Filme, Feios, Porcos e Malvados Nino Manfredi em Giacinto Mazzatella. Obra Prima de Etore Scola. |
Os
vícios privados fazem a virtude pública, é a mensagem irônica do
poema: A fábula das abelhas, escrito
por Bernard de Mondeville em
1714. Bernard, um médico holandês descreve aí um paradoxo
econômico,
delicioso. A avareza, a luxuria e a gula, que são
pecados capitais, resultam úteis e contribuem ao bem geral,
da
colmeia. Se não fosse pelos gulosos, como iam ganhar a vida as
doceiras? Se não fosse pelos
mulherengos, os pródigos, que gastam
com flores e presentes o que não têm, como ganhariam a vida as
floristas, os proxenetas? Se não fosse pelos avarentos que ganham
dinheiro com o trabalho dos outros,
quem daria emprego aos
desempregados? O que beneficia a sociedade, então, não é outra
coisa senão os
vícios dos seus membros.
No
ano de 1759, Adam Smith publicou A teoria dos sentimentos morais. Ali
sustem com cândida beatitude
que o estado não deve fazer qualquer
regulação da economia, que disto se encarregaria a ''mão invisível
do
mercado”, a qual, como um anjo da guarda, organizaria a
diversidade dos interesses humanos. Ainda
segundo Smith, não faria
falta leis estatais sobre as condições de trabalho, salários,
preço ou qualidade dos
produtos, porque a livre concorrência, a lei
da oferta e da procura, a luta entre produtores para vender a
melhor
preço, e as disputas entre operários e empresários pelos salários
acabariam em um copioso
equilíbrio que a todos beneficiaria.
Confesso, crédulo leitor, que começam a rolar as lágrimas da mais
pura
emoção, entre os vincos da minha cara de taipa, diante deste
retrato tão maravilhoso da coisa.
O
caso é que estas prédicas do arcanjo Adam Smith, e que se tornaram
o novo testamento dos neoliberais
dos últimos dias, levaram-nos às
práticas e consequências quais todos conhecemos. Será por isso que
há
este ruído ruinoso a pedir mais selic, menos direitos aos
''domésticas” etc.
Hoje
por motivo abolicionista, O Estado, oferece o resultado de fatos –
relatados pela Justiça do Trabalho -
ocorridos até ontem no
Brasil, que diz respeito a trabalhadores que viviam em regime de
verdadeira
escravidão, e não se trata do Acre ou da Bolivia, mas de
São Paulo no empoado quarto posto na lista que
enumera empresas com
regime escravista de trabalho.
Que
lástima que os tribunais de Justiça do Trabalho não sabem da
estreita relação entre os vícios privados e
as virtudes públicas,
e assim punam estes senhores, porque bem que poderiam esperar pela
autorregulação,
assim manteriam estes abusos tão delicados, tão
perfeitamente injustos, tão despojadamente liberais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário