Coincidi
com Joana no bar do Zebra, digo coincidi porque não marcamos
encontro. Eu sei que Joana às vezes o visita, mas antes andamos a fugir que encontrar o outro, mas desta vez coincidimos. Enquanto
bebíamos, gestávamos desastres vãos, como a vida a miúde. Entretanto
pouco a pouco nos foi tomando conta alguma embriaguez filosófica, sem
estrategia, se nem temos tática, íamos ao sabor dos ventos tateando
explicações, para a tragédia. Pensávamos de muitas maneiras, mas
a conclusão sempre queria se expressar unilateralmente, na sociedade
ou no seu fundo, um modo de entender a arte, a beleza, ou a ética das
formas fundamentais, elementares e a suas grandezas. Enfim, perdemos
quando temos diante do nariz modelos totemísticos mais
contundentes, de resposta imediata e contabilizável, que botam fé,
fiável, de uma maneira quase perversa à natureza mesma do mundo real em
que vivemos. Acima de tudo, pode ser que isso se trate de uma defesa e esta é o contra-ataque desapiedado, e é o mesmo que
destruir antes da criação, ou desqualificar antes de elogio; “aniquile e vencerá\possuirá” remarcava Joana. Seguimos,
ligeiramente, perplexos quase burlescos, como se detrás da ironia
pudéssemos nos construirmos pequena fortaleza (lembrei de dulcíssima prisão), frente à miséria
da euforia coletiva, que é gerada basicamente pelo convencimento de
uma ideia, aquela que tolera a exploração alheia e própria, das
fraquezas humanas.
Tudo
isso vinha rebocado por soslaios que não podiam fugir do futebol na
TVzona, a tínhamos diante dos olhos; mas por sorte ou azar
olhávamos além da tela plana, pois ali também é legítimo o uso
do imediatismo, acima de qualquer princípio: não se trata de pegar
ou deixar de pegar, senão de quem pega primeiro. De quem sabe
explorar melhor a conjuntura, qual vimos ser empurrada pelo tempo e
circunstâncias de toda uma vida a deriva.
Um
sobrevivente, seja qual seja o critério que o move, é um herói, um
modelo encoberto a seguir, e a perversão dos seus argumentos se
aceita com uma tolerância e uma admiração, alarmantes. Concluíamos
lentamente e ainda irônicos, que o totêmico e o avarento também
criam, mesmo quando a criação é derrotada, morre com ela a
beleza, as sutilidades e suas formas, então no meio da crise de ideias, o
equilíbrio é puro desequilíbrio, um palhaço na corda bamba, por onde
a simples cerveja desta tarde, nos converte instintivamente, em
assassinos, convencidos e confessos de nossa não nobreza.
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