“Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.”
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.”
Quando tenho o mundo
dos fatos; o mundo mecânico, e vivemos sob a tirania dos fatos; não
sobra espaço para o valor. Fatos: Toda puta é mulher. Da
população carcerária, a maioria é de negros! São fatos. E daí?
Que valor se pode tirar disso? Há um tipo de pensamento, que não
quer valorar isso, para além dos fatos. É uma redução do valor
ao fato, própria deste pensamento. Porque o valor não tem sua pauta
no mecânico. O mundo mecânico só entende a sequência de fatos.
Daí que estes mesmos ''pensadores'' só entenderem ou aceitarem o
''valor'' nalguma poesia ou poeta, já por demais estereotipado, ou
frases e pensamentos''bonitos'' via mecanismo de recalque. Porque não
conseguem passar dessa transcendência recalcada para a vida real.
Assim o valor é dado como fato. Claro que isso é uma redução,
para poder pensar, porque não posso pensar cada indivíduo, mas o
mecanismo se repete com frequência e insistência. O poeta, o
artista cria valor! Um exemplo está em ''A Tabacaria'' de Fernando
Pessoa. Onde o eu lirico decreta a falta de metafisica em Esteves, o
homem que sai da tabacaria e lhe acena, com isso bota ordem ao
universo, a irremediável ordem dos fatos. Mas quem dos senhores da
fatalidade não se submetem a tristeza desses versos:
“Come
chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.”
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.”
A
completa adesão ao mundo dos fatos para além de qualquer valor, nos
leva a indigência. Para sair desta indigência, se apela ao poeta,
se busca aderir não aos valores do poeta, mas a imagem do poeta, às
frases do poeta, nem do poema inteiro. Porque o poeta está sempre
detrás da vidraça do café! No mundo das redes sociais onde as
pessoas colam os ''fatos'' são as mesmas que também colam Clarice
Lispector, que nem sempre é Clarice.
Não
se trata de ter o ponto de vista de Argos planador, mas também não
partilhar pontos de vistas massificados, de coisas, mercadorias.
Porque o mundo dos fatos é o mundo do mercantilismo, e no mundo da
produção, troca e consumo de mercadorias é irremediável que tudo
se reduza à mercadoria mais singela de todas que é o dinheiro.