Para
melhorar a qualidade do voto, antes temos que melhorar a qualidade de
nossa charcutaria.
É
básico. Se não sabemos escolher a calabresa, a pergunta já vem
implícita, vou redundar, como poderemos escolher políticos? Há
vários caminhos e argumentações possíveis para seguir a analogia.
Fazer
do político calabresa, é fazer do seu fabricante o povo - seu
gerador-. O político nasce, emerge do e no seio da sociedade. Os
políticos não vêm de outro planeta. Assim como a calabresa tem
origem bem conhecida – ou deveria ter procedência, ingredientes
etc conhecidos – o quê nem sempre é verdadeiro. E por incrível
que pareça é mais que analogia, é a origem – como muitas outras
situações – da falta de qualidade do voto. Excetuam-se as raras
butiques, de luxo, onde algum produto nacional é diferenciável pela
qualidade, além do rótulo, no demais a escolha se dá pelo preço,
porque todas são ruins.
Entretanto há quem acredite, via
publicidade, que há diferenças significativas entre uma e outra,
sendo todas produzidas a toneladas, cozidas pra dedéu, lotadas de
sal via nitrito de sódio uma infinidade de produtos químicos ora
reguladores, potenciadores de sabor, corantes, aromatizadores,
extensores (que ligam água e gordura) etc.
Quero
dizer com isso que a escolha, como ela se dá hoje, é mero exercício
de consumo. E volta-se à partida. Como consumidores não sabemos
escolher embutidos!
Desta
maneira é fácil compreender como as grandes industrias gastam mais
em publicidade que no desenvolvimento da qualidade, para realmente
diferenciar o seu produto. Não precisa ir muito longe, uma das marcas de
cerveja mais cobiçadas pela massa, de memória, nada fez senão
mudar sua apresentação, chegando ao cúmulo, para vender o mesmo
como melhor, diz que antes todas empanzinavam, incluso ela mesma. Aonde
isso nos leva?
Aos Santinhos.
Passei
o dia 'ajudando' meu candidato. À porta da zona eleitoral, montes de
santinho, santinhos aos montes, fica melhor.
Por
que? Porque o eleitor,
parte dele, de todas as classes, pesquisa visual, empirismo, pois o
colégio onde 'trabalhei' é secção dos moradores dos condomínios
que circundam Bonfim. Vi muita gente agachar e colher uma 'santa'
criatura e ir por ele votar. Havia disfarces. Enfim detalhes
novelescos. Somos um povo novelesco, atuamos como se fossemos
personagens dessa grande novela. Não sabemos dizer o não ou o sim,
sem intercalar uma novela. A prova cabal é a quantidade de votos
totalmente fora de contexto, votos em candidatos que nem sequer
colaram cartazes, ou vieram aqui, ou distribuíram santinhos antes,
somente no dia forraram o asfalto, passou um eleitor, pegou, votou.
O
desinteresse em participar da vida política, o que é em si fatal,
leva a que o eleitor seja tratado como consumidor, o que é
absolutamente real. Antes da eleição escrevia sempre pedindo a
participação. Devemos participar, nem que seja com o espírito
festeiro, porque é uma festa.
Um
delegado de partido, ficou i-n-d-i-g-n-a-d-o com a montoeira de
papeis, encontrou uma vassoura e começou a varrer, santa crueldade,
o homem vestido pelo seu partido no limite da legalidade, teve a
pachorra de ir buscar sua pick-up, também ela toda adesivada,
estacionou bem na boca do colégio... eu estava lá, e disse-lhe,
pouco, sendo do partido que era!
Agora
para um povo que joga tudo na rua, restos de sorvete, copos de água,
vasilhames em geral etc, coisas que fazem essa indignação
novelesca, como já disse, é uma atitude hilariante por postiça.
O
sujeito – verdadeiro suíço! - a se espantar com os santinhos, é
para c. de rir.
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