19 de abr. de 2013

Oliver Twist. A menoridade. Um suave paralelo.


Oliver Twist.
Charles Dickens,
Ruppert von Wyk

Século 19, Inglaterra, um órfão do interior que sofre nas garras das instituições do governo para órfãos. Por querer mais comer é entregue ao coveiro, como aprendiz. Foge para Londres e se junta a um bando de trombadinhas, comandados pelo judeu Fagin, a ideia do judeu avaro é velha, talvez tenha sido tão bem aceita na Alemanha do séc 20, Fagin vive da exploração destes meninos que, a miúde, vivem a roubar, furtar pelas ruas de Londres. Oliver não quer se corromper, tampouco consegue fugir deste círculo de pobreza e criminalidade. Com o correr da história é ajudado por uma família, qual afinal pertence.
Trata-se da Inglaterra injusta, sem estado social, do século 19, com um direito liberal, feito para as classes dominantes, é deste substrato que parte Dickens, para retratar as mazelas da justiça no estado inglês.
O estado liberal transitava ao estado social, e portanto temos ainda um estado com imensa desigualdade social, fins do séc 18 para o 19.
Há dois pontos chaves do livro que se pode discutir, não é necessário traçar paralelismos óbvios com a realidade nacional.
O primeiro é a desigualdade social.
Outro é a exploração do trabalhador, no livro o trabalho infantil.
Naquele momento havia na Inglaterra, naquele momento, um aumento substancial da população urbana, os livros, em particular Oliver Twist fora publicado em capítulos, e Dickens tecnicamente utilizava o recurso de em cada final de capítulo, que à Sherazade deixa a obra suspendida, é o suspense, o que literariamente é o que nos prende ao final de cada capítulo e é talento de Dickens. Charles Dickens deixa plasmada na obra a sua crença moral entre o bom e o mau, o certo e o errado.
A vida boa, welfare state, vem como necessidade do fracasso do liberalismo do estado ausentado, rarefeito, da lei mantenedora do status quo.

No julgamento do menino Jack, Raposo, ou Matreiro, que encontrou e apresentou Oliver para a turma, pergunta no tribunal: Quem é você para me julgar?
Quem é você para me dizer o que bom e o que é ruim? Pergunta é feita ao Fiscal da Lei.
Fagin é apresentado diante do fogo, com um garfo, é feio, esconde dinheiro, a riqueza que tem a partir dos meninos ladrões, no entanto é quem dá, se é que exista ali, certa dignidade aos meninos. Comem, são respeitados, tanto é que por ocasião da prisão de Raposo, Fagin tem esperança que este tena oportunidade de demonstrar todas suas qualidades de ladrão.
Fagin ainda no julgamento assume o discurso das classes que recebem o tratamento diferenciado da justiça. Faz tese sobre o direito de roubar: se você não rouba, alguém roubará, assim Oliver deveria ocupar este espaço, Fagin.
Dickens não está a insuflar o furto ou dele faça apologia, mas diante das diferenças sociais tão gritantes, é quase a tese da desobediência civil, legitima defesa, porque são furtos famélicos diante da extrema injustiça social da Inglaterra vitoriana, a justiça a serviço de Sua Majestade, de meninos a trabalhar em reformatórios, tudo em nome de Sua Majestade.
Miséria pouca é bobagem.
Dickens faz critica direta ao Estado, ao sistema jurídico, do estado.
Rose Fleming e Maylie ao salvarem Oliver Twist, ficam em dúvida, entregam ou não o menino à justiça, mas decidem por não entregá-lo, porque os frios funcionários da lei não iriam entender, contextualizar.
Porque o Estado Liberal é absenteísta, deixa acontecer, e o que se vê no livro é a pouca diferença entre o que acontece com os meninos ingleses e os escravos em outras paragens do mundo, então, porque as leis, naquele momento, legitimavam a exploração dos garotos, para que pagassem seu sustento, e o pecado de Oliver é ser órfão e faminto.
Na obra se percebe no entanto que havia o clamor para mudanças, na direção de uma intervenção estatal no Estado ausente, portanto, Liberal.
Oliver, segundo o bedel Bumble, fica raivoso, por haver comido muita carne dada por seu patrão. É a ideia de que quem dá emprego faz um favor, mas a animosidade é a clara demonstração que a sociedade busca por rupturas.
O humor fica por conta do espanto dos ricos e gordos comilões ao se depararem com a vontade de comer dos pobres, se o estado lhes tem dado tanto para comer. Isso me lembra muito o episódio do Romanée Conti e a cúpula do governo petista, que gerou tanta animosidade dentro da classe média brasileira. Mas mais que isso, as classes dominantes se espantam ao se depararem com uma classe de desgraçados, mas que ainda quer viver.
Brownlow é a justiça, o homem bom, a justiça do homem bom, por que o judiciário não era confiável, por existir tão somente para preservar o status quo. O judiciário aplica a norma posta, a lei não quer saber de contexto.
O final é redentor, de vida no campo, tranquila e feliz.

18 de abr. de 2013

Homens à frente do seu tempo. Alckmin e Consortes!





Salta aos olhos neste momento – a maioridade penal – tratar-se de uma questão bastante abrangente, espacialmente e temporalmente abrangente, e por tanto, temos que levar em conta os limites da nossa observação.
Para onde devemos olhar, para o quê? Se temos diante de nós o desafio de compreender um fenômeno, um evento, uma realidade específica inscrita da raiz à copa de nossa árvore socialmente admitida.
Enfim, para onde devemos voltar nosso olhar? Por óbvio, nenhum fato, nenhuma realidade, nenhuma feição social específica é compreensível apenas por ela mesma. De outro modo, toda e qualquer 'coisa' que queremos entender deve partir do pressuposto, que qualquer fenômeno tem distintas abrangências. Ter distintas abrangências vale dizer, que o significado daquilo está sempre parcialmente, não naquilo que queremos entender, mas compõe-se na moldura daquilo que queremos entender, uma unidade lógica, uma unidade histórica.
Volta a pergunta: até onde nos leva a observação de algo que é característico do nosso tempo: A violência? Digo mais, justo quando toda violência deveria haver sido obliterada, junto com os violentos, que à socapa ainda fazem ruídos.
Há em nossa sociedade a presunção de que algo, pessoa, artista etc, está à frente de seu tempo. É um lugar comum em meio a muitos lugares comuns, por confortável. E são tão repercutidos que adquirem concretude, a concretude de uma presunção. No entanto, nada está a frente de seu tempo, porque estar a frente de seu tempo implica na existência de um futuro definido e portanto conhecido de antemão. Como se a vida fosse uma sequência lógica e coerente de unidades, sendo assim teríamos matado seu enigma.
O que há são indivíduos, sociedades que conseguem olhar para uma determinada situação e enquadrarem – desculpem a linguagem de delegado e advogado de porta de cadeia, mas é a única que temos ouvido neste tempo coevo – todos os elementos necessários para conseguir definir, sintetizar, conceituar e solucionar melhormente determinada situação ou problema.
Porque a vida, a história da vida, é criação humana e não pura inevitabilidade, mas ação conduzida pela própria sociedade.
Assim os gênios, seres, que estão à frente do seu tempo serão indivíduos capazes de captar elementos do tempo, mesmo, em que vivem, mais que a maioria de seus contemporâneos.
Então qual é o nosso tempo? Nada, senão todo o tempo histórico que conhecemos mais as feições da urgência do hoje, do agora.
O que significa então recrudescer relativamente às normas penais? Voltar no tempo, dirão todos aqueles, que tiveram o interesse em observar acuradamente a história da nossa sociedade, percorrida neste caminho. Tais agravantes penais já constituíram desde 1830 nosso código até às bordas da nossa recente e ressentida democracia, sendo que suas providências são justamente o que ainda se faz necessário combater.
Então que ao menos se acautelem das indumentárias adequadas, chapéus, bengalas e relógio de bolso sacados daí por correntinhas, para se adequarem ao tempo de suas astucias.

imploda esta ideia.

16 de abr. de 2013

Classes. A luta de Classes. Conceito e Categoria.



      Como todo e qualquer fenômeno histórico, as palavras que nós usamos, também se modificam ao longo do tempo e do espaço, ainda que muita besta 'ache' que não, as bestas não pensam, quando muito 'acham'.
                 As formas de aproximação com a realidade expressa linguisticamente são historicizáveis. Que nada mais quer dizer que são passiveis de análise histórica. Deveríamos fazer uma história das palavras, porque afinal de contas, são ferramentas essenciais, tradicionais de expressão do conhecimento, da realidade, de expressão de visão e vivências do mundo. Ainda que nem tudo no mundo se expresse por palavras.
Como fazer a história das palavras?
               Óbvio que as formas das palavras mudam ou se mantêm ao longo da história, tudo muda ao longo da história, mas algumas dessas formas podem se manter por longos períodos, de modo que podemos consultar um glossário, um dicionário, um vocabulário antigos e constatar a existência de palavras idênticas às que usamos hoje. Também constataremos nestes repertórios da língua a existência de palavras que não existem mais, ou hoje muito pouco utilizadas. E em contrapartida se abrirmos hoje o grande Houaiss, que tem uma besta como detrator, várias palavras lá lexicografadas, não faziam parte dos repertórios antigos de nossa língua.
                Esta é a dinâmica a ser percebida: as pessoas se expressam ao largo do tempo usando
a) mesmas palavras com sentido iguais;
b) mesmas palavras com sentidos distintos e
c) novas palavras.
d) Além de alguma matização, gradação.
                Há portanto uma vasta gama de fenômenos que se escondem por detrás desta dinâmica.
Não é difícil imaginá-los, suponho. Imaginemos se pudéssemos rastrear a linguagem não erudita, seria de enlouquecer! Porque neste âmbito, o plano das transformações são muito mais rápidos. Palavras como as gírias que são empregadas por lapsos de tempo muito restrito, nem é possível imaginar, imaginem um diálogo entre um tapuia e um cidadão do tempo da colônia! Nem é passível de imaginação. Enfim. Porque nos expressamos coloquialmente de modos diferentes entre pequenos grupos, famílias etc. Em casa falamos pón, cidón, caminhón, avión etc. E o verbo “dar” na primeira do singular dizemos: Eu di, desde o tempo do velho Emílio. Ou seja, jogo de palavras desta dinâmica a amoitar fenômenos.

               No entanto, podemos ir além, porque o jogo dos significados das palavras faz com que umas palavras estejam mais próximas das outras. Faz com que num determinado tempo e espaço, um conjunto de palavra se articule em um sistema e faz com que a compreensão do sentido de uma palavra dependa da compreensão do sentido de outra palavra. Está composto assim um grupo articulado de palavras, com seus significados, que muitas vezes seus significados são convergentes, outras significados que se cruzam, sinônimos perfeitos e imperfeitos, configurando de todo modo o que se pode chamar de um sistema.

          Este sistema de ideias, expresso em palavras pode resultar na formação de conceitos. Sendo um conceito um conjunto de significados atribuídos a uma ou mais palavras dispostas em um sistema. Ufa! Um conceito então não é uma simples palavra. Isto é, é um palavra em meio a outras expressões linguísticas que possui um sentido específico. Um sentido histórico, portanto.
Assim nem toda palavra é um conceito, é necessário que as palavras tenham se articulado e adquirido determinada complexidade, algumas em função de outras, para que daí surja um conceito.
Um exemplo qualquer de conceito:  Classe.

       Classe pode ser uma sala de aula, ou ainda os alunos de determinada sala de aula, ou de determinada turma de um colégio: primeiro colegial B. Se for 'dar' uma de Houaiss ou Aurélio e lexicografar classe, posso dizer que se trata de um espaço específico, mais, e alunos que possuindo algo em comum se transformam numa classe de estudantes.
Também podemos chamar de classe uma categoria de coisas: automóveis da classe luxo. É um tipo de coisas diferentes mas que têm atributos em comum. Mas classe pode ser uma categoria social num sentido ainda mais amplo, aonde todos são distintos.

             Mas o que significa então uma classe social? Aqui temos algumas possibilidades analíticas, por exemplo, a posição dos indivíduos perante os meios de produção. Isso quer dizer que os indivíduos que são proprietários dos meios de produção não são da mesma classe dos que não detêm o instrumentos de produção. Não há como confundi-los, porque os que não detêm os modos de produção estão subordinados aos outros. Porque aqueles têm que transferir uma parte de sua força de trabalho, que é sua propriedade, para aquele que detém os instrumentos ou a propriedade em si.
Daí as configurações sociais deste fato advindas serem assimétricas. Configuração esta que depende então da classe que o indivíduo é oriundo. Obviamente que isto reporta as ciências sociais, humanas e claro que reporta a Marx e seus seguidores.

              Esta relação uma vez assimétrica é conflitiva, nem sempre aberta, mas sempre latente, porque traz no seu bojo a submissão de uma pessoa de uma classe por outra de outra classe. Porque toda lógica de dominação implica numa tensão. Claro que o tratamento aqui é banal, mas pode-se traduzir por luta de classes.

           Vejam a distancia entre classe de estudantes e classe social, uma riquíssima historia.
Por isso 'classe' é um conceito, é uma palavra de densidade, porque carrega consigo classe social e associadas a ela outras palavras como trabalho, dominação, tensão, produção, sociedade etc.
Portanto para entender o que é classe social, temos que entender o trabalho, meios de produção, produção e todos são conceitos.

           Podemos então estudar a história das palavras, é certo que a sociedade não se revela nestas palavrinhas especiais, mas sem dúvida uma parte significativa da sociedade se descortina a partir da observação dos jogos de significados das palavras.

       Há no entanto uma diferença entre categoria e conceito, conceito é uma realidade a ser levada em conta, é um fenômeno a ser analisado, é algo que está na história e temos que analisar. Já uma categoria é uma ideia da qual podemos nos valer para interpretar a realidade, inclusive a realidade dos conceitos.
Assim classes, ou luta de classes na história são, ou podem ser categorias de análises e somente serão conceitos ao se estudar Karl Marx, melhor dito, para entender o pensamento de Karl Marx, porque em Marx classe é um conceito central.

      Deste modo vamos adiante e vamos porque sabemos que um conceito não é uma simples palavra, mas é uma palavra, que em meio a um conjunto de outras expressões linguísticas possuem um sentido específico, um sentido histórico, portanto. Nem toda palavra é um conceito, é necessário que as palavras tenham se articulado, tenham adquirido uma determinada complexidade, algumas em função de outras para que daí surja um conceito.

        Classe então! Classe é uma palavra, cheia de significados. Classe pode expressar realidades, porque emerge de realidades, mas Classe pode ser inadvertidamente utilizada, para explicar realidades que não criam ideias de Classe.
         Há portanto a necessidade de se fazer também, uma história de identidades coletivas. Que é isto? História de identidade coletiva, é a história de um fenômeno social, um fenômeno social que de alguma forma sempre se expressa ao longo da história. Afinal, como as pessoas expressam seu pertencimento a um determinado grupo?

        Porque todas as pessoas fazem parte de grupos, todo indivíduo faz parte da sociedade, mas sociedade é uma forma genérica, em relação a uma realidade. Podemos discernir em meio a sociedade, alguns grupos específicos, que obviamente não vivem isolados uns em relação aos outros, mas que têm algumas lógicas próprias. É desta maneira que temos a sociedade brasileira, mas não isolada do mundo. Nem tribos são totalmente isoladas do mundo.

         Estas formas de inserção de grupos sociais numa realidade mais ampla, a sociedade, passam necessariamente pelo compartilhamento de experiências em comum. A impressa joga o seu papel nisso tudo. A mídia é compartilhada.
        Benedict Anderson (1983) em Comunidades Imaginadas, argumenta que uma das formas de criação de uma comunidade, coesa, é o compartilhamento de experiências em comum, por exemplo, aquelas propiciadas, as experiências, pela imprensa. O fato de se ligar a TV e assistir um programa qualquer, sabendo que outras pessoas, trinta milhões, estão assistindo o mesmo programa, mesmo que obviamente não se conheça a nenhuma outra das milhões de pessoas, faz com que nos sintamos parte de algo, alguns programas mais do que outros, é a experiência propiciada pela vida moderna, diz Anderson. Esta é uma das perspectivas também possíveis para se entender estas identidades coletivas.  

15 de abr. de 2013

Letras e Letrados do Séc 18. Breve estudo.


Até o século 18 o indivíduo não havia sido inventado em parte alguma do planeta. De outro modo, o indivíduo estava para ser inventado. O valor dado à obra, segundo a autoria, é posterior ao séc 18, o pintor Caravaggio era um artesão, um sujeito que manejava convenções, pintava o religioso, a natureza morta, movimentos etc. Realizações subjetivas não existiam. Por isso havia tanta ''autoria'' anônima. Por exemplo, Gregório de Matos:

           Triste Bahia.

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundade.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Atribui-se a Gregório de Matos este poema. Somos instados a lê-lo e o temos lido como critica a uma situação colonial, mas não é uma critica aos fundamentos, ele se vale da convenção, dos limites preestabelecidos por uma convenção, que é a produção de sátira. É uma sátira que prevê a critica, nada de revolucionaria; critica esperada aos costumes, modos de vida e situações. O poeta que fazia sátira tinha que criticar. Como um crucifixo nos dias de hoje, não quer dizer que seu portador seja um cristão. A cultura letrada era então o manipular de convenções.
O séc 18 conhece Basílio da gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto, Tomas Antônio Gonzaga, todos portugueses, manipulando convenções típicas de sua época. Não extrapolam os limites, reproduzindo a sociedade. Na inconfidência não se produziram inconfidências.
Não há ninguém à frente de seu tempo. Os gênios conseguem se expressar sintetizando coisas que o mundo oferece, o artista é talvez mais do seu tempo que todos os outros.
A logica constitutiva do império português é a diversidade em alguns eixos, populações diferentes, territórios diferentes, realidades diferentes integrando um governo à distância. O império é todo diversidade mas é português e é católico. Estruturas do império português são a monarquia e a igreja católica. Um rei e uma religião.
Por que a cultura letrada deveria seguir uma lógica discrepante? Há elementos específicos num império cheio de especificidades, são criticas esperadas, como em Cartas Chilenas. Não se critica o alto escalão, mas seus representantes, e o representante ao final é aquele que não honrou o Rei. Se o governador é ruim, mata-se o mal governo, para preservar e fortalecer a autoridade máxima. João Adolfo Hansen. Suposta brasilidade. Antônio Cândido. A formação da literatura brasileira. Sérgio Buarque as voltas com antecipação de um Brasil, via letras, parte de um mundo mais amplo. Antônio Cândido propõe que a brasilidade deve ser trocada pela formação da brasilidade, pois está em formação a literatura brasileira em formação.
Formação do Brasil contemporâneo, se forma no passado, a colonização dá feições, constituição a largo prazo.
A poesia do séc 18 é portuguesa eivada de especificidades da colônia. Vocabulário, dicção etc, onde a sociedade estamental, colonial e escravista, não elimina a matriz europeia, prolongamento de manifestação do império sem ser o império.

Ao operário é vedado beber Romanée Conti.


         O PT não é um fenômeno absoluto em si, é uma construção histórica, inclusive no plano dos discursos, no plano das palavras. Digo PT como poderia dizer outro partido qualquer, mas o PT é a questão, é o fato e de fato é algo realmente importante, para o bem e o mal, no plano da política nacional, e seu aniquilamento atende a interesses classistas.
         Somadas ao plano dos discursos e das palavras há também as referencias discursivas e a formatação de nossas ideias. Daí a dificuldade de muita gente em entender que negar o PT é negar a história recente do país, e negar a história recente do país é voltar ao final da década de setenta, o que por si é uma impossibilidade, física e cognitiva, e por conseguinte passar a limpo a história do PT – seus atos o que em si também é contraditório, porque implica na marginalização de todo e qualquer cidadão que teve participação ativa nesta história recente do Brasil, ainda que seja por um mero voto –; assim passar a limpo o PT passa obrigatoriamente por passar o Brasil a limpo. Não é tarefa impossível, o que é impossível é apagar essa história. Deve-se entender fenômeno absoluto como uma entidade que exista de per si, nascida e crescida dela mesma, apartada de toda a sociedade brasileira, como ademais nem uma mera canção o é. A geração espontânea há tempo  foi banida do pensamento ocidental.
Por outro lado e  ainda que se questione a efetiva prática ''do social'' programática do partido, a ideia de que o social passa pela distribuição de renda já é uma realidade dentro da população interessada na renda. e que isso se dá pelo direito e não caritativamente. A ideia de direitos sociais foi aguçada. A ideia de direitos iguais é defendida por todas as categorias minoritárias.
             Aquela história de que '' ah o mundo é assim!'' '' o processo é natural, cada qual para o que nasce, cada qual com sua classe...'' desaparece com os avós de hoje. É certo que exista uma rebelião subjacente, um enfrentamento, e ele é irrevogável se não houver mais concessões ao bem estar social e ao estado de direito. Talvez isto possa explicar a ''vista grossa'' que os petistas fazem à totêmica corrupção levantada pelos opositores. No que a massa passa a dizer: quero participar desse festival do consumo.
             Por outro lado e é por isso que há o esgarçamento claro e evidente, uma parte da sociedade simplesmente não aceita estas possibilidades, porque senão vejam, o que incomodou a sociedade não foi o fato do Zé Dirceu, o Lula beberem Gran Cru Romanée Conti enquanto homens públicos, mas por homens públicos advindos de classes sociais ''inferiores'', sendo que FHC também os bebeu, e no palácio tinha sua chefe particular e bem me recordo de Carla Pernambuco e o seu Carlota que estava em alta naqueles idos. A noticia foi veiculada e pareceu a todos que era normalíssimo, como sapato preto ornar com meias pretas.
            A violência deriva um pouco deste delta entre as rendas, é inapelável. A ideologia da direita é criar a maior população carcerária do mundo. A solução efetiva no entanto não existe se não passar por uma profunda distribuição de rendas. 

12 de abr. de 2013

Igreja. Posse do Papa Francisco I ! O quê esta em jogo?




Durante as celebrações da escolha e posse do novo Papa pude perceber a grandeza das vestimentas e as sutis diferenças que marcam status e estilo. Resplandecente seda verde, faustosos chapéus, diversidade de cores e vestimentas, joias deslumbrantes, ouro, prata. Todos zelosamente protegidos, franqueados aos quatro costados pela guarda suíça. Havia diversidade de culturas, diversidade de etnias, mas nem uma só mulher.
Há no Gênesis a narração, por excelência, da criação da mulher da costela do homem; depois há a carta de São Paulo que fala do lugar da mulher dentro da igreja. Estas coisas foram passando por minha cabeça enquanto via o cerimonial, em momentos que tanto se fala em inclusão, igualdade e direitos de inclusão e igualdade, sensação desagradável, porque pareceu-me, simplesmente, que tinha que ser assim. Os Padres não poderiam seguir sua função se as mulheres reais estivessem presentes. Pareceu-me necessário, levando em conta o quê me passava diante dos olhos, que para os santos padres as mulheres são invisíveis, melhores sendo ausentes. No entanto não há justificação teológica para esta situação, razão alguma para que as mulheres não possam representar Jesus no altar, nem tampouco possam tomar parte do círculo de pessoas que ali apareciam, domínio exclusivo dos homens. Obviamente que isso não é teológico. Há algo mais profundamente inscrito na cultura dos corpos, algo que vai além da representação da igualdade de direitos. Não é novo o modo em que os corpos das mulheres e os papéis de gênero são considerados pela igreja, e como consequência a negativa do seu acesso criativo ou positivo à ordem simbólica, porque são as vilãs, desde Gênesis, e devem ser rechaçadas para que as esferas políticas e simbólicas possam funcionar. Pode não ser novo, mas ali na praça de São Pedro o Papa Novo e seus homens faziam parte do cenário, faziam do cenário esta negação às mulheres. O quê esta em jogo?

11 de abr. de 2013

Revanchismo?



Para se defenderem petistas atacam os julgadores! Mesmo que os julgadores tenham telhado de vidro a ação não invalida a primeira  ! Sim, esta de que tanto se  orgulham os lapidadores, ela surge do mesmo revanchismo que tanto anseiam por abjeto! Konsorten, se é troca-troca não se pode tirar o dito da reta, só por se tratar de imitação, cópia, enfim revanchismo, são os rotos rindo dos rasgados! Só não vejo aonde uns são mais indignos que os outros, talvez por não fazerem parte de uma congregação, mas os que não fazem parte de uma congregação, são congregados em outras. A única possibilidade de redenção é que todos os congregados sejam exibidos talqualmente são!
Car em outros tempos, aqui mesmo, Konsorten, dava-se um grito: tutti comunisti! ... e gaiola, calabouço, pau-de-arara etc. No entanto, aparentemente, ainda que haja no 'ar', tenuemente, mesmo, certo exórdio vindicativo de oldfashioned Regime, ainda assim, haverá, sim, juízos continuados, espero, justo? Qui sapit?  Agora, do mesmo modo, não os vejo com a mesma ferrenha prolação acusatória aos  picaretas do PT, quanto aos outros,  que usam gravata a mais tempo. Talvez pela gravata! Quem sabe? O Vocabulário?  Afinal roubo não é furto, e este nem é tão só desvio! Ou só os desvios de conduta ( eufônico, melodioso não?)  e arroubos do PT devem ser escrachados? Penso que a Moralidade tão clamada, não deva ser partidária. Quem pensa contrariamente, minimo é dizê-lo: " que a justiça seja usada somente contra o PT ". Se dito, e dependendo do tom, eu que não sou tolo, calo, mas não dirão, tenho certeza, talvez a única.
Outrossim, se dá com Feliciano que diz a palavra errada, melhor diz em público o inconfessável, e "todos" se tornaram defensores dos DH, quando a ogeriza é religiosa. Então viva os Direitos Humanos?
Sim, mas...   e quanto aos tópicos!?
Nos tópicos? Que se penalize crianças... impossibilite a solidariedade... castrem os pobres... expulsem migrantes... acabem com o crédito para que não inundem as avenidas com seus carros velhos (ambíguo)... impeça a Comissão da Verdade... fim do politicamente correto  para tão só o grande humorista poder gritar "Negro de merda..."

7 de abr. de 2013

Diário dos Sonhos.


Comecei a contar a Joana, com riqueza de detalhes, um sonho que havia tido na noite anterior, um sonho trepidante, mais olímpico que edípico, cheio de saltos a obstáculos, mas ela, depois de me ouvir até o final, cortesmente creio, me disse: “Eu não dou nenhuma importância aos sonhos”. Nunca me ocorreu atribuir aos sonhos alguma importância, ainda que tenha me entretetido com eles bom pedaço de vida, penso que algo intrigante eles têm. Mas é evidente que se pode viver sem os recordar, sem os conceder valor; do mesmo modo que podendo se dar ao luxo de comer bem, tão só comer para subsistir.
Isto há um mês, creio, e muito talvez pelo menosprezo de Joana para com eles, decidia escrevê-los em um blog, como se fosse o diário dos sonhos. E então acordado sonhei em sonhar um sonho por noite e depois de dez anos teria escrito mais de três mil sonhos; não sabia que não recordaria em tanto tempo de um sonho para ser o primeiro, se nas semanas anteriores os tivera, coloridos e demorados, onde Hubert Hubert protagonizava. E para não ser desonesto, não escrevi aquele que contei a ela, e o diário dos sonhos segue à espera.

2 de abr. de 2013

Devido Processo Legal.



No incerto ano de mil novecentos e setenta e cinco, o primeiro ano do colegial, a turma “A” da manhã do Otoniel Mota, era frequentado pelo crème de la crème da cidade. Alcides Benevides se classificou em vigésimo quinto lugar no concurso “vestibulinho”, alem disso era socioeconomicamente o ponto fora desta reta de 35 alunos. Além do primeiro “A” havia o “B”, “C” e talvez “D”, Alcides não se recorda. Pobre, que era, ganhava uma subvenção da APM em fichas para a merenda da hora do recreio, um salgadinho e um refrigerante na cantina. Uma ficha para o sólido e outra para o líquido para cada dia letivo, recebidas ao primeiro dia de aula de cada mês.
Todos seus colegas eram sócios da Recra, e o boa praça que era se fez frequentar o clube de quando em quando, sempre convidado por um colega diferente. O Professor de educação física ainda lhe fez livre o acesso para os treinos de cem metros rasos, pois no classificatório fizera a marca de treze segundos. Cria com isso, que chegaria aos onze, mas professor Sareta o desiludiu, e por si concluiu o mesmo,  depois de um semestre treinando vistas postas nos jogos colegiais, e só baixara décimos, 12,60s.
Dentre todos os colegas um se tornou mais próximo, o filho de um 'dono de gráfica'. ( estranho que não exista um substantivo simples para tanto dono de gráfica, há o gráfico, mas se refere ao técnico que trabalha em).
Incerta também a feita, o filho do dono da gráfica foi sem dinheiro à escola. Desapercebido. Alcides lhe emprestou um par de fichas para a hora do recreio, depois noutro dia e mais um. No quinto dia, alem daquelas que o filho do dono da gráfica usou para comer uma coxinha e um guaraná antártica, levou ainda para casa outro par, "na segunda trago, e em dinheiro!".
Conforme o prometido, na segunda-feira o filho do dono da gráfica lhe devolveu em dinheiro o dinheiro referente a todas as fichas, perfez. Sempre houve fila para comprar fichas, qual Alcides não usava, porque suas fichas as recebia na secretaria. Suas fichas eram iguais às compradas. Ocorre que naquele dia não havia fila para comprar, só a fila para retirar  os quitutes no balcão. A cantineira parecia enlouquecida e junto com seu marido passaram a desconfiar de algo. Tanta gente a comer e poucos a comprar.  E caminhavam junto à fila. Desconfiavam.  Conheciam a todos e a seus pais. Famigerados. No entanto lhes faltava caráter, se todos ali tinham sobrenomes, que ainda ressoam pela cidade,  nomes de ruas, de universidades, enfim, medraram, mas de repente se depararam com Alcides, Benevides, nem parentes importantes tinha. Só um tio-avô na capital, casado com uma Ucraniana, mujique fugida dos bolcheviques. A Alcides, desditoso, correram-no pelo braço e sem esforço o botaram à frente do diretor. O professor Décio Setti antes, no corredor, os interpelara, “mas o que fez este Alcides, Senhora Cantineira? “Professor Décio, ele está com fichas falsas!”. Hipermetrope arregalava seus imensos olhos por detrás das grossas lentes.  De nada adiantara  ótimas notas em Física. Ali diante do diretor que não sabia de sua bolsa de recreio oferecida pela APM, não teve tempo para raciocinar, explicar-se, e ao esvaziarem lhe o bolso, um par de fichas e um bolinho de dinheiro foi posto sobre a mesa, “tá vendo!” “dinheiro!” gritava a senhora Cantineira, “dinheiro!”. Expulso. Sim expulso. Já havia batido o sinal, recebeu ordem para retirar  seu material na sala de aula e ir para casa, e só voltar no dia seguinte com os pais. Os olhos de Roseli eram duas gotas brilhantes. Mel. Sendo no pátio vazio, desembestou para o banheiro e desaguou em prantos. Por ouvir seus soluços, o servente, seu S, ouviu também sua história.