De tudo há. Assim há uns que pertencem a deus. Outros que são fantasmas. Os mumificados. Domésticos. Porcos. Sereias. Fabulosos. Libertos. Todos os anteriores. Os que se agitam como loucos. Os pintados com pelo de camelo. Há os que não são os anteriores e nem os a seguir nomeados. Os que acabam de quebrar o rabo. Os que de longe parecem moscas. Lista livremente adaptada desde Borges, el outro, que cita enciclopédia chinesa. Os animais. A lista interdita qualquer possibilidade de pensar ausências. Cada elemento taxonômico é universo de semelhanças e fronteiriço de universos de diversidades. É geografia estranha, entrelaçada, sem todavia permitir intersecções. Onde, mesmo o ranho é um ciclope quando em cavernoso nariz. Esses seres que são todos, nós incluídos, nos vem facilitar o pensamento, acomodá-lo no seu puf ideológico ou simplesmente caótico, desatento, casual e provável, se fosse possível impedir o acaso num jogo de dados. Nada mais terrível que incomodar o acomodado. Com isso esta taxonomia geral e irrestrita assossega a todos. Para que cada um se acomode, no seu balanço. E não se meta em universos outros e desconhecidos, inacessíveis por interditos. Dai que o melhor a fazer é a cara patética do universo de iguais, ao qual devíamos nos manter restritos. Mas mesmo isso não nos atura, ainda quando esbarramos em verdadeiras muralhas de desconhecimento, teimosamente apomos as nossas, feitas de quadrados tijolos, da massapê endurecida pelo pisoteio de ignorâncias, para não ver assimetrias outras. Assim estanques entre amuradas, o discurso que deveria pairar por sobre o universo de singularidades, incerto como uma nuvem, para ver, sentir, aperceber o universo de diversidades dentro do universo das semelhanças, se torna interdito, rarefeito a criar guetos inacessíveis às diferenças, diversidades, e nem sequer chega-se a segunda lei da termodinâmica. Desse modo o esparramo caótico do céu estrelado, que é só uma das possibilidades, acaba por ser ferozmente vindicado como único e imutável, como a própria muralha da China.
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