9 de mai. de 2013

O amor é um buraco aceso!


O amor é de longe, o exercício mais irracional e obscuro gerado pelo corpo humano. Um caminho que vai alem das fronteiras do raciocínio, e tem mais a ver com os mecanismos foscos, por ignotos, da nossa alma, que o uso de argumentos presentes da realidade! Entretanto nos desenganamos, e então tudo parece trabalhar contra o amor, desde as rotinas do trabalho, com as misérias que lhe são inerentes, até as rotinas familiares e existenciais, passando pelas impudicas exibições do individualismo, as quais assistimos, com perplexidade cada vez mais rarefeita, dia sim outro também, incorporados até a raiz na esfera pública.
Não, não é a política e as suas imoralidades e suas consequências morais, que não favorecem o primeiro impulso da solidariedade (um tipo de amor), que nos comove e nos move. Isso, talvez nos empurre para uma intimidade fosca, de equilíbrio inexpugnável atrás do parapeito de nossa fragilidade.
Pense em quem se apaixona! De partida perde as cercas da sua personalidade e se transforma, para se entregar à joia irreflexiva da alteridade, ao gozo lancinante do auto-esquecimento, numa pista que o leva a correr até o esgotamento, pelo simples fato de correr e como resposta ao tema. “Enquanto a tudo devoro, tudo se vai” ou “Pela escuridão é devorado. Tudo o que com tamanha rapidez brilha em ruína se vai." É Sheakespeare! É a celebração do instante inalcançável, um lá menor com sexta seguido de mi também menor também com sexta, o triunfo absoluto da paixão, que forja, dá formas, à natureza do amor, tão humana, tão animal, tão incompreensível, que para nos certificarmos, de tal existência e remotamente entendê-la, não podemos, senão a exercer e desenrolhar este champanhe e celebrá-lo sem pudor, quase obscenos, a demolir qualquer símbolo.
Um fanático do amor é um tolo, pode ser, um velho que se faz criança, ridículo de repente, e recomeça, e refaz-se e na sábia inocência que sai de si para se perder no ser amado, por fim, recomeçar e recomeçar no nada, do nada e no nada encontrar-se. O amor é um buraco aceso.    

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