2 de abr. de 2013

Devido Processo Legal.



No incerto ano de mil novecentos e setenta e cinco, o primeiro ano do colegial, a turma “A” da manhã do Otoniel Mota, era frequentado pelo crème de la crème da cidade. Alcides Benevides se classificou em vigésimo quinto lugar no concurso “vestibulinho”, alem disso era socioeconomicamente o ponto fora desta reta de 35 alunos. Além do primeiro “A” havia o “B”, “C” e talvez “D”, Alcides não se recorda. Pobre, que era, ganhava uma subvenção da APM em fichas para a merenda da hora do recreio, um salgadinho e um refrigerante na cantina. Uma ficha para o sólido e outra para o líquido para cada dia letivo, recebidas ao primeiro dia de aula de cada mês.
Todos seus colegas eram sócios da Recra, e o boa praça que era se fez frequentar o clube de quando em quando, sempre convidado por um colega diferente. O Professor de educação física ainda lhe fez livre o acesso para os treinos de cem metros rasos, pois no classificatório fizera a marca de treze segundos. Cria com isso, que chegaria aos onze, mas professor Sareta o desiludiu, e por si concluiu o mesmo,  depois de um semestre treinando vistas postas nos jogos colegiais, e só baixara décimos, 12,60s.
Dentre todos os colegas um se tornou mais próximo, o filho de um 'dono de gráfica'. ( estranho que não exista um substantivo simples para tanto dono de gráfica, há o gráfico, mas se refere ao técnico que trabalha em).
Incerta também a feita, o filho do dono da gráfica foi sem dinheiro à escola. Desapercebido. Alcides lhe emprestou um par de fichas para a hora do recreio, depois noutro dia e mais um. No quinto dia, alem daquelas que o filho do dono da gráfica usou para comer uma coxinha e um guaraná antártica, levou ainda para casa outro par, "na segunda trago, e em dinheiro!".
Conforme o prometido, na segunda-feira o filho do dono da gráfica lhe devolveu em dinheiro o dinheiro referente a todas as fichas, perfez. Sempre houve fila para comprar fichas, qual Alcides não usava, porque suas fichas as recebia na secretaria. Suas fichas eram iguais às compradas. Ocorre que naquele dia não havia fila para comprar, só a fila para retirar  os quitutes no balcão. A cantineira parecia enlouquecida e junto com seu marido passaram a desconfiar de algo. Tanta gente a comer e poucos a comprar.  E caminhavam junto à fila. Desconfiavam.  Conheciam a todos e a seus pais. Famigerados. No entanto lhes faltava caráter, se todos ali tinham sobrenomes, que ainda ressoam pela cidade,  nomes de ruas, de universidades, enfim, medraram, mas de repente se depararam com Alcides, Benevides, nem parentes importantes tinha. Só um tio-avô na capital, casado com uma Ucraniana, mujique fugida dos bolcheviques. A Alcides, desditoso, correram-no pelo braço e sem esforço o botaram à frente do diretor. O professor Décio Setti antes, no corredor, os interpelara, “mas o que fez este Alcides, Senhora Cantineira? “Professor Décio, ele está com fichas falsas!”. Hipermetrope arregalava seus imensos olhos por detrás das grossas lentes.  De nada adiantara  ótimas notas em Física. Ali diante do diretor que não sabia de sua bolsa de recreio oferecida pela APM, não teve tempo para raciocinar, explicar-se, e ao esvaziarem lhe o bolso, um par de fichas e um bolinho de dinheiro foi posto sobre a mesa, “tá vendo!” “dinheiro!” gritava a senhora Cantineira, “dinheiro!”. Expulso. Sim expulso. Já havia batido o sinal, recebeu ordem para retirar  seu material na sala de aula e ir para casa, e só voltar no dia seguinte com os pais. Os olhos de Roseli eram duas gotas brilhantes. Mel. Sendo no pátio vazio, desembestou para o banheiro e desaguou em prantos. Por ouvir seus soluços, o servente, seu S, ouviu também sua história.

24 de mar. de 2013

Democracia transparente.



Na democracia, a transparência total de quem exerce o poder, é insuportável. É paralisante, inda mais sendo o olhar o de furibundo fariseu, aleijão da moralidade. É o mesmo que se dá ao saber a receita da salsicha, nojo. Não se quer dizer com isso que não se deva aplacar a fúria gananciosa dos corruptos. Para este inconveniente, deve-se ter sistemas a impedi-los, e se infrutífero o impedimento, puni-los.
A democracia não avança se vamos ao encalce dos corruptos, porque corrupção é peça caracterizadora de nossa humanidade, senão que seriamos deuses e deusas. E mesmo os deuses gregos eram praticantes desta arte sedutora.
Dizem que por termos sidos fundados por pais e país católicos, não nos permitimos o direito ao enriquecimento, coisa bem contrária ao pensamento dos puritanos fundadores dos EUA. Dizem-nos ainda que dinheiro é pecaminoso, isso em meio ao capitalismo mais selvagem, ideologia diferente da dos herdeiros do puritanismo. Mas o puritanismo não é assim tão simples, pois incentivava certa solidariedade, porque somente assim se alcançava a graça divina. A única certeza que tinham era a de que sendo bem sucedidos na terra e ao mesmo tempo contribuído para o bem da comunidade, seriam merecedores do reino de Javé. Por estas bandas, pensamos que o sucesso está estreitamente ligado a vícios. Não creio que seja cabal tal argumentação, mas é sustentável dentro de estreitos limites.
O poder ainda é dos poderosos, e o todo-poderoso é o Capital. Houve um tempo em que dominava a força bruta, hoje ela foi – não completamente – abandonada em nome da sedução, da compra descarada, da pressão de todo tipo, mas principalmente o dinheiro.
Há muito que ao parlamento norte-americano rondam os lobistas. Onde tem lobista tem carniça. Lobista é defensor de interesses nem tão-só particulares, mas também ligados a uma faixa estreita de interessados. Assim, o lobby das tabaqueiras existe e trabalha e tenta influenciar e influencia os deputados. Faz agrados, em suma aos deputados e joga para a plateia com ciência de segunda linha, a confrontar meias verdades. Isso lá não é considerado corrupção. Aqui é? É em termos, (não pensava em usar este sintagma, enfim também me corrompo às imagens fáceis), em termos porque a corrupção pode estar a ser cometida e não sabemos, ou sabe-se, mas não se quer publicar, por interesse, (isto lá não é corrupção, aqui, também não, porque quem determina o que é e o que não é um pecado, é quem o investiga e o veicula, quem mostra, faz opinião, e faz isso, claro, que sob pressão de interesses mui particulares e distintos dos meus, por exemplo ).
Quando FHC aprovou uma emenda constitucional para criar o Instituto da Reeleição, só pode fazê-la exercendo um lobby, se comprou ou não deputados é de somenos importância, porque o importante da questão é a exorbitância de poder em favor próprio ou de alguns, no caso próprio. A reeleição foi levada aos meios de comunicação de massa para uma discussão de 'sou contra' e 'sou favorável', quando a discussão deveria ter sido: é legitimo ou ilegitimo – comprado ou não os votos necessários e suficientes – e é obvio e ululante que é ilegitima a mudança da constituição para se perpetrar no poder ainda que por meros outros quatro anos. A mesma direita gritou e achincalhou Chávez por ter aprovado mudanças na constituição venezuelana de mesmo timbre e teor. E por estas bandas Chávez é execrado por um determinado pensamento, e FHCFHC não o é, não o foi.
A mídia nacional, mesmo no caso do Instituto da Reeleição, trata de FHC como um estadista se tratasse, e a Hugo Chávez como sendo caudilho, a priori.
Sei lá que interesses a grande mídia tem em desqualificar Hugo Chávez, mas sei o que é esquizofrenia, e para esta baboseira que escrevo é suficiente, porque não pretendo defender posições partidárias paralisantes, e como a transparência dos governos tem sido cobrada mundo afora, e mundo afora poucos governos têm permanecidos imaculados, como é o caso da Espanha (PP de Rajoy Barcenas), Portugal, Itália e França\Sarkozy, faz-se necessário uma discussão mais profunda, a pena de cairmos em mãos ditatoriais. E no meio de todo estes discursos mediáticos está subliminarmente incrustado um quero mas não quero, ou bem-me-quer malmequer a ditadura. Por quê? Porque a 'direita', os super-hiper-neoliberais, não têm coragem de dizer com todos os pingos nos is o que de fato pensam sobre a coisa, seja sobre a homossexualidade e todas suas carências e lutas, o negro, o índio e o pobre.
Por isso quando aparece um Feliciano, todos pensam que ele caiu do céu, não não caiu do céu, porque ele representa toda esta gente: não só os religiosos embusteiros, mas a seculosa, toda a direita reacionária – latifundiários, CBF, empreiteiras – que são a maioria no congresso, porque isso também tem dentro da esquerda rançosa, sendo no congresso uma minoria progressivista, gatos pingados aqui e acolá.
Já os grandes conglomerados, como a Rede Globo, pensam estas ''diferenças'' desde o ponto de vista do consumo, nichos de mercado, como tendências de uma época, as quais tenta adaptar o layout para tirar proveito financeiro.
Neste ponto o capitalismo – O Capital – atropela os interesses conservadores reacionários, porque o Capital não quer saber se a mula é manca, quer rosetar.
Assim enquanto recebo ofensas diárias, partindo muitas vezes de amigos, porque muitos deles insistem em purificar o Subaé, toda a realidade continua encoberta por esses epifonemas falso moralistas.

22 de mar. de 2013

O governo Alckmin não lói um léi.

miçangas.



Não vou falar do caso Alston e a offshore MCA Uruguay, não é o que me importa, porque se entrar neste lamaçal sem correntes nos pneus e um 4x4 é só derrapagem e patinação em falso. Mas não podemos esquecer os massacres perpetrados por este senhor, mas não convém enumerá-los, por fastio. Alias, o fastio é seu fastígio.
Devo me ater ao governo enquanto administrador da famosa locomotiva do país; mesmo porque o governo PSDB\Alckmin vem coroar período dilatado de poder exercido pelo PSDB, que estivéssemos em épocas faraônicas o dito seria digno de piramide e mumificação. Mumificado está, me parece, o triste é que permanecerá. Todos aqueles verbos que nos ensinaram a decorar: ser, estar, permanecer e ficar, posso usar para descrever período estagnado, pântano de ideias e assim estão e são e permanecem e ficam e tanto ficam, permanecem e são e não se ligam que é perigoso transformarem a gramática, porém o Estado de São Paulo, não o jornalão, a geografia mesmo, não se transforma, não lói um léi e fica ao léu.
A pasmaceira é tão densa que se fosse nuvem choveria, mas não chove, resta-nos o mormaço sufocante, sem direito ao brilho do sol. No entanto a minha resignação é tamanha, que me dava por feliz, se tudo permanecesse, ficasse como era, estava; no entanto alguns setores para ser bondoso a algum suposto leitor, já que não se gasta papel em ser prolixo nesta mídia, retomo, alguns setores como a educação só faz em deteriorar. Este é o grande verbo de movimento do governo Alckmin\PSDB: deteriorar. A educação não faz sentido, aliás, deveria buscar outra palavra para designar a abandonação escolar. O professor Nilson José Machado da USP SP ministra aulas interessantíssimas – gosto tanto que repito mais vezes das que vi Era Uma Vez na América – sobre o tema, o problema é que ele é grande apoiador do projeto PSDB para educação, e a educação paulista é o que é, filosoficamente é fantástico, na realidade deteriorou, caiu no poço, e o poço não tem fundo, ao contrário dos que pensam que há um porão no poço, não são contíguos e a queda é livre e abissal. Outras aulas podem ser assistidas, como as do professor José Álvaro – que já teve seu periplo por secretarias – e também suporta eufêmico projeto, aliás sempre revisto. Sem novamente entrar no mérito da necessidade e do montante gasto para tanta mudança sem conseguir um sinal para mudar o destino, que é sempre o desatre.
Há uma verdade: a falta de dinheiro. E para a falta de arrecadação, pois a oligarquia paulista é desonerada, os gênios do PSDB engenharam – sim engenho é coisa de gênio – a Nota Fiscal Paulista. Para não dizer um palavrão, grito: Nauber Rosco Tâner. Sim com diacrítico paroxítona terminada em 'r' entre outras.
Se pudéssemos esquecer a educação, caso tivéssemos para mirar, um falso brilhante que fosse, a cultura, por exemplo, que diria da TV Cultura? Saúde? Infraestrutura? Temos ai metido o Aeroporto Leite Lopes, pois, nada.
É notório que não é verdade, mas se faz tanto este absolutamente nada, que chega-se a pensar que nem corrupção existe, tamanho a pusilanimidade do melifluo.
Aqui o capim cresce regular, é o enfeite do abandono, um desprezo desdenhado, casca de banana por toda parte mais ou menos isso disse Riobaldo.

19 de mar. de 2013

Suco fake is more.


santa ceia
Há muito li um Umberto Eco que ainda me faz eco. Nem vou lembrar o nome do livro, não faz falta alguma! Sendo de lá que sei que o american way of life prefere o fake bem localizado, que ter que desembarcar no deserto egípcio, ser acompanhado por guias pegajosos falando inglês de brimo, suportar sol escaldante para ver piramides, more and better é ver uma piramide deixando seu carro confortável com ar condicionado no estacionamento bem pertinho, ver uma piramide perfeita, não uma piramide mal conservada, assim como uma santa ceia, um davi, com toda uma corja de turistas a falar língua que não se entende, more. Esse é o ensinamento, more. Em tudo os estadunidenses se propõe a fazer more. Uma santa ceia more grande, more iluminada, more acondicionada, ainda podendo-se usufruir de um belo hot dog e uma coca cola.
davi fake
Não fomos longe, faz algum tempo tomei um suco de laranja, tirante o sabor a comprimidos – medicamentos – amassados e uma falsidade de sabor de laranja, ele era espesso, espesso como um suco de manga, tudo por obra de uma tal xantana. Xantana é um espessante tão poderoso que espessa um litro de água com menos de grama. Eu falei para a vendeira: se isso aqui for suco de laranja, sou o Noam Chomsky, ela disse é grosso, sim, senhor!
Na mesma época conheci Renato, um executivo de empresa ligada a área de alimentação. Uma empresa australiana fabricante de essências. Havia essência de um tudo. Mas o que mais me chamou a atenção foi a essência de guaraná. Sua empresa vendia para os grandes fabricantes do refrigerante guaraná. À época ganhei uma infinidade de amostras grátis de tais produtos, a que me fez vomitar foi a essência de bacon, nada mais abrir o frasco e socar quase dentro dele o naso, somente não só por ter uma napa de juca chaves.
Faça uma experiência. Numa dose de vodka gelada esprema umas gotas de limão e beba. Depois beba uma dose de smirnoff ice. Claro que não suja a faca, não fica cheiro dos óleos da casca de limão na sua mão, não suja a tábua de cortar coisas, mas tem cheiro de farmácia. É notório que se pode adaptar, acostumar com o sabor e o cheiro da coisa, mas é só isso, costume, odioso, mas costume igual a comer carne de cordeiro, buchada de bode etc.
ramon llull inventor do Afat
Pelo andar da carruagem algumas pessoas podem vir a passar mal ao provarem uma laranjada de laranja espremida, uma caipirinha feita com limãoTaiti.
No século passado os americanos do norte se enfadaram com os restaurantes chineses pelo excesso de glutamato de potássio, famoso ajinomoto, diziam que inchava-os, avermelhava-os; já por estas bandas do hemisfério há uma massa que não sabe comer sem; uma vez foi ao programa da Braga um churrasqueiro de Araçatuba, que tem o cupim assado como carro chefe e estrela da churrascaria, seu grande segredo era o Ajinomoto, que a Braga não disse o nome, porque a marca não quis fazer um acordindinho marqueteiro. Ela falou sim, e se negou a dizer anjinhomorto e disse glutamato. Assim vamos, outro exemplo é o shoyo, o molho de soja, vai na rabada, na galinhada, no frango com polenta e quiabo e glutamato.
Não sei se tudo isso é o que tem feito tanta gente engordar, nem tampouco sei se causa enfermidades, sei que desvirtua o paladar, porque o paladar é educável, como o olfato, a audição, o tato, a visão e o afat; que é o sentido que aprecia as palavras.


9 de mar. de 2013

Feliciano é representativo. Infelicianamente.




Este texto não é um trabalho cientifico, mas fruto de certa observação, um pouco de extrapolação – e isso é estatística corrente no nosso mundinho – e minha leviandade de fundo.
Quando visito os sites da “grande” mídia tenho por hábito ler os comentários que vêm obrigatoriamente abaixo. São sempre foco de minha curiosa atenção. Outra fonte são os comentários e memes totemísticos do FB. Depois a vida real, no trabalho, nos bares etc.



Dentro deste arcabouço, há dois anos tem sido difícil defender o bolsa família, o MST, A verdade da violência na ditadura que findou em 1988, o sistema de cotas, questão do aborto, os direitos dos homossexuais, os direitos humanos e qualquer sintagma em que esteja conformada a palavra 'social'. Levianamente diria que é mesmo um 'endireitamento' de nossa sociedade. Trocadilho usado pelo governo do Estado de São Paulo. É importante usar trocadilho – não tema usar, criar trocadilhos, ainda que algum crítico imbecil seja contrário – eles são poderosos.
Se poderia acrescentar algo numa definição da direita, mas muito pouco, então direita é isso.
Dificilmente veremos em discursos de direitistas sequer uma possibilidade de diálogo dentro do quadro descrito acima. 




Cada um por si e deus por todos, sim, mas qual deus? Do catolicismo secular ou da novíssima ordem religiosa. Para mim, tanto faz, todas essas igrejas, novas ou velhas são o que há de mais retrógrado que há na face da terra. E se houve um momento que algo melhor pudesse acontecer dentro do catolicismo, com a teologia da Libertação, suas vozes foram caladas no velho estilo ditatorial, quer esquerda ou direitista.
O modo mais ou menos idiota em que o pastor Feliciano se manifesta, encontra argumentos para discriminação racial, para exercer toda a sua fobia, não diferem profundamente dos argumentos da direita brasileira e igreja católica pensadoras. Duplo oximoro. É importante, como já disse antes, usar as figuras de linguagem.
Nada mais idiota que uma fumaça anunciar o novo papa. Nada mais idiota que as indumentárias da cúpula desta igreja, nada mais safado que uma sotaina. No entanto esses adereços carnavalescos são 'levados a sério' por grande parte da população mundial. Vira noticia o fato de o papa renunciante renunciar o anel, que ele, no seu tempo, restituiu desde o fundo da tradição mais torpe, desta igreja torpe, quando olhada desde suas catacumbas e de seu passado, seu presente e seu futuro.
Assim não há – qualitativamente – a menor diferença de ranhosismos entre o pastor e o papa, neste caso considere uma sinédoque, na dúvida, uma metonímia. Talvez seja de extrema crueldade o fato inequívoco de os afrodescendentes serem grande parte do rebanho do pastor. Mas não é diferente daquela dos seguidores ensandecidos dos iAlgo de Jobs.
Desta forma leviana e extrapoladora, por preguiça, concluo que não poderia haver dentro da sociedade brasileira outro presidente de comissão que não fosse de direita. Bom, se da bancada da igreja, se da bola, se dos latifundiários, se dos 'endireita' Brasil, não vem ao caso, e não faz a menor diferença, afinal no Brasil não há racismo, nem fobias, nem guetização, nem diferenças de ganhos significativos entre homens e mulheres, e é vox populi que todo aborto é um crime já que a ameba é uma vida...

7 de mar. de 2013

Papas, Pastores e Fromage.



Bento XVI foi um reaça. Me desculpem, mas alguém havia de dizer. Tive vontade de lhe dar uma gravata, não estas que os noivos vendem pequenos retalhos nas festas de nupcias, mas aquela que se passa o braço pela nuca, envolvendo todo o pescoço, e assim reduzi-lo, nem que fosse para lhe dar uma cusparada na orelha. Pardelhas. Tremo. Relâmpagos e trovões, cheiro de enxofre, e todas as trombetas do Apocalipse. Anátema! Anátema! Mas, gente, se vivemos num estado não confessional, ainda que às vezes traria efeitos um retorno à teocracia.
Ultimamente, os monoteístas, ah os monoteístas eles têm a pele muito fina, e a crise de valores ateia fogo e faz uma onda conservadora tsunâmica, às direitas, se extremam. Uma onda moralista, uh! De muitos pés. Querem retomar o poder, sinal dos tempos. Dizem que encontraram indícios de vida num planetinha das redondezas, pergunto se não é o caso de emigrar, como queriam os banqueiros nem há tanto tempo assim.
Ora, ora, Ratzinger e os Pastores evangélicos, aquele encarnava, estes encarnam a versão mais retrograda de suas respectivas e invencionices religiosas, mas me parece que os Pastores são mais heavy metal. Estão num patamar acima de Ahmadinejad ou o ditador gostosão da Coreia.
Com tantas ovelhas, por que não temos um belo fromage à l'huile d'olive, neste horto das oliveiras.  

Beber a derrota.




Coincidi com Joana no bar do Zebra, digo coincidi porque não marcamos encontro. Eu sei que Joana às vezes o visita, mas antes andamos a fugir que encontrar o outro, mas desta vez coincidimos. Enquanto bebíamos, gestávamos desastres vãos, como a vida a miúde. Entretanto pouco a pouco nos foi tomando conta alguma embriaguez  filosófica, sem estrategia, se nem temos tática, íamos ao sabor dos ventos tateando explicações, para a tragédia. Pensávamos de muitas maneiras, mas a conclusão sempre queria se expressar unilateralmente, na sociedade ou no seu fundo, um modo de entender a arte, a beleza, ou a ética das formas fundamentais, elementares e a suas grandezas. Enfim, perdemos quando temos diante do nariz modelos totemísticos mais contundentes, de resposta imediata e contabilizável, que  botam fé, fiável, de uma maneira quase perversa à natureza mesma do mundo real em que vivemos. Acima de tudo, pode ser que isso se trate de uma defesa e esta é o contra-ataque desapiedado, e é o mesmo que destruir antes da criação, ou desqualificar antes de elogio; “aniquile e vencerá\possuirá” remarcava Joana. Seguimos, ligeiramente, perplexos quase burlescos, como se detrás da ironia pudéssemos nos construirmos pequena fortaleza (lembrei de dulcíssima prisão), frente à miséria da euforia coletiva, que é gerada basicamente pelo convencimento de uma ideia, aquela que tolera a exploração alheia e própria, das fraquezas humanas.
Tudo isso vinha rebocado por soslaios que não podiam fugir do futebol na TVzona, a tínhamos diante dos olhos; mas por sorte ou azar olhávamos além da tela plana, pois ali também é legítimo o uso do imediatismo, acima de qualquer princípio: não se trata de pegar ou deixar de pegar, senão de quem pega primeiro. De quem sabe explorar melhor a conjuntura, qual vimos ser empurrada pelo tempo e circunstâncias de toda uma vida a deriva.
Um sobrevivente, seja qual seja o critério que o move, é um herói, um modelo encoberto a seguir, e a perversão dos seus argumentos se aceita com uma tolerância e uma admiração, alarmantes. Concluíamos lentamente e ainda irônicos, que o totêmico e o avarento também criam, mesmo quando a criação é derrotada, morre com ela a beleza, as sutilidades e suas formas, então no meio da crise de ideias, o equilíbrio é puro desequilíbrio, um palhaço na corda bamba, por onde a simples cerveja desta tarde, nos converte instintivamente, em assassinos, convencidos e confessos de nossa não nobreza.