12 de ago. de 2016

Porteiro.

Desço degraus de pedra da caverna.
Cova que é olho de ciclope
Desço degraus trás degraus
Paro à porta, e já se fora
O ilusório, o amor
Nuvem sempre mudança que
Dissipa.

Dez para as dez saio.
O homem ao pé da porta.
Está por mim ao pé da porta
Troca de nome, mas é o mesmo
Troca de chapéu nunca dorme.
Não que me impeça a passagem
Desde sempre e antes está em cada porta.
Saio evitando-o.
Olha dentro dos meus olhos
Não me diz palavra
Mas imagino a inquisição.
Como é, você sabe, que um pisão
Arruína a delicada vida da formiga.
Sei que me equivoco conjugando os tempos. E faço aparecerem as sombras, gritaria de bocós.
Áspera língua que com seus beijos
Lixam minha garganta.
Minha pele eriçada, cruzo túneis
Sinto que já fiz essa rota.
Já sei, não me diga nada, cê tem razão.
Não me obstruí o passo, quebra o chapéu.
Já me pesa o embornal de despistes.
Inútil tentar.
Sempre que tarde.
Sempre tudo mal.
Sempre o veneno amargo.
Língua voraz sulca
Outro crepúsculo.


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