29 de jan. de 2016

Rebobinar.

Rebobinar.


Botar a mochila no barranco, descalçar a bota, desfazer o caminho, sem olhar para frente, desler livros, apagar blog e relatos óbvios, descomentar comentários, despronunciar desfirmar posições, desamar, desapaixonar, desodiar, desvisitar cidades, mares, praias, montanhas, desver alguns quadros esculturas exposições, desconhecer certas pessoas, desassistir filmes, reuniões, desvotar, desfiliar,  desparticipar de cerimônias inúteis, desvoltar, recolher bitucas de cigarro, apagar a luz, sentar, em silêncio.     

Pontual.

Ele tinha esta clareza, aos encontros marcados, aos lugares que têm hora para começar, se vai ou não. Era o seu lema, sua ética. A frase não tem, como direi, brilho para luzir por ai, mas o identificava com tremenda precisão. Era um homem pontual, de raspão com a obsessão. A remota possibilidade de se atrasar lhe provocava desassossego, em flerte com a angústia. Especialmente na hora de viajar. Tanto fazia a distância. Vivia a três passos do ponto de ônibus, mas saia de casa uma hora antes, em qualquer caso. Óbvio, era sempre o primeiro. Isso lhe permitia o  excêntrico capricho: sentar no primeiro banco, corredor,  ao lado do motorista. Era a sua debilidade. Cada vez que o companheiro de poltrona descia e outro subia, cedia a passagem para a janela, era um preço que estava disposto a pagar, para usufruir da panorâmica, da paisagem, que o lugar oferecia. Na volta, a coisa se complicava. Custa crer, mas esse desejo, mania, era compartilhada com muitos companheiros geracionais. Alguma discussão em tom mais elevado foi vista na estação rodoviária, entre os aspirantes a copiloto do circular. Parece que o pessoal do primeiro e segundo quarto do séc XX tinha a personalidade mais definida. Basta se fixar nas velhas fotografias escolares. Rostos rudes. Não se comparam em nada com as fotos de funcionários felizes da M. Narizes importantes. Olhares para uma escadaria que baixa a um mundo inóspito, de quase miséria. Vida dura, ainda que se houvesse sido menino mimado em casa de boa família.

Baseado no fato de que Salvador Dali exigiu embarcar 48 h antes do navio zarpar para Nova York, na sua primeira ida aos EUA, por ter medo de perder a hora. 

28 de jan. de 2016

A Vida.

A vida.

Para viver há que se abraçar a vida em toda sua esgarçada e fragmentada liquidez, no que tem de boa e má, amar a Dilma e o  câncer, FHC e a Zikai, Aécio e Zé Dirceu. O humor não existe como ornamento escapista, é a hilariante ferida suicida que faz da merluza bacalhau ou sereia, sábio ignorante, Bolsonaro em diamante, o relaxamento que permite mijar na mão do amante. 

27 de jan. de 2016

não carrego a carteira vazia mas transparente

não carrego
a carteira
vazia
mas transparente

Quando ela pensou hoje se atreveria abraçá-lo todo ele era mar

Quando ela pensou
hoje se atreveria
abraçá-lo
todo ele era mar

Entrevista com Mula sem Cabeça, presidenta do Sindicato dos Fantasmas Esquecidos.

Entrevista com Mula sem Cabeça.

Me conte, como tudo começou?
Era amante de padres em pequenas vilas, os padres frequentemente tinham seu muar, para todo o uso, mas de vez em quando saiam comigo (olhar perdido).
Então, nem sempre foi uma mula?
Era uma moça comum e trigueira, até que o pároco levantou a saia, a minha e a dele ( risos), e nos tornamos amantes.
Você levava uma vida normal.
Sim, só que estava proibida de ir à missa. ( emburrada)
Por quê?
Porque algo poderia acontecer e não se sabia o quê.
E você ficou curiosa e a acabou por ir?
Um pouco foi curiosidade, outro tanto foi a paixão. Me apaixonei pelo padre.
Me conte que aconteceu.
Tudo corria fluentemente, o Padre me olhava com medo e cautela, até que quando ele levanta a hóstia, ela desaparece.
A Hóstia desaparece?
Sim! (olhos arregalados)
E desde então Você se transformou na Mula sem Cabeça?
Não foi imediatamente, pois o padre andou a pensar um pouco, não queria me perder, e como ele tinha lá seu muar, por bem eu seria mais uma no meio delas, e o povo não desconfiaria.
Quer dizer que seu encantamento a transforma numa mula normal e corrente?
Sim.
E quando é que você perde a cabeça?
Justamente no ato amoroso. (gargalhada) Como castigo, não esperado, saio a galopar, assombrando e soltando fogo pelo buraco da cabeça. As vezes relincho e as vezes soluço. ( piscando o olho como um gif)
E não há como acabar com o encantamento?
Agora não mais, porque o padre teria que me amaldiçoar sete vezes antes de celebrar a missa, como ele já morreu, já não é possível. ( olhos lacrimejam).
 Por isso que andas triste?
Não, não é por isso não, ( decidida) na verdade ando triste porque ninguém me vê como antigamente.
E por quê?
Foi uma mudança lenta, (professoral) mas tudo começou quando iluminaram as ruas, as casas. Com o passar dos anos tudo está cada vez mais iluminado. E há tanto ruido, barulho de carros, toda gente vai com fones de ouvido, ouve-se música no volume máximo, que por mais que me esforce já não consigo ser vista. Além do que, há muito zumbi andando por ai que espantam mais que eu, tanto quando alguem me vê, vem até mim e se nos fotografa.
Daí que nasceu a ideia do Sindicato?
Sim, fizemos umas reuniões, com os companheiros, ( o próprio Lula) o Fantasma que Arrasta Corrente, Mãe D'água, Mãe da Lua, e muitos outros, somente o Saci Pereré não quis tomar parte.
Por quê?
Ele anda assustando uma cidade perto do vale do Paraíba, (Pelego, não disse mas pensou) e assim vai fumando seu cachimbo.
E qual vai ser a sua luta no Sindicato?
Vamos lutar (Ciro Gomes) contra outros monstros modernos que tomaram nosso lugar.
Você pode me dizer quais são?

A maioria ( cara de coxinha) começa por “I”, IPVA, IPTU, e alguns animais que já têm seu serviço e invadiram nosso espaço, como o Leão do imposto de renda, o Dragão da Inflação,...    

Universal e Eu, ou a Alma Está a Se Reduzir?

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Em algum lugar de Marx, que não posso precisar no mundo não haveria fronteiras, e eu pensei que a ideia era boa e era jovem sem limites  e Bonfim  pequeno, levei meu espirito para passear. Tudo para que a alma crescesse. Como bom bonfinense e por conseguinte brasileiro, carregava comigo o embornal de desconcertos diante das leis, descobri que o mundo tinha mais cercas que os sítios na Estradinha do Cantagalo, cheia de mourões e arames farpados, estas a gente varava por uma manga, já aquelas....

As fronteiras, europeias, eram cruéis, mas descobri que as fronteiras são mais rígidas para uns que para outros. Um amigo, melhor contar isto antes: No trem que ia de Milão a Munique e cruzaria a Suíça havia um batalhão de policiais. Com o comboio ainda na estação veio a verificação dos bilhetes. Logo a trupe dos passaportes, pois esse amigo, um recém formado jornalista, com sua cabeleira negra, seus olhos negros e a tez mourisca, se tornou o preferido deles. Na primeira visita, tomaram meu passaporte, mas olhavam para ele, assim que ao me devolver o passaporte, o policial quase o deixou cair ao colo de um terceiro, estendia o braço alhures mentre se fixava em Ulisses -  não pela viagem, mas por não esquecer jamais sua descendência mineira alojada na rua Marechal Deodoro em Ribeirão -  quanto ao seu passaporte, este foi vasculhado por todas as patentes que no trem estavam lotadas.
 Em algum lugar entre tuneis e sopés de montanhas com picos nevados estava a fronteira suíça e lá o trem parou para a troca da guarda, entravam os suíços, saiam os italianos. E a história se repetiu com com agravantes, uma era a língua, outro, cada guarda dizia olhando nos olhos de nosso Odisseu: Visum Erforderlich. Ân! Trucava o mineiro. Sie benötigen ein Visum für Deutschland. E se iam, mas logo vinha outro, alem do sotaque, e da cor dos uniformes, nada diferente do que havia se passado em La Junquera, na fronteira de Espanha com  França. E assim foi até Munique. Ele voltou para sua Itaca. Eu fui ficando, até que um dia dei umas marretadas no muro de Berlin, com emoções confundidas, e o mundo universalizou, o mercantilismo, as mercadorias, tal como previra o touro mouro, mas para os homens as fronteiras permaneceram e permanecerão em continuo encurtamento dos raios de seus círculos, a ponto de cada um estar completamente cercado para o outro. Tanto que as vezes chego a me sentir como um mourão de canto de cerca, grosso e arrodeado de arame farpado e a alma pequenina, enquanto a vaca vem em mim coçar seu berne. 

Cleptocracia

Cleptocracia!

Regime fundado, e destinado, na espoliação permanente das Administração Pública, para o enriquecimento Pessoal e para garantir a perpetuação no poder de quem supostamente a praticá. 

26 de jan. de 2016

O Homem que enfiou o dedo no cu.




É a história de um encontro de estudantes de história, que por caminhos que só mesmo Borges poderia explicar chegou a mim e me deu vontade de contá-la. Os futuros historiadores estavam acampados no campus da Universidade de Aracaju, para o Encontro Nacional de Estudantes de História, ENEH.. Havia gente de todo lugar do país, uns vendiam pingas misturadas, e outros que pagavam pinga misturada com maria. Eu tenho 'cabeça de negro' gritava um, Eu Paraty, respondia lá nas barracas da UFRJ... a manguaça era geral para  gêneros e graus. Era o preparamento para assistir um forrobodó no centro de Aracaju, numa praça a céu aberto. Um paulista levava seus olhos verdes para ver o cobre das meninas de Salvador, a zabumba ditava o ritmo, não se perca de mim, não se perca de mim, não desapareça... Muitas palmas e aquilo introduzia um xote, vem cá morena se achegue pra cá... e a dança acompanhava os sotaques dos dançadores, mas a mão estava sempre no começo da espinhela... de repente... se abre um clarão no meio do público, um sujeito com a autoctoneidade a flor da pele bailava, com seus colares de ouro, seu relógio de pulso, de correia mais larga que o pulso, rodopiava passos perfeitos para historiadores do futuro, que o aplaudiam, a roda cresceu, ele tirou a camisa, todos esqueceram da cantora, da zabumba, o homem de bigodes tirou a camisa, dançou, rodou sobre seu eixo, sobre seu centro de massa deu mortais, mais aplausos, a cantora chamava a atenção dos únicos dois policiais, "ele atrapalha o show",  dois rapagões recém ingressados no corpo, pouco podiam fazer, o homem bailando se despiu completamente, e bailou, a morena cobre não se aperreou, aplaudiu, ele bailava, todos bailavam à volta dele, ele abre as pernas, bota a cabeça entre as pernas, como quem quisesse olhar o cu, e então enfia o dedo no cu. A multidão delirou. Gritos de todos os lados, os que estavam na segunda fila se arvoravam para ver o dedo no cu. Os moços da policia, vêm e o levam, sob protesto do povo da história. De uma gente que passa a vida a ler sobre revoluções, não demorou o grito: “ão, ão, ão, abaixo a repressão”. Os policiais estavam atônitos. Parecia que a massa lentamente se movimentava para libertar o homem com seu dedo no cu. Nessas horas é que aparecem os lideres, e ele veio, saindo do meio da multidão, foi lentamente se aproximando dos policiais, e um deles num ato reflexo desferiu uma coronhada na testa do líder, o sangue esguichou, empapando a camisa, enchendo de espanto o policia; a massa se enfurece, parte para cima dos policiais, que metem o homem com seu dedo no cu, dentro da viatura, um vai conduzir, ou outro apontar a arma. Nisso chegavam mais e mais viaturas, fazendo curvas, cavalo de pau; a tropa de choque, um rapaz cai, o brucutu o imobiliza, mete o revólver na cara do jovem, dispara, o tiro seco, mas é no chão que entra o projétil... “Puta que pariu, essa policia é a vergonha do Brasil”, a curitibana pensa estar vendo uns quinhentos policiais, que formavam uma fileira e os encantoava para dentro de galpão vazio, todo mundo apanhou, nem se for uma na canela, levou uma borrachada.. vieram ônibus que levaram a todos de volta às suas tendas... e passaram lá toda a noite a fumar e beber e contar cada um o que viu, o homem que enfiou o dedo no cu.

Stalker, o filme e um poema ali declamado.

Stalker

"Que se cumpra o idealizado.
Que acreditem.
Que riam das suas paixões.
Porque o que consideram paixão,
na realidade,
não é energia espiritual...
mas apenas fricção entre a alma e o mundo externo.
O mais importante é que acreditem neles próprios
e se tornem indefesos como crianças.
Porque a fraqueza é grande,
enquanto a força é nada.

Quando o homem nasce,
é fraco e flexível.
Quando morre,
é impassível e duro.
Quando uma árvore cresce,
é tenra e flexível.
Quando se torna seca e dura,
ela morre.

A dureza e a força são atributos da morte.
Flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser.
Por isso, quem endurece, nunca vencerá

 de Andrej Tarkovski,

Oscar.

Já que vivo em tempos de tudo e em tudo dar um pitaco; Boicoto o Oscar desde sempre; Há varias peneiras pelas quais passam as películas, uma delas e a mais grandiloquente é o Oscar, que é a força de gravidade do planeta Oscar, capaz de catapultar qualquer coisa à velocidades incomensuráveis, vejo cinema, se possível a meu modo, com olhos infantis, e vejo todo tipo de cinema, assim como ontem comi arroz com ovo, quer dizer, prefiro arroz com ovo. Reluto, me estrebucho, tudo pensando  em ver o mundo por um olho que não seja o meu. Nem sempre é possível. Tento. Já que para mim não é possível encontrar o melhor, por exemplo ator, desconfio de tudo, e como dizia Alceu Valença, até de sua barba se a deixou crescer de um mês para cá! 


Olha massa da mandioca, oh, Mãe! A massa.

Olha massa da mandioca, oh, Mãe! A massa.

As massas são indiferentes à liberdade individual, à liberdade de expressão; as massas amam a autoridade. E se sentem ofuscadas pelo brilho arrogante do poder, mas sentem-se insultadas pelos que não se deixam embalar por essas e outras. Na verdade, quando pedem opressão, ditadura, é que a única igualdade à que sentem o cheiro é o da opressão, já que oprimidos, querem a opressão estendida a todos. Desta forma mantêm a mão que descaradamente lhes rouba o pão com margarina.


25 de jan. de 2016

Listas.

Listas.
Pensei numa lista das desculpas dadas pelos funcionários quanto tive pizzaria, mas ela redunda em ou deixar a mãe doente e matá-la. Então li uma lista dos pretextos de trabalhadores egípcios que construíam as tumbas dos Faraós no Vale dos Reis:
Por que você não veio trabalhar ontem?
Mulher menstruando,
Picada de escorpião,
Fabricando cerveja,
Embalsamando o irmão,
Estava com o Escriba,
Libação do filho,
Amortalhando a mãe,


Listas.

Listas.
Pensei numa lista das desculpas dadas pelos funcionários quanto tive pizzaria, mas ela redunda em ou deixar a mãe doente e matá-la. Então li uma lista dos pretextos de trabalhadores egípcios que construíam as tumbas dos Faraós no Vale dos Reis, gravada numa pedra de 1600 A.C.

Por que você não veio trabalhar ontem?
Mulher menstruando,
Picada de escorpião,
Fabricando cerveja,
Embalsamando o irmão,
Estava com o Escriba,
Libação do filho,
Amortalhando a mãe,



“As reconciliações, tirante as exceções, só são possíveis quando não são necessárias”

Reconciliação.


Olha que maluco isso: “As reconciliações, tirante as exceções, só são possíveis quando não são necessárias”. Há união que se sustenta por teias secretas, por ligações de van der Waals, pontes de Hidrogênios, por metáforas, por dúvidas, por omissões e que quando se rompem todos as diferenças aparecem, e ai é absolutamente necessária a reconciliação, e isso é impossível, porque havia um equilíbrio meta estável, que é a cadeira equilibrada em duas pernas. Assim vale a premissa, só há reconciliação quando nada há de diferença.   

25 de janeiro. Blue Monday

25 de janeiro. Blue Monday


Dizem que é o dia mais triste do ano. Última segunda de janeiro. O natal já ficou para trás, longe, mas permanece o sentimento de se ter feito extravagâncias. Os dias são longos e quentes e úmidos, o ventilador refresca um lado enquanto o outro sua. As promessas de mudança feitas na passagem do ano. engolindo doze sementes de romã, parecem impossíveis, e os quilos a queimar aumentaram. Janeiro é uma subida. Antes da última curva, pude sentir na alma, que deixava  a praia ensolarada, na próxima curva o Carnaval,  que anima a continuar subindo a serra Janeira. Depois é o planalto, sempre o mesmo, canaviais, canaviais,canaviais, longe ainda estão as próximas férias, ainda assim passarei por eles, mas será no sentido oposto.  

24 de jan. de 2016

Pseudônimo.

Pseudônimo.

Dizem que Bloy dizia que quando queria saber das “news”, novas, notícias mais fresquinhas corria a ler o Apocalipse.
Creio que viemos ao mundo para forçar a porta da realidade, sem juízo crítico há quem se contenta com um buraco de fechadura. Não sei aonde começou nossa loucura. Mas é a missão. Em algum momento delegamos à Dona Morte a necessidade de arrumar a cama e outras tarefas não entrópicas. Hoje, depois de um sábado destinado ao sacramento do churrasco, decidi por comprar um frango assado, na hora que passava pela praça Bonfim. Paguei e fui recolher o assado. Estava já no fim um quid pró quod, de quem chegara primeiro, em vista de uma penosa mais avolumada. O assador de frango, quando os briguentos mal viravam as costas sacramentou: A vida é um pseudônimo. Não sei e não quero saber o que ele quis dizer, nem se ele sabe o significado do que disse. Sei que estou agradecido, não pelo frango, por seu excesso de sal… 

18 de jan. de 2016

Barcelona i Fiducia i Llull.

Barcelona i Fiducia i Llull.

Incerta feita, Alejo, para Alejandro, propunha: que palavras encontrávamos mais bonitas nas línguas com as quais nos deparávamos naquela Tubinga multi-étnica. Ele gostava de Madrugada, eu de Augenblick e Fiducia, mas Fiducia com a pronuncia de um italiano de Genova em Rimini, algo como fidúgia com gia num sussurro. Não se me lembram as outras, senão que, Barcelona. É muito equilibrada a palavra, e nada trivial sua fonética, mas há um ponto exato de sua acentuação, que é aonde se mistura a pimenta e a luz que caracteriza a atmosfera da cidade, e lá se diz: Barcelona es bona bona, quan la bossa sona! Muito catalão, o dito. Bossa é dinheiro, ou mesmo bolsa de dinheiro. Claro que é boa, se o bolso soa! Custa muito. E gastar dinheiro não é com eles. Mas se de quando em vez : 'es tira la casa per la finestra', joga-se a casa pela janela, ou para ir a Barcelona há que tenir la bossa foradada, seja furada, gasta-se, faz de Barcelona bona bona.
Assim aprendi muitas coisas, saboreando nomes, palavras, até que um dia me deparo com este nome de rua: Ramon Llull. Estes duplos 'l' em catalão tem som de 'lh' assim o nome soa: lhulh. E qual não é o pecado? Ramon llull foi também astrólogo, além do mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã. Mais que isso, ele conceituou um sexto sentido, o Afat, “ é aquela potência com a qual o animal manifesta com a voz a outro animal a sua concepção”. E alem disso é um certo gozo por falar determinadas palavras, ou todas.


11 de jan. de 2016

Pescando larvas de Aedes com anzol de lambari e Puré de Mandioquinha.

Pescando larvas de Aedes com anzol de lambari.


Imaginem um conjunto. Pois boto nome neste conjunto de B. Neste conjunto estão todas as coisas que têm nome. Espere! Espere! Tudo que ficou de fora acaba de ganhar um nome? Os inominados agora são não-B? Faz um tempo que ando com esse paradoxo. Pensei pela primeira vez nele, ontem, enquanto fazia um puré, ou musseline de mandioquinha salsa ( manteiga, batata, mandioquinha, leite, creme de leite, alho-poro, noz moscada, sal ...). Tomando cerveja e logo almoçando, esqueci do paradoxo. Agora fui jantar e me lembrei do puré, e olhando ali para o prato, o vi como o conjunto B. E aqui estou a pescar Aedes Aegypti com anzol de lambari.

9 de jan. de 2016

Not Disturb. Deus está descansando em mim

Not Disturb. Deus está descansando em mim.
Depois de 6 dias de trabalho duro de cosmogênese, criando o mundo, Deus estava cansado, e para descansar criou mais um dia, na conta da crianção, e nesse dia ocioso criou o homem, como arte, hobby, para descansar do antes feito.
Viu que o Homem seria sua guarida, seu repouso. Então disse que estava contente, pois, Fiz uma casa para Mim, onde posso repousar, no Homem estará meu descanso doravante.
O Cristianismo tem essas coisas sublimes. Desmedidas. Exageradas, beirando a blasfêmia.
Mas é justo este ponto, à beira do absurdo que se encontra o lugar poético da meditação. 

6 de jan. de 2016

Carnaval vs Ambulância.

Carnaval vs Ambulância.

Qualquer dia é dia da ilusão, hoje. Mas nenhuns são tão característicos quanto os dias de Carnaval. Que é a Ilusão? Deixando de lado o conceito psicológico da interpretação errônea da percepção de estímulos externos, do engano dos sentidos, da projeção da imaginação, e o desejo de valores e virtudes sobre objetos, fatos, situações, pessoas, que não as dispõe ou têm em realidade, obviando, claro, as definições negativas, a Ilusão não deixa de ser uma busca pelo ideal, uma utopia.

“De ilusão também se Vive”.

Então, sim, ainda que soe a estupidez. Acontece que a fugacidade das coisas, dos afetos, a fragilidade da vida, a contingência das paixões e emoções, o peso específico de nossas limitações, nos levam a criar ficções, a acreditar em miragens, dando poder aos amuletos, às sete ondas, aos ícones, à cachaça. Tudo nos leva a idealizar, e sem idealização, provavelmente, não haveria nenhum tipo de sensibilidade pela arte. Nem o sentido do Belo. Nem sentimentos sobre a Serra da Canastra, a Música, uma Flor, um Lirio, uma Aurora, um Poema, uma Fragrância, um Ritmo e seu Movimento, um Samba.
Sem ilusões a angústia seguiria sem freios, desembestada, ou a ansiedade que provoca nossa cultura, a morte, o abandono, a desolação e a ruína.
Genial, lembro Piaget, tive que ir por ele, pra não ser tão leviano como de costume, afinal, o jogo não é uma forma de Ilusão? Segundo Piaget, o jogo na formação infantil, se caracteriza por ser um mecanismo de assimilação dos elementos da realidade, sem ter que aceitar as limitações da sua adaptação. Genial! Então, joguemos, imaginemos, inventemos, porque são formas expressivas da Ilusão, que nos facilitam a convivência, a expressar nossos afetos, da inteligência ou da capacidade de formular padrões de comportamentos, expressão verbal, corporal. Não me lembra quem disse que o jogo ajuda a os homens a livrarem-se dos conflitos e a resolvê-los.
Somos uma indústria de fabrico de Ilusões. E desilusões! Não é? O Teatro, o Cinema, as Séries, as Telenovelas…
Como nos agrada o espelho ficcional de um alter ego possível, ainda que alter et idem!
O Carnaval é a ambulância das Ilusões. Cuidar das Ilusões é tão fundamental quanto cuidar do corpo que se ilusiona. 

3 de jan. de 2016

versinho

Uma folha que passo,
chega o 16.
Quanta inquietude
Os bons propósitos..
eia, diminua essa lista.

Isso pesa muito,
todos esses dias.
tantas horas.
E como.não fez  nada?
Um dia a mais!

Longa sentença
esse 2016
um e um dia.

Agora vá

que 

o tempo voa



Cotas. Capitação.

Cotas.
Num bar em Guapé, falo com Tomé, tomando mé, nos entendemos. Antes do Feijão com Quiabo. Frango com quiabo… De Paula,  nos inspeciona,confunde Alforria com Euforria. Rimos sem derrisão. Tomé me diz que ali foi um dia um Quilombo, Guapé está a uns passos de Crustais, o primeiro Quilombo do Ambrósio, faziam uma Confederação, cada qual com sua especificidade, um produzia alimentos, outro vigiava… Eram negros que atingidos pela lei da Capitação ( cotas de impostos individuais )  - altíssimos - exclusivos para pretos forros, que compraram sua liberdade com diamantes. O imposto tinha o propósito de impedir que o negro prosperasse, como acontecia. Fugiam para os Quilombos, eram livres. Aí vinha o Bartolomeu, sempre o Bartolomeu, fosse qual fosse o sobrenome, sempre foi sinônimo de sangue, seja de índios,  negros ou pobres… um desses Bartolomeus encabeçou uma carnificina, de Desemboque a Campo Belo. Milhares de Quilombolas, 20mil? Ou mais. Esta página está arrancada do nosso livro de história. Então, Capitação, Cota de imposto para impedir o Negro de participar da livre concorrência, na busca por pedras preciosas.
Vamos almoçar? Feijão com Quiabo, antes, uma de alambique, depois? Igualmente. Uai!