A Morte.
A Advertência.
Advirto que não
se deve ler este conto assim como ele se apresenta. Creio que se
deva saltar linhas, ou palavras, mesmo parágrafos, ainda que
isso retire algum sentido, se acaso nele existir. É um
gedankenerfahrung cujo intuito é matar o leitor. Lembre-se de
que a curiosidade matou o gato. De acordo com os saltos, ele poderá
ser engraçado, triste, angustiante, ou se não seguir a
advertência: mortal. Portanto, pense com cuidado antes de
atuar, ser independente pode ser divertido, mas também muito
perigoso. Boa sorte e riobalde.
A Introdução.
Está na casa da
vó Vicenza com seus dois melhores amigos, e teu cachorro
Pitbull. Há três anos visitou a casa pela última
vez, quando a avô ainda vivia. O fato de haver uma máquina
de engrenagens engraxadas cheia de polias, bicicletas sem selins e
peles de vaca no pátio, é algo que te preocupa
sobremaneira. Um duende vestido de azul turquesa, com um logotipo no
peito no qual, depois de bastantes esforços, consegue decifrar
as letras EPLOG, o duende dotado de três bundas, que antes dela
falecer, atiçava os rotweillers a avó Vicenza. Ele
está atento a um relógio e Você lhe diz:
necessito que me aperte esta porca. Noutras palavras, ele lhe passa
uma receita com instruções que dizem de que maneira
acionar umas alavancas, uns pedais, e os botões de um dial que
chia como um rádio velho numa velha radionovela sobre chupar
cana e assobiar . O duende, obediente, morosamente, lê as
instruções que lhe dá. De muito, merda, que
bosta, que vai-vem, que ruína, sai da máquina uma
banana dourada de sol, perfeita, simétrica, similar àquela
outra que, por obra de Bloon, Dédalus, enfrentou Aquiles e os
filisteus de filamentos filhas gretadas.
Você acaba de
resvalar em algo, e está caindo até as profundezas da
mente de Paulo. De certo modo te atrai a possibilidade de analisar
tudo desde esse outro ponto de vista, de outra maneira não
poderia apreciar todos os detalhes do processo, mediante o qual
haverá, com certeza, uma saída. De qualquer forma, Você
pensa num impacto, e pensa em amortecer sua força. Todos estes
pensamentos desfilam por tua mente com a velocidade de um relâmpago.
Se você ainda não pulou nada, creio que deva ser essa a
hora.
O Compilador.
O que é um
compilador? O compilador é um bicho, que de raro tem outros
bichos, que converte tudo que estou escrevendo em um ato, um fato,
uma ação, como converte uma bola de parenteses numa
tira como se fosse a grama de um campo de futebol. Eu olho para ele e
se parece a uma centopeia, e vou contar as patas, não sei se
me atrapalho, mas chego só a noventa e oito.
O que acontece nas
entranhas do compilador? Quando Você dá uma série
de instruções, é como se Você ingerisse um
pedaço de bolo. Um compilador adora parenteses; ele vai
quebrando em pedaços menores. Há algum tempo os
zoólogos que cuidavam dos compiladores, adoravam esta fase. De
certa forma é coisa linda, claro, complexo. Mas não é
de fato, relevante. Hoje sabemos que a verdadeira transformação
começa no estomago do bicho onde o bolo alimentar fica dando
voltas. Em vez de escrever as coisas na ordem natural, de fora para
dentro. O bolo se transforma em um fio, onde aparecem, antes, as
partes que estavam mais internas. Alguns lugares do bolo, aonde as
enzimas têm que ir e voltar, são marcados por uma
bandeirinha. O estômago deixa as bandeirinhas assim como estão,
penduradas no fio. Mais tarde o intestino se ocupará de tirar
as bandeirinhas.
A Mente.
Você decidiu
submergir diretamente nas profundezas de minha mente. A medida que
adentra, a luz fica cada vez mais ténue, e Você começa
a sentir tonturas e perde a consciência.
O inferno.
Você não
chegou até aqui de vontade própria, nem seguindo
instruções, apesar de tudo está aqui, em
Janaína.
Habitualmente, as
mitologias e lendas tratam de substantivos fantásticos, sejam
animais, lugares, monstros, espadas cravadas em pedras, o pote aonde
caiu Obelix ou semideuses. As lendas de Janaína Mayara falam
de verbos mitológicos. Por exemplo, se conta da existência
do verbo funarer, metade nascer e metade morrer. O verbo reflexivo
pinoter, que corresponde a ideia de voltar sem ter ido. Se diz que a
primeira pessoa que se pinote uma noite de lua cheia, funerará.
O verbo fantástico
gromosar significa “pronunciar gromosar”. Os professores de
mitologia Janaína Mayara costumam gromosar quando fazem
referência a este verbo. Um grupo de verbos mitológicos
relacionados, provavelmente inspirados em gromosar, são os
três verbos conhecidos como placinados: placir significa
“pronunciar cofer”, cofer significa “ pronunciar roscoir” e
roscoir significa “pronunciar placir”. É muito frequente,
que aquele que trata de descrever o que é o que está
dizendo mediante o uso destes verbos desperta a confusão nos
que estão atentos às diferenças entre “uso”
e “menção” e “ menção “ e “uso”.
Outro verbo
ligeiramente relacionado com estes, é atutir, cujo significado
é “ compreender o verdadeiro significado de “atutir”. A
lenda diz que no instante em que alguém por fim atute, seja,
por fim compreenda o verdadeiro significado do verbo atutir, o verbo
voltará a ser novamente um príncipe, e o afortunado
descobridor se converterá em pedra.
A Paciência.
Agora que Você
está nos cantos mais profundos da mente, você deverá
decidir se sua paciência esgotou ou se já é hora
de voltar para casa. Sem preguiça, você está na
casa da avó Vicenza.
Felizes por teu
regresso, ainda que nem tanto, o duende vestido de azul turquesa,
teus dois melhores amigos, e teu cão te perguntam: aonde
esteve? Por mais que insista e Você insiste em que estava na
minha mente, te dizem que Você cheirou peido debaixo do lençol.
O Fim.
Depois do fim, uma
continuação. Você despertou num quarto aonde há
um dragão. Então aparece o centauro Aloísio e o
fauno magno Malta, uma corte de bufões, arlequins com calças
furadas, reis de são joão del rei, guerreiros
visigodos, desamores da adolescência, dragona a primeira
namorada do Lesmão, a turma que não sabe inglês,
Les Luthiers, diego Hipólito e sua irmã, poemas em
catalão, demostradores de peidos coloridos, a turma da mônica,
a menina veneno, gisele bündchen e um grupo de jaz cantando ma
mama cu sá, e a Sá coça o saco e saca essa:
Afrodite, rapaz, me dá logo esse pomo da discórdia. E
se não der? Te mato. Ah! Bom! Então te dou.
Ai tem um problema de
continuidade das geografias porosas: a maçã ficou no
outro mundo, longe paracaralho, longe do caos perto do coração.
Mas Você, Você ou afrodite? Bom estamos num
descontinuísmo. Há uma receita de maçã
em conserva que Você conserva. No entanto, aonde andará
o duende? E a máquina? E o asteróide? E a avó
Vicenza? E o B-52? Todas essas coisas já não te atraem
proporcionalmente ao produto da massa e inversamente ao quadrado da
distância.
A comida.
O mais curioso é
que a receita não é a mesma coisa que a comida. Tem uma
porrada de arestas, e por não serem a mesma coisa, apresentam
outros aspectos, que são na realidade o mesmo: toda receita é
toda comida receitável.
O intestino delgado ou
delicado consta de duodeno, íleon, cólon, estribo,
refogado, sal e pimenta a gosto, duas asas de frango e batata na
manteiga. Ah! Bastante salsinha picadinha.
O Sancho.
Donde se conta como
Sancho Pança apareceu com intestino solto e outras muitas
coisas dignas de contar e de saber.
Valha-me, Sancho
promete mostrar sua máquina e que se as instruções
precisas são imprecisas, é capaz de construir uma maçã
e acabar com a discórdia da simetria ou esta maçã
é para a mais bela.
Lamentavelmente, a
máquina do fiel escudeiro não se parece com a do
duende. Não passa de um tubo de papelão reciclado.
Pançisancho diz:
não se preocupe
dom cidão, já esta desmonstrado... quê? Livre de
monstros. Porra por que não cala essa matraca? Alan turing?
Não passa pela
tua cabeçorra que está perdido?
Não creio,
afinal, não foi Noé quem botou na sua barca um casal de
Aedes aegypti, e o E. Coli?
Veja, o bicho é
mamífero, mas ovíparo, anda pelado e é ávido
e não há havido mais maçãs, nem duendes,
então bispo da dama c 3.
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