Teoria social da
conspiração... é uma consequência da desaparição de Deus como
ponto de referência, então fica a pergunta: Quem O há relevado?
Karl Popper.
Por
que o capitalismo é isso: feito da própria impossibilidade, seu
eixo fundamental é: daquilo que há e querem que todos compremos,
não dá para todos. Em suma o desejo de todos é a todos insaciável,
não há iPad para todos, se todos o quiserem. Não há ruas para
todos os carros, ainda que não exista carros para todos os que os
desejam, não há leitos hospitalares para todos, ainda que os Planos
de Saúde insistam em vendê-los. Um dos sintomas de nosso tempo é a
fatal falta de verdades. Embora existam verdades em excesso e
excessivas, difundidas em todo e qualquer suporte e forma, apesar
disso, não as temos o quanto baste, e essas que temos, temo que se
tornaram impronunciáveis. Declaro antes de mais nada, não ser
adepto de qualquer teoria da conspiração, e este 'impronunciável'
nada mais, ser, que a impossibilidade do interlocutor. Por que todos
nos tornamos pastores, radiologistas, cozinheiros, artistas, médicos,
críticos políticos, sociólogos, filósofos, ignorantes e
substituímos o não crer em deus para acreditar em tudo. Assim
defendemos os cães, mas não queremos subtrair deles os carrapatos
gordos como feijões. Queremos encher o azul do céu de filhotes,
como se fossemos sanhaços e que encontraremos, por todo o sempre, um
papaia em qualquer parte. Queremos subir no mais metálico dos
carros, por um estribo, e que este seja o mais distante possível do
chão, e enquanto isso desejamos esquecer que haveremos de apear, e
então ser o atropelável, por incauto, mas sempre furibundo.
Não
há duvida que não existimos individualmente, senão que partindo da
tribo ou sociedade na qual vivemos, assim o indivíduo é uma
abstração ridícula. Isso não diz mais do que isso: somos parte do
todo, que pode sim individualizar-se, mas sempre carregando consigo
as marcas da sua tribo, que a cada dia não é outra senão a própria
humanidade. Assim o cubano não é o cubano de outro planeta, mas o
vizinho de Miami, e uns e outros necessários entre si. O que não
quer dizer que não se possa suprimi-los. Mas a supressão de uns
fará ausência aos outros, que por isso mudarão e mudaremos todos,
e se nos individualizarmos depois da supressão de uns ou outros,
seremos distintos do que seríamos se antes o fizéssemos.
Não
cabemos no mundo da maneira que pensamos. Cada um por si, já que
deus não revelou seu sucessor. Falta espaço e ouvimos “Quero uma
casa no campo”, estamos assustados com a cidade e o multitudinário
que isso implica. Um circense terá dito que lá em Piracicaba
saltava de uma sarjeta a outra uma rua de treze metros! A resposta
deve ser: aqui é Piracicaba, salte. Não há volta possível ao
campo, à natureza ao bucolismo. Não entraremos nesse rio por
segunda vez. Aqui é o campo e havemos de tocar muitas peças,
aplanar arestas, chafurdar muita lama, jogar o palito do sorvete
numa lixeira e o celofane do cigarro em outro, recolher a merda dos
cães, assim como castrá-los junto aos gatos até quase sua
extinção, saber muitas senhas, parar em muitos semáforos e ver
muita TV ou Internet para que não tenhamos tempo de pensar no
sentido disso tudo, para só então poder dormir com todo o ruido de
fundo que sempre resta, como a torturante torneira a gotejar.
O
'não' poderia ter sido uma opção, mas já se extinguiu o tempo
desta possibilidade, logo será obrigatório. A menos que insistamos
na paranoia do ser Eleito entre milhões de enjeitados, somente para
que permaneça a possibilidade, impossibilitada, que atende por
esperança, essa loteria diuturnamente fraudada.
As
vezes posamos de flor e rapidamente aparecem as abelhas, mas sabemos
tratar-se de uma calêndula de plástico com umas gotas de água com
açúcar.