Na
entrevista, Lobão disse que "Emicida, Criolo, todos têm essa
postura, neguinho não olha, não te cumprimenta. Vai criar uma
cizânia que nunca teve, ódios [raciais] estão sendo recrudescidos
de razões históricas que nunca aconteceram aqui. Estão importando
Black Panthers, Ku Klux Klan. Tem essa coisa de "branquinho,
perdeu, vamos tomar seu lugar". Como permitem esse discurso?".
“Cizânia que nunca
teve”.
Pode ser que tenha a
ver com o caráter de uma gente acostumada a calar e abaixar a
cabeça, a não subir o tom de voz, a conseguir ínfimas margens de
liberdade, esperando, obviando, sibilando orações, para não
molestar ninguém. Também pode ser por entremear frases com
suavizadores, sinhô, sim sinhô, dotô, diminutivos a mancheia dando uma
patina de discrição ao conteúdo, uma humildade discreta e
proletária às orações simples de sujeito, verbo e predicado em
diminutivo; incapazes de uma subordinação, a tal hipotaxe preterida
à paratática, talvez por sentimento atávico de reticência à
submissão, e por isso talvez, tenham sempre se dedicado às
insignificâncias, quando minguavam de sentido aos demais, umas
acabariam por tornarem-se alvo do alto interesse de outros, como o
samba, o ritmo em si, a bola, o jogo da bola em si, mudado, mas para
os então humilhados não era mais que um calor cotidiano de familiaridade
advinda da comodidade dessa gente assim recolhida e ensimesmada. Sendo gente que tinha mais siso que oclusão, não
quer dizer, entretanto, que a ''coisa'' assim devesse permanecer, ou que fosse
natural.
O grande espanto de
Lobão, neste sentido não é nada diferente do pensamento –
cultura – conservador – diga-se de passagem que isto não é
inerente tão somente às classes sociais – e tanto desse espanto e
é assim, porque descobre que a ex “gente humilde” tem sua
própria cultura, ou leitura, consumo e da posterior ruminação tem
industriado sua, por exemplo, música cheia de arestas e areias e
ruídos, que geram mesmo, isso sim, muito atrito; talvez porque
vivamos numa sociedade toda ela atrito. Talvez Ipanema e Leblon
pensavam que os habitantes do morro existiam para engraxar seus
sapatos e para alegrar o 'dotô' tiravam um samba com a flanela.
Um comentário:
Quem defende ditadura e racismo é completamente sem noção. Devemos defender a liberdade e a felicidade de todos. É triste ver pessoas votando em Bolsonaros da vida, loucos que são contra a democracia e contra as regras de convivência (entre elas as leis contra o racismo, a intolerância religiosa, a homofobia, discriminação da mulher e a xenofobia). Qualquer coisa que vá contra o ser humano é prejudicial a todos, embora alguns loucos que se consideram "elite iluminada" não entendam isso.
Postar um comentário