16 de nov. de 2012

Tópicos de Epistemologia e Didática. Uma introdução.


Tópicos de Epistemologia e Didática. Uma introdução.


O que se persegue nesse texto é estabelecer pontes entre a epistemologia e a didática.
Epistemes do grego, que é ciência, conhecimento teórico, que se contrapõe à técnica, à prática. E aqui podemos pensar em concepções de conhecimento, educação, escola, macro concepções, a ideia de pessoa, e em que medida isso influi, na prática, dentro da sala de aula...
O modo como se imagina que o conhecimento se constrói. Esse modo interfere na maneira em que se vai para a sala de aula. As concepções dos docentes influenciam as ações docentes. E tudo é tácito. O docente não chega à frente da sala e declara suas concepções, o docente chega à sala de aula e age. Na sala de aula é onde se começa a ação, e essa ação é fundada nas concepções de cada docente.

A intenção em explicitar tais concepções não se funda no mero “se tornar mais sabido”, mas em buscar coerência. Coerência entre as concepções e as ações. O discurso teórico e a prática.
Hoje em dia todo mundo é construtivista – seja lá o que isso signifique – mas e a prática docente?
O que se deve buscar é um acerto entre esse discurso e o modo como se planeja, avalia, como se recorre e se utiliza as tecnologias. Desta forma, se buscar ações mais consistentes e mais coerentes.
De cara o que se pode dizer e deve-se dizer é, que não existe uma concepção correta, e as demais incorretas. Há, sim, uma mistura “natural” de concepções. Assim que se deve desconfiar quando o discurso diz se tratar da 'melhor metodologia'. Tudo é muito duvidoso. O que há é uma marca pessoal, que é fruto da mistura de concepções, e é necessário se otimizar, ou ao menos se buscar otimização.

Educação
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Se olharmos de longe a educação apresenta um caráter binário. Conservação|Transformação.
Dentro da palavra educação está o verbo “ducere”. Ducere do latim é Conduzir, Receber quem está chegando e o inserir no quadro social, integrá-lo.
Mas se a educação fosse somente isso, estaríamos parados no tempo, congelados.
No entanto dentro da mesma palavra “educação” há também o verbo “educere”. E este e é “conduzir para fora” que produziu o verbo em português “eduzir” que é extrair, e “edução” que é “extração”.
Por um lado recebo quem chega por outro dou a palavra, e ver o que se tem a dizer.
Assim temos que “Ducação” é “conservação” e “edução” é “extrair”, ou seja “transformação”.
Conservação e transformação são discrepantes no senso comum.
Uma frase assim: “Por uma educação transformadora”, todos a apoiarão, ainda que nem se tenha ideia do que isso signifique. Por outro lado se alguém disser: “Por uma educação conservadora”, estará banido dos coquetéis de lançamento de anos letivos. Mas na vida quanto a educação a dialética conservar\transformar é fundamental.
Em termos culturais, por exemplo, a memória é conservação. Precisamos conservar o afeto, a amizade, a cultura, a palavra, manter a palavras. Tais atitudes são dimensões positivas da conservação, porque não podemos zerar a cada dia, o passado, o conhecimento. Temos então uma construção permanente do que deve ser mantido, e do que deve ser mudado. No entanto há o sentido negativo, o preconceito, a ideia preconcebida: “Não se mexe em time que está ganhando”, é uma máxima conservadora, uma hora perde e perde porque não houve mudança. Outra bem negativa é: “Não fale com estranhos”, esta é terrível, porque se não se falar com estranhos, não se conhece ninguém novo e por fim ninguém mesmo.
Diferente entretanto de “Conformação”. “Eu me conformo”. Conformar-se é muito difícil de defender com argumentos salutares. Estou para dizer que não há argumento possível que defenda o conformismo. “Deixa como está”, é postura muito negativa.

O fim da Educação.

O fim da educação é a ação. A ação que conserva e transforma.
No Aurélio pode-se encontrar: Ação:
Atividade responsável de um sujeito.
Realização de uma vontade que se presume livre e consciente.
Processo de modificação da realidade.
Grandes bobagens são ditas diariamente: “ O mercado acordou de mal humor” O mercado não acorda, não age. O computador não age. O cachorro não age, é simpático, amável etc, mas não age, porque a ação implica em livre intenção de um agente, que Não submete-se a coerção, porque é
“Fazer consciente, e é fazer com a palavra, com a compreensão do fazer”.
Pode-se citar dois autores modernos. Hannah Arendt com livro: “A condição humana”, onde busca saber: O que é que caracteriza o humano? A condição humana.
O Labor? O labor não caracteriza, o labor visa a preservação da vida no sentido biológico, o corpo, etc. Ótimo. O bicho também o faz.
O Trabalho? O trabalho que visa atividades produtivas, objetos, coisas além do corpo, mas não é, porque a abelha, a aranha, o castor, etc também o fazem.
A Ação? A ação é o fazer com a palavra, a vida no sentido politico, a memória a história, a linguagem. Não Zoo. Mas um Zoo Politico.

Outro pensador moderno é Habermas, Teoria da Ação Comunicativa. “Hoje o que temos é a ação estratégica predominando, porque tem por objetivo o exito, a eficacia. O que precisamos é agir com fim no entendimento, e não a eficácia". Habermas pensa que É possível chegarmos a um acordo, numa situação ideal de fala, não formatada, pautada, sem preço, a palavra dada.        
Anotações de uma aula do professor Nilson José Machado. USP

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