31 de ago. de 2012

Fama. Rede Social. Meme. Argumento do filme "Superstar".


Kafka imaginou em A Metamorfose que um homem aparentemente normal, de nome Gregorio Samsa se dava conta ao se despertar, uma manhã qualquer, que lhe ocorria algo tão ameaçador quão insólito. Sem conhecer as razões, seu corpo se transformava. Um calvário surrealista e progressivo que deu no que sabemos.
Agora imagine um senhor solteiro, solitário e refugiado em sua rotina de trabalho, este em sim banal. Tudo na existência dessa personagem tende ao anonimato de cores esmaecidas, senão que cinzenta, mas ele é feliz, ou contente da vida. Ocorre que esse homem anódino, bom, invisível não para si, mas para os demais, e que não está, exatamente, se transformando em um inseto, senão que ao passear pela cidade, pelo Metro, pelas ruas, num supermercado, sua presença levanta um grandioso e inexplicável alvoroço. As pessoas o querem fotografar, mas não só, querem ser fotografadas ao lado dele, lhe pedem, lhe suplicam autógrafos, lhe demonstram amor e admiração.
Sem entender o motivo de sua fama repentina. Estupefato e aterrado, descobre que alguém postou sua foto, imagem na Rede Social, como o representante dos seres banais.
Assim sem que haja feito nada transcendental, nem nas redes sociais, esta criou um mito, meme, com sua pessoa. Milhares de seres humanos se identificam com sua banalidade. Agora este homem sofre com essa popularidade demente. A televisão, os paparazzi o perseguem. O querem para um 'realtty' . Sua celebridade atrairá todo tipo de urubu mediático, publicidades, advogados, protagonizará debates na TV tão surrealistas e dadaístas quanto cruéis. Então verá como essa gente o abandonará primeiramente, mas de seguida, começarão a odiá-lo e até mesmo agredi-lo. O pobre desgraçado seguirá sem entender, da fama, nem sua ascensão ou seu declínio.
Argumento do filme Superstar de Xavier Giannoli, Festival de Veneza.

Tecnologia.


  

A palavra 'tecnologia' tem origem grega. De um lado técnica do outro logos. Quer dizer o estudo a ciência da técnica. O engraçado é que a palavra em si não existia na Grécia antiga. Pois se tratavam de atividades distintas. De um lado a técnica a que se dedicavam os escravos, fazer sapatos, medicar, arquitetar, planejar e construir. Do outro o logos. As escolas, sejam Liceu, Academia, Stoa etc se dedicavam a estudar. Estudar não estava vinculado à técnica e por conseguinte ao trabalho. Assim o conhecimento tampouco tinha ligação direta com o trabalho. A técnica nessa época da humanidade tinha ultrapassado a etapa do fortuito. O tempo da técnica fortuita se deu quando todos faziam seus apetrechos, suas lanças, suas sandálias, suas facas etc. Porque todos sabiam fazer, se trata de técnica fortuita, por exemplo, lasca-se a pedra e faz-se o machado. Claro que não é tão simples quanto isso, mas uma vez que lascou-se a pedra e fez-se o machado, todos sabiam lascar a pedra e fazer o machado. Era a humanidade dando seus passos definitivos rumo ao domínio sobre a natureza. Pode-se questionar tal 'domínio', mas sem juízo de valor, não se tratava de o homem se adaptar à natureza, mas sim adaptar a natureza ao ele. Ainda que em escala muito menor, existem certo tipos de macacos que também lascam as pedras.
Mais tarde e por quaisquer motivos, os homens passaram a desempenhar alguma dessas técnicas ou atividades, eram os artesões. Os artesões faziam mesas, por exemplo, toda a mesa, dos pés ao tampo, não havia divisão de trabalho dentro de uma técnica artesã. Os gregos antigos estavam nessa etapa. Os escravos eram técnicos. Artesãos. Cada artesão praticava sua técnica dentro de uma divisão, mais de produtos, de atividades que de trabalho. Aqui também há paralelos na natura, como as abelhas, aonde cada classe tem sua expertise, incipiente, que seja.
Depois houve o aperfeiçoamento dessas técnicas, o homem fabrica a máquina de fazer sapatos, fazer panos. Mas ainda não deixavam de ser produtos. O grande salto se dá com o advento da produção de máquinas que produzem instrumentos de produção, não de produtos de consumo. Por exemplo, teares.
No estagio anterior, a humanidade basicamente produzia para o sustento, satisfação de necessidades biológicas. Comer, beber, vestir, dormir etc. Já no momento de produção de máquinas, instrumentos, que produzem instrumentos, é o momento em que se produz para além da necessidade e em que se produz para além do estritamente necessário à satisfação de necessidades biofisiológicas. É quando se chega à revolução industrial. Mas a revolução industrial tem um precedente: A Enciclopédia. O Iluminismo De Diderot, d'Alambert com auxilio luxuoso de Voltaire, Rousseau, Montesquieu. Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Assim se chamava a Enciclopédia, que no mais foi o maior empreendimento industrial, comercial de sua época. Mas fora isso, foi o momento, se se pretende juntar palavras, foi ali que se juntaram, ainda que não literalmente, mas sim conceitualmente, as palavras Técnica e logos. Pois na Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, podia-se encontrar a receita do que se tinha que fazer, estudar para produzir determinado objeto, por exemplo um navio. Portanto ainda que a palavra tecnologia não fosse verbete, ou tivesse artigo que se referisse diretamente a ela, toda a enciclopédia dizia isso. Foi assim que o conhecimento se transformou em produto vinculador de saber e esses saberes às modernas Academias, Liceus ou Stoas para que de lá saíssem e saiam trabalhadores.
Hoje é um tempo qual a tecnologia está disseminada, de tal maneira, que parece que voltamos à primeira fase da técnica, da técnica fortuita, mas não se trata de um retorno simples, mas de uma maneira, fazendo analogia musical, uma oitava acima.
Assim os estágios da técnica. Fortuita. Técnica\artesão. Tecnologia. Tecnologia disseminada\fortuitamente. 

28 de ago. de 2012

O que cria a identidade, cria a diferença.


Em palavras poucas, e mitigadas, é a cultura que normatiza nossas ações, e a cultura sofre carga ideológica da sociedade em que vivemos, e do e no processo de globalização.
Aqui o interesse é entender como os sujeitos são definidos e marcados. Como nos vemos uns aos outros! Para tanto fazemos ou pode-se fazer uso de algumas ferramentas. Historicamente a primeira é fundada no Iluminismo.
Para o Iluminismo a identidade do sujeito pouco se desenvolve ao longo da vida, porque tem um núcleo que pouco pode ser alterado pelo que ocorre no mundo ao seu redor, seja o famoso “de nascença”. Isso foi retomado por Hegel na geração de história absoluta, onde o sujeito peregrina pela história, tendo desde sempre sua identidade bem marcada. No mundo real que é onde vivemos, pode-se ouvir de professores, que determinado sujeito nasceu com talento, 'esse vai longe', ou o contrário, daquele que ouve ' esse não vai a lugar algum', 'esse não tem remédio'.
Outra concepção amplamente usada é a sociológica, aqui também o sujeito tem um núcleo de identidade, a diferença é que aqui o sujeito está atado à 'geografia' sociocultural do seu entorno de modo permanente. Na concepção iluminista, onde quer que nasça o indivíduo, nasce com plenamente capacitado ou não, aqui é o entorno que determina a identidade do sujeito. Quer dizer que o sujeito não escapa da rede sociocultural.
“Educação é de berço”, “coisa de mulher”, “ passou da idade”, representam questões de classe social, gênero e faixa etária que fazem muito barulho na discussão da questão educacional.
Por último o sujeito pós-moderno, essa concepção diz respeito às condições em que vivemos, e cria novas formas de representar identidades muito diversas das anteriores, além de tais identidades se modificarem com constância, à medida que modificam-se ele e o meio.
O novo modelo societário não apresenta valores soberanos e únicos para todos, ora “de nascença”, ora “de berço”. Multiplicidade de sujeitos em disputa de poder em meio ao mundo de significação que cada um participa e anseia. Essa multiplicidade de identidades não se organiza em unidade estruturada que produza o 'eu', o 'self', o 'sujeito', pois o sujeito é contraditório e transitório, o mais, como a sociedade.
O sujeito ainda é composto de várias identidades: de gênero, de classe, de origem étnica, de religião, de música entre tantas outras, a depender do momento e da cultura na qual está inserido, e todas são móveis, ou podem ser, ou deveriam ser, do mesmo modo que o sujeito sofre os efeitos das culturas, globalmente móveis.
A identidade é fruto do discurso, portanto da linguagem, e por conta está frequentemente diante de processos que tentam fixá-la, torná-la a norma.
O que sempre se pretende ao se fixar a identidade do sujeito, e fixar lhe um modo de ser é um modo e não outro. O outro, estabelecido em cada grupo cultural é tido como a diferença. A identidade só pode ser compreendida, em sua conexão com a produção da diferença. Assim o processo de produção de identidade não se completa. Está sempre adiada, é sempre processo, ou em processo. Isso ocorre porque as identidades, a diferenças só podem ser concebidas dentro de um processo de diferenciação linguístico, que define seus significados e como foi dito antes o processo de significação é processo de lutas entre vontades de verdade, vontades de poder, de fixar as coisas que estão em jogo. Isso pode ser aprofundado em A vontade de poder de Nietzsche, que buscou pressupostos na teoria do Senhor e do Escravo de Hegel.
Sendo produzidas em um processo discursivo e simbólico, as identidades e a diferenças estão sujeitas as relações de poder, manifestas em ações que oprimem certos indivíduos e grupos, cujos efeitos acabam por silenciar suas vozes, seus desejos, seus anseios.
Tal processo nas relações sociais está incumbido de estabelecer limites entre um e outro, para se poder compreender a identidade, a norma, o correto e consequentemente a diferença, que é o outro, aquele que é marcado na sua negação.
Mas é exatamente essa luta por posições e sentidos que favorecem a ocorrência de processos mais sutis de poder, que acontece no campo da identidade e da diferença.
Essa discussão concentra as reivindicações sociais e politicas de certos grupos.
Quem pode obter benefícios culturais?
Quem não pode?
Quem é tido como a norma?
Quem deve ser normatizado, corrigido?
Fica claro que afirmar a identidade, marcar as diferenças, tem a ver com questões de poder.
A forma como a diferenciação é marcada implica em quem deve ser marcado, e marcado hierarquizado na sociedade, e quem detém o poder de marcar e hierarquizar é quem determina quês e porquês.
Mas fundamentalmente essa diferenciação e hierarquização se dá de modo binário, o bem e o mal, o craque e o perna de pau, homem e mulher, civilizado e o primitivo, heterossexual e homossexual, negro e branco etc. E em todos os casos há a valorização de um em detrimento do outro, uma relação de poder que determina quem está dentro e quem está fora do grupo de pertinência. Quem é válido está dentro e quem não serve, o inválido, está fora.
Assim pode-se dizer que essa diferenciação é contingência cultural.
Essa classificação simbólica se utiliza de certos adereços de consumo, que se pode carregar ou não, como celulares, carros, roupas, perfumes, vinhos, escolaridade, cursos, atividades físicas determinadas, academias, filmes, músicas, onde faz as compras, onde toma o chopp, etc. Esses símbolos constroem significados sobre as pessoas e identidades de quem os consome e participa deles. Isso quer dizer que a diferenciação está em luta pelos acessos ao simbólico da sociedade.
Assim grupos diferenciados de pessoas são formados, desde a diferenciação simbólica, quando na verdade há mais identidades que diferenças entre eles.
Desse modo a concepção de uma identidade, única, se constitui associada à diferença. Mas não é a percepção de características diferenciáveis, senão que a construção da exclusão do outro, na relação de nós versos eles.
Essa identidade se constrói de modo que o sujeito se percebe como não tendo nada em comum com a outra identidade, negando a validade do conjunto das características do outro, porque lhes são opostas, de modo que somente uma das identidades pode ser válida, correta.
Esses sujeitos que podem ser de uma mesma sala, classe escolar, tendo como objetivo comum concluir o segundo grau, por exemplo, mas por se frequentar uma igreja, ou não, gostar de rock, ou sertaneja, ou hip-hop, se vêm e se colocam em mundos opostos, mesmo estando na carteira ao lado, cinco dias da semana, comendo da mesma merenda, ouvindo o mesmo professor a explicar o que é sintaxe.
Há ainda dentro de cada diferenciação, diferenças consideradas mais importantes do que outras, que são as diferenças das diferenças, como disse Souza Santos.
Nisso se criam, se constroem os grupos de pertencimentos. Esses grupos têm seus ritos e símbolos. E a coisa é circular, pois o pertencimento cria a diferença do não pertencimento.
Ao mesmo tempo que as diferenças são marcadas, basicamente, por recursos materiais, gerando efeitos sobre a materialidade, conquanto o não pertencer ao grupo, gera a exclusão frente aos recursos materiais, trazendo desvantagens econômicas e materiais ao excluído. As desvantagens geradas pela sentidas de forma diferente entre o que está dentro e o que foi excluído.

27 de ago. de 2012

Globalização II, a Educação.


A tecnologia rompeu a barreira do tempo e do espaço, aproximando pessoas e povos.
Deslocando a vida das pessoas das suas localidades originárias e convertendo o mercado de massas em 'nichos' especializados. Nos quais as possibilidades de 'escolhas' para a compra de produtos, e a sensação de liberdade para tanto, nunca foi tão intensa.
O mundo se tornou habitado por: empresas, clientes, lugares, idades, classes sociais, sexualidade, enfim identidades e culturas que se comunicam de um modo jamais visto.
Estas mudanças atravessam fronteiras em âmbito mundial, integrando em novos arranjos sociais: comunidades e instituições. Tornando o mundo em realidade e experiências mais conectado.
É um processo que produz efeitos em quaisquer sujeitos e em diferentes culturas nos confins do mundo. Processo que produz efeitos que permite constatar que os países ricos e os pobres, têm aberto um fosso cada vez mais abissal entre os que têm e os que não têm e acma de tudo valorizando a informática, as imagens, o consumismo, o individualismo e o particular, em troca do espaço público.
Cabe lembrar que não se trata de um fenômeno recente, pois está enraizada na origem do capitalismo que desde o seu inicio foi um elemento de escala mundial, não se limitado às fronteiras dos Estados. Bastando atentar ao processo de colonização imperialistas nos últimos três séculos.
Contemporaneamente as tentativas são de homogeneização dos comportamentos, das identidades culturais, extirpando primeiro as identidades nacionais.
Abro um parêntesis para uma questão 'anedótica' que diz respeito à ideologia e o nacionalismo e sua  crueldade é tamanha que um estadunidense empunhando uma bandeira da sua pátria  faz dele um patriota, enquanto um outro indivíduo num outro rincão do planeta ao exibir a bandeira de seu pais, quando pouco é um nacionalista racista, populista, mas na maior parte das vezes sem mais nem menos é visto, ou quer que se o veja como um terrorista.
Voltando às tentativas e aos processos reais de homogeneização e regulação dos comportamentos dos indivíduos, deve-se inserir na discussão o papel da escola.
De um lado o que se vê é a quase total incapacidade da escola, em geral, no processo de humanização do jovem, adolecnete etc. Porque a escola se transformou no local de preparação do sujeito para o mundo do trabalho, ou seja, atuar na sociedade, mas na sua bem determinada forma de ser.
E o modo de ser da sociedade globalizada é ter comida indiana, não só na grande metrópole mas em quaisquer rincões, e quem diz indiana diz Tai, e vemos o Mini inglês perambulando em Manga, lá no extremo norte de Minas Gerais, ou um Skoda tcheco em Bonfim Paulista. Hábitos forçados, que alteram os locais e os habitantes.
Mas e a educação? Há uma profusão de horários alternativos para a consecução de cursos e os cursos à distância. Tudo para atender as necessidades do mercado,  alem da variedade de cursos ofertados, há instituições que oferecem cursos que se iniciam as 5:45 h da manhã ou às 23 h. Esses alunos frente a necessidade de adequação dos seus horários de trabalho acabam por elaborar outras formas de comportamentos, suas horas de sono, alimentação, transporte, a sistematização dos seus estudos e as relações que estabelece: amorosas, de amigos, parentais, de lazer etc tudo é alterado. Não só o indivíduo que vê o mundo de ponta cabeça,  mas  toda a localidade, que acaba por se adaptar aos novos horários, afins de prestarem os serviços 'fora de hora' – há infinidade de ambulantes satisfazendo as necessidades dos 'fora de hora' – mas também o serviço público, em geral em descompasso, também é obrigado a atender as necessidades dos 'fora de hora', como o transporte público, aumentando assim o custo operacional dos serviços, pois tudo se transforma em demanda social. Porque tudo e todos devem se enquadrar nessas mudanças, que primeiro foi pessoal, mas logo dada sua intensidade: são mudanças sociais, logo deslocamentos culturais, para terminar em novas identidades.
São políticas de âmbito globais incidindo na vida de todos, pois tudo e todos devemos nos enquadrar nessa lógica contemporânea . E quanto mais as identidades são mediadas pelo mercado mundial de 'estilos' e 'imagens' divulgadas pelas mídias, mais 'as identidades' são desalojadas, se deslocam de suas tradições e suas posições de origem. Nesse jogo de imagens, sedução somos confrontados a uma serie de 'imagens' de identidades culturais diversas, que nos fazem crer que só fazemos e  o fazemos porque  nos convém, sem nos darmos conta aos apelos que são feitos a cada 'parte' de nós. Então o consumismo se instaura, realidade ou desejo, nos condicionando ao supermercado global.
Ao mesmo tempo há também as resistências à globalização, pois no jogo humano, sujeição e recusa é presença obrigatória, desde o Senhor e o Escravo fundacionais. E as resistências têm encontrado voz tanto na extrema direita nacionalista, e também no fundamentalismo religioso e em ambos os casos há pouca ou nenhuma possibilidade da diversidade. Estabelecendo uma espécie de violência contra o 'outro cultural'.
Mas de modo geral o que se tem constituído são identidades híbridas, fluídas e descentradas.
A escola deve se adaptou às realidades de mercado pós fordista, e  a remuneração, hoje, se dá pelas horas trabalhadas, acabando de vez com os contratos coletivos, e conseguinte fim do salário mensal e das garantias sociais.
O mercado pós fordista é caracterizado pela instabilidade. Novas demandas do trabalho: novas habilidades e flexibilidades a ponto de a mudança de emprego ser a constante no decorrer da vida do trabalhador; mão de obra cada vez mais internacionalizada e competitiva, conceito de equipe como norma; maior uso da força de trabalho; produção intensiva do capital. Tudo levando a desespecialização e desemprego. Criando uma grande polaridade, onde há a grande especialização e melhor remuneração, e a pouca especialização a baixa remuneração. Basta ver um caderno de emprego – basta folear o A Cidade em Ribeirão Preto – para nos darmos conta da alta demanda em setores como limpeza e segurança.
A intensificação da busca pelo capital intensificado, produção intensiva de capital, exploração máxima não combinou com os ganhos salariais dos trabalhadores com o advento dos sindicatos, a crise do petróleo, a guerra ideológica dos anos 70, a 'necessidade de diminuir custos' fizeram o Estado ceder em arrecadação de destino social, nos países desenvolvidos, e a consequente geração de uma verdadeira guerra entre os que são atendidos pela segurança social e os que não são, como temos visto, a destempo, no Brasil.
Salta aos olhos que a escola pública tem se especializado em certificar profissionais para as demandas de baixa especialização.
Apesar do discurso que aponta para altas tecnologias, a verdadeira demanda de trabalhadores é para as linhas de montagens que exigem pouca ou nenhuma especialização. Esse descompasso proposital, ideológico, faz o jovem sonhar e no sonho se põe a aprender idiomas, por exemplo, e tudo que fará é montar um aparelho cuja especialização exigida é a paciência, rapidez e trato fácil, seja manso. Talvez essa seja a falha na escola pública, pois não tem conseguido a contento amansar os adolescentes nacionais.
Diante dos baixos salários os trabalhadores têm se dedicado a mais de um trabalho, junto com um sistema de prestação de serviços públicos que não consegue satisfazer as necessidades, pode-se observar um aumento de doenças. Em contrapartida, e ideologicamente, se prega a pratica de exercícios, que nada mais é que a ampliação de um nicho de mercado, o mercado esportivo.
Diante da 'falência' do Estado, que distribui a maior parte das riquezas às empresas, que no bem estar social; há empresas, estadunidenses como a Burguer King, Apple etc, criam suas próprias escolas, com intuito de produzir profissionais capazes de reproduzir a lógica neoliberal, de mercado à perfeição.
No Brasil, o Bradesco, Sesc etc seguem desde os anos 60 esta mesma lógica.
A lógica do G7, Banco Mundial e das corporações transnacionais. Para quem quiser ver, pode-se buscar por uma conferência do estadunidense Noam Chomsky por World's Corporations, e pra quem não sabe, Noam Chonsky é um dos fundadores do MIT, ou ainda procure por Eduardo Galeano e Jean Zigler. El orden criminal del mundo.
Finalizando ocorreram e ocorrem, no país, mudanças no nível Econômico, Politico e Cultural.
No âmbito Econômico há eliminação de impostos, a prazos determinados, mas dada a incidência, pode-se contar como eliminado o IPI, sem reforma tributária, a grita pelos autos impostos, eliminação de tarifas de exportação e outras, criação de zonas de livre comércio, a presença em nível mundial de instituições como Visa, a disponibilidade a qualquer tempo e lugar dos capitais financeiros, a bolsa de Tóquio abre quando fecha as Europeias, e ao fechar Tóquio abre Nova York, etc. Fusões de emprego, enfraquecimento dos Sindicatos com a nomadização das empresas, que vem e vão como tempo, vento, a magnificação do consumo primando mais pela conveniência que pela qualidade.
No âmbito político o Estado deve equilibrar  quatro imperativos: capital financeiro transnacional, as organizações nacionais e não nacionais e não governamentais, pressões e demandas domesticas e aos grupos que lhe dão apoio.
No âmbito Cultural. Os meios de comunicação, TV a cabo, internet, a maior mobilidade das pessoas por países diferentes pela ventura da industria do turismo, as religiões globais, o mundo dos esportes, Olimpíadas, Copa do Mundo, ou o marketing esportivo que faz multidões saírem para seus passeios vestidos no rigor esportivo, tudo feito pelos patrocínios e patrocinadores.
Mas há nisso tudo um discurso que tenta traduzir a inescapabilidade da globalização, mas há ainda no planeta países intocados por ela, portanto a escola deve estar atenta para discutir e planejar suas práticas pedagógicas, que visem a ética e a cidadania para que possamos atuar com dignidade.  

26 de ago. de 2012

Como nasce um meme? Ecce Homo.


'É proibido proibir' é um meme. Vale  o mesmo para: 'A censura é uma bobagem'. Outro meme : ' O cão é o melhor amigo do homem'. A única coisa efetivamente espantosa nesses memes todos é que os repetem e os reproduzem os que proíbem, censuram e abandonam seus cães.
Os fatos: A Europa em crise, a Espanha, particularmente afundada nela, a tal ponto que de amarguras econômicas e de seus apocalipses prometidos, andavam todos saciados. Nesse contexto à restauração birrenta feita por uma anciã ao Ecce Homo de uma igreja de Saragoça desse volta ao mundo. Uma velha tão beata, quão inocente e sua peripécia cômica concorriam com infinidade de fatos risíveis que aconteciam pelo mundo afora e os venceu.
Penso que vivemos o momento, 'que se foda', Snafu, situation normal, all fucked up, e nessa desrazão o Ecce Homo da Cecilia rodou por mais de 130 países, e tanto faz, roda como roda uma piada, catástrofe ou a prova de uma corrupção.
E tanto faz, snafu, se o mundo já não tem ordem moral ou cultural, e algo particular se transforma em epidemia mundial. Outro fato interessante é da autora ser uma avozinha. Se os jovens dizem, 'que se foda', a velhinha também o diz.
Ela uma humilde pintora aragonesa, que com sua audácia causa um dano inimaginável ao já desgraçado Ecce Homo, pintado por outro pintor medíocre e sem importância artística. O espanto está em que o fato tenha sido estampado no NYTimes, Le Monde, ElPais, A Folha, O Estado, A Cidade, ou seja a vitória da banalidade no centro “mesmo” do 'sublime'.
Ah, o mundo da estética. Oh, o fechado círculo da estética, onde o feio muito feio deriva em grotesco, e o grotesco se assemelha ao risível, ao final, um mal-estar oferece bem estar, e da repulsa vai-se à simpatia.
Foi o que a velhinha, de um Cristo carcomido pela umidade e o salitre, com a força de sua audácia inocente, fez um filho de deus mais feio que a Araci de Almeida.
O meme é imprevisto, como aqui na Rede nos tornamos imprevistos, ainda que inicialmente parecíamos mais infantis, ou adultos se comportando como crianças, não nos transformamos em seres pueris, mas mais bem em cínicos.      

Voto Obrigatório.




A cidadania implica em direitos políticos, seja participação política ativa ou passiva, elegendo ou sendo eleito. Este conceito é constitucional, desde a revolução francesa, e da carta dos EUA. A estadunidense foi mais longe a cada homem vinculou um voto. Os franceses e o resto do mundo tardou um bocado mais, e a paridade só foi conquistada no âmbito de muita luta, na França revolucionária só votavam os proprietários, e sendo machos, se preferirem não femininos. Chego a identificar a falácia da democracia, mas a prefiro aos outros sistemas. Aqui o voto é duplamente obrigatório, seja normatizado na carta de 1988 e na própria definição do conceito de cidadania. Quem não tem direitos políticos, não é cidadão, nem lhe cabe a obrigatoriedade legal. Cidadão vota ou é votado. Mas vejo uma terceira obrigatoriedade, esta deve vir do fato de o humano ser essencialmente “Animal Politico”. Pode-se discutir as formas, direta, indireta, pois a não participação política importa no mais absoluto esvaziamento humano. Dado que os outros animais, também têm seus líderes, mas o processo de escolha é nada dialogado. Se ausentar do processo político é se aproximar dos outros animais, ainda que em detrimento deles, digo eu, antes que o digam.
Entretanto, se alguma voz se levanta contra a obrigatoriedade do voto, mais das vezes, não fala ´só por si'. Carrega sempre uma esperança absurda, de, sendo um que sabe votar, a não obrigatoriedade levaria  àqueles que 'não sabem'  a não o fazerem, aumentando assim a porcentagem dos votos “mais lúcidos”. Seria leviano adjetivar tal pensamento. Ele existe sem pressupostos. Lendo o caderno Especial do jornal A Cidade: Eleições 2012, onde há uma pesquisa detalhada da escolaridade do eleitor ribeirão-pretano, concluo, que mesmo se o escrutínio fosse como já foi na Inglaterra – ou ainda é – onde o eleitor com 'nível' superior vale por dois, ainda assim a diferença permanece abissal. No mais, se não se tratar desse mero 'prejuízo' descarado, a multa por não votar é insignificante, e além dela não trazer sequelas ou contraindicações.    

24 de ago. de 2012

Dia do Leitor. Dia de Borges.


A Argentina estabeleceu dia 24 de agosto como o dia do leitor, dia do nascimento de J.L.Borges.
De
Siete Noches.

LAS MIL Y UNA NOCHES
SEÑORAS, SEÑORES:
Un acontecimiento capital de la historia de las naciones occidentales es el descubrimiento
del Oriente. Sería más exacto hablar de una conciencia del Oriente, continua, comparable a la
presencia de Persia en la historia griega. Además de esa conciencia del Oriente —algo vasto,
inmóvil, magnifico, incomprensible— hay altos momentos y voy a enumerar algunos. Lo que me
parece conveniente, si queremos entrar en este tema que yo quiero tanto, que he querido desde la
infancia, el tema del Libro de Las mil y una noches, o, como se llamó en la versión inglesa —la
primera que leí— The Arabian Nights: Noches árabes. No sin misterio también, aunque el título es
menos bello que el de Libro de Las mil y una noches.
Voy a enumerar algunos hechos: los nueve libros de Herodoto y en ellos la revelación de
Egipto, el lejano Egipto. Digo “el lejano” porque el espacio se mide por el tiempo y las
navegaciones eran azarosas. Para los griegos, el mundo egipcio era mayor, y lo sentían misterioso.
Examinaremos después las palabras Oriente y Occidente) que no podemos definir y que son
verdaderas. Pasa con ellas lo que decía San Agustín que pasa con el tiempo: “¿Qué es el tiempo? Si
no me lo preguntan, lo sé; si me lo preguntan, lo ignoro”. ¿Qué son el Oriente y el Occidente? Si me
lo preguntan, lo ignoro. Busquemos una aproximación.
Veamos los encuentros, las guerras y las campañas de Alejandro. Alejandro, que conquista
la Persia, que conquista la India y que muere finalmente en Babilonia, según se sabe. Fue éste el
primer vasto encuentro con el Oriente, un encuentro que afectó tanto a Alejandro, que dejó de ser
griego y se hizo parcialmente persa. Los persas, ahora lo han incorporado a su historia. A
Alejandro, que dormía con la Ilíada y con la espada debajo de la almohada. Volveremos a él más
adelante, pero ya que mencionamos el nombre de Alejandro, quiero referirles una leyenda que, bien
lo sé, será de interés para ustedes.
Alejandro no muere en Babilonia a los treinta y tres años. Se aparta de un ejército y vaga por
desiertos y selvas y luego ve una claridad. Esa claridad es la de una fogata.
La rodean guerreros de tez amarilla y ojos oblicuos. No lo conocen, lo acogen. Como
esencialmente es un soldado, participa de batallas en una geografía del todo ignorada por él. Es un
soldado: no \e importan las causas y está listo a morir. Pasan los años, él se ha olvidado de tantas
cosas y llega un día en que se paga a la tropa y entre las monedas hay una que lo inquieta. La tiene
en la palma de la mano y dice: “Eres un hombre viejo; esta es la medalla que hice acuñar para la
victoria de Arbela cuando yo era Alejandro de Macedonia.” Recobra en ese momento su pasado y
vuelve a ser un mercenario tártaro o chino o lo que fuere.
Esta memorable invención pertenece al poeta inglés Robert Graves. A Alejandro le había
sido predicho el dominio del Oriente y el Occidente. En los países del Islam se lo celebra aún bajo
el nombre de Alejandro Bicorne, porque dispone de los dos cuernos del Oriente y del Occidente.
Veamos otro ejemplo de ese largo diálogo entre el Oriente y el Occidente, ese diálogo no
pocas veces trágico. Pensamos en el joven Virgilio que está palpando una seda estampada, de un
país remoto. El país de los chinos, del cual él sólo sabe que es lejano y pacífico, muy numeroso, que
abarca los últimos confines del Oriente. Virgilio recordará esa seda en las Geórgicas, esa seda
inconsútil, con imágenes de templos, emperadores, ríos, puentes, lagos distintos de los que conocía.
J o r g e L u i s B o r g e s S i e t e n o c h e s
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Otra revelación del Oriente es la de aquel libro admirable, la Historia natural de Plinio. Ahí
se habla de los chinos y se menciona a Bactriana, Persia, se habla de la India, del rey Poro. Hay un
verso de Juvenal, que yo habré leído hará más de cuarenta años y que, de pronto, me viene a la
memoria. Para hablar de un lugar lejano, Juvenal dice: “Ultra Aurora et Ganges”, “más allá de la
aurora y del Ganges”. En esas cuatro palabras está el Oriente para nosotros. Quién sabe si Juvenal
lo sintió como lo sentimos nosotros. Creo que sí. Siempre el Oriente habrá ejercido fascinación
sobre los hombres del Occidente.
Prosigamos con la historia y llegaremos a un curioso regalo. Posiblemente no ocurrió nunca.
Se trata también de una leyenda. Harun al-Raschid, Aarón el Ortodoxo, envía a su colega
Carlomagno un elefante. Acaso era imposible enviar un elefante desde Bagdad hasta Francia, pero
eso no importa. Nada nos cuesta creer en ese elefante. Ese elefante es un monstruo. Recordemos
que la palabra monstruo no significa algo horrible. Lope de Vega fue llamado “Monstruo de la
Naturaleza” por Cervantes. Ese elefante tiene que haber sido algo muy extraño para los francos y
para el rey germánico Carlomagno. (Es triste pensar que Carlomagno no pudo haber leído la
Chanson de Roland, ya que hablaría algún dialecto germánico.)
Le envían un elefante y esa palabra, “elefante”, nos recuerda que Roland hace sonar el
“olifán”, la trompeta de marfil que se llamó así, precisamente, porque procede del colmillo del
elefante. Y ya que estamos hablando de etimologías, recordemos que la palabra española “alfil”
significa “el elefante” en árabe y tiene el mismo origen que “marfil”. En piezas de ajedrez orientales
yo he visto un elefante con un castillo y un hombrecito. Esa pieza no era la torre, como podría
pensarse por el castillo, sino el alfil, el elefante.
En las Cruzadas los guerreros vuelven y traen memorias: traen memorias de leones, por
ejemplo. Tenemos el famoso cruzado Richard of the Lion-Heart, Ricardo Corazón de León. El león
que ingresa en la heráldica es un animal del Oriente. Esta lista no puede ser infinita, pero
recordemos a Marco Polo, cuyo libro es una revelación del Oriente (durante mucho tiempo fue la
mayor revelación), aquel libro que dictó a un compañero de cárcel, después de una batalla en que
los venec