Nas situações limites
nos acudem os sentimentos limites; aqueles tão fronteiriços que
apenas, ou nunca, boiam ou se manifestam. Não é que, exatamente, se
despejados numa conjuntura desesperadora, a nossa própria
desesperação dinamitasse a parte mais oculta da alma, ou a mais
bondosa, mas sim que o ambiente nos empurra às novas pressões
sobre os valores, os sentidos, os princípios, e então toda esta
mistura elementar toma uma forma ou outra, um perfil barroco, feio,
aleijão, ou numas linhas estilizadas dignas do ideal clássico.
A sociedade atua da
mesma maneira, como um indivíduo, mas massivamente, contagiando-se
com seus tiques e, assim os esquemas coletivos evoluem para novos
parâmetros a fim de legitimar todo tipo de solução.
A corrupção, por
exemplo, não é um, de parâmetro. Louco não é: A corrupção não
é um exemplo de parâmetro. Mas nela visualizamos as vias em que uma
pessoa pode avançar desde o convencimento que aquilo que perpetra
nem é tão barroco, nem é tão feio, nem tão aleijão, tão só é
uma expressão destilada da sua natureza humana. Pode ser que em
tempos convulsos, como no meio de dessa verdadeira guerra, mais que
dinheiro, a questão já o é cultural, o identitário e essencial,
onde os gestos são contorções, os castelos de areia desabam, os
que eram Gama, são Alfa, ou Beta, ou mesmo outras letras já de todo
ilegíveis, escritas por mãos doentes.
As decepções são
rachaduras nos que se esforçam em seguir relativamente coerentes. Um
teatro que não há deus nem homem que pode suportá-lo.
Não é que a nossa
sociedade seja suja, ou radical, ou baixa; senão que uma parte boia
e respira à superfície, enquanto a outra, a limpa, fica invisível.
Mesmo a limpeza também já é um valor decadente, pelo seu
componente de ignorância e de, curiosamente, falta de espelhos.
As personagens mais
obscuras da história, mas também os heróis e os mais brilhantes,
surgiram de realidades extremadas, nos recantos mais distantes da
moderação, de maneira que hoje esperamos a confrontação
espontânea entre líderes miseráveis e dignos.
Dignos e malditos não
se manifestam, verdadeiramente, dentro do nosso campo de percepção,
nos nossos limites. Mas não somos os nosso limites. Somos, talvez o
reflexo de um medo, de uma instituição, de um obscurantismo que se
espraia, mas depois tornaremos a normalidade, metidos em novas metas
e bandeiras até a medula, e tudo para tornar a alcançar outro
limite, outro erro. E descobrir que somos finalmente: Nada.
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