Por mais que alguns
indivíduos, e mesmo certos setores, se pretendam Robinson Cruzoe,
toda a produção se dá em sociedade, e a produção individual só
se faz possível partindo dela. Nenhum refinamento nos leva mais
longe que ao ermitão, mesmo assim este carrega sempre tudo quanto
viveu em sociedade, fugindo ou não, só dela. O mais, Robinson faz
senão reproduzir as mesmas relações antes vividas, tenham elas
sido meramente familiares ou tribais, e já neste momento brotava e
se reproduzia a vontade de poder, ora centrada no pai ora no cacique,
se entendermos primeiro o núcleo familiar, depois a tribo. O
contrato social rousseauniano não parte do homem natural para
construir a sociedade civil do seu tempo, parte do homem histórico,
que desde o homem natural, havia atravessado outras formas de
sociedade dentre tantas a idade média.
A sociedade civil,
melhor, as diversas formas de conexão são simples mecanismos para o
indivíduo alcançar os seus fins privados. Os fins privados, só são
possíveis dentro da sociedade. Mesmo que abstraíssemos Almir Klink
indo para nunca mais voltar. Mas ele sempre volta para o conjunto dos
homens. Não existe a solidão, nem a sua busca, sem o outro, em face
disso se o ser alcança a individualidade total, ele estará diante da
própria negação. Não há indivíduo isolado.
O indivíduo evoluir
isolado é tão provável quanto a linguagem existir isoladamente.
Os humanos são
políticos por natureza, porque por natureza têm vontade de poder,
e tal vontade de poder pode ser dialogada, e esse dialogo é
politico, que é fazer valer a vontade de um em contrapartida da
aceitação do outro. Os métodos de aceitação têm evoluído,
sensivelmente, mas a força ainda é seu fundamento. Estado.
Propriedade. Direito. Poder de policia, etc.
É dentro da sociedade
civil atual – historicamente evoluída ( só posso pensar evolução
no sentido que ela tem para uma Escola de Samba na Sapucaí, um
continuo avançar) e em cada estágio evolutivo com sua peculiaridade
– que se dá o processo de produção atual.
Nenhuma produção
contemporânea existe fora do processo histórico humano e dentro da
sociedade civil, por exemplo, o artista plástico, melhor o pintor,
mesmo que o ignore, não pinta isento de Picasso, porque nem certas
tintas e seus matizes sequer existiriam se o malaguenho também não
houvesse existido, e o malaguenho muito, infelizmente, depende de um
fato historicamente conhecido e sanguinolento, e digamos não somente
o ataque a Guernica, mas todo o contexto de esfacelamento e o próprio
cubismo, mas declarando aos infiéis o reconhecimento de suas
capacidades individuais, e aos fiéis, da individualidade se dando
dentro do conjunto da sociedade .
Cada época tem a sua
produção. Há uma produção geral, apesar de produção geral se
tratar de uma abstração, nos ajuda a economizar incursões, mas
sempre lembrando das particularidades de cada momento histórico, que
podem carregar por mais tempo características de outros, passados e
até mesmo de tempos vindouros, neste caso, as vanguardas.
Até aqui o que tenho é
a humanidade na sua forma de sociedade, e de outro lado a natureza,
com seus materiais e instrumentos, e estes já alterados e
desenvolvidos pela humanidade dentro do seu processo histórico,
mesmo que seja a mão. Esta responsável pela grande evolução
humana. O capital em todas as suas formas possíveis é um
instrumento, que se desenvolve, desenvolveu, acumulou em determinadas
mãos por determinados modos. E muitos desses modos não são
naturais. Natural no sentido que qualquer curso que houvesse trilhado
a história da humanidade nos teria trazido ao ponto que estamos.
Muitas intervenções houveram, uma delas foi a revolução francesa.
Sem ela a acumulação de capital seria hoje diversa. Isto só quer
dizer que qualquer interferência é possível.
É de se supor que
séculos antes da decapitação do rei francês, muito discurso –
eram trabalhos de incrustação ideológica, que muito retardaram o
aparecimento dum Robespierre – foi lavrado a respeito da perfeição
do absolutismo, dando passo às vezes a um que outro reformador. O
fato é que a guilhotina cortou a história em dois corpos totalmente
diversos, o antes e o depois.
A produção seja ela
abstratamente geral, particular quando inserida no contexto
histórico, é Economia. Mas é Economia dependente da política, e
política é a governança dos interesses das divisões sociais de
cada momento histórico. A economia em particular é uma técnica,
mas a economia política não é exata, porque não segue um caminho
natural. Porque já negamos a naturalidade da evolução, que nada
mais é que uma sequência de acontecimentos, onde o ato seguinte não
é obrigatoriamente o caminho natural. O leão é natural mesmo
dentro de uma jaula, ao sentir os ferormônios da leoa, não pensa
noutra coisa que não cobri-la, para usar um termo caro da minha
infância infame. Muito embora algum método que é usado pelo seu
domador de modo a impeli-lo a fazer ou deixar de fazer, muito se
pareçam, mesmos em dias atuais, aos empregados por determinados
setores da sociedade civil, andamos um pouco mais evoluídos no
processo de produção de vida.
Resumindo, a produção,
mesmo a praticada por indivíduos singulares é social. Seja, sofre
interferências do conjunto da sociedade, sendo que a produção se
dá dentro de um modo de produção determinado, dentro da sociedade,
e tal modo de produção decorre da divisão do trabalho, seja
intelectual e o seu oposto. Muito devemos pensar no que concerne a
substituição da mão pelo cérebro na questão da manufatura, esta
enquanto aquilo que era feito pela mão. O cérebro de muitas formas
tem substituído a mão no sentido de simples máquina repetidora de
informações, e métodos, etc. Na época da revolução industrial,
o trabalho intelectual era o de pensar o mundo, pensar as relações
do homem com o mundo, com o trabalho, enquanto a mão tecia, fazia,
moldava etc. Em tempos atuais o cérebro é usado como
'manufatureiro' enquanto instrumento da produção, por exemplo,
traduzir um manual de instruções. Pode-se dizer de um trabalho
cerebral, neste caso, não de um trabalho eminentemente intelectual,
posto que não pensa, traduz.
Quando vimos hoje uma
tela qual tocamos para realizar tarefas anteriormente digitadas, não
devemos omitir que muito do trabalho intelectual necessário para se
chegar a isso, foi de um neuro-filósofo-linguista de nome Noan
Chonsky. Ele disse que o teclado não era ergometrico, que em nada
tinha a ver com o humano. Já muito do uso deste instrumento na
consecução de objetos, abstratos que sejam, não é mais que usar o
cérebro como se fosse a mão. São processos cerebrais, tão
repetitivos como o processo manufatureiro das industrias que remontam
o Século XVIII, XIX e meados do XX.