27 de jan. de 2016

Universal e Eu, ou a Alma Está a Se Reduzir?

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Em algum lugar de Marx, que não posso precisar no mundo não haveria fronteiras, e eu pensei que a ideia era boa e era jovem sem limites  e Bonfim  pequeno, levei meu espirito para passear. Tudo para que a alma crescesse. Como bom bonfinense e por conseguinte brasileiro, carregava comigo o embornal de desconcertos diante das leis, descobri que o mundo tinha mais cercas que os sítios na Estradinha do Cantagalo, cheia de mourões e arames farpados, estas a gente varava por uma manga, já aquelas....

As fronteiras, europeias, eram cruéis, mas descobri que as fronteiras são mais rígidas para uns que para outros. Um amigo, melhor contar isto antes: No trem que ia de Milão a Munique e cruzaria a Suíça havia um batalhão de policiais. Com o comboio ainda na estação veio a verificação dos bilhetes. Logo a trupe dos passaportes, pois esse amigo, um recém formado jornalista, com sua cabeleira negra, seus olhos negros e a tez mourisca, se tornou o preferido deles. Na primeira visita, tomaram meu passaporte, mas olhavam para ele, assim que ao me devolver o passaporte, o policial quase o deixou cair ao colo de um terceiro, estendia o braço alhures mentre se fixava em Ulisses -  não pela viagem, mas por não esquecer jamais sua descendência mineira alojada na rua Marechal Deodoro em Ribeirão -  quanto ao seu passaporte, este foi vasculhado por todas as patentes que no trem estavam lotadas.
 Em algum lugar entre tuneis e sopés de montanhas com picos nevados estava a fronteira suíça e lá o trem parou para a troca da guarda, entravam os suíços, saiam os italianos. E a história se repetiu com com agravantes, uma era a língua, outro, cada guarda dizia olhando nos olhos de nosso Odisseu: Visum Erforderlich. Ân! Trucava o mineiro. Sie benötigen ein Visum für Deutschland. E se iam, mas logo vinha outro, alem do sotaque, e da cor dos uniformes, nada diferente do que havia se passado em La Junquera, na fronteira de Espanha com  França. E assim foi até Munique. Ele voltou para sua Itaca. Eu fui ficando, até que um dia dei umas marretadas no muro de Berlin, com emoções confundidas, e o mundo universalizou, o mercantilismo, as mercadorias, tal como previra o touro mouro, mas para os homens as fronteiras permaneceram e permanecerão em continuo encurtamento dos raios de seus círculos, a ponto de cada um estar completamente cercado para o outro. Tanto que as vezes chego a me sentir como um mourão de canto de cerca, grosso e arrodeado de arame farpado e a alma pequenina, enquanto a vaca vem em mim coçar seu berne. 

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