Não me lembro de como adivinhava, divisava o
natal. Quando me dava
conta tinha que por os
sapatos em algum lugar, o sono me vencia,
acordava e o papai Noel havia botado o
presente onde tinha que ser.
Ao pé da cama.
De uns tempos para cá o natal começa com o
lançamento do novo
álbum do Rei Roberto
Carlos. Nunca dei a mínima ao Roberto. Gostei
de alguma canção, mas gostei também das do
Wanderlei Cardoso. Na
verdade gostava do que
tocava no rádio. Paulo Sérgio. Estou fugindo
do assunto. O fato é que quando a música de
trabalho do Rei toca, e
toca por toda parte,
os perus começam a se embriagar, ou como a
maioria dos perus tem cara de bebum, e bebum
alcoólatra não vê
outra saida senão que, virar
crente e acreditar em deus tão
febrilmente
quanto bebia, e abstinente seu último desejo é
tomar
um golo, e morrer borracho. Nessa altura
não creem que o Cara é o
cara. É cedo. Mas
cada dia é Natal mais cedo. As lampadazinhas
já
estão amontoadas nas lojas de
quinquilharias chinesas. Os panetones
fazem
picos, a ponto de receberem neves eternas nos
seus tão altos
cumes. O panetone vai pouco a
pouco se transformando em um brownie,
com
cheirinho de rum. Não existe nada mais falso
que o cheiro de rum
dos panetones. Fico
pensando, como fazíamos para detectar a
chegada
do Natal. O Secos e Molhados não
avisava, acho que era o seu Nélson
que vinha
oferecer leitoa.
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