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De cara, Grande Irmão
é personagem livresco, dizem que é uma das pessoas mais
influentes no mundo sem ter jamais existido – em 1984 de Orwell “
The Big Brother watching you” era a propaganda do estado; do livro
saiu o programa BB que no Brasil se somou outro B!
Não sei se é ocasional esses bês de bunda em abundância.
Há
muito deixei de ver televisão – lá pelos idos de 2006 – diante
do medo que me assomava ao ter de ouvir, inesperadamente, de pessoas
celebres, e só porque celebres, opiniões descerebradas, ou, por
exemplo, de ver principalmente em época carnavalesca, que o
simples aparecer de uma câmara de TV faz a miss virar o cu para ela,
câmara. Não que não goste das adjacências, mas sei que logo o
repórter perguntará à dona das protuberâncias redondas
tremelicantes e ela responderá: sou mangueira desde... ou bobagens
descomunais. Ou então grandes enchentes que levam “tudo que eu
tinha” e o choro respectivo, é me desconfortável. A TV tem esse
desconforto, claro para quem o sente, para quem não o sente não há
contra indicações.
O
BBB está inserido dentro deste leque de surpresas. Surpresas que
tanto podem ser agradáveis como não?
Ou desagradáveis. Ambos sentimentos podem ter significados
importantes a serem aproveitados ou descartados, lixo mormente.
Quando
vi BBB, e foi pouco o que vi, mas não havia nada que me aborrecesse,
senão que os instintos animalescos, que procuro apaziguar em mim,
mas é o componente básico às pessoas enclausuradas. Não se pode
negar a aptidão que têm de tudo fazerem por um milhão de reais ou
mais. Até ai! A vida tem me ensinado que o dinheiro não traz as
marcas de sua origem, seja na vida privada ou na vida pública.
Ninguém se enrubesce devido a origem do dinheiro que tem. É certo
também que há uma classe de pessoas, talvez por não terem se
endinheirado, que têm travas a respeito de certos comportamentos.
Entretanto estas mesmas pessoas, com o médio que têm, querem o
fazer valer mais, noutras palavras com o pouco que têm querem
produzir diferenças, e quiças não existam tais diferenças, além
da necessidade que sentem de criar guetos para os outros, de certa
forma os apartar.
Trabalhei
como garção com um festeiro afamado em Rib. Preto no final da
década de 70 enquanto frequentava a universidade. Neste trabalho
tive contato, até carnal, pois era jovem, nas festas que havia na
incipiente capital da cana-de-açúcar. Foi daí que me pesou a frase
de John D. Rockfeller que a diferença entre pobres e ricos é o
dinheiro, e o dinheiro é o que é.
Uma
das grandes falácias que rondam como um urubu a cabeça de pessoas
tidas como incultas é o livro. Como se pessoas que leem fossem
incapazes de cometerem animalidades. Um sujeito erudito como Adolf
Hitler não poderia ter, então, feito o que fez. Hitler alem de
admirador das artes plásticas, entre outras coisas leu e entendeu
Nietzsche, diferentemente de muitos que vomitam frases de efeito, e
vez por outra não foi o que disse Zaratustra. Assim, ler, para uma
camada social é um bem, que a todo momento aspiram a que se
transforme em algo mais de mera erudição, dinheiro. Tudo pode ser
reduzido a dinheiro, afinal estamos no capitalismo, mas saber tudo
que se passou com a família Buendia, e por sinal Buendia vem de Buen
que é bom e dia que é dia, e faz Bomdia, não se transforma em
dinheiro assim, num passo de mágica como na fantástica Macondo. Ler
é bom e não bem. Ler não abre a mente de ninguém, em algumas por
sinal, vazias, as enche de minhocas, como no caso da famosa triste
figura do errante cavaleiro e seu fiel escudeiro. Há algo que é
estudarmo-nos enquanto humanidade e enquanto indivíduos, o que
somos, para onde vamos ou donde viemos?
No
entanto ler é consumir, há que se tirar esse véu obscurantista da
atividade de leitor, pois o prazer está em ler com prazer.
E
nesse sempiterno consumo de livros se matiza - estranha mania - o
gueto. Porque há literatura de todos os pendões e penachos, igual
tatuagem. Por exemplo, li Ulisses, num primeiro momento, para falar
que o havia lido. Até que um santo dia encontrei um cara na Espanha
– quando cometi a asneira de dizer-lhe entre uma tapa e outra que
havia lido Ulisses – que me disse: Se não podemos nos entender
nesta língua deveríamos mudar de língua. Não sou burro e entendi,
supus se tratar de uma citação, mas tive que fingir estar já
borracho, enfim mudar de assunto era o significado da frase, já que
o amigo sentira minha insipiência no assunto, espécie de vergonha
alheia. Isto me fez ler todo o livro novamente para encontrar em
Circe a tal frase de Dedalus. Ou seja, se você para mostrar que é
rico mostra uma nota de cem dólares, o mínimo que se espera é
acabar vendo uma de quinhentos.
Há,
para finalizar, uma música sertaneja que conta a historinha de um
rei do café e um rei do gado, o do café disse para esnobar o outro
que tinha zilhões de pés de café, no que o outro retruca que
amarrava um boi em cada pé de café e a inda lhe sobravam rezes.
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