2 de ago. de 2013

Sísifo o Astuto.




Ensaio de Albert Camus, de 1942: Le Mythe de Sisyphe.

Camus gastou bastante energia a pensar o '' para que serve nossa vida, a validade do suicídio, e a futilidade da saudade!”
O livro termina com uma discussão do mito de Sísifo, quem, de acordo com a mitologia grega, foi castigado por toda a eternidade a empurrar um pedra morro acima, por que ao chegar ao cume visse despencar ao sopé da montanha, e , então começar de novo. Camus declara Sísifo um herói absurdo e ideal e o castigo uma representação da condição humana.
Lutar perpetuamente e fazê-lo sem esperança de conquista ou apenas vencer. Enfim resignar-se de que não há nada que se possa fazer. Convertendo sua vida num conflito absurdo, pois ao terminar sua tarefa encontrará a felicidade...
Sísifo antes do castigo foi o mais astuto dos mortais e portanto o menos escrupuloso. Era filho de Éolo e foi fundador de Corinto, que então se chamava Éfira. Sísifo tinha agenda cheia. Conta-se que Autólico lhe roubou os rebanhos, Sísifo foi buscá-los e os recuperou porque os tinha marcado com seu nome. Mas, no mesmo dia que foi reclamar a Autólico o que era seu, se celebrava a boda da filha de Autólico, Anticléa, é uma versão, Sísifo catou Anticléa, e disso nasceu um filho, ninguém menos que Ulisses, e diga-se de passagem outro astuto, que dava nó em pingo d'água.
Mas diz a lenda, ou outra versão, que o próprio pai de Anticléa entregou-a a Sísifo, pois desejava ter um neto tão malicioso como o pai, Sísifo.
Zeus em um de seus infinitos devaneios e raptos, raptou Égina, filha de Asopo, e nisso passou por Corinto e foi avistado por Sísifo, enquanto carregava sua presa amorosa. Sísifo guardou a informação, pois sabia que o melhor a fazer era passar despercebido... mais tarde quando o pai, ultrajado, Asopo, que era um deus-rio, passou por Corinto a procura da donzela, Sísifo se apresentou para tirar proveito do segredo, da informação guardada, e pediu em troca ao deus-rio, Asopo, que fizesse brotar uma nascente em suas terras, no que Asopo concordou.
Acontece que Zeus se inteirou da coisa, e com sua arma favorita, o raio, fulminou Sísifo e o precipita ao inferno, ao mesmo tempo que o condena a levar a rocha ao cimo do penhasco pela eternidade, uma, outra e outra vez, porque esta haveria de rolar ribanceira abaixo de seguida.
Mas isso não se deu assim diretamente, sempre há o intermediário, e neste caso foi Tânatos, o deus da morte não violenta, pois a morte violenta convinha às suas irmãs, Queres, as sanguinolentas. Mas o astuto Sísifo surpreendeu a Tânatos e o acorrentou, e durante o tempo em que Tânatos esteve acorrentado nenhum ser vivente morreu, foi um transtorno à ordem natural das coisas, suponho.
Como sempre acontece com esta história de delegação de poderes, Zeus houve por bem intervir diretamente no episódio, libertou Tânatos para que a ordem natural do mundo retornasse e este fizesse o seu trabalho, cuidar da morte, sua primeira vítima evidentemente foi, naturalmente, Sísifo, mas este tinha outra carta na manga e burlou seu destino.? Ordenou a sua esposa, antes de morrer, que não lhe tributasse honrarias fúnebres. Assim quando chegou ao inferno, se apresentando de forma ordinária, Hades, deus das trevas, quis saber porquê, no que Sísifo disse que sua impiedosa mulher assim o tratara e gostaria de voltar para castigá-la, e obteve passaporte para voltar a terra e tomar as providências.

Assim, Sísifo viveu até avançada idade, sem retornar ao inferno, finalmente morreu e Hades se apressou e o impôs o castigo de rolar a pedra morro arriba, antes que pudesse inventar outra e escapar.
Albert Camus, anota que há um interlúdio de descanso e liberdade, assim que a pedra empurrada alcança o cimo, Sísifo é livre até voltar ao sopé da montanha e retornar à sua industria.






Nenhum comentário: