14 de ago. de 2012

Prometeu Acorrentado. Ésquilo.



Prometeu entra acompanhado de Hefesto. Hefesto é encarregado de prendê-lo no rochedo. Por que Prometeu está sendo castigado? Porque roubou o fogo dos céus e o entregou aos homens. Em consequência disso a sequência da peça os diálogos se sucedem e os mitos antigos são revividos e recontados para a plateia.
No imaginário, cada um sabemos uma frase de Eça, Machado e sempre algo de Prometeu: Prometeu roubou o fogo. Sim, mas afinal o que Prometeu roubou dos deuses? Roubou o fogo, mas o que é o fogo? Mas antes de significar o fogo, é dito, que Prometeu não só rouba aos deuses, mas dá o que rouba aos homens. Não rouba para si, mas para o outro, o que já é um detalhe interessante. As interpretações do quê foi roubado por Prometeu, aparece em vários momentos da peça, uns dizem que roubou o fogo, a razão ou como diz o próprio Prometeu: entreguei aos homens a esperança. Os homens já não tem como fim a morte. Os homens agora tem uma esperança infinita no futuro. O que é a esperança? A esperança é o fazer sentido. Se passa da vida ausente de sentido ao sentido da vida. Mas que vai fazer sentido? A linguagem, a linguagem dá sentido a vida. E a vida é a própria tragédia. E sem explicitar os silogismos, Prometeu roubou dos deuses a tragédia e a deu aos homens. Tragos é bode, e ode o canto do bode. Tragédia é o canto dos
bodes que acompanhavam Dionísio em suas orgias, rodeado de Sátiros, que eram parte homem parte bode
Como quer Nietzsche a Tragédia é o dialogo entre o apolíneo e o dionisíaco
uma festa de Dionísio com algo de Apolo, que é luz, razão em meio ao caos...
Hefesto era filho de Hera, só de Hera, vingando a Zeus, e Hefesto foi empurrado por Zeus pela colina, e rolou por vários dias, ficou coxo, ferreiro, e agora vai prender Prometeu, Titã que se desculpa pelo que virá a fazer. Io também seduzida por Zeus em sonhos, coisa que Freud leu, não sabia se dava ou não. Zeus a transformou em vaca e mandou pastar acompanhada sempre por uma mutuca, e nisso ela passou pelo Bósforo, que nada mais é que o estreito chamado de passagem dos bois, das vacas e é onde está Istambul dos dois lados do Bósforo. E assim segue a tragédia de Prometeu onde continua o contar e recontar dos mitos gregos.
O que os deuses tem que os homens não têm? Do bem e do mal quem sabe são os deuses, do justo e dos injustos. Prometeu rouba dos deuses esta capacidade exclusiva e a dá aos homens: as condições de arbitrar.
Mas ao se ganhar a autonomia ganha-se também o castigo. Castigo eterno. A águia bicando o figado que se recompõe à noite, para voltar a ser bicado todo o dia. De alguma maneira a autonomia que Prometeu dá aos homens também está acorrentada e é castigada. Que autonomia é essa? Esse é o dialogo constante: os deuses erram, são sensíveis, são levados a desculpar-se. Por isso constantemente estamos acorrentados uns aos outros, mas autônomos e inseparáveis.
Assim Prometeu é a vida, acorrentada, mas viva, castigada e decomposta, mas regenerada, para ser novamente castigada. Prometeu vivo acorrentado, sofrendo. A vida onde a Violência é presença indizível e muda.

13 de ago. de 2012

Ideologia: O homem é o que fizeram dele.


A matéria é a realidade, por se desconhecer outros mundos, ainda que se possa conhecer Manga, pequeno município do norte Mineiro, e por mais prosaico que seja Manga, Manga ainda pertence ao mundo real, diferente de Macondo que só é verosimilhante, mimese e imitação.
Insisto com a realidade, e não gastar tempo tentando camuflá-la. A ideologia, a ciência econômica de nossos dias no seu aspecto ideológico e outros tantos cientificismos fazem contorcionismos, que pela graça particular de cada aspecto das dobraduras, e vincos, continuam sempre a render dividendos a analistas e comparsas, mas nem explicam a realidade, por leviandade, nem ajudam de modo significativo ao capital, por incapacidade de compreendê-lo, excetuando sempre o famigerado filisteu proveito particular.
O recém nascido já não é um ser biológico em si, pela interferência da medicina, apesar de sua descendência histórica incipiente, sua historicidade continua a se fazer imediatamente, já na primeira alimentação, que se dará por uma decisão entre o aleitamento materno e o artificial completo de implicações históricas e ideológicas. Não se deve olvidar que a própria decisão entre parto natural e outros tem seu cunho ideológico. Dessa maneira o ser é histórico por natureza. Diferentemente de outros animais.
Houve um momento em que cada indivíduo singular, na sua singularidade era capaz de decidir por si, se era o momento de atacar a presa, ou não. Hoje tal decisão inexiste. É leviano querer voltar a esse ponto do desenvolvimento humano, voltar ao homem natural, como é ridículo sentir nostalgia, enquanto implique em um desejo de passado. Alienado de decisões que lhe são pertinentes, o próprio indivíduo está alienado, alienar é esvaziar-se e como é ridículo voltar atrás, o é também permitir esse total esvaziamento.
O homem esvaziado é decorrência do modo de vida que leva, no capitalismo todas as atitudes são capitalistas. A revolta de Lutero foi cristã, dentro da cristandade.
Aqui chega-se, e o homem é o que foi feito dele. Circunstâncias da natureza, históricas e ocupação dentro da divisão do trabalho. Esvaziado, para não dizer cheio de ideologia, contraditório como o sistema em que vive. Defende o que o ataca, aquilo que o rarefaz das próprias forças vitais. Triste contraponto ao ser, que, por nada, deveria abdicar da retomada da liberdade. Se há uma utilidade, objetivo humano este deve ser a liberdade. Se falamos em alienação do homem, esvaziamento é porque o homem já foi livre, e se foi livre a liberdade deve ser retomada.
Dentro deste homem esvaziado a ideologia da classe dominante, praticada pela intelectualidade, filósofos apoltronados, pensadores encastelados quer, busca e encontra por meio deles, espaço para se alojar.
Se por um lado a divisão do trabalho e a relação do homem com o trabalho o reduz a máquina, animal de trabalho, a ponto de ter determinada sua ração de consumo, e seu salário estar diretamente ligado a esta cesta. Daí todos os cuidados e zelos do Estado em não permitir, ou permitir dentro de patamares bem delineados de preços, o consumo necessário do trabalhador. De uma maneira cínica, porque se o preço da cachaça subir, obrigatório seria o aumento do salário, por isso a pinga é barata. O que faz do trabalhador este animal ideologicamente programado a exercer sisificamente sua função dentro da sociedade. Os avanços da ciência médica, a melhoria da alimentação, a higiene e o saneamento nas cidades, acabam por permitir maior tempo de vida. Mas o trabalho o estropeou, o consumo desnecessário o enferma, e faz que a aposentadoria do trabalhador seja um tempo de consumidor de remédios e quando não morto por tédio. Ele não tem o que fazer com o tempo livre da jubilação, se aborrece com a televisão, com a falta de objetivo, vazio, posto que antes era matéria de interesses alheio e o trabalho o enchia, retirado o trabalho resta-lhe muito pouco o que fazer. Livre do trabalho, mas sem saber o que fazer com essa liberdade, toma o tempo como se fosse algo a ser preenchido com o aborrecimento de uma criança que desde pequena é ensinada a preencher, de cores, desenhos carimbados na folha, como atividade educativa. Assim já na escola mais fundamental a ideologia se faz reproduzir, vicejar como método revolucionário, mas não se trata, senão que, de condicionamento ideologicamente preparado. A escola, em particular as de primeiro e segundo grau e muitas das faculdades privadas que vicejam nos horizontes citadinos, primam em meramente reproduzir o ambiente laboral, seus horários, seus uniformes, interesse puro e simples do capital.
Efetivamente se pode afirmar que o homem é aquilo que fizeram do homem. E se contraditório todo o seu fazer e tudo quanto o rodeia, também o é sua consciência, porque a individualidade só existe partindo do indivíduo na sociedade, e de dentro desta sociedade é que se dá o indivíduo, partindo dela. Não se parte do indivíduo para a sociedade, mas justamente o seu oposto, o ser social é que se individualiza, e o faz desde a realidade social. E se toda a sociedade é contraditória, a consciência não poderia ser outra coisa senão contraditória. Porque a consciência é a consciência social individualizada, tomada do ser enquanto ser social. Porque a consciência não repousa em si mesma, ela é dotada de intencionalidade, ela está atirada no meio do mundo, é sujeito no mundo, é o indivíduo jogado no meio do mundo. A consciência é o sujeito. O sujeito não para e consulta sua consciência, ele é consciência, e a consciência é a consciência gerada no mundo real. E o mundo real é o mundo das contradições, então a consciência é contraditória, o mais, como o próprio homem alienado da possibilidade de livre decisão, ao decidir, é o mundo real e contraditório que decide nele. Não existe consciência de um lado e o mundo do outro. Por exemplo se vejo o sinal vermelho não recorro à consciência para saber (eu) paro ou não? O eu é a reflexão. Porque quando invoco o “eu” e reflexiono, perco tempo em todo caso e a freada seria tardia, portanto sou consciência freando diante do sinal vermelho. A consciência não reflexiona. Vou ao cinema, não por reflexionar que é importante para minha formação cultural, vou porque sim, sou consciência indo ao cinema, assim como sou consciência atirando o quimba na calçada. Por isso que a consciência está em risco, porque está misturada com o mundo, se sujando com a lama do mundo, com o lixo do mundo, se lapidando no atrito do mundo, com a guerra do mundo. A consciência não tem compromisso com o interior, senão que com o exterior do homem, como o próprio homem. E como o homem, a consciência encontra sua unidade no mundo, entre as coisas do mundo, com a intencionalidade do mundo, e como intenção é projeto, porque o homem é projeto. Como projeto não pode ser coisa acabada, não é 'é porque é', é sim um vir a ser, e portanto não se pode dar como obra emoldurada, acabada, o homem é assim, a vida é assim e pronto. Contrariamente somos projetos, e consciências projetadas no mundo.

10 de ago. de 2012

Cotas, porque sim!


Entro numa viagem até chegar em África antes da chegada do europeu. E o que vejo ao pisar as areias da costa ocidental, são índios negros, que vivem longínquos do mediterrâneo e dos árabes, livres do trabalho, mas presos aos seus próprios costumes, suas guerras tribais, que também escravizavam, como os gregos fizeram com os turcos, os romanos por onde passaram etc; tinham seus instrumentos de produção de vida, seus equipamentos de proteção à vida, suas casas, suas moradas, seus rios, suas peles, um que outro grupo vagava, nômade pela vasta terra compartilhando espaço com as feras, e nos seus rituais se imitavam, não eram nem bons, ou malvados, eram natureza humana vivendo em meio à natura, naturalmente.
Um belo dia o sol se punha no mar. A habitação não era em nada diferente da anterior, nada havia perdido, materialmente, senão que a referência, os amigos, os parentes, os animais ferozes, os inimigos também ferozes, como eles próprios puderam a seu tempo serem ferozes. Mas ali, escapados do escorbuto, dos grilhões, das chibatas dos navios negreiros, foram postos a trabalhar, sob as mesmas condições de grilhões e chibatas. O trabalho e o açoite se vincularam, vincaram e sulcaram sua pele. O que mudara? Não havia de fato se produzido grandes mudanças ambientais, nem de equipamentos, tanto para manuseio, quanto de salvaguarda, seja, a senzala talvez fosse mais segura às intempéries  que sua casa original, suas indumentárias se mantinham irrisórias. A grande mudança se deu na relação dele com seus afazeres mais comuns; a produção de vida, a relação com produto do trabalho, a relação dele com o outro do próprio grupo, uma  relação aonde todos são subjugados, a relação do homem e a mulher, e o fruto dessa relação. lavrar  a terra formou a estreita relação entre trabalho e  perda da liberdade. Ao mesmo tempo em que foi transformado em objeto, objeto com valor de troca, e valor de uso e assim valorado para fazer o quê o subjugava: trabalhar. Trabalho e ausência plena de liberdade, e qualquer porção ínfima desta que fosse buscada produzia a dor do açoite, e a falta de liberdade dentro de sua ausência. Trabalhar era diretamente aumentar o poder do opressor, significando sempre menos liberdade.
Qual era o sentimento de uma mãe? Se o fruto de uma relação 'amorosa' não lhe pertencia, ser mãe era dar um escravo mais barato ao Senhor. O que era ser pai? Que padecia um pai e uma mãe? É inimaginável!
Por fim quando libertos não tinham trabalho para sua manutenção. Eu fico triste em ver minha velha máquina de escrever, abandonada para todo o sempre no meio da bagunça daquele quartinho que não cabe nem pensamento. O que era um negro abandonado, na cidade, no campo? Sem ter onde produzir o seu sustento? Mas acima de tudo condicionado a que o trabalho significava escravidão? Creio que até hoje devem padecer desse sentimento. Afinal, depois de tanto tempo, estar às voltas com o mesmo 'Sinhozinho' branco!? As vezes tenho a impressão de que querem desaparecer na nuvem da miscigenação, como para se esconder de tanta humilhação. Talvez por isso busquem quase desesperadamente seu herói Zumbi, porque é muito fácil, e glamoroso, ser descendente de imigrantes europeus, eram outros tempos, outra relação de trabalho, ainda que sofisticadamente escorchante. Ao menos o amor lhes pertencia, sua prole, seu leito amoroso...  

6 de ago. de 2012

Mensalão e o PGR Gurgel.


É notório que  o PGR Gurgel não imputou em alguns casos, não estabeleceu nexos causais em muitos outros, não produziu provas além da presunção na maioria. É  vício recorrente. E mantém livres inúmeros presumíveis criminosos, todo mundo tem certeza, mas  com poder de fazer boa defesa, saltitam pela aí.
Como dizemos: “salta aos olhos que...”. Mas não basta saltar aos olhos. É necessário trabalho árduo, na produção de provas. Imputação. O devido processo legal, penal. Este, por sinal, tem sido a arma de muito advogado de defesa por este vasto chão da terra. Particularmente por essas bandas, colhe-se provas ilegalmente, e onde o policial julga de pronto. Às vezes, incluso, sentencia e executa a sentença. Cenas de crimes não são preservadas, ou desaparecem, ou não servem ao propósito de tão prejudicadas, corriqueiramente por essa 'capacidade' julgadora da polícia de repressão and Co.
Fiquei com ligeira impressão – e vi toda a alegação final – que o PGR Gurgel faz a sua exposição final para juri popular. Não para uma turma de Ministros, que irá citar doutrinas e jurisprudências, juristas romanos e alemães. Gurgel, aparentemente, não foi além da CPI e meios de comunicação de massa. Por sinal já julgaram.
É certo não ter lido a peça de acusação, não tenho o que fazer nesta seara, mas pelo ouvido até o momento, temo por um descontentamento generalizado. Não se trata de justiça ou injustiça, e como não julgo, por cínico, mas se houve o 'mensalão', periga ser negado, em parte ou em grande parte, e se assim for será por mandriice.  

2 de ago. de 2012

Ideologia e Consciênica.


A minha intenção é compreender nos limites das relações da produção humano sensível onde se forja ou nasce a ideologia \ consciência. ( Entendo, desde já, a contradição implícita do capitalismo. Entendo sua “artificialidade”, e também que as associações humanas anteriores também o foram, por processos dialogais, e entendo “diálogo” mesmo “a ameaça” “a força, sendo esta qual seja ou tenha sido” composição de forças Senhor\Escravo, esta relação existe mesmo em nossas relações amorosas).
( Com devidas pontuações acato a Dialética da Natureza de Engels, onde se supõe que o uso da mão é o fabricante do pensamento, do desenvolvimento do cérebro humano. E essa é uma maneira de fortalecer a “formação” da consciência, por meio das condições materiais, equivalendo a relação de produção)
(Nos escritos econômicos pode-se ver a relação dialética entre produção\consumo\produção, e nisso vejo a “formação da consciência do capitalista, também).
De um lado a produção do objeto, que trás no seu cerne a divisão do trabalho e todo o processo de exploração, O Escravo, o objeto é sangue coagulado!
Por outra e sendo parte da mesma “engrenagem”, seja pela divisão do trabalho, a geração da “consciência” de Senhor, tanto que, quando de pequeno porte, O Senhor é a toupeira que não vê o sol. Senhor e Escravo estão alienados da mesma realidade. A verdade é a interpretação vencedora de um fato (via poder\ vontade de poder).
Aparentemente não existe movimento, perpetua-se a divisão de trabalho a cada amanhecer, como se para a sua existência – o movimento – fosse necessário um destino, o comunismo, por exemplo, para se por inquietude rumo ao destino, idealizado, como o foi a revolução francesa.
É aparente a não existência de relação de poder, somente, no ser em si (apartado, num estado ideal, seja fora desse mundo, pois que senão ainda existirão 'disputas' internas {pergunto: se se pode dizer disputas ontológicas do ser em si?})
Não consigo ver ainda de que maneira a ideologia forja\altera\influencia a consciência.
Aparentemente é o movimento dialético do indivíduo e as condições materiais reais da vida ( circunstâncias climáticas, geográficas, incluídas divisão e relação de poder e trabalho) não que forma, mas é a consciência descarada.
A consciência esta pelada e desgraçadamente indisfarçável, no meio da rua.
Um especto: desde sempre ouço alguns setores culturais, e de cidadania, na vã luta de criar uma consciência cidadã, musical erudita ou teatral. Vamos popularizar o teatro e o teatro nunca se populariza. Vamos parar na faixa e sem punição não se para na faixa, por mais que se façam discursos positivos nesse sentido, mesmo o infrator discursa favoravelmente. Neste sentido a publicização 'ideológica' prometendo o que o capitalismo não pode cumprir seria desfavorável ao sistema, mas não é o que vemos.          

26 de jul. de 2012

Livro do Êxodo.



Trata da condução dos hebreus, por Moisés, rumo à terra prometida desde a escravidão no Egito.
O ponto culminante é a subida de Moisés ao Sinai, onde recebe de Deus os Dez Mandamentos estabelecendo a relação desse povo com Ele.
O que significa a produção dos Mandamentos para os hebreus?
A primeira vista é a produção autoritária da lei e a imposição dessa lei. Por outro lado, é importante sinalizar, há simbologias; a saída de um período de opressão, a passagem pelo mar, a criação de uma nova ordem, o aspecto dialógico da criação da unidade.
Levando-se em conta que o livro do Êxodo é um dos cinco livros do Pentateuco, e sabendo que o primeiro é o Gênesis, e de toda a reiteração que existe em todos, de todas as penalizações a todo comportamento fora da reta, até culminar nos Dez Mandamentos; é importante notar como comportamentos não aceitos ao longo dos cinco livros, são mostrados sob vários aspectos, são matizados, por vezes sob voz autoritária, outras dialogadas. Desde o Gênesis se diz que o povo não é capaz de se constituir em si, incapaz do autogoverno, da autogestão, mas isso vai sendo discutido, perdoado, sendo apagado do 'livro', aliás como pede Moisés. Mas esse mesmo povo conhece o poder piramidal, o faraó, conquanto opressor, que escraviza, ao mesmo tempo sabe da escravidão do bezerro de ouro, e tal conhecimento experimentado ao longo do tempo é sintetizado por Moisés, me permito pensar em Moisés como o intermediário de Deus capaz da síntese, da unificação das subjetividades, dos deuses, e se posso pensar em deuses como um espectro de razões. Razões regidas por deuses quase particulares. Moisés consegue unificá-los e simbolicamente estabelecer os critérios de relação entre Deus unificado e os homens; ao mesmo tempo estabelecendo os parâmetros relacionais entre os sujeitos unos. Não se deve esquecer da experiência vivida pelos hebreus frente ao Deus encarnado em Faraó.
Do ponto de vista literário, Deus como personagem ausente, é tratado em terceira pessoa, e suas falas se apresentam na forma de discurso indireto.
Fiat Lux, Fiat Logus, Fiat Lex.
Nesse caso entendo Fiat Lex, como a lei constituída como a própria constituição do povo hebreu. Mesmo havendo uma superioridade de Deus frente ao povo, esse poder simbólico institui o vínculo, sendo a lei o limite. Subliminarmente amalgamando autoridade, povo e identidade numa aliança.

10 de jul. de 2012

Lixo


 O Lixo.

Efetivamente o que mais produzimos é lixo. Literal e abstratamente na maioria das vezes. Ai se te pego... Obladi Oblada... Os Romanos inventaram a captação do esgoto. Os Ingleses a cloaca com assento. Tudo isso e infinidade de fatores culturais – quase tudo é descartável do envolucro ao conteúdo – nos faz ter vistas e narizes grossas para tão laborioso produto malcheiroso. Este ao não mais fazer parte de nós, queremos que outrem dele se ocupe. Alienação pura e simples, que os urubus não dão conta. Os urubus são 'termômetro' de nossa higiene social. Sua quantidade no céu de nossa cidade, diz algo de nossa carniça. A palavra reciclável – se tornou um mal entendido – criou outro tipo de urubu, o humanurubu, se me permitem o neologismo também lixo. As cooperativas – ajuntamento de lixo – pelas quais passei pela frente, são locais que não podem feder pior. As pessoas que ali trabalham e os que ali depositam o fruto de sua catada diária, muito pouco se diferenciam daquilo, em aparência, antes que me digam, digo eu: elas tem vida, sonhos como todos.
Um que outro fotógrafo ainda é laureado por fotos de crianças macilentas – em geral negras – dividindo espaço com ratos e urubus. Para mim esse tipo de fotografia e seu fazedor estão quase no topo da piramide da urubuzada, vive do lixo. Outro urubu, em nossa cidade é o caminhão do lixo e seus lixeiros que conseguem o grau máximo de degradação, não é possível ser mais feio, fedido e asqueroso, recolhendo – se é que se pode usar essa palavra – sacos colocados nas calçadas, rasgados pelos vira-latas, os catadores de latas, os buscadores de restos de alimentos e a simples e desleixada maneira pela qual tratamos o saco de lixo que ali depositamos – ou manda-se ao serviçal que deposite, vide grandes edifícios – desamarrando, cheio de mais, lixos líquidos, líquidos estes com dias curtindo nas casas e horas ao sol, junto com toda a organicidade da coisa, já é chorume, que a prensa do caminhão faz verter pelos seus buracos e vai deixando pelas ruas a marca, talvez como no conto de fadas para não perder o caminho de volta. Por fim os políticos que não vêm nisso ineficiência administrativa e a empresa que sob a cegueira da administração acabam por se coroarem o próprio urubu rei, sem contudo saberem “pegar uma térmica”, e seus voos são curtos, nem por isso produzem menor degradação. Tudo isso contando que o 'serviço' do lixo se cumpra no dia a dia, pois há as falhas do sistema, os erros, os abusos então o que parece insuportável tem seu viés de 'piorança'. Nunca pensei em usar a palavra generalizada tão seguramente, mas há todavia a exceção que por pior engloba o geral, porque há rincões na zona norte, oeste e leste que beiram o desespero.
Há ainda o lixo publicitário, as placas retiradas e por trás delas, pasmem deterioração são problemas para segurança dos que vão pelas calçadas, os beirais estão podres, as luzinhas de natal descartáveis; as armações de ferro para o 'embelezamento' dos natais, tortas, tristes, feias, horrorosas, lixo; o lixo sonoro – no centro, mas não só, é comum ouvir em cada loja um palhaço triste, uma música lixo clamando pelos transeuntes, motos e carros sonorizados pelas ruas apelam – os latões de lixo no centro é mais lixo, os enfeites de natal feitos de garrafas descartáveis são um lixo, assim como toda ideia de gerico de reaproveitamento nesse respeito. Essas coisas devem ser abolidas, e não se inventar aproveitamentos lixos com o lixo, quando muito alguma obra de arte quimérica, que acaba sempre se transformando em um problema de 'arquivo' cedo ou tarde, as calçadas com piso vitrificado, casas comerciais pintadas em vermelho coca, amarelo skol. por toda parte lixo.