E o verbo “dar” na primeira do singular dizemos: Eu di, desde o tempo do velho Emílio. Ou seja, jogo de palavras desta dinâmica a amoitar fenômenos.

               No entanto, podemos ir além, porque o jogo dos significados das palavras faz com que umas palavras estejam mais próximas das outras. Faz com que num determinado tempo e espaço, um conjunto de palavra se articule em um sistema e faz com que a compreensão do sentido de uma palavra dependa da compreensão do sentido de outra palavra. Está composto assim um grupo articulado de palavras, com seus significados, que muitas vezes seus significados são convergentes, outras significados que se cruzam, sinônimos perfeitos e imperfeitos, configurando de todo modo o que se pode chamar de um sistema.

          Este sistema de ideias, expresso em palavras pode resultar na formação de conceitos. Sendo um conceito um conjunto de significados atribuídos a uma ou mais palavras dispostas em um sistema. Ufa! Um conceito então não é uma simples palavra. Isto é, é um palavra em meio a outras expressões linguísticas que possui um sentido específico. Um sentido histórico, portanto.
Assim nem toda palavra é um conceito, é necessário que as palavras tenham se articulado e adquirido determinada complexidade, algumas em função de outras, para que daí surja um conceito.
Um exemplo qualquer de conceito:  Classe.

       Classe pode ser uma sala de aula, ou ainda os alunos de determinada sala de aula, ou de determinada turma de um colégio: primeiro colegial B. Se for 'dar' uma de Houaiss ou Aurélio e lexicografar classe, posso dizer que se trata de um espaço específico, mais, e alunos que possuindo algo em comum se transformam numa classe de estudantes.
Também podemos chamar de classe uma categoria de coisas: automóveis da classe luxo. É um tipo de coisas diferentes mas que têm atributos em comum. Mas classe pode ser uma categoria social num sentido ainda mais amplo, aonde todos são distintos.

             Mas o que significa então uma classe social? Aqui temos algumas possibilidades analíticas, por exemplo, a posição dos indivíduos perante os meios de produção. Isso quer dizer que os indivíduos que são proprietários dos meios de produção não são da mesma classe dos que não detêm o instrumentos de produção. Não há como confundi-los, porque os que não detêm os modos de produção estão subordinados aos outros. Porque aqueles têm que transferir uma parte de sua força de trabalho, que é sua propriedade, para aquele que detém os instrumentos ou a propriedade em si.
Daí as configurações sociais deste fato advindas serem assimétricas. Configuração esta que depende então da classe que o indivíduo é oriundo. Obviamente que isto reporta as ciências sociais, humanas e claro que reporta a Marx e seus seguidores.

              Esta relação uma vez assimétrica é conflitiva, nem sempre aberta, mas sempre latente, porque traz no seu bojo a submissão de uma pessoa de uma classe por outra de outra classe. Porque toda lógica de dominação implica numa tensão. Claro que o tratamento aqui é banal, mas pode-se traduzir por luta de classes.

           Vejam a distancia entre classe de estudantes e classe social, uma riquíssima historia.
Por isso 'classe' é um conceito, é uma palavra de densidade, porque carrega consigo classe social e associadas a ela outras palavras como trabalho, dominação, tensão, produção, sociedade etc.
Portanto para entender o que é classe social, temos que entender o trabalho, meios de produção, produção e todos são conceitos.

           Podemos então estudar a história das palavras, é certo que a sociedade não se revela nestas palavrinhas especiais, mas sem dúvida uma parte significativa da sociedade se descortina a partir da observação dos jogos de significados das palavras.

       Há no entanto uma diferença entre categoria e conceito, conceito é uma realidade a ser levada em conta, é um fenômeno a ser analisado, é algo que está na história e temos que analisar. Já uma categoria é uma ideia da qual podemos nos valer para interpretar a realidade, inclusive a realidade dos conceitos.
Assim classes, ou luta de classes na história são, ou podem ser categorias de análises e somente serão conceitos ao se estudar Karl Marx, melhor dito, para entender o pensamento de Karl Marx, porque em Marx classe é um conceito central.

      Deste modo vamos adiante e vamos porque sabemos que um conceito não é uma simples palavra, mas é uma palavra, que em meio a um conjunto de outras expressões linguísticas possuem um sentido específico, um sentido histórico, portanto. Nem toda palavra é um conceito, é necessário que as palavras tenham se articulado, tenham adquirido uma determinada complexidade, algumas em função de outras para que daí surja um conceito.

        Classe então! Classe é uma palavra, cheia de significados. Classe pode expressar realidades, porque emerge de realidades, mas Classe pode ser inadvertidamente utilizada, para explicar realidades que não criam ideias de Classe.
         Há portanto a necessidade de se fazer também, uma história de identidades coletivas. Que é isto? História de identidade coletiva, é a história de um fenômeno social, um fenômeno social que de alguma forma sempre se expressa ao longo da história. Afinal, como as pessoas expressam seu pertencimento a um determinado grupo?

        Porque todas as pessoas fazem parte de grupos, todo indivíduo faz parte da sociedade, mas sociedade é uma forma genérica, em relação a uma realidade. Podemos discernir em meio a sociedade, alguns grupos específicos, que obviamente não vivem isolados uns em relação aos outros, mas que têm algumas lógicas próprias. É desta maneira que temos a sociedade brasileira, mas não isolada do mundo. Nem tribos são totalmente isoladas do mundo.

         Estas formas de inserção de grupos sociais numa realidade mais ampla, a sociedade, passam necessariamente pelo compartilhamento de experiências em comum. A impressa joga o seu papel nisso tudo. A mídia é compartilhada.
        Benedict Anderson (1983) em Comunidades Imaginadas, argumenta que uma das formas de criação de uma comunidade, coesa, é o compartilhamento de experiências em comum, por exemplo, aquelas propiciadas, as experiências, pela imprensa. O fato de se ligar a TV e assistir um programa qualquer, sabendo que outras pessoas, trinta milhões, estão assistindo o mesmo programa, mesmo que obviamente não se conheça a nenhuma outra das milhões de pessoas, faz com que nos sintamos parte de algo, alguns programas mais do que outros, é a experiência propiciada pela vida moderna, diz Anderson. Esta é uma das perspectivas também possíveis para se entender estas identidades coletivas.  

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