Tópicos de Epistemologia e Didática. Uma introdução.
O que se persegue nesse
texto é estabelecer pontes entre a epistemologia e a didática.
Epistemes do grego, que
é ciência, conhecimento teórico, que se contrapõe à técnica, à
prática. E aqui podemos pensar em concepções de conhecimento,
educação, escola, macro concepções, a ideia de pessoa, e em que
medida isso influi, na prática, dentro da sala de aula...
O modo como se imagina
que o conhecimento se constrói. Esse modo interfere na maneira em
que se vai para a sala de aula. As concepções dos docentes
influenciam as ações docentes. E tudo é tácito. O docente não
chega à frente da sala e declara suas concepções, o docente chega
à sala de aula e age. Na sala de aula é onde se começa a ação, e
essa ação é fundada nas concepções de cada docente.
A intenção em
explicitar tais concepções não se funda no mero “se tornar mais
sabido”, mas em buscar coerência. Coerência entre as concepções
e as ações. O discurso teórico e a prática.
Hoje em dia todo mundo
é construtivista – seja lá o que isso signifique – mas e a
prática docente?
O que se deve buscar é
um acerto entre esse discurso e o modo como se planeja, avalia, como
se recorre e se utiliza as tecnologias. Desta forma, se buscar ações
mais consistentes e mais coerentes.
De cara o que se pode
dizer e deve-se dizer é, que não existe uma concepção correta, e
as demais incorretas. Há, sim, uma mistura “natural” de
concepções. Assim que se deve desconfiar quando o discurso diz se
tratar da 'melhor metodologia'. Tudo é muito duvidoso. O que há é
uma marca pessoal, que é fruto da mistura de concepções, e é
necessário se otimizar, ou ao menos se buscar otimização.
Educação
.
Se olharmos de longe a
educação apresenta um caráter binário. Conservação|Transformação.
Dentro da palavra
educação está o verbo “ducere”. Ducere do latim é Conduzir,
Receber quem está chegando e o inserir no quadro social, integrá-lo.
Mas se a educação
fosse somente isso, estaríamos parados no tempo, congelados.
No entanto dentro da
mesma palavra “educação” há também o verbo “educere”. E
este e é “conduzir para fora” que produziu o verbo em português
“eduzir” que é extrair, e “edução” que é “extração”.
Por um lado recebo quem
chega por outro dou a palavra, e ver o que se tem a dizer.
Assim temos que
“Ducação” é “conservação” e “edução” é “extrair”,
ou seja “transformação”.
Conservação e
transformação são discrepantes no senso comum.
Uma frase assim: “Por
uma educação transformadora”, todos a apoiarão, ainda que nem
se tenha ideia do que isso signifique. Por outro lado se alguém
disser: “Por uma educação conservadora”, estará banido dos
coquetéis de lançamento de anos letivos. Mas na vida quanto a
educação a dialética conservar\transformar é fundamental.
Em termos culturais,
por exemplo, a memória é conservação. Precisamos conservar o
afeto, a amizade, a cultura, a palavra, manter a palavras. Tais
atitudes são dimensões positivas da conservação, porque não
podemos zerar a cada dia, o passado, o conhecimento. Temos então
uma construção permanente do que deve ser mantido, e do que deve
ser mudado. No entanto há o sentido negativo, o preconceito, a
ideia preconcebida: “Não se mexe em time que está ganhando”, é
uma máxima conservadora, uma hora perde e perde porque não houve
mudança. Outra bem negativa é: “Não fale com estranhos”, esta
é terrível, porque se não se falar com estranhos, não se conhece
ninguém novo e por fim ninguém mesmo.
Diferente entretanto de
“Conformação”. “Eu me conformo”. Conformar-se é muito
difícil de defender com argumentos salutares. Estou para dizer que
não há argumento possível que defenda o conformismo. “Deixa
como está”, é postura muito negativa.
O fim da Educação.
O fim da educação é
a ação. A ação que conserva e transforma.
No Aurélio pode-se
encontrar: Ação:
Atividade responsável
de um sujeito.
Realização de uma
vontade que se presume livre e consciente.
Processo de modificação
da realidade.
Grandes bobagens são
ditas diariamente: “ O mercado acordou de mal humor” O mercado
não acorda, não age. O computador não age. O cachorro não age, é
simpático, amável etc, mas não age, porque a ação implica em livre intenção de um agente, que Não submete-se a coerção,
porque é
“Fazer consciente, e
é fazer com a palavra, com a compreensão do fazer”.
Pode-se citar dois
autores modernos. Hannah Arendt com livro: “A condição humana”,
onde busca saber: O que é que caracteriza o humano?
A condição humana.
O Labor?
O labor não caracteriza, o labor visa a preservação da
vida no sentido biológico, o corpo, etc. Ótimo. O bicho também o
faz.
O Trabalho?
O trabalho que visa atividades produtivas, objetos, coisas
além do corpo, mas não é, porque a abelha, a aranha, o castor,
etc também o fazem.
A Ação?
A ação é o fazer com a palavra, a vida no sentido
politico, a memória a história, a linguagem. Não Zoo. Mas um Zoo
Politico.
Outro pensador moderno
é Habermas, Teoria da Ação Comunicativa. “Hoje o que temos é a
ação estratégica predominando, porque tem por objetivo o exito, a
eficacia. O que precisamos é agir com fim no entendimento, e não a
eficácia". Habermas pensa que É possível chegarmos a um acordo,
numa situação ideal de fala, não formatada, pautada, sem preço, a
palavra dada.
Anotações de uma aula do professor Nilson José Machado. USP
Anotações de uma aula do professor Nilson José Machado. USP
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