26 de fev. de 2013

Privacidade: O Espião.




É certo, que se não se encontra entre os espionados pela mídia, RF, hackers, FB e se não está no BBB, é que não se é ninguém; entende-se ninguém que se leve em conta. Portanto, as vítimas das escutas ilegais dos arapongas de toda sorte, devem se sentir afagadas, lisonjeadas pelo fato de a sua relevância as converter em objeto, no mínimo, de curiosidade dos rivais; já se sabe que a importância do indivíduo se mede pela importância dos rivais ou inimigos que têm. Em frente; o “celebrizável” é também quantificado pelo número e duração dos registros clandestinos a que foi submetido, seu telefone, ou um microfone escondido num arranjo de flores sobre a mesa do restaurante com cadeiras de espaldar e almofada revestidos de veludo verde, Leopoldo.
Temo não figurar nesse milheiro, ou dezenas de milheiros, de escolhidos; é como se não existisse o mínimo interesse sobre o que posso dizer, fazer ou escrever. Oh! Tristesse! Mas pensa que me resigno a não ter qualquer protagonismo em meio a tantos tipos de rolos, obscurantismos e intrigas, tão apaixonantes quais romances de Eça ou Machado, ou mesmo como as novelas do horário nobre. Não, não e resigno.
Li em algum lugar, que há um plano da oposição – PSDB, PIG etc – em frustrar a reeleição de Dilma, fazendo-se uso de todo tipo de recursos, humanos e materiais. Com o intuito de obter todo tipo de informação, verossímil ou falso, quais sejam, das pessoas implicadas no jogo eleitoral, para então o Ministério Público tomar as providências. A oposição, seja, seus serviços de inteligência – desculpem-me pelo duplo oximoro – estariam dispostos a recompensar generosamente quem dispõe de uma tribuna; seja radiofônica, televisiva, blogosférica ou de perfis mui seguidos na rede social, quer dizer, capaz de influenciar na opinião pública e se avie a fazer o jogo. Olha! De pensar me dá calor de provocar arrepios.
A tentação é forte, e franca fragilidade, todos temos um preço. Mesmo porque, a vaidade de não ter nada escondido debaixo do tapete, não vale nada, é vã!
Os hackers não fuçam as minhas senhas. O Instagran nem liga para as minhas fotos! Nem passo apuros com o Leão, infelizmente! Não ando com sinalizadores...
Assim que, quero dizer, se começarem a ler coisas a favor de certos e incertas caras, tecer loas ao Felipão, ou pedir a volta da ditadura, a diminuição de legisladores nas câmaras; farão bem em pensar mal, de mim, sobretudo se me virem pela rua com umas trezentas cilindradas a mais, jaqueta de couro ou entrando em churrascaria onde o bife é de Red Angus. Não, há almoço grátis. Imagino.

25 de fev. de 2013

nada




Nas situações limites nos acudem os sentimentos limites; aqueles tão fronteiriços que apenas, ou nunca, boiam ou se manifestam. Não é que, exatamente, se despejados numa conjuntura desesperadora, a nossa própria desesperação dinamitasse a parte mais oculta da alma, ou a mais bondosa, mas sim que o ambiente nos empurra às novas pressões sobre os valores, os sentidos, os princípios, e então toda esta mistura elementar toma uma forma ou outra, um perfil barroco, feio, aleijão, ou numas linhas estilizadas dignas do ideal clássico.

A sociedade atua da mesma maneira, como um indivíduo, mas massivamente, contagiando-se com seus tiques e, assim os esquemas coletivos evoluem para novos parâmetros a fim de legitimar todo tipo de solução.
A corrupção, por exemplo, não é um, de parâmetro. Louco não é: A corrupção não é um exemplo de parâmetro. Mas nela visualizamos as vias em que uma pessoa pode avançar desde o convencimento que aquilo que perpetra nem é tão barroco, nem é tão feio, nem tão aleijão, tão só é uma expressão destilada da sua natureza humana. Pode ser que em tempos convulsos, como no meio de dessa verdadeira guerra, mais que dinheiro, a questão já o é cultural, o identitário e essencial, onde os gestos são contorções, os castelos de areia desabam, os que eram Gama, são Alfa, ou Beta, ou mesmo outras letras já de todo ilegíveis, escritas por mãos doentes.
As decepções são rachaduras nos que se esforçam em seguir relativamente coerentes. Um teatro que não há deus nem homem que pode suportá-lo.
Não é que a nossa sociedade seja suja, ou radical, ou baixa; senão que uma parte boia e respira à superfície, enquanto a outra, a limpa, fica invisível. Mesmo a limpeza também já é um valor decadente, pelo seu componente de ignorância e de, curiosamente, falta de espelhos.
As personagens mais obscuras da história, mas também os heróis e os mais brilhantes, surgiram de realidades extremadas, nos recantos mais distantes da moderação, de maneira que hoje esperamos a confrontação espontânea entre líderes miseráveis e dignos.
Dignos e malditos não se manifestam, verdadeiramente, dentro do nosso campo de percepção, nos nossos limites. Mas não somos os nosso limites. Somos, talvez o reflexo de um medo, de uma instituição, de um obscurantismo que se espraia, mas depois tornaremos a normalidade, metidos em novas metas e bandeiras até a medula, e tudo para tornar a alcançar outro limite, outro erro. E descobrir que somos finalmente: Nada.  

22 de fev. de 2013

django.




Produtos de baixa qualidade, ou desconsiderados, marcos da cultura de massa, ou lixo, se quiserem; que passam por um moedor, aonde vão de mãos dadas o visual, o musical e o mundo das vísceras, e flertando diretamente com a emoção, pura, se converte em arte. Como, por exemplo, o kung fu em Kill Bill.
Agora um faroeste espaguete derivado do filme de Sergio Cobucci, com Franco Nero, para mim foi o must lá pelos fim dos anos 60 principio dos 70 quando vi no Cine São Roque, e na casa das máquinas estava o Roberto Nobile, onde vez por outra subia para sem saber imitar Cine Paradiso.
 Pois daquele Quentin herda o nome e o substantiva e acolhe o tema central daquela trilha sonora, para dar nisso: uma gag hilariante sobre a Ku-Klux-Klan.
Ritmo, engenhosidade, trilha sonora, fina e grossa ironia, silêncios onde falam o colt que no mais das vezes é apenas mostrado, mas isto já é um signo Saussureano que significa e é significante, enfim o colt mostrado em close: fala; alternados com o palavrório do dentista – monólogo - e seus adereços, tudo se une nas primeiras sequencias desse Django, prodigiosas, violentas, porque verdadeiras brigas de rua, comicidade insólita transbordante de sem-vergonhices, como no escravo solto aos cães. Claro que em Pulp fiction não – deslumbrante e perfeito – mas a partir dele e talvez Reservoir dogs Tarantino se põe desmedido, não pelas Smith & Wesson que despedaçam os corpos, mas pelas quase três horas; se somar que encontro equivocada o a evolução da personagem de Samuel L. Jackson, a paródia de um fantoche no meio da farsa grotesca, nem é a mesma coisa, muito menos igual. Ficou um pouco casas Bahia, muitas prestações iguais, mas sim, enche os olhos com toda a mitologia dos westerns somadas às dos faroestes espaguetes, uma linguagem que não foi Quentin Tarantino quem as criou, foi Hollywood, ele as usa à sua medida eu as entendo às minhas medidas.

18 de fev. de 2013

Gênero e Sexo.





Talvez consiga, partindo dessa primeira blocada, construir coerência que me leve a 'uma' resposta, que não seja qualquer, para esta pergunta: Se há um sexismo na linguagem, ele gera uma invisibilidade feminina? Me parece que há mais perguntas subjacentes. E como é moda ser construtivista, vou tentar de tudo um pouco, como se fosse Marina Silva, vender madeira nobre centenar e defender a árvore.

Me deparei com duas questões logo nas primeiras leituras. A língua tem gênero? E Sexo?
Fui ler.

Gênero - no sentido de 'gender' da língua inglesa – conjunto de representações, crenças e comportamentos prescritos aos membros da sociedade em função da diferença anatômica.
Neste sentido é de construção social e não uma separação de papeis natural e inerente ao sujeito ou aos sujeitos ou o que se espera deles em termos de masculinidade e feminilidade.

A classificação dos sujeitos, em função da categoria de gênero, produziu em todas as sociedades uma divisão dos espaços, do trabalho, do poder e consequente subordinação e orientou e orienta ( sou principiante nisso e declinei o convite que me faz, ainda, “determinou” e “determina” por orientar) as relações entre tais gêneros.
Já aqui, e sem poder ir adiante, porque se instaura outra pergunta: Se gênero é construção social, por que tão somente dois? Bipolaridade?
Estou diante da Ideologia de Gênero?
Os proponentes desta ideologia afirmam que as diferenças entre o macho e a fêmea não correspondem, tirante as óbvias diferenças anatômicas, a uma natureza fixa, que faça uns homens e outros mulheres. Porque as diferenças de maneira de pensar, fazer e julgar-se a si mesmo, o faz como produto da cultura de um país e duma época determinada, e que a cada grupo de pessoas uma série de características são conferidas por conveniências das estruturas sociais!
Deste modo cria-se a liberdade de escolha de “gênero” que se possa querer pertencer, e todos igualmente válidos e simplesmente modos de comportamento sexual, produto da eleição de cada pessoa. Noutras palavras: Inventar-se a si mesmo!
Diz assim Judith Butler no seu “Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity”: “ O Gênero é uma construção cultural, por conseguinte não é nem resultado causal do sexo nem tão aparentemente fixo como ele. Ao teorizar que o gênero é uma construção radicalmente independente do sexo, o gênero mesmo vem a ser um artificio livre de ataduras; em consequência homem e masculino poderiam significar tanto um corpo feminino como um masculino; mulher e feminino, tanto um corpo masculino como um feminino”.

Antes de continuar veja a piada: No passado os ingleses passaram a utilizar “Gender” para serem corteses e evitar o sentido secundário que sexo tem em inglês. Já faz algum tempo que o termo “gender” se abriu a estas novas perspectivas, papeis socialmente construídos.
A IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher, em Pequim 1995, foi cenário de lançamento da campanha de difusão da nova perspectiva que definiu: “ O sentido do termo Gênero evoluiu, diferenciando-se da palavra sexo para expressar a realidade de que a situação e os papéis da mulher e o homem são construções sociais sujeitas a variações, mudanças”.
Noutras palavras: Não há um homem ou uma mulher natural, e que não há conjunções de características ou de uma conduta exclusiva de determinado sexo, nem sequer na vida psíquica. Assim a inexistência de uma essência feminina ou masculina nos permite rebater a suposta superioridade entre um e outro sexo, e questionar no limite do possível se existe uma forma natural de sexualidade humana.
Muitos países membros das Nações Unidas, tentavam abolir o uso da palavra “gênero” e substituí-lo por “sexo”, no que foi prontamente rechaçado pelas 'feministas de gênero', porque viram nesta tentativa de revogar conquistas das mulheres e bloquear progressos futuros.
O termo “feminismo de Gênero” foi cunhado por Christina Hoff Sommers no livro “Who Stole Feminism?” (Quem roubou o Feminismo?) e o fez para distinguir do movimento feminista pela igualdade: “ O feminismo da equidade é sensivelmente a crença na igualdade legal e moral entre os sexos. Uma feminista de equidade quer para a mulher o que quer para todos: tratamento justo, ausência de discriminação. Pelo contrário, o feminismo de gênero é a ideologia que pretende abarcar o todo, segundo a qual a mulher está presa em um sistema patriarcal opressivo. A feminista da equidade opina que as coisas tem melhorado muito para a mulher, a feminista de gênero frequentemente pensa que tem piorado. Vêm sinais do patriarcado por todo lado e pensam que a situação piorará. Porem isso carece de base na realidade. As coisas nunca estiveram melhores para a mulher que hoje é grande parte do estudantado universitário, e a diferença salarial continua diminuindo”.


14 de fev. de 2013

Papa Bento e o Sommelier.



Outro dia fui com a Joana a um restaurante bom, quer dizer mais chique que, nisso é que dá querer dar uma de esnobe, havia sommelier! Ele, empertigado, ia entre as mesas como se estivesse oficiando a sacrossanta cerimônia do vinho. Amigo! Aquilo era a verdadeira santa missa. No fundo estava vestido mesmo de padre. Todo de preto, e isso sim, não usava aquele colarinho clerical, sim uma borboleta. Mas nem a festiva mariposa, podia dissimular-lhe o gosto enrustido por uma sotaina, doidinho para nos arrancar, com cotonetes ou sacarrolhas, o inculto cachaceiro que trazemos amoitado dentro, como o demônio se tratasse.
Enquanto ele falava, te juro que deu vontade de me confessar: Senhor Padre, estou bebendo vinho tinto com o badejo. Pior, ainda, meu colega, é que comecei a olhar com luxuria a cerveja do comensal vizinho.
Entretanto sei que há sommelieres bacanas, que recomendam bebidas e em suas propostas, podemos descobrir novos prazeres, ou uma aventura interessante, até mesmo uma marca que nunca se nos havia ocorrido experimentar. Outros, como esse, é lamentável, são sujeitos empoleirados num púlpito, um apêndice externo, que invadem a privacidade da nossa mesa, para importunar com sua autossuficiência e sua conduta de valentão estripador com sacarrolhas.
Oxalá não proliferem, melhor que isso, se extinguam como o gaturamo bonfinense, ou os espantalhos dos arrozais. Porque senão, espantarão aquele que bebe vinho por gosto próprio, como expulsaram os católicos das igrejas, por puro aborrecimento. A     

8 de fev. de 2013

Milagres e Novas Igrejas.


A ferramenta do Materialismo-Histório é a produção material da vida material. Noutras palavrotas qualquer análise do materialismo – da vida material – ( note que mesmo o mais espiritualista dos seres, por exemplo, o Dalai Lama, se veste, come, bebe e dorme (sendo leviano) jogando palavras ao vento ), voltando, a análise partirá da produção desta vida, a vida material.
Um exemplo: A história “oficial” quando fala da abolição da escravidão, 'esquece' de dizer que o fundamental na extinção deste modo de produção, foi: Um,  naquele momento o escravo custava mais que o homem livre. Dois: ao ver que o 'imigrante' era razoavelmente livre – comparado às suas condições – o escravo entrou na luta, que era, de seu interesse.
Outro exemplo, este contemporâneo, é a debandada geral dos 'católicos' para as religiões novas. Tirante os falsos milagres, as igrejas insistem em receber um dízimo, um valor sobre a renda da pessoa, ora, um desempregado não tem renda, um bebum não tem renda. Assim nota-se a olhos nus que uma das tarefas é retirar o cachaceiro da rua e empregá-lo, fazendo deste um dizimista, e mesmo que seja puído, sempre se apresentará aos cultos na sua melhor indumentária, o terno e gravata, notadamente com o dízimo em dia.
É a mais pura e simples e eficaz “educação” material, para viver no mundo material, suprindo falências estatais, municipais e familiares. Claro é, que vivemos em mundo de consumo, e na maior parte do tempo, assim, somos tratados: consumidores. Claro é também, que quando votamos 'errado' quisera-se que fôramos: cidadãos, mas não vem ao caso. Este 'cristão' novíssimo não deixa de ser reacionário , ademais, como todos os outros, e como a maioria das 'congregações' como Opus, Maçons, etc. Notadamente por estar num dos países mais reacionários do planeta, ocidental, desde que exista ocidente e que se compreenda o conceito de ocidente|oriente.
Por isso e desde já declaro, e uso um verbo caro à religião, declaro que não comungo com as ironias despejadas sobre as tais religiões, porque para mim, se fizessem algum mal, seria o de procrastinar o saber material da cruel ausência e completa de deus. Afinal o fato de acreditar ou ter fé – sei que são posturas e entendimentos diferentes – faz parte da loucura humana, sendo que há ateus que botam a maior fé nos tais 15mim de Andy Warhol, sem sequer um minúsculo questionamento.
As mudanças de comportamento do brasileiro D e E para C, acompanham os mesmos dos da C para B, incultos e bossais, mor das vezes, sendo que a eficiência da mudança de classe material para ser completa deveria ser acompanhada de mudança 'cultural', mas nem exemplos temos. Nosso teatro é irrisório e risível, nossa música, alias quase toda ela vem sendo feita pela classe ascendente, com suas mazelas, seus ecos acabam por influenciar, mesmo, os mais 'clássicos' MPBs. Nossa arte plástica, é mesmo quase isso, descartável, e como tal um lixo a mais nesse lixão que ninguém sabe o que fazer com ele, nem os ambientalistas. Alias ambientalista que não trabalha na prevenção, e desenha condomínios fechados e lá mora, fuckin-up e de saquinho na mão catam rolhas úmidas de cães senhoriais, com vontade de desfilar galgos em Trafalgar Square, rodando sombrinhas no sec. XVIII.

5 de fev. de 2013

BBB vs Ler?

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De cara, Grande Irmão é personagem livresco, dizem que é uma das pessoas mais influentes no mundo sem ter jamais existido – em 1984 de Orwell “ The Big Brother watching you” era a propaganda do estado; do livro saiu o programa BB que no Brasil se somou outro B! Não sei se é ocasional esses bês de bunda em abundância.
Há muito deixei de ver televisão – lá pelos idos de 2006 – diante do medo que me assomava ao ter de ouvir, inesperadamente, de pessoas celebres, e só porque celebres, opiniões descerebradas, ou, por exemplo, de ver principalmente em época carnavalesca, que o simples aparecer de uma câmara de TV faz a miss virar o cu para ela, câmara. Não que não goste das adjacências, mas sei que logo o repórter perguntará à dona das protuberâncias redondas tremelicantes e ela responderá: sou mangueira desde... ou bobagens descomunais. Ou então grandes enchentes que levam “tudo que eu tinha” e o choro respectivo, é me desconfortável. A TV tem esse desconforto, claro para quem o sente, para quem não o sente não há contra indicações.
O BBB está inserido dentro deste leque de surpresas. Surpresas que tanto podem ser agradáveis como não? Ou desagradáveis. Ambos sentimentos podem ter significados importantes a serem aproveitados ou descartados, lixo mormente.
Quando vi BBB, e foi pouco o que vi, mas não havia nada que me aborrecesse, senão que os instintos animalescos, que procuro apaziguar em mim, mas é o componente básico às pessoas enclausuradas. Não se pode negar a aptidão que têm de tudo fazerem por um milhão de reais ou mais. Até ai! A vida tem me ensinado que o dinheiro não traz as marcas de sua origem, seja na vida privada ou na vida pública. Ninguém se enrubesce devido a origem do dinheiro que tem. É certo também que há uma classe de pessoas, talvez por não terem se endinheirado, que têm travas a respeito de certos comportamentos. Entretanto estas mesmas pessoas, com o médio que têm, querem o fazer valer mais, noutras palavras com o pouco que têm querem produzir diferenças, e quiças não existam tais diferenças, além da necessidade que sentem de criar guetos para os outros, de certa forma os apartar.
Trabalhei como garção com um festeiro afamado em Rib. Preto no final da década de 70 enquanto frequentava a universidade. Neste trabalho tive contato, até carnal, pois era jovem, nas festas que havia na incipiente capital da cana-de-açúcar. Foi daí que me pesou a frase de John D. Rockfeller que a diferença entre pobres e ricos é o dinheiro, e o dinheiro é o que é.
Uma das grandes falácias que rondam como um urubu a cabeça de pessoas tidas como incultas é o livro. Como se pessoas que leem fossem incapazes de cometerem animalidades. Um sujeito erudito como Adolf Hitler não poderia ter, então, feito o que fez. Hitler alem de admirador das artes plásticas, entre outras coisas leu e entendeu Nietzsche, diferentemente de muitos que vomitam frases de efeito, e vez por outra não foi o que disse Zaratustra. Assim, ler, para uma camada social é um bem, que a todo momento aspiram a que se transforme em algo mais de mera erudição, dinheiro. Tudo pode ser reduzido a dinheiro, afinal estamos no capitalismo, mas saber tudo que se passou com a família Buendia, e por sinal Buendia vem de Buen que é bom e dia que é dia, e faz Bomdia, não se transforma em dinheiro assim, num passo de mágica como na fantástica Macondo. Ler é bom e não bem. Ler não abre a mente de ninguém, em algumas por sinal, vazias, as enche de minhocas, como no caso da famosa triste figura do errante cavaleiro e seu fiel escudeiro. Há algo que é estudarmo-nos enquanto humanidade e enquanto indivíduos, o que somos, para onde vamos ou donde viemos?
No entanto ler é consumir, há que se tirar esse véu obscurantista da atividade de leitor, pois o prazer está em ler com prazer.
E nesse sempiterno consumo de livros se matiza - estranha mania - o gueto. Porque há literatura de todos os pendões e penachos, igual tatuagem. Por exemplo, li Ulisses, num primeiro momento, para falar que o havia lido. Até que um santo dia encontrei um cara na Espanha – quando cometi a asneira de dizer-lhe entre uma tapa e outra que havia lido Ulisses – que me disse: Se não podemos nos entender nesta língua deveríamos mudar de língua. Não sou burro e entendi, supus se tratar de uma citação, mas tive que fingir estar já borracho, enfim mudar de assunto era o significado da frase, já que o amigo sentira minha insipiência no assunto, espécie de vergonha alheia. Isto me fez ler todo o livro novamente para encontrar em Circe a tal frase de Dedalus. Ou seja, se você para mostrar que é rico mostra uma nota de cem dólares, o mínimo que se espera é acabar vendo uma de quinhentos.
Há, para finalizar, uma música sertaneja que conta a historinha de um rei do café e um rei do gado, o do café disse para esnobar o outro que tinha zilhões de pés de café, no que o outro retruca que amarrava um boi em cada pé de café e a inda lhe sobravam rezes.