6 de mai. de 2013

Fim da utopia.



Vivemos num mundo profundamente desigual, duma desigualdade flagrante e nada retórica. Se o planeta fosse uma Bonfim de 100 habitantes, haveria 47 que passariam fome ou se alimentariam de modo insuficiente, 24 que não teriam acesso a eletricidade e 13 que passariam uma vida sisificada a transportar água, (não conseguem pagar as contas de água e luz) mais que nada para os ricos que seriam os restantes 6 entre médios e ricaços, e os 10 que faltam seriam os médios baixos. Assim sendo 60 pessoas penam neste abstrato município para 'chegar' ao fim do mês.
Podemos viver seguros e moderadamente satisfeitos em tais circunstâncias? Não nos sentiremos cada vez mais em perigo, mais encurralados pela desesperação dos excluídos, tanto dos munícipes como dos desgraçados vizinhos, já que não existe fronteira ou é porosa?
Que opção temos ? De um lado o autoritarismo, que propõe trocar a liberdade e a 'justiça' pela segurança. Do outro, podemos nos resignar ao que Italo Calvino escreveu no livro As Cidades Invisíveis
( “ O inferno dos vivos não é alguma coisa que será: se não existe inferno, é que já o é aqui, inferno que vivemos cada dia, que formamos entre todos), e fazer de conta que não o vemos. Uma vez evaporada as utopias revolucionárias ( em parte porque desaguaram quase sempre no terror: a revolução francesa, a soviética, a de Mao, a dos Khmer vermelho do Camboja etc), talvez nada mais nos restará que uma terceira opção, também descrita por Calvino ''procurar e saber reconhecer quais pessoas e quais coisas, no meio do inferno, não são infernais, e fazer com que durem e dar-lhes espaço'''. 


Um comentário:

Nazaré disse...

Gostei do texto. Estas questões que você coloca têm me tocado com uma força especial ultimamente. Às vezes, como uma espécie de nostalgia; outras, como uma sensação de andar em círculos, como os cães que tentam alcançar o próprio rabo.