12 de ago. de 2013

Homenota: Camões.

Camões era um gênio, quando se enfadava conosco, nos chamava caterva, ou catréfia não tenho certeza. Camões fazia Faculdade de Farmácia na FOF da Usp-RP. Não tinha nada a ver com ele. Barbudo , cabeludo, sandálias de pescador e tiracolo de couro, de onde saiam as raridades, que disputávamos com nosso parco dinheiro. Ele ganhou o apelido, Camões,  por ter escrito uma boa hora, sem parar, o Canto I de Os Lusíadas de Camões, numa prova de química orgânica, creio. Tinha memória privilegiada da qual abusava a nos recitar Rajneesh.
 Mas não era essa a sua genialidade, qual estava em não nos cansar, em particular sempre andei embasbacado pela sua conversa mole, sempre a conta-gotas, que até hoje não a apreendi desde a sua construção. Enfim Camões jogava xadrez de costas para o tabuleiro, e vencia a toda gente, exceto os grandes campeões da cidade daquele então. Ganhava dinheiro revendendo livros que trazia dos sebos paulistanos. O primeiro a me falar em Jorge Luís Borges foi Wilson Giacon, mas o primeiro Aleph me trouxe Camões.
Me explicava Schrödinger e seu gato.

Uma noite na Cantina do Toninho na Via do Café, provocou um cena insólita, cena de Cinema Novo. Camões estava com uma colega da psicologia e pouco a pouco a foi incentivando a ir fundo na própria ''loucura''. Era um encantador de serpentes. Ela primeiro chorou. Depois chorou para toda a gente da cantina ouvir. Depois subiu na mesa, tirou a roupa, fez discurso, falando do tempo que havia perdido, do seu puritanismo, sua virgindade inútil, berrou, sapateou... Camões permanecia sentado, olhando-a, como se todo o resto não existisse, e não existia, éramos catréfia, ele sabia Wittgenstein.
Não se usava esta palavra, mas ela surtou, surtou mas pagou a conta e destrambelhou de vez.  

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