27 de abr. de 2016

só vou te contar um segredo não nada,nada de mal nos alcança pois tendo você meu brinquedo nada machuca nem cansa

só vou te contar um segredo 
não nada,nada de mal nos alcança 
pois tendo você meu brinquedo 
nada machuca nem cansa.  fulgaz, Marina. 


Normalmente, contam-me coisas que já sei, mas as vezes no meio da conversa aparece um detalhe, novo, um perdigoto, um lapso de linguagem, um sem querer, que recolho com cuidado, como se fosse um coração pulsando fora do peito, carrego-o com carinho, até o novo dono. Não se pode desperdiçar nenhum detalhe das conversas, não desperdiço, porque não se sabe se se converterá, lá à frente numa ponta de um novelo que se pode ir puxando, puxando. As vezes, e isso é o mais desesperador, me contam coisas com a condição de que não as conte a ninguém. Sim, digo que sim. Ouço em silêncio. Me emociono. E calo. Para sempre. Normalmente, isso que tenho que guardar, é aquilo que daria verossimilhança e intensidade a um relato, e tem que ver, claro, coma as coisas humanas dos que compartilham com os demais humanos. Tenho o quintal cheio de buracos, nos quais enterrei meus segredos. Está se tornando um campo minado, mas a alguem tenho que dizer o que me calo, para que não me expluda.

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