1 de ago. de 2013

A coup des de. Abolir o acaso.





Os dados são inconscientes, se os lanço, simplesmente caem sobre a mesa, sem me olhar, dão umas voltinhas e param. Não exerço qualquer controle sobre esse sólido platônico. O poeta da forma, Mallarmé, diz que nada pode abolir o acaso quando jogo dados. Mas o dado tem seus exatos seis lados, e se não viciado, cada lado tem provável razão de um para seis. Onde anda então o acaso, o insondável? Além de todo um, todo dois, todo três, quatro, cinco e seis? A vida... penso... se vivo como a vivo... a espera de sobressaltos... que os mastros se rompam e náufrago naufrague a medrar por submergir no mar... Esta tela vazia que se ilumina de dentro para mim, quando a folha em branco ansiava a luz deserta...
Que artifício a realidade! Ontem encontrei meu cachimbo. Hoje o enchi de tabaco, e vi sua alegria infantil e fumarenta. Só havia dado a primeira tragada, e logo esqueci meu grande livro por fazer, respirei como se de inverno se tratasse, minha gata negra veio se enrolar nas minhas pernas, ronronava, um emblema espiritual, me dizia: ''Sê bom, e em vez de faltar à caridade, explica-me a virtude desta atmosfera de esplendor, de fumaça e silêncios. Diz-me onde aprendeste a se mover em meio ao nada sem o resvalar?'' Com angustia apenas fingida, respondo não saber, se saído há pouco das cavernas, e, vestido apenas com minhas forças latentes, humilde, em meio a ruidosa fumaça, que já julgara imbecil a fugir pela janela... levantei-me como fez a gata preta, para ir respirar lá fora e abateu-me o barulho que o carteiro faz, ao colocar minhas contas a pagar na caixa do correio.


Uma história plana. Orgasmatron.



Há algum tempo em Berlim, quando os alemães orientais ganhavam cem marcos de Helmut Kohl para cruzarem pelo Checkpoint Charlie, inundando a Kurfürstendamm por seus objetos de desejos, banana, coca-cola e peep show, porque os comerciantes rapidamente concluiram, que cem marcos não dava para mais, pousavam na entrada das lojas as bananas e caixas de latinhas de coca-cola que eram consumidas a temperatura ambiente.
Um casal que repetia a cena quatro vezes ao dia, com variações, circenses no peep show giratório dum grande Sex Shop, eram observados atentamente pelos orientais. Muitos desses espectadores voltavam – depois de compras, bananas, na Beneton, ou coca-cola, na Hugo Boss tudo na famosa Ku'damm Strasse – para apreciarem desde os visores de suas cabines que circundavam o cenário, a dez marcos por quinze minutos. Os protagonistas faturaram bem naquela temporada, casaram-se, fizeram festa de bodas, noite de nupcias e viagem de lua-de-mel foi na Grécia. Nas ilhas gregas se comportaram como monges
enclausurados, castos. A força de umas fotos, se abraçaram pela cintura, e um que outro selinho, no mais a mais fria cortesia. Estavam de férias.


Os demais personagens passageiros tampouco não sei se fizeram melhor, digo, relações sexuais, não sexo. Porque sexo é até mesmo a solitária masturbação, ainda que Wood Allen queira que esta substitua a interação com outra pessoa que se ama, como no filme de 1973, Sleeper, Dorminhoco, em seu ''orgasmatron

30 de jul. de 2013

Revolução.


Até ontem pensava fazer revoluções. Repentinamente,mas precisamente, depois de ouvir o papa pedir revoluções por minuto, dei um salto para mais perto de mim, para a infância. Um amigo já havia me alertado que essa rebeldia, esse esquerdismo... acho que citava outro... mas o que importa é que me dizia se tratar de doença adolescente. Mas é o infante caxumbento que deve revolucionar a revolução do papa.
Me vem a mente, quanto mais longe, mais perto. Se deixar de lado o mito dos anos vividos, o presente é um obstinado. Ele me enche de razões, a me garantir que o moleque que era, é quem tinha razão. O menino me faz lembrar de paisagens, que de tão tangíveis poderia reconstruí-las, cada centímetro, cheiro, cor, textura... pessoas plasmadas em vivida concretude. Como se os cheiros, nomes e as coisas de hoje, essa tanta informação, que supérflua, acumulada num estranho feixe, que de pesado, o levo de rasto pelo chão, com pena e sem vontade. Dados que não me pertencem. De pertencimento tenho minha própria alienação de mim, invadido por informações; de minhas? Poucas, muito poucas.
Mas da infância recrio cenas e cenários, e para mim recriar é também recrear, criar postais, quando já não se usa mais enviá-los.
Não sei se estes dias frios me ajudam a evocar o tempo da pureza, com aquela multidão me tapando a realidade ou disfarçando-a. Gente que amava, gente de quem roubava fulgurante felicidade, de tão refulgente era impossível não acreditar de veras, que aquele mundo que vivia, mundo à fé, e que as pessoas, os tons de azul, o barro, o riachinho colhido na aveludada verde folha de inhame estiveram ali diante de mim porque eram assim... A sujeira se lavava, as desavenças dormiam debaixo da cama, a morte que me visitou, antes que a soubesse, não me assustou mais, ou não existe, ou me faz antípodas, barulho confuso.
Muitas coisas sibilam, como se o deus laico da infância fizesse de seu canto repetido uma oração, um ritual, como o ''bença mãe'', um diamante que a tudo risca mas nada o arranha, é a natureza do cotidiano no seu melhor vestido, a repetição.
Espelho de espelho é espelho de outro espelho que reflete a imagem da imagem de outra imagem onde atrás está o menino vivo que vê e sente ele próprio, e parece esperar o fim da estação e nos fará felizes, no verão.

Consciente das mentiras, e apesar delas, creio no altar da minha própria fé, de sal, de calor, de amoníaco e diamantes, porque quem tem esta joia sempre será dono das centelhas das chamas de uma fogueira na noite dos tempos.                     

29 de jul. de 2013

Papa sem papas na língua?


Ah! As palavras! É dizer, Ah! Os discursos! Que sempre temos que descontar um teco. Seja de políticos, papas, astrônomos, psicólogos, filósofos, amigos, cartomantes etc. Muitos tecos se vier daqueles que atuam na vida real, religiosos e políticos. Para não perder o bonde, hoje por hoje, se o discurso for de político é bom botar a mão no bolso de quando em quando e revistar sua própria carteira. Andava por Espanha quando a crise começava por lá. Sarkozy; logo que a crise mostrou o sangue no zóio, mas antes de mostrar seu coração peludo; disse: “É a refundação do capitalismo.” E todos foram dormir tranquilos...
Ainda agora Chico I estava no Brasil. Francisco é o cabeça da instituição hierárquica por excelência, e essa hierarquia vai de encontro à doutrina que professa, no entanto nem piscou sequer para levantar a bandeira dos indignados, instou os jovens a revolucionar, encabeçar mudanças que faz falta ao mundo e à base social do Catolicismo.
Francisco parece que anda pelo Vaticano sem se importar se pisa em ovos ou cacos de vidro. Abriu investigação no mundo financeiro da casa. Quer punir a pederastia do baixo clero, e ainda no avião disse que não é ninguém para criticar os gays.
É fácil imaginar o ardor da urticária que Bergólio provocou por Roma, com estes discursos. Fez tuning no papamóvel e o deixou mais humilde. Pôs fim a muitas mordomias no avião, usa uns panos mais austeros, disse que só precisa de espaço para esticar as canelas e que o voo aterrize em Fiumicino, como os de outros mortais.

Palavras, palavras de cunho social ( mas de sexo e doutrina sexual, lhufas), renuncia ao luxo da igreja, jogando para a patuleia... Espuma... mas é cedo. O ceticismo, o preservo, não que o papa argentino seja digno de desconfianças, infundadas, mas porque sempre existem as tesouras cortadoras de asinhas assanhadas...   

25 de jul. de 2013

Sic transit gloria mundi... Espuma de champanhe


Sic transit gloria mundi.

Os que em plena trajetória vital, quer dizer que ainda não passaram pelo crivo da morte, que marca a distância que transforma todos em modelos de virtude, heróis da moral, paradigmas da cidadania, exemplo de santidade, por mais bem dotados que sejam de bondades, sempre se sujeitam ao capricho do azar, pelo império da contingência e da mutabilidade. É sempre possível que padeçam de mudança, mutações, metamorfoses, evolução, transformação de caráter, de pensamento e ação. Necessitamos nestes tempos líquidos, incertos, de pensamentos frágeis, de falta de referencias e de dissolução das utopias, de grandes lideres. Ansiamos por pais e mães. A tendência – flor de obsessão – é destacar alguém por cima do normal, sobretudo no mundo do futebol e dele fazer um santo de meia pataca antes mesmo da beatificação. Mais ainda, mitificá-lo. Mas, um dia desgraçado, acontece que este santo humano, flor da virtude, muda, sofre uma transmutação, e submetido a forças incontroláveis, indizíveis e ocultas, ou mesmo subconscientes, o que pode acontecer com qualquer um, fala um monte de bosta.
A virtude não pede extremos. Nem pouco ou muito. Nem pouco ou nada. Nem poucas ou picuinhas. Nem raposa ou burro... Nem rei que nos governe ou papa que nos excomungue. Nem sim nem não, senão tudo ao contrário. Os ditos populares são sábios... mas teimosamente ignorantes. Quando temos tanta necessidade de endeusar pessoas, em vida, acima dos ditados, somos fracos como a comunidade. Uma coisa é a consideração pela obra feita, a gratidão pessoal e social pelos fatos, o reconhecimento pontual, a solidariedade concretada em méritos objetiváveis, mas uma outra o endeusamento, deificação. A sublimação. Neste mundo, nosso, tudo que sobe, desce, irremissivelmente. Espuma da champanhe.

Sic transit gloria mundi, que são efêmeros os êxitos desse mundo.         

24 de jul. de 2013

Obedecer Ordens!


Eichman só cumpria ordens, enviaando os judeus para os campos de extermínio!



Um homem que resolve não pensar, não pode ser um demônio, porque renuncia a sua humanidade e a partir de então passa a obedecer ordens, toda sua atuação é simplesmente, obedecer. Se isto for verdade, este homem é inocente e irresponsável de todos os seus atos!
Todos somos este homem quando obedecemos ordens sem pensar, ordens que nos farão cúmplices dos resultados finais dessas ordens. Será um álibi? Ainda que não tenha nascido desde de nós a vontade, o desejo de perpetrar tal ato ?
É fácil relacionar o dito acima com dois regimes fascistas do século passado, o Nacional-socialismo (nazismo e fascismo italiano) e o Nacional-catolicismo (regime franquista espanhol).
Sempre se fala da ''santa inquisição'' como exemplo de ''mal comportamento'' do Vaticano, mas o Vaticano esteve junto de Francisco Franco. Tempo que as ''Famílias Católicas'' apontavam o dedo aos anti falangistas, converteram o falangismo em uma Cruzada e Franco um homem providencial, o novo Don Pelayo e tinham estas palavras de ordem: '' por el imperio hacia dios''!
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Em todos os casos, ao que nos remetem os principais signos acima, é a surpresa da desproporção entre a magnitude do mal feito por esses agentes e a natureza própria do que era combatido, mais a mediocridade das pessoas que levaram a cabo tais maldades.

A vinda do papa Francisco I ao Brasil, antes de qualquer outro país, não é almoço gratuito, não é consoante perdida num texto! Todo aquele que resolveu não pensar e somente obedecer ordem pode não ser culpável ''eu estava obedecendo ordens!'', mas faz parte do monstro, ignorando, por poroso! 

23 de jul. de 2013

Kid Neto: Novo racismo, neo Fascismo!


O deputado Kid Neto é um exemplo rotundo de neofascismo. Neste caso o prefixo neo é muito importante, porque põe em relevo o fato do tal Kid Neto não ser um personagem anacrônico, que se remete aos dias de Benito, Il Duce. Ao contrário, quando diz o que disse de Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal, é um genuíno racista. Qualificar de fascista seria fazer-lhe um favor, qual não merece, pois seria considerá-lo uma peça de museu, uma reminiscência do passado útil, na Itália.
Por desgraça, Kid Neto não é um verso sem soneto, um sujeito extravagante na sociedade brasileira. Responde ao ''desenvolvimento'' de uma linha de pensamento com nomes ilustres como Bolsonaro, Feliciano, Azevedo, Mainard, Olavo e um monte de opacidades que via de regra se mobilizam pelo elitismo irrefreável, fundamentalmente é uma conta do rosário dos seres humanos superiores, englobados num grupo pretensamente de congêneres escolhidos.
A nossa tragédia se desencadeia quando passamos do racismo implícito das mais variadas corporações dos ''príncipes'' do ''saberes'' à exclusão das causas ideológicas, à perseguição de ''comunistas'', ''socialistas'', ''sindicalistas'' e finalmente a qualquer democrata decente, só não excluem judeus, porque os Jardins não lhes é (subentende-se: bairro) de fácil acesso.
Este tipo de declaração, útil ao modernoso neofascismo, mais o menosprezo pelos nordestinos, servem para encorajar as piores punções do humano, inda mais nestes tempos manifestamente arrelientos. Este tipo de estreiteza só faz aumentar a crescente confusão, querendo mostrar origens às nossas dores de cabeça. Ou seja, fascismo? Nem! Nada! Um novo fascismo, evoluído, em dia , atual, com intenções claras e objetivos abjetos, sem a grandiloquência d'Il Duce.
Não se trata de resíduo de um passado remoto, e seria frívolo considerá-lo assim, como considerar que a eleição de Dilma Roussef põe fim ao machismo, ou com Barack Obama o racismo seria coisa do passado.
A triste realidade é que: não é assim! Aqui e pelo mundo, como no caso de Tayvon Martin do absolvido Zimmerman, da ministra negra italiana Cécile Kyenge comparada por um senador italiano a um orangotango, tal assunto, invés de mostrar que o racismo não morreu, mostra da sua sempiterna latência aflorando nos momentos precisos, aonde não importa provar nada, mas obter um saldo favorável à sua pouca melanina.

O que querem este seres escolhidos é se dizerem não racistas, ao mesmo tempo que ter direito a ''golpes'' racistas, ''aparentemente'' ocasionais, dia sim dia também, até poderem exercer todo ele sem haver de dissimulá-lo.