29 de abr. de 2011

O PAPEL DA OPOSIÇÃO. FHC se debate com o nigromante tautológico. Parte II.


Ser tautológico é encurtar a guia do cachorro, pois com mais corda o animal começa a criar problemas. Assim o tautológico corta tudo que cresce ao seu redor. Mas a tautologia é mais perigosa que isso; é ruptura entre a inteligencia (capacidade de discernir, entender, plasmar, discutir abrangentemente, etc) e seu objeto ( coisa, argumento, tese, etc), é a ameaça de impor um estado de coisas, onde não existe o pensamento. Ex. Lula é analfabeto.
O povão diz: oposição e governo – políticos - são farinhas do mesmo saco! E essa é a tautologia que o PSDB ajudou brilhantemente – diga-se de passagem – a construir. E não nego, que vem sendo construída ao longo de toda a nossa história recente e remota, com este breve intervalo de desconstrução que começou com a edificação do PT e prosseguiu nos governos Lula e permanecerá no atual e futuro governo Dilma.
Contra este costume tautológico, neste exato momento, FHC convoca suas hostes e como verificação de que seu intelecto anda falto, seus aliados desertam. Somos um povo tautológico. E se nos ocupamos com algo além das extremidades do nosso cachorro é para dizer: Europa é Europa. É! Mas ele é artista! É isso ou aquilo! Você pensa demais! Mais amor menos razão! Por isso, e muito por isso, que na criação, nucleação do PT, encontrávamos imensa dificuldade para rebater estas verdades tão absolutas, tão curtas e rasas, que nos exigiam verdadeiros exercícios retóricos ( não inteligíveis mor das vezes, como se andássemos a mostrar o real por um espelho concavo) , uma simples frase criada, ensaiada, alastrada e repetida por trezentos espartanos que assim bradavam: Um metalúrgico analfabeto com um dedo a menos!
Pensar desta maneira dispensa ter ideias e ter ideias é difícil, e por consequência essa a facilidade faz com que essa preguiça se agigante e se transforme em moralidade vestida a rigor.
Gritam: Petralhas, malandros! Não por assim pensarem, pois qualquer pensamento mínimo e por mínimo que possa ser, não caberá numa palavra. Mas isso não é invenção dessa gente tautologizada e bronzeada, isso é o supra sumo do pensamento de apóstolos, gurus e um que outro anacoreta peessedebista, pensado e ensaiado e expresso pela máquina publicitaria do PSDB, em letras garrafais, em suas cartilhas semanais e diárias, tudo dito com a coluna e o nariz empinado, como se fossem os inventores da lógica e não dos silogismos mas do próprio Aristóteles.
FHC consegue ver que Lula dissolveu esta instituição minimalista que impedia o povão de ver além do focinho do cachorro. E isso se transformou, não só num problema de conteúdo ideológico para a oposição, mais que isso, que não há conteúdo ideológico, há uma tatuagem que aponta para o outro, querendo dizer que estava nu, mas o outro esta despido e é diferente.
E agora é impossível apagar a tatuagem feita sem medir consequências. A pele e a figura tatuada são a mesma coisa e o filó ( programa de partido) não ocultam seu mundo onírico. E a mente brilhante que tudo e tanto fez para criar o tribunal, as leis, o juízo e a sentença; agora quer fazer crer, e dissolver “ontologicamente” tal sistema. Assim termino minha análise da primeira parte do tal manifesto (cinco parágrafos).

28 de abr. de 2011

Manifesto de FHC. O Papel da Oposição. Parte I

“O Papel da Oposição”; manifesto de FHC; começa por um vicio crasso já na premissa, na descrição desfocada da realidade no seu primeiro parágrafo. É notória a dupla jornada de trabalho que nos cabe enquanto trabalhadores; necessárias a desnudar a vicariedade dessa gente. Trabalhar pesado e ainda ler-lhes a realdade. Mas a tais hábitos inveterados não se necessita de instrumentos tão poderosos como a hermenêutica materialista dialética para pô-los à vista de qualquer interessado – desde que este não queira torcer ( por ingênuo ou intencionalmente, médias, analistas políticos de fachada que pensam tão ociosamente quanto os porteiros de edifícios e ai eu não sei quem ofendo, penso que aos porteiros, duas vezes; posto que tal trabalho em si é degradante, etc), enfim ficou longo o parêntesis, volto a torcer a ferragem da estrutura e derrubar o edifício. O que mobiliza o povão são: as condições objetivas que nada mais são que a relação trabalho e capital. Ora vamos, as conquistas democráticas – década de 80, culminando com a CF 1988 - foram as migalhas oferecidas pela ditadura, em substituição ao banquete almejado pelos sindicatos do ABC liderados por Lula – note-se que o festim só não ocorre por clara traição do MDB de FHC e Ulisses -. A prova disso é a risível, para não dizer triste candidatura de Ulisses Guimarães que caiu na lábia do sociólogo; cuja; o “povão” desqualificou com o cortante 3%. Candidatura esta fruto da leitura e análise política equivocada e desnecessária de FHC e cuja ociosidade vige no atual manifesto. O que mostra que FHC não aprendeu nem com ele mesmo, que há tempos disse: esqueçam o que escrevi. Tanto esqueceu que redunda. Não apreende da própria eleição, conquista vinda no bojo do fato econômico – que se pode, tanto atribuir a FHC quanto ao FMI, Capital Estrangeiro Desejoso de Novos Mercados com Regras Menos Voláteis, indistintamente, tudo é o mesmo, sinônimos, mas sempre um fato\ato\concreto\no-mundo-real – que foi a criação do Real. Já o rearranjo partidário citado por ele não nasce assim de suas pregações, mas sim do terremoto: greves metalúrgicas do ABC; e o consequente tsunami; a criação do PT. E a necessidade da união no mínimo vergonhosa das elites (FHC, Militares, Média, Banca etc) para impedir a que seria clara vitória de Luiz Inácio.

O livro infinito.

Diante do visto\vivido pela vida afora, à leitura de um texto qualquer se interpõe, digamos assim, o DNA-sociocultural ,adquirido pelo leitor no seu trajeto de vida, somado a circunstância contemporânea da leitura. De uma maneira, seja, de um velho modo: não há uma segunda leitura de um mesmo livro; haverá outra leitura de outro livro; o mesmo livro. Se o livro muda, posto que as palavras não estão mumificadas, e mesmo as múmias cambiam - em geral deterioram -, digo que será uma leitura outra.   Assim sendo o próprio autor\escritor lerá um livro diferente daquele por ele escrito, ainda quente recém saído do forno da razão sensível. Partindo do acima dito; pergunto, poderia inferir? Infiro; é impossível ensinar “uma”leitura de um livro (não sendo este um objeto estático) que não seja uma visão\entendimento\aprisionamento efêmera de algo cambiante\cinético (algo que por si só é impossível, pois o livro não cabe no intervalo de um piscar de olhos, como a pintura ou a escultura, e mesmo estas ainda que não alterem o significante com o passar dos anos, se não levarmos em conta o envelhecimento, nos oferecerão variedades de leituras, segundo as visitemos ), ainda somada à possibilidade de: partindo de um trecho lido de um texto, tal leitura alterar o futuro discernimento do “o ainda não lido”.   O que nos levaria a eterna leitura\outra-leitura - nunca releitura - do mesmo livro, criando com isso o livro infinito, o que não deixa de ser os livros todos que existem, todos e o mesmo. Assim me parece e me interessa como futuro “educador” é que se leia, inclusive, teorias da literatura. Pergunto: é possível ensinar a ler, algo além dos significados “estáticos” dos significantes?

26 de abr. de 2011

Todo o poeta, um pedaço de rua.

A rua com nome de poeta de repente, desaparece. Olho no mapa e lá está ela, reta, contínua e finita, mas vai além. É sempre assim e o que tenho de rua não me basta, necessito justamente o pedaço de rua que falta. Pergunto; não sei! me diz o dono da loja de autopeças, com sua cara ovoide, como se lhe houvesse acusado de roubar o troço de rua com nome de poeta modernista. Tenho notado que triamos mal, ou ao escolher um interlocutor, preterimos justamente aquele que estaria interessado em nos dar a informação. Ou ainda, o preterido ao se sentir assim, prescindido aguça olho, orelhas e fareja e quer por todos os meios se meter onde não foi chamado. O homem que não mora no bairro, que antes mesmo de ser molestado, disse-me para fugir da insulação: pode ser que ela continue ali atrás. Não agradeci, já que a satisfação foi só dele. Fui à paralela daquela que lhe era perpendicular. Lá encontrei uma senhora, que me disse que nasceu em São Paulo e moro aqui quando ainda não tinha asfalto mas olha moço que eu nunca dei a volta no quarteirão por que vou daqui para a igreja para o trabalho que eu trabalho no supermercado mas Ricardo do que mesmo. Ronaldo disse eu. Pergunte àquele senhor... muito agradecido. Subi a Manoel Bandeira e desci a Artur Ramos então encontrei meu pedaço de poeta, de rua, onde todo o bairro tem nome de poetas e narradores em cada quadrante, uma verdadeira biblioteca, uma aula de literatura brasileira, faltava-me uma estante do Carvalho.     

25 de abr. de 2011

Tudo passa: O tempo.

Zé  mostrava-me umas fotos dos tempos em que vivíamos felizes no Deck bar. Fotos da mulher ?”. Então fiz um cálculo do número de anos que Helena viveu com Menelau antes de encontrar Páris, do tempo que passou em Tróia, e do tempo que estivera de volta em Esparta quando Telêmaco a encontrou; depois calculei a idade que ela teria quando Dante a viu no Inferno. Zé  me reprendeu: “Você quer matar Helena, quer não! Você matou Helena”. “Ora vamos, Zé, pensei que ias defender a Sandra! Assim sendo... prezado...”. Acrescentei : “Menippus viu o crânio de Helena, no Hades, desbotando, e admirou-se de ela ter despertado algum dia tantas paixões”. Zé  tirou uma baforada do seu cigarro, passou a mão na testa e depois disse pensativamente: “Ela... afinal... acontece o mesmo com o mundo... bela criação do demiurgo”. Calado permaneci, Zé concluía junto com a fumaça: “Pode ser, em suma, ele deve ter refletido mais do que nós”. No que somei: “Mais não sei, melhor! Certamente”.
desejada, já despojada da auréola que esse desejo havia lhe posto, e lá para o final da sessão, novamente aparecia numas fotos mui recentes, lá estava, e apesar de todos os atenuantes de reminiscentes quereres e sentires, só pude dizer: “Elena vidi, per cui tanto reo\ Tempo si volse”ª … é uma das duas frases latinas, e as  gasto sempre que posso, ou forço a barra. Zé  perguntou indignado: “ Por que Helena

ª Veja Helena, contra quem tão longamente, um tempo de infortúnio se volta..
.  

24 de abr. de 2011

Amanhã Cristo ressuscita.



Escrever é deixar de fora todas as outras possibilidades. Assim como o marido amado fica fora de Madame Bovary, mas que inclui a mulher que diferencia os homens, e apesar de a Molly Bloom lhes parecer indiferenciáveis, potencializa a Leopold como espirito, acima do banal, com o sim plural. Assim era essa página: pura literatura e fábula, era, pois bastou a primeira palavra para excluir-se a si mesma do mundo sonhado. Essa rejeição, essa reação do espaço baldio à palavra, ainda me espanta, e espanta todo o léxico e as que se me apresentam não o fazem à literatura, ou por vezes se apresentam como inimigas e se constrangem uma a par da outra. Mas é Páscoa e por bem hão de conciliarem-se, como se fosse desta possibilidade o mundo feito. Um decalque da religião no mundo real. Real este pleno de decalques, mas que fogem à segunda-feira, nos abandonando a auto produção do sustento e manutenção insustentável do amanhã.

23 de abr. de 2011

MALHAÇÃO DO JUDAS.

      Essa é mais uma tentativa de chegar ao inviável, e isso me pede intensidade e me oferece impossibilidade. Este inviável, é, se é para mim, é o mais próximo que posso chegar ao meu nada, o fim do meu universo, o meu limite, borda opaca de todos meus abismos ideológicos. É busca pelo desconhecido, é a interface donde termino e começa o outro, que não esconde esperança, que e não é outra, senão fé.
 Esta fé é novo empréstimo que o avaro concede ao inadimplente, cuja garantia é imaterial, numa palavra, eu sou você. É essa passagem sem pontes, integração geográfica invisível; como números pares pertencem aos naturais; que se dá ao malharmos o judas. 
Eu sou o teu judas, e tu o meu. Em suma o outro. O outro só importa como território a ser ocupado, uma tal impossibilidade leva a indiferença, ou a certos pecados capitais, inveja é outro deles. 

...Schopenhauer é muita hermenêutica, não careço, ou não posso. 

Serve mesmo Fernando Pessoa: ''se compreendo o pensamento do outro, eu discordo dele; eu mesmo se penso, discordo de mim mesmo'';      já se compreendo o que outro sente, eu sou ele. Isso só mostra que pela razão, nos afastamos e pelo sentimento nos aproximamos; nesse caso ser o outro é a compreensão total do outro, é amar; o ódio é a incompreensão total do outro, um analfabetismo da alma, do coração; não tendo nada a ver com a razão; 
se discordar é um levar-se em conta o outro, respeitar, é seguramente uma forma de amor, não de ódio. Por isso: eu sou você, e discordo em gênero, número e grau. Eu sinto o que vc sente. Afinal o sentimento do mundo é o mesmo. A tragédia é a mesma. Ainda que as aspirinas sejam opostas, assimétricas. Estas assimetrias estão no placebo e não em nós. Eu gosto da letra da canção Pão e Poesia de Moraes Moreira e Fausto Nilo, particularmente do verso: ...que te maltrata entre o almoço e o jantar.

22 de abr. de 2011

Sexta-feira da paixão. Ditadura. Democracia. Lista tríplice.


Todo mundo sabe que ditadura é a ideia – muito praticada – da impossibilidade de conformar-se em um governo todos os interesses individuais, na prática é governo de minorias. A democracia afirma o contrário, mas contraditoriamente pratica a ditadura da maioria. A lista tríplice sempre foi coisa da ditadura, botando nas coisas um ar democrático. Desde menino, na escola, sabia quem ia ser escolhido para recitar quadrinhas em homenagem a Tiradentes – quanto vexame, incompetência se viu – o filho de alguém, nunca o filho de algum. Marcelo, o filho do sitiante abastado, ajudado pela professora Teresinha, engasgava logo de cara no nome próprio. A dona Teresinha dizia: meninos! Não zombem! Ajudem o seu coleguinha! Eramos todos rurais, mais que urbanos. Lembro-me do Nico Quaglio: mas professora! a senhora pede para o carroceiro puxar a carroça pelo burro! Já para a diretoria! E da classe ouvíamos a diretora Josefa Castro aos berros. Tudo isso para dizer que as eleições têm seu caráter premeditado, previsto, entrevisto, etc. As pesquisas de opinião são tão somente mais um tipo de produto, consumido, por pura gula, desnecessário. Por isso Pôncio Pilatos conformou aquela lista tríplice, sabia qual deveria ser escolhido, e sabia como age o rebanho encurralado. A massa sempre prefere a via da preguiça mental, não gosta que lhe roubem os bens, mas o prefere àquele que lhe rouba o sossego, a preguiça, a inércia; noutras palavras, a sabedoria.

21 de abr. de 2011

Dia de Lava pés.


Eu era coroinha, ás vezes levava a bacia com a água com que o padre fazia o teatro do lava-pés. Uma vez fiz de Pedro, o apóstolo, bastou-me para toda a vida. Disse eu – então Pedro - : Mas se vais, Senhor, lavar-me os pés, porque não me lavais todo o corpo! Pedro era assim. Bruto. Povo. Prático. Tirou o corpo fora, quando quiseram ligar-lhe a Jesus. Não! Estou de boa. Disse. Nunca o vi, ele está no óleo. Pensei que houvesse por aqui uns comes e bebes. disfarçou. Voltando; Jesus então disse: não há servo maior que o Senhor, por isso lavava os pés a seus discípulos. Mas também lavaria os pés de um traidor. Talvez tenha-lhe sido fácil, pois cria em um desígnio. O nó é esse: sendo Senhor; é o maior dos Servos, mas em sendo somente servo; não é  Senhor algum, em não sendo senhor algum é servo, que tem como essência, justamente lavar os pés a seu senhor, ato fim, meio que o caracteriza. Desta maneira o servo e o traidor de alguma forma sentam-se à mesa do senhor, nivelam e balizam-se, por mutua necessidade. Machado de Assis põe o canário preso na gaiola a dizer: o mundo é uma gaiola velha e um brechó empoeirado e um serviçal que me dá de beber e comer, mas quando escapa-se diz: o mundo é infinito, coberto de azul e um sol a brilhar.

19 de abr. de 2011

Primo Basílio é ferida ontológica de Eça.



Postei uma crítica de Machado de Assis feita ao Primo Basílio de Eça de Queiroz. Não há planos subjacentes. Encontrei-a numa antologia, um sebentão – dedicado pela Prof. Helena, à provável aluna: Adalgisa. Pura mitologia. Nele, Machado de Assis é personagem, mito, escreve críticas à obra, mitológica, do escritor, mito, Eça de Queiroz. Indiferente ao conteúdo da critica para além da estética, pois Machado é tão mitológico quanto Bentinho, Ulisses e Homero. O livro ensebado é tão real quanto a bíblia, e o Eça ali crucificado quanto nesta, Jesus. A diferença é que Eça foi divinizado e Jesus, ainda anda às voltas com a velha cruz. Ora desce, ora sobe, o mesmo fel, a mesma lança a vazar-lhe o peito. Meu eu mitológico leu o Casmurro, e o Primo Basílio. Li-os como os leitores desavisados que tanto encantavam a Machado de Assis; Machado sabia que eram os desavisados que fariam os leitores com pé-atrás se interessarem por sua obra. Eu lia com a mesma roupa com a qual ia ao cinema. Devorava sem sabê-las: metonímias, antonomásias ou metáforas; e nas aliterações sentia o vento do v, o barulho do mar aonde anda a onda. E não lhes sabia o nome.
Agora me preparo para ler de sobreaviso, me ilustro. Me espanto ao ler uma crítica de Machado não a títere Luísa, mas muito pelo ataque desferido ao Realismo. Machado, ainda que monarquista, pouco deixa-se entrever nesse comício, ainda que pouco ou nada disso possa me interessar, mas não fez defesa, não armou trincheira e tampouco puxou o gatilho. Concluo que a defesa de uma ontologia, ou um ataque, um tiro ontológico também não mata, principalmente mitos, mas acima de tudo não existe ferida ontológica.    

18 de abr. de 2011

O Primo Basílio. Crítica. por Machado de Assis.



… o Sr. Eça de Queiroz acaba de publicar seu segundo romance O Primo Basílio. O primeiro, O Crime do Padre Amaro, não foi decerto a sua estreia literária... O Sr. Eça de Queiroz é um fiel e aspérrimo discípulo do realismo propagado pelo autor de Assommoir ( Emile Zola)... O próprio O Crime do Padre Amaro é imitação de La Faute de l´Abbè Mouret (Zola) solução análoga, iguais tendencias; diferença do meio, diferença do desenlace; idêntico estilo; algumas reminiscencias, como no capitulo da missa, e outras; enfim, o mesmo título... resta senão admirar a fidelidade de um autor que não esquece nada e não oculta nada! Porque a nova poética é isso, e só chegará a perfeição no dia em que nos disser o número exato de fios de que se compõe um lenço de cambraia ou um esfregão de cozinha... … Certo da vitória o Sr. Eça de Queiroz reincidiu no gênero, e trouxe-nos O Primo Basílio, cujo exito é evidentemente maior... … tem um ar de cliché; enfastia... … Vejamos o que é o Primo Basílio e comecemos por uma palavra que há nele. … - Mas é Eugênia Grandet! Exclama o outro. O Sr. Eça de Queiroz incumbiu-se de nos dar o fio da sua concepção. Disse talvez consigo: - Balzac separa os dois primos, depois de um beijo ( aliás, o mais casto dos beijos). Carlos vai para a América; a outra fica, e fica solteira. Se a casássemos com outro, qual seria o resultado do encontro dos dois na Europa! … na Eugênia, há uma personalidade acentuada, uma figura moral, que por isso mesmo nos interessa e prende; a Luísa – força é dizê-lo - a Luísa é um caráter negativo, e no meio da ação ideada pelo Autor, é antes um títere do que uma moral.

Repito, é um títere. Não quero dizer que não tenha nervos e músculos. Não tem mesmo outra coisa; não lhe peçam paixões ou remorsos. Menos ainda consciência.... Luísa resvala no lodo, sem vontade, sem repulsa, sem consciência. Basílio não faz mais que empuxá-la, como matéria inerte, que é. Uma vez rolada ao erro, como nenhuma flama espiritual a alenta, não acha ali a saciedade das grandes paixões criminosas; rebolca-se simplesmente. ...o fato inicial e essencial da ação, não passa de um incidente erótico, sem relevo, repugnante, vulgar. Que tem o leitor do livro com essas duas criaturas sem ocupação nem sentimentos!

Aqui chegamos ao defeito capital da concepção do Sr. Eça de Queiroz. A situação tende a acabar, por que o marido está prestes a voltar do Alentejo, e Basílio começa a enfastiar-se, e, já por isso, já porque o instiga um companheiro seu, não tardará a trasladar-se a Paris. Interveio, neste ponto, uma criada, Juliana o caráter mais completo e verdadeiro do livro;... apodera-se de quatro cartas; é o trunfo, é a opulência.

… Um leitor perspicaz terá já visto a incongruência da concepção do Sr. Eça de Queiroz, e a inanidade do caráter da heroína. … trata-se da coisa menos congruente e interessante do mundo! Que temos nós com essa luta intestina entre a ama e a criada, e em que nos pode interessar a doença de uma e a morte de ambas!... Para que Luísa me atraia e me prenda, é preciso que as tribulações que a afligem venham dela mesma; seja uma rebelde ou uma arrependida; tenha remorsos ou imprecações; mas, por Deus! Dê-me uma pessoa moral...



Transcrevo crítica elaborada por Machado de Assis.

17 de abr. de 2011

Manual do sexo manual.



A tempos transporto de um lado para o outro a veleidade de escrever um manual para o sexo manual. O onanismo antes confessável e passível de penas - duas ave-marias e três padre-nossos, dizia o Pe. Josep Maria Meyer, enquanto traçava sobre a face o sinal da cruz – hoje livre , desimpedido.

 A maior preocupação não deveria estar centrada nos homossexuais sim com os manissexuais, posto que esta engloba todas as opções e nos nivela. Somos maioria. De alguma forma, se me permitem, o que  mais manuseamos está entre-coxas. Seja em pensamentos, atos e omissões.

Tenho feito grande progresso nesse sentido, que  por vezes me espanto. A coisa começou faz alguns meses. Uma polução. Casual. Um sonho visceral, pleno de mucosas e líquidos. Digo isso para botar alguma concretude nesse vício, pois não havia sexo – de genitálias – havia sensações úmidas e quentes e envolventes, por todo o corpo. Se fosse freudiano, diria: nascimento, placenta estourada. Mas me interessava não a explicação, senão a possibilidade de repetir-se o feito. Busquei bibliografias, e me deparei com um manual do século XI, escrito em ocitano – parente próximo do francês – por Francesc Pi de la Serra, que ensina a produzir poluções. A coisa se diz afatus.

... liberet fines metu abeatque tuta. fert gradum contra ferox minaxque nostros propius affatus petit. arcete, famuli, tactu et accessu procul, ...

Deve-se deitar em decúbito dorsal. Acalmar a respiração. Pensar em alguém. Eu penso na Jaqueline. É como fazer yôga deitado. Pálpebras caídas, delicadamente. Pense em seda. Corpos envoltos em tecidos suaves, insinuando silhuetas em movimentos delicados, lentos. Pensar em todos os beijos, carinhos, abraços através dele. Deixe o tecido desaparecer, sinta a sua pele, ou antes dela, sinta o calor do corpo que se avizinha, depois no toque mais suave, pétalas de rosas vermelhas num ofurô de espuma. Pense numa mão que te toca sem tocar. Inspire profundamente. Solte o ar, lentamente. Relaxe, primeiro a barriga, depois o diafragma, solte o ar dos pulmões. Manuseie-se sem excitar-se. Repita o procedimento até adormecer. Então na vigília se encontrará com um orgasmo magnifico, não se deixe acordar, não se espante, pois assim pode ocorrer um efeito cascata.


.

16 de abr. de 2011

Genra ou noro!

Não sei! diz a Bia. E vemos a linguagem, mais precisamente o substantivo, falto. Incapaz de dizer do ser do qual se fala. Bia busca ajuda nos possessivos. Minha genro! Fazendo cara de basset! Retoma o humor e redunda: Meu nora. A conversação ganha liberdades, levezas e Bia arrisca um neologismo: Genra. Nem a língua está preparada para o que vem e já se divisa. É necessário criar vocábulos. Eu proponho eu, tu, ele, ela, ola, ule, nós, vós, aulhes. Meu, teu, minha, tua, mia, teia, monha, tue. Seu, sua, sue, sal, outros, outras, eutres, autres. Sr. Sra. Sro. Sri. O verbo ser no presente do indicativo ficaria, eu sou, tu és, ele é, ela é, ola ó, ule i, somos, sois, são, aulhes sum. Eu falava com ola enquanto sal amige nos mirava desconfiadi, ule i vaidosi e pensi que todues falamos delhe. Nonada. É perigoso viver.

O tempo perdido.

Faz muito tempo que me deito tarde. Foi uma luta, nem sei se vã, contra a perda de tempo. Não sei se você percebe como estão armadas estas palavras. Vejo-as portando escudos, lanças e máscaras, em nome justamente, e paradoxo dos paradoxos, para algo inefável, e que para tanto devo tirar-lhes o espartilho, as armas. A vaidade é o maior endireitador de colunas que conheço. Chega a levantar o queixo, empinar o nariz. Mas um pequeno inseto que de tanto insistir conseguiu escalar a tela do meu computador, por vezes escorregou ao princípio dela, enquanto eu lia a “A arte de ter razão” de Schopenhauer, chegou à barra de ferramentas e estacionou. Deteve-se sobre o ícone de ajuda do BrOffice, assemelhado à boia do distintivo do Corinthians, tornou a deslizar tela baixo, e quando tornava ao topo, vacilava entre um e outro botão. Perambulava pela barra e lá longe do ajuda, sobre o pincel desanimou-se e deixou-se cair até a barra de rolamento. Quando eu menos esperava, pois prestes que estava, a ponto mesmo de entender o quê da razão pura, lá estava ele às voltas com o ajuda, enamorado, creio e eu cúmulo da maldade, como um deus menino, mudei para o Google. Aqui chego, ao umbral da ausência, coisa acabada e ela convida-me a cruzá-lo, indica com seu olhar, sua calma, uma cama e uma alma simples como se, travesseiro e lençol feitos de algodão quase azuis de tão brancos. Deito-me e seus carinhos me fazem pronunciar um sim.

14 de abr. de 2011

Ode a uma puta: Vivian.

Acabara de sair dum deserto sexual, como todo deserto no meu havia seus oásis, certo é que ou lavava o pó ou bebia uma conchada de mão d´água, para ambos não dava. Sedento, busquei-as. Envolvia olhares, posturas, interesses e desinteresses, premeditação e seus agravantes, gerar superioridade de armas tudo ao mesmo tempo e toda a sorte de eventos de uma narrativa e antes de tudo devia confiar no autor da trama, no enredo, no personagem e por fim no desfecho e um pouco antes ter o sangue frio mais alemão do mundo. Mas o uso do cachimbo entorta a boca. Entre ligar e não ligar, não liguei. Fui dar uma volta na praça do Pará. Não restou dúvidas. Era ela, a mulata magra. Vivian. Custava uma pizza de tomate seco, com alcachofras e presunto cru. E foram todos os dias de um longo outono. No começo não me beijava. Mas eu tanto fiz. Lhe inculcava que era esta a própria razão da boca, fechar em uma união circular, embaixo e encima. E que nada tinha a ver em estar apaixonado por ela, coisa que não estava, dizia. Cheguei a ler-lhe um trecho, que suponha, de Platão. Ai ela falou que eu não tinha coragem de sair com ela para ir pela noite como se fosse seu namorado e eu lhe disse que sim que topava e no dia seguinte fui buscá-la ela tinha colocado um par de lentes de contatos azuis que eram para combinar com os meus que ela tanto gostava de olhar mas que era a única coisa bonita que eu tinha eu lhe disse que tinha mais coisas bonitas que ela só podia ver pelo espelho ela demorou a entender mas quando entendeu me deu um beijo na boca dentro da padaria Romana nesse momento as coisas já saiam por uma pizza de mussarela.

12 de abr. de 2011

Racismo e discriminação.

Tornou-se moda indignar-se com o politicamente correto. Hipocrisia bradam. Macaqueamos os americanos dizem outros. Ora vamos, os americanos brancos botavam os negros a caminhar na outra calçada, sentar no fundo dos ônibus. tiveram a KKK. Nunca esconderam o que pensavam e impingiam aos seus concidadãos negros. Racistas assumidos sim, hipócritas não creio. Mas criaram cotas. Cotas inclusive no cinema, aonde há médicos negros, loucos negros, putas negras, madames negras, chefões negros, patrões negros, diretores de escolas negros, policiais negros, corretores de valores negros, diretores de cinema negros etc. Isso em Hollywood. Cotas. Por aqui, quando o caboclo não tem os colhões de assumir-se racista, ataca o uso do politicamente correto. É notório, ululante que mudar o nome das coisas não as muda. Digladiar-se com a imposição civilizatória do eufemismo é esconder-se por detrás da gramática, e ao invés de discutir abertamente os inconvenientes de que padece a nossa sociedade e tentar resolvê-los, ataca-se e goza-se da troca dos termos malsonantes pelas expressões figuradas.


É nesse foro, o do racismo e outras discriminações negativas onde há a realidade mais espantosa, a dos pseudos-livre-pensadores que andam a deixar suas pegadas na areia e as ondas de algum esquecimento já não têm dado conta de borrá-las, e o eco de seus berros cifrados é colossal, diante de uma atitude mínima do estado como: o bolsa família, cotas etc. Não é no manual de redação que o mundo muda, mas também nele.

Meu caro Hamilton.

Carissímo Hamilton, disse Schopenhauer: Vaga-lumes e religião só brilham nas trevas; acrescento: racismo e preconceito exigem certa ausência de luz. Há povos no mundo que ainda usam os dedos para levar à boca o naco de carne. Ora vamos, os talheres são fatos politicamente corretos. Atos civilizatórios. O lenço para limpar o ranho. As vagas nos ônibus, nos concursos, nos estacionamentos indexadas, linkadas à melhor idade, portadores de necessidades especiais etc. As proibições implícitas e explicitas ao incesto, pedofilia, froterismo, necrofilia etc idem. Osmar Prado no papel de Barão de Araruna, se deliciou e deliciou a muitos, fazendo-de-conta que fazia-de-conta. Eu sou preconceituoso e racista. Por isso sempre que posso mamo de alguma teta cerebral o leite civilizatório: João Cabral de Melo Neto é um úbere e tanto, educação pela pedra.

7 de abr. de 2011

Uma negra que o demônio acordou.

Mallarmè


La Négresse

Une négresse par le démon secouée
Veut goûter une enfant triste de fruits nouveaux
Et criminels aussi sous leur robe trouvée,
Cette goinfre s’apprête à de rusés travaux ;

À son ventre compare heureuse deux tétines
Et, si haut que la main ne le saura saisir,
Elle darde le choc obscur de ses bottines
Ainsi que quelque langue inhabile au plaisir.

Contre la nudité peureuse de gazelle
Qui tremble, sur le dos tel un fol éléphant
Renversée elle attend et s’admire avec zèle,
En riant de ses dents naïves à l’enfant ;

Et, dans ses jambes où la victime se couche,
Levant une peau noire ouverte sous le crin,
Avance le palais de cette étrange bouche
Pâle et rose comme un coquillage marin

6 de abr. de 2011

Bolsonaro. O mártir do arco-íris em preto e branco.

Bolsonaro abriu as portas midiáticas para uma grande discussão. Racismo e preconceito. Uma oportunidade rara para a ampliação e aprofundamento de assuntos tão importantes como pendentes em nossa agenda de compromissos democráticos. Mas é certo que tudo foi atirado pela janela. Resumir-se-á a um pedido de cassação e outro de indenização por danos morais. Bolsonaro não disse mais do que a maioria dos pais deste país dizem diariamente na frente da TV, no intervalo do trabalho, na mesa de butiquim, sinuca, baralho e principalmente diante dos interessados. Estas questões têm suas urgências, mas se há liderança envolvida, é cobra de cem cabeças. Sem prejuízo às punições cabíveis, Jair Bolsonaro fala por muitos, deveria ser instado ao debate, sua opinião é importante, tem representatividade em todos os setores da sociedade. As comunidades envolvidas carecem deste debate. Não é por ser um parlamentar que o cara deixa de ser tacanho como nós. Muitos(muitíssimos) dos interessados escondem o fato a próprios pai e mãe, e estes são votos “do contra” (contra a própria prole) quando pedidos a manifestarem-se, publicamente. É tudo muito estranho, parece brincadeira de esconde-esconde e é só o Jair que não sabe brincar.