10 de jul. de 2012

Lixo


 O Lixo.

Efetivamente o que mais produzimos é lixo. Literal e abstratamente na maioria das vezes. Ai se te pego... Obladi Oblada... Os Romanos inventaram a captação do esgoto. Os Ingleses a cloaca com assento. Tudo isso e infinidade de fatores culturais – quase tudo é descartável do envolucro ao conteúdo – nos faz ter vistas e narizes grossas para tão laborioso produto malcheiroso. Este ao não mais fazer parte de nós, queremos que outrem dele se ocupe. Alienação pura e simples, que os urubus não dão conta. Os urubus são 'termômetro' de nossa higiene social. Sua quantidade no céu de nossa cidade, diz algo de nossa carniça. A palavra reciclável – se tornou um mal entendido – criou outro tipo de urubu, o humanurubu, se me permitem o neologismo também lixo. As cooperativas – ajuntamento de lixo – pelas quais passei pela frente, são locais que não podem feder pior. As pessoas que ali trabalham e os que ali depositam o fruto de sua catada diária, muito pouco se diferenciam daquilo, em aparência, antes que me digam, digo eu: elas tem vida, sonhos como todos.
Um que outro fotógrafo ainda é laureado por fotos de crianças macilentas – em geral negras – dividindo espaço com ratos e urubus. Para mim esse tipo de fotografia e seu fazedor estão quase no topo da piramide da urubuzada, vive do lixo. Outro urubu, em nossa cidade é o caminhão do lixo e seus lixeiros que conseguem o grau máximo de degradação, não é possível ser mais feio, fedido e asqueroso, recolhendo – se é que se pode usar essa palavra – sacos colocados nas calçadas, rasgados pelos vira-latas, os catadores de latas, os buscadores de restos de alimentos e a simples e desleixada maneira pela qual tratamos o saco de lixo que ali depositamos – ou manda-se ao serviçal que deposite, vide grandes edifícios – desamarrando, cheio de mais, lixos líquidos, líquidos estes com dias curtindo nas casas e horas ao sol, junto com toda a organicidade da coisa, já é chorume, que a prensa do caminhão faz verter pelos seus buracos e vai deixando pelas ruas a marca, talvez como no conto de fadas para não perder o caminho de volta. Por fim os políticos que não vêm nisso ineficiência administrativa e a empresa que sob a cegueira da administração acabam por se coroarem o próprio urubu rei, sem contudo saberem “pegar uma térmica”, e seus voos são curtos, nem por isso produzem menor degradação. Tudo isso contando que o 'serviço' do lixo se cumpra no dia a dia, pois há as falhas do sistema, os erros, os abusos então o que parece insuportável tem seu viés de 'piorança'. Nunca pensei em usar a palavra generalizada tão seguramente, mas há todavia a exceção que por pior engloba o geral, porque há rincões na zona norte, oeste e leste que beiram o desespero.
Há ainda o lixo publicitário, as placas retiradas e por trás delas, pasmem deterioração são problemas para segurança dos que vão pelas calçadas, os beirais estão podres, as luzinhas de natal descartáveis; as armações de ferro para o 'embelezamento' dos natais, tortas, tristes, feias, horrorosas, lixo; o lixo sonoro – no centro, mas não só, é comum ouvir em cada loja um palhaço triste, uma música lixo clamando pelos transeuntes, motos e carros sonorizados pelas ruas apelam – os latões de lixo no centro é mais lixo, os enfeites de natal feitos de garrafas descartáveis são um lixo, assim como toda ideia de gerico de reaproveitamento nesse respeito. Essas coisas devem ser abolidas, e não se inventar aproveitamentos lixos com o lixo, quando muito alguma obra de arte quimérica, que acaba sempre se transformando em um problema de 'arquivo' cedo ou tarde, as calçadas com piso vitrificado, casas comerciais pintadas em vermelho coca, amarelo skol. por toda parte lixo.   

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