Vivemos num mundo
profundamente desigual, duma desigualdade flagrante e nada retórica.
Se o planeta fosse uma Bonfim de 100 habitantes, haveria 47 que
passariam fome ou se alimentariam de modo insuficiente, 24 que não
teriam acesso a eletricidade e 13 que passariam uma vida sisificada a
transportar água, (não conseguem pagar as contas de água e luz)
mais que nada para os ricos que seriam os restantes 6 entre médios
e ricaços, e os 10 que faltam seriam os médios baixos. Assim sendo
60 pessoas penam neste abstrato município para 'chegar' ao fim do
mês.
Podemos viver seguros e
moderadamente satisfeitos em tais circunstâncias?
Não nos sentiremos cada vez mais em perigo, mais encurralados pela
desesperação dos excluídos, tanto dos munícipes como dos
desgraçados vizinhos, já que não existe fronteira ou é porosa?
Que
opção temos ?
De um lado o autoritarismo, que propõe trocar a liberdade e a
'justiça' pela segurança. Do outro, podemos nos resignar ao que
Italo Calvino escreveu no livro As Cidades Invisíveis
( “ O
inferno dos vivos não é alguma coisa que será: se não existe
inferno, é que já o é aqui, inferno que vivemos cada dia, que
formamos entre todos), e fazer de conta que não o vemos. Uma vez
evaporada as utopias revolucionárias ( em parte porque desaguaram
quase sempre no terror: a revolução francesa, a soviética, a de
Mao, a dos Khmer vermelho do Camboja etc), talvez nada mais nos
restará que uma terceira opção, também descrita por Calvino
''procurar e saber reconhecer quais pessoas e quais coisas, no meio
do inferno, não são infernais, e fazer com que durem e dar-lhes
espaço'''.
Um comentário:
Gostei do texto. Estas questões que você coloca têm me tocado com uma força especial ultimamente. Às vezes, como uma espécie de nostalgia; outras, como uma sensação de andar em círculos, como os cães que tentam alcançar o próprio rabo.
Postar um comentário