22 de abr. de 2016

Velório de Nézin do Corote e Mel Gibson.



No funeral do Nèzin do Corote o padre passou seu sermão, curto, falando de Mel Gibson. A câmara ardente estava cheia, muitos candidatos. Nèzin nunca teve uma relação estreita com Mel Gibson. Não teve nenhuma, na verdade. Mas o padre achou que tinha o zap, sete-copas e espadilha. O caso é que o tipo não havia começado mal o despacho: “vejam vocês, nessa vida não somos ninguém.
De um dia para outro um ser querido nos deixa, assim, inesperadamente. Repentinamente.” Ele sabia, mas não ia dizer nada, ali à frente da mãe e dos irmãos de Nèzin do Corote, sobre sua entrega a Allan, alambique; e continuou ...” bom como Nèzin que só tinha 50 anos, tampouco era uma criança...” Vendo que não podia falar muito da vida porca de Corote, decidiu falar de Mel Gibson. Desse sim, sabia muito. Deve ser por culpa do filme Paixão de Cristo.
Não creio que o padre tenha gostado ou visto o filme, mas dá no mesmo, é como se o tivesse visto. E se meteu com o cineasta como sempre fazemos, seja, direto no bolso. Esse Mel Gibson, tem mais dinheiro que estrelas no firmamento. Aquela metáfora, ou como quer que se chame esta hipérbole demente, me pareceu dum valor poético altíssimo e precioso, e um tanto acidental.

Recordei disso, não sei bem por quê, acho que foi com a história de um senhor do Adelino Simeone, um bairro da periferia de Ribeirão Preto, digamos, José, seu José, que morreu faz uns meses, numa casa cheia de lixo. José tinha síndrome de Diógenes. Tinha também uma bicicleta velha, que passeava pelas tardes. Ia de lixo em lixo, tomando os desperdícios como tesouros. Até um computador encontrou. No mundo real, José era um sujeito fodido, sem família nem trabalho, um louco de vida desgraçada e penosa. No mundo virtual, se transformava, como se transforma Clark Kent ao sair da cabine.



No Facebook, José se sentia Super-homem. Enfeitara seu perfil com fotos do rio Pardo, de poentes, e de amanheceres. Bendizia a paz, o amor, a esperança. Muitas crianças, cães e gatinhos. E tudo era curtir e amei. Não estava só. Tinha 700 amigos. Tinha mais amigos que estrelas o firmamento. Feliz. Naquele dia, que faz meses, abandonou a realidade de vez, aos 51 anos, emparedado pelo lixo, foi encontrado só, primeiro pelos urubus, depois pelos vizinhos, mera repetição, veio o Datena. E o padre, também becado, nem foi até lá, para falar mal de Mel Gibson. Acho que já virou pó, desse que se fazem estrelas, dessas que abundam no firmamento. .







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