Dizem que formar-se é
questão de desejo. Sendo isso, tudo aquilo que aprendemos, sobretudo
nos primeiros anos da vida, a infância e na primeira adolescência,
penetra e forja-se no nosso interior através dos impulsos, da
curiosidade para nos expandirmos os sonhos de possuir os objetos do
nosso anseio. Um espirito passivo se coloca justo do lado contrário
da aprendizagem pessoal, o intimo, porque alguém que se abandona à
quietude quer tornar-se impermeável e deixar de crescer e evoluir:
frequentemente é gente com medo às mudanças, estas sempre
comportam instabilidade. Mas o desejo, o desejo no estado puro, é, e
há de ser, inconsciente, uma fagulha em constante brilho em busca de
uma atmosfera por explodir.
Vejam se não, numa
criança ao se despertar depois de belo sono; o universo já está
lá, nele, com tão somente a chegada da consciência, um terreno
para explorar, os objetos dançam em torno dele, como se existissem
tão somente para ele, as caras, as vozes que o rodeiam tudo surge
um dia para ali estar, aqui e agora, ao seu serviço, e da sua
felicidade.
Como perdemos o
desejo?
Porque, pouco a pouco perdemos o desejo que alimenta nossa
aprendizagem, a primeira comida, a bebida, o primeiro livro, o
primeiro sexo, a beleza, o primeiro amor... e passamos a nos ocupar
com a perseverança da passagem do tempo e a experiência desse
passar do tempo.
Com a literatura
transformamos a fascinação, a curiosidade em formas de indagar do
pensamento, mas tudo desemboca em quietude outra vez.
Desaparecido o desejo,
o mundo se apequena, e as coisas não são outras que perfis clonados
que se encadeiam com previsão matemática. Ser adulto é isso! Quem
sabe?
Os
jovens se deixam seduzir por personagens inverossímeis, por uma
simples rima, por uma melodia, por um ritmo, pela simplicidade de um
argumento, mas o adulto se sente cansado tanto pelos desejos
falhados, como pelos conseguidos e pelos que acabamos de conseguir. É
um estágio mais próximo da morte! Porque o desejo, sai de nós e
projeta-se fora! Ao mesmo tempo e por outro lado o tempo se encurta e
o desejo do mundo nos toma e nos conduz! Pode ser, que recuperemos um
pouco da criança que aprende e desaprende, afim de voltar a se
maravilhar com um mundo rejuvenescido!
É
certo, assim, que o desejo nos forma, por bem ou por mal! E se somos
levados pela sua mão, acabamos sendo o que somos, sabendo o que
sabemos. Sem ele, não somos nada, ou espectros acinzentados,
pasteurizados das todas outras cores.
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