5 de fev. de 2013

BBB vs Ler?

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De cara, Grande Irmão é personagem livresco, dizem que é uma das pessoas mais influentes no mundo sem ter jamais existido – em 1984 de Orwell “ The Big Brother watching you” era a propaganda do estado; do livro saiu o programa BB que no Brasil se somou outro B! Não sei se é ocasional esses bês de bunda em abundância.
Há muito deixei de ver televisão – lá pelos idos de 2006 – diante do medo que me assomava ao ter de ouvir, inesperadamente, de pessoas celebres, e só porque celebres, opiniões descerebradas, ou, por exemplo, de ver principalmente em época carnavalesca, que o simples aparecer de uma câmara de TV faz a miss virar o cu para ela, câmara. Não que não goste das adjacências, mas sei que logo o repórter perguntará à dona das protuberâncias redondas tremelicantes e ela responderá: sou mangueira desde... ou bobagens descomunais. Ou então grandes enchentes que levam “tudo que eu tinha” e o choro respectivo, é me desconfortável. A TV tem esse desconforto, claro para quem o sente, para quem não o sente não há contra indicações.
O BBB está inserido dentro deste leque de surpresas. Surpresas que tanto podem ser agradáveis como não? Ou desagradáveis. Ambos sentimentos podem ter significados importantes a serem aproveitados ou descartados, lixo mormente.
Quando vi BBB, e foi pouco o que vi, mas não havia nada que me aborrecesse, senão que os instintos animalescos, que procuro apaziguar em mim, mas é o componente básico às pessoas enclausuradas. Não se pode negar a aptidão que têm de tudo fazerem por um milhão de reais ou mais. Até ai! A vida tem me ensinado que o dinheiro não traz as marcas de sua origem, seja na vida privada ou na vida pública. Ninguém se enrubesce devido a origem do dinheiro que tem. É certo também que há uma classe de pessoas, talvez por não terem se endinheirado, que têm travas a respeito de certos comportamentos. Entretanto estas mesmas pessoas, com o médio que têm, querem o fazer valer mais, noutras palavras com o pouco que têm querem produzir diferenças, e quiças não existam tais diferenças, além da necessidade que sentem de criar guetos para os outros, de certa forma os apartar.
Trabalhei como garção com um festeiro afamado em Rib. Preto no final da década de 70 enquanto frequentava a universidade. Neste trabalho tive contato, até carnal, pois era jovem, nas festas que havia na incipiente capital da cana-de-açúcar. Foi daí que me pesou a frase de John D. Rockfeller que a diferença entre pobres e ricos é o dinheiro, e o dinheiro é o que é.
Uma das grandes falácias que rondam como um urubu a cabeça de pessoas tidas como incultas é o livro. Como se pessoas que leem fossem incapazes de cometerem animalidades. Um sujeito erudito como Adolf Hitler não poderia ter, então, feito o que fez. Hitler alem de admirador das artes plásticas, entre outras coisas leu e entendeu Nietzsche, diferentemente de muitos que vomitam frases de efeito, e vez por outra não foi o que disse Zaratustra. Assim, ler, para uma camada social é um bem, que a todo momento aspiram a que se transforme em algo mais de mera erudição, dinheiro. Tudo pode ser reduzido a dinheiro, afinal estamos no capitalismo, mas saber tudo que se passou com a família Buendia, e por sinal Buendia vem de Buen que é bom e dia que é dia, e faz Bomdia, não se transforma em dinheiro assim, num passo de mágica como na fantástica Macondo. Ler é bom e não bem. Ler não abre a mente de ninguém, em algumas por sinal, vazias, as enche de minhocas, como no caso da famosa triste figura do errante cavaleiro e seu fiel escudeiro. Há algo que é estudarmo-nos enquanto humanidade e enquanto indivíduos, o que somos, para onde vamos ou donde viemos?
No entanto ler é consumir, há que se tirar esse véu obscurantista da atividade de leitor, pois o prazer está em ler com prazer.
E nesse sempiterno consumo de livros se matiza - estranha mania - o gueto. Porque há literatura de todos os pendões e penachos, igual tatuagem. Por exemplo, li Ulisses, num primeiro momento, para falar que o havia lido. Até que um santo dia encontrei um cara na Espanha – quando cometi a asneira de dizer-lhe entre uma tapa e outra que havia lido Ulisses – que me disse: Se não podemos nos entender nesta língua deveríamos mudar de língua. Não sou burro e entendi, supus se tratar de uma citação, mas tive que fingir estar já borracho, enfim mudar de assunto era o significado da frase, já que o amigo sentira minha insipiência no assunto, espécie de vergonha alheia. Isto me fez ler todo o livro novamente para encontrar em Circe a tal frase de Dedalus. Ou seja, se você para mostrar que é rico mostra uma nota de cem dólares, o mínimo que se espera é acabar vendo uma de quinhentos.
Há, para finalizar, uma música sertaneja que conta a historinha de um rei do café e um rei do gado, o do café disse para esnobar o outro que tinha zilhões de pés de café, no que o outro retruca que amarrava um boi em cada pé de café e a inda lhe sobravam rezes.  

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