22 de out. de 2012

Feche os olhos da TV.

Tire o cu do sofá e feche os olhos da TV.


Estou em campanha. Desde menino já dava meus palpites no assunto político. Certa vez, seu Osvaldo Sampaio, antigo tabelião de Bonfim, onde eu trabalhava, me convidou para ir comer um lanche no Bar do Cipó, que ficava na outra quina da esquina. Tomava minha tubaína mordiscando o pão com mortadela, com a orelha comprida na discussão de seu Osvaldo com seu Humberto Toni, eu fazia o segundo colegial, tive boas aulas de revolução industrial, revolução francesa e modo de produção, assim que já tinha a centelha 'rebelde'; eles estavam entre Ademar de Barros e sei lá do outro, eu disse que sem liberdade não se podia escolher nenhum, creio, de pronto veio um gancho de direita, seguido de cruzado de esquerda do seu Humberto “ você não nasceu, você veio a furo”, dei um gole de tubaína àquela massa de pão que de pronto fechara minha glote. Não parei mais, apesar da ofensa seu Humberto sempre que aparecia lá pelo bar, vinha ter comigo e nunca mais lhe neguei fogo, nem ele me negou, nunca mais, importância.
Fizeram cagadas homéricas com o patrimônio cultural e arquitetônico bonfinense, por exemplo, a praça no lugar da Estação 'Inglesa' da Fepasa, o viaduto, a pintura interior da igreja entre outras tantas. Hoje rui o prédio da CPFL sem dó e sem pena.
Hoje passei a manhã panfletando pelo Gustavo, rapaz vigoroso, potente e cheio de ideias e ganas de realizar tanto as ideias como a ele próprio, é assim, quem tem sonho, quem não tem sonho, não sei o que tem, nem o que é.
Já mudei de partidos, minha primeira filiação foi em 1981, e sigo filiado até hoje e penso que é de suma importância a participação política, é das últimas heroicidades que restaram aos homens e mulheres, fora a criminalidade. Com política ainda se pode mudar o mundo, para o bem ou o mal, os outros heróis só mesmo no gibi.
É um trabalho hercúleo ser candidato diante de uma massa amorfa, que diz simplesmente, “Eu? Eu não! Eu não gosto de políticos nem de política!”
Bestagens meus amigos, vá para a rua, encontre o candidato que 'ainda que aparentemente' tenha as 'ideias' próximas das suas, vá com ele e os outros, encontre outros e defenda as ideias coincidentes, debata, enfrente elegantemente quem se opor, é uma atividade que oxigena. Você verá quanta gente pensa diferente de você, quanta gente quer coisas diferentes daquelas que você encontrava como perfeitas, as melhores. Você verá que nem todos, ou nenhuns querem o quê você oferece, defende.
Depois de passar a manhã nesse exercício físico, primeiro, pela caminhada, mental pelos debates, é hora de um bom churrasco, para contar o que se passou, como fazíamos depois do jogo de futebol.
Tire o cu da cadeira, e descadeire-se de tanto caminhar, sua noite será melhor, você entenderá um pouco das dificuldades políticas a que estamos metidos até o nariz. E todas as decisões até agora se deixou a cargo dos outros, sim o político é o outro, e tomará decisões com ou sem a sua participação, mas participando você poderá influenciar, se ao menos tiver como contrastá-lo, encontrá-lo, cobrá-lo.

15 de out. de 2012

Futebol brasileiro inventa “a roda” a cada partida.



Tenho visto algumas partidas do campeonato brasileiro, mas não consigo assisti-las até o fim, me cansam. Me cansam os passes errados, me cansam os analistas, me cansam os ufanistas, me cansam as triangulações que quase, sempre quase, a todo momento, quase, e quase dão certo.
Quase também não há ladrão de bola, porque as bolas são retomadas via passes errados, fintas impossíveis, em que o cara pensa que é o Bip Bip. Me cansam os mergulhos. O novelismo, quer dizer, a péssima arte cênica praticada e em demasia, são tapas na cara que não existem, e acabam me acertando, o tapa na cara da encenação exagerada, à moda cine trash, caras e bocas de novelas ralés.
Quando era menino e me aventurava com a camisa 8, dizia o seu Justo nosso treinador: Olha a segunda bola. A segunda bola tradicional é aquela que o goleirão dá o balão para o meio de campo, e salve-se quem puder, normalmente o becão dá uma cabeçada para onde o nariz aponta. É essa a segunda bola, anda meio desaparecida, porque os goleiros já não dão tanto chutão, se bem que na última rodada eles abundaram. Pois bem, essa segunda bola deve ser marcada, porque é a retomada da posse que interessa. Outra segunda bola muito comum é o rebote da gorducha alçada na entrada da grande área, e o aproveitamento desse esférico é importantíssimo, porque recoloca o time que o alçou ao ataque novamente e muito próximo do objetivo e com a zaga bagunçada. O Corinthians tem praticado de alguma maneira essa retomada. Mas, o Palmeiras, ontem, por exemplo, nada fez para reconquistar a pelota. Entretanto há uma infinidade de segundas bolas, de rebotes que a equipe não está preparada para eles, como se não soubessem de tal possibilidade. De tal forma que nestas zonas intermediárias se dá o linchamento da esfera. A bola é mastigada, pisada, maltratada até que alguém “não” acerta um tapa na cara do outro, mesmo assim o outro se atira como nenhuns dos adversários de Cassius Clay ousaram.
Assim me parece uma verdadeira farsa: o treinador; o professor; o engambelador. Era o caso do Palmeira de Luiz Felipe Scolari. Uma, sozinha, jogada, e quando o Marcos Assunção acusou a idade, a jogada foi para o beleléu. Digo farsa pelo fato que o fundamento de recuperar a posse é fundamental no futebol, sem a posse, salvo em inexistente caso, não há gol. Então, o treinador que vai, pouco, além de psicologismo motivador, deveria motivar e treinar posicionamentos que viabilizassem a retomada da criança. Mas não existe este treinador, salvemos as exceções, sempre, é regra.
Outra jogada endeusada, pelos cronistas esportivos e consortes, é o aparecimento do 'homem-que-vem-de-trás, o elemento-surpresa. Sempre tivemos esses elementos surpresas, mas surpreso me coloco quando tal elemento produz, que seja pífia surpresa, porque na maioria dos casos é um canudo sem rumo e sem direção. Vide Dunga, Mauro Silva, e outros, já que há infinidade desses elementos sem surpresas e não caberia num mega.
No futebol brasileiro, hoje, quem tem se destacado com essa jogada é Paulinho, no Corinthians. E parece obvio, posto que a jogada que favorece seu aparecimento é justamente a retomada da posse de bola no momento em que o adversário pensa tê-la, e se relaxa, e se desarranja, se desarruma, abre espaços etc. O São Paulo dos últimos jogos, explorando a velocidade de Lucas e o posicionamento avançado de Luiz Fabiano, tem se aproveitado dessa retomada, mas esta jogada são-paulina se assemelha mais ao contra-ataque.
O Grêmio de Luxemburgo, que tem aproveitado das características gauchas, tem imposto pressão. Seus jogadores, sem a bola, ocupam sim o campo adversário, mas é atabalhoadamente, sem organização, é no folego; na raça; no arrocho, tanto que quando a reavêm, a perdem com a mesma intensidade e frequência, como já disse não há planejamento estratégico, da Arte da Guerra só aprenderam os berros e o acosso e das simulações: os mergulhos, as caras de dores e um troiano e pouco mais.
Tal desorganização tática e a falta de treinar fundamentos, como roubar a bola, retomar a segunda bola tem nivelado os times no campeonato, excetuando o Fluminense que tem um esquema de jogo alem de Deco e Fred, o São Paulo se destaca mais pela diferença patrimonial de Lucas e Luiz Fabiano. E o Santos é o que mais caracteriza esta ausência estratégico-tática, se valendo alguns momentos da inspiração de Neymar.
As partidas ocorrem dentro de um clima de absoluta casualidade, logo após o toque curto do centro-avante, depois do apito inicial, esta é a única certeza. Pois dai em frente não há uma triangulação que termine em jogada clara de gol, sempre há um capote forçado, a busca incessante para receber uma falta na entrada da área, ou mesmo à beira da linha-de-fundo. Os pontas não cruzam na cabeça, mesmo na direção de alguém, planejadamente, simplesmente alçam-na à área, quando não, chutam-na no adversário, em busca do esquinado, que se posta na linha lateral da área grande, e lá dentro da pequena quando ela passa é onde se dá verdadeira rinha de galos, com mais cristas que esporas.
A qualidade de nossos jogadores é indiscutível. Porque são capazes de criar a partir do nada, partindo da não referência. O Barcelona com pouco mais que Messi, consegue ser hegemônico internacionalmente nos últimos anos. E quê o Barça faz? Segue à risca os fundamentos do futebol. Segundo meu amigo José Gabriel a jogada perfeita é aquela perpetrada e eternizada por Clodoaldo na copa de 1970 no México, o 'roubo' da bola, o drible, o passe, o chute a gol, claro o gol.
O Barça se movimenta em busca da segunda bola, mais que pressionar individualmente cada jogador adversário que tem a posse de bola, marcam exatamente a bola, querem a bola e a retomam geralmente interceptando passes, muitas vezes, curtos devido ao avanço de suas linhas. O Barça se apodera da maioria das segundas bolas, seja na entrada da área, na intermediaria e no meio campo. Depois triangula, à beira de um ataque de nervos, mesmo porque seu jogador mais insinuante é o Quixote Iniesta, seguido pelo Sancho Messi que é quem faz a síntese, Messi não tem devaneios. O futebol brasileiro anda discutindo a posse de bola, faltosamente, o futebol moderno não discute, dá botes certeiros, planejados, rarefazendo as faltas, pois não se chega atrasado na disputa, ou se chega em condições de equilíbrio e retomada ou então se cerca sem agredir. Esse modo de praticar o futebol em que estamos encalacrados, inclusivamente, tem dificultado a ação da arbitragem, excetuando sempre os árbitros fracos, e os sem caráter por vezes. Flamengo e Cruzeiro fizeram um tipico jogo disputado, um perde e ganha sem fim e cansativo, onde os gols saem por birra e espirros e embustes malogrados. E quando houve uma jogada planejada, Wagner Love de espantado perdeu a chance, dado que mesmo a jogada concatenada e planejada lhe estava fora do escript, a verdadeira surpresa é a jogada arquitetada.
Assim a cada jogada o jogador brasileiro tem de reinventar a roda do futebol, procurar um companheiro em posição, decidir se sai pela direita para receber, se avança, e quando avança a bola lhe vem ao calcanhar – houve uma infinidade de bolas passadas no dito contrapé, ou atrás, aos calcanhares do próprio companheiro, como se tivessem se conhecido naquele dia, e dissessem: hei vamos bater uma baba, uma pelada. E assim vamos criando mitos.  

14 de out. de 2012

Zeus e Hera.



O velho, sempre vociferando contra a acanhada formação de nossos mestres, seus preconceitos, essa capacidade repugnante de botar todos num mesmo saco, e suas absurdas surdezes. Mas naquela noite no bar, no Dionisio's Bar, entre uma Colorado e outra, disse-lhe: “É a coisa mais fácil ser bonita. Você deveria estar contente, feliz por ser tão linda, mas vejo que  fez uma opção mais feroz,  de ser uma mulher critica, independente, inteligente e que me parece gostar da igualdade entre homens e mulheres”. Ela morena de 26 anos, metade de minha idade, açodada em vaidades,  olhou-me com aquelas amêndoas, apartadas por nariz adunco, fino, da aquilínea adequação dessa miscigenação. Quis falar e ia falar,  sei que ia, mas seu coração impediu,  aparecendo junto a sua língua, e a engasgou. Com o indicador o empurrei, a que voltasse para o lado esquerdo do palpitante peito.
   

Abaixo o INSTITUTO DA REELEIÇÃO.



A democracia custa muito dinheiro. Custa tanto que a maior fatia da arrecadação estadunidense, ou mesmo quase toda ela, se destina à democracia, seja nos matizes belicista, propagandista, intervencionista – frente a países ditos não democráticos – e principalmente na manutenção do sistema – no caso, o capitalista – no seu sentido mais amplo a democracia custa, entretanto, menos que outros regimes.
Tirante os excessos, o subsídio da vereança não se constitui em fator gerador de problemas à democracia ou ao erário nacional, estadual ou municipal. Somado, que esta remuneração está na base da piramide remuneratória dos três poderes, e é sempre bom lembrar,  que os juízes estão no topo desta piramide, com decaimentos de pontos percentuais, partindo-se do máximo subsídio nacional que os têm os ministros do STF, até chegar ao menor dentro do judiciário, o dos juízes das primeiras instâncias. Mesmo assim andam atolados em montes de processos, que tardam décadas, isso também serve de ponto de partida para discussões onde o soldo é levado em conta..
O político não se torna profissional pelo subsídio que percebe, óbvio, também por ele, que seja dito, mas pela possibilidade da eterna reeleição. Esta, sim, é de fato o cerne da questão.
A reeleição gera um enraizamento do político, a tal ponto que temos, no caso ribeirãopretano, político com dez reeleições. Imaginemos este caso em particular. Tal vereador – como é sabido, e faz parte dos pactos, acordos ( que os não-democratas tendem a chamar de barganha) e da legalidade – nomeia cargos de confiança – dentro da lei orgânica e da CF 1988 – e os ocupantes destes cargos se perpetuam dentro da Administração Pública. Gerando o famoso e inexorável, ao menos em nossa casa, patrimonialismo.
Não devemos esquecer que a CF 1988, originalmente, não previa tal deformação, coube entretanto ao grande democrata, tal invenção, por intermédio de um verdadeiro golpe, trata-se, e é importante se lembrar, da Emenda Constitucional 16. Famoso Instituto da Reeleição.
E é esse golpe acachapante, que hoje sai pela culatra, e eterniza o PT no governo federal, já que no horizonte próximo e democrático, não há liderança política nacional para “desalojá-lo”. Assim como do PSDB no governo do estado, e deus sabe o que se fará para a troca em ambos os casos e palácios.
Se quisermos defender a democracia, acabando com o profissionalismo, deveríamos fazer desaparecer o Instituto da Reeleição, porque o demais é maquiagem.
E maquiagem por maquiagem pediria que os juízes fossem impedidos de ministrar aulas, por excesso de petições, juízos, e o acumulo das funções de juiz de comarca com o de juiz eleitoral, etc e mais, como pode viajar, o juiz, depois de um largo dia de trabalho, que exige concentração e estudos. Afinal é a vida política, econômica, biológica e a liberdade do outro que está em jogo e nas mãos dele (juiz). Depois a volta pelo mesmo caminho, nas altas horas da noite para o recesso do lar, cansado, despertar-se para uma longa jornada (dupla) de trabalho! O que se vê é que salário não é solução para nenhum dos três poderes.  Porque é  menos viável um juiz, com segundo emprego,  que um vereador assalariado. Mas operar mudanças  em ambos os casos seria mero make-up, seja, lançar impedimentos. A revolução francesa acabou com a inamovibilidade, anteriormente se estendia  a todo o funcionalismo público, hoje só os Juízes são inamoviveis, e os MPs! Entretanto me parece salutar.
Salta aos olhos que discussão política, nesse momento pátrio, não é argumentativa, é histérica esterilidade. Entretanto, meus amigos, “filosofar” “hoje em dia” é tão fundamental quanto foi para a Grécia de Sócrates, talvez mais ainda, porque é na esteira da histeria que corriqueiramente, na história brasileira e mundial, se dá vez ao aparecimento de falsos milagres e por conseguinte de falsos santos. Um juiz, não só ele, deve ser contra o linchamento,  nem deve ouvir clamores, principalmente os populares, porque históricamente, muitos caudilhos, duces e fuhres foram fruto da demagogia, do populismo.

11 de out. de 2012

Mensalão | Paredón via charge de Dalcio Campos.




Se quero refletir a respeito da realidade, por incrível que possa parecer, devo recorrer a grandes artistas. Nesse caso em particular, encontrei numa charge de Dalcio Campos, um dos maiores cartunistas do país – que publica no Correio Popular de Campinas – o material pronto. A síntese de nosso momento político.
O pelotão, o fuzilamento subjaz, e a justiça cooptada, alinhada às baionetas e tudo sob a batuta do Ministro Joaquim. Por um momento me lembrei do processo de Danton. Só o clima, nunca a essência, por esgarçamento da putrefação dos ideais revolucionários. Sou homem do meu tempo e isso é pura imagem, não imaginação.
No entanto El Paredón e este Juízo  são fatos que se retroalimentam nas ranhuras, nas brechas, nas frestas do nosso tempo. É a luta de classe encarnada, ou desencarnando, como queiram, e qualquer que seja a escolha, é na carne que se sente toda vingança, e toda vingança pede outra, e para quem não sabe, isso é retroalimentação.
É um julgamento que começou e terminará jorrando sangue e lama. É no demais, repetição de histórias, como dizia Hegel, o primeiro a terminar com ela, sempre serão levados ao cadafalso os mesmos, pelos mesmos. Dirão: começa uma nova história! O Brasil passado a limpo! Tá! E os outros? É uma velha pergunta que me ocorre. E os outros? E a resposta é e será sempre a mesma: você estava com as pedras na mão e a vidraça está rompida!

9 de out. de 2012

Santinhos?



Para melhorar a qualidade do voto, antes temos que melhorar a qualidade de nossa charcutaria.

É básico. Se não sabemos escolher a calabresa, a pergunta já vem implícita, vou redundar, como poderemos escolher políticos Há vários caminhos e argumentações possíveis para seguir a analogia.
 Fazer do político calabresa, é fazer do seu fabricante o povo - seu gerador-. O político nasce, emerge do e no seio da sociedade. Os políticos não vêm de outro planeta. Assim como a calabresa tem origem bem conhecida – ou deveria ter procedência, ingredientes etc conhecidos – o quê nem sempre é verdadeiro. E por incrível que pareça é mais que analogia, é a origem – como muitas outras situações – da falta de qualidade do voto. Excetuam-se as raras butiques, de luxo, onde algum produto nacional é diferenciável pela qualidade, além do rótulo, no demais a escolha se dá pelo preço, porque todas são ruins.
 Entretanto há quem acredite, via publicidade, que há diferenças significativas entre uma e outra, sendo todas produzidas a toneladas, cozidas pra dedéu, lotadas de sal via nitrito de sódio uma infinidade de produtos químicos ora reguladores, potenciadores de sabor, corantes, aromatizadores, extensores (que ligam água e gordura) etc.
Quero dizer com isso que a escolha, como ela se dá hoje, é mero exercício de consumo. E volta-se à partida. Como consumidores não sabemos escolher embutidos!
Desta maneira é fácil compreender como as grandes industrias gastam mais em publicidade que no desenvolvimento da qualidade, para realmente diferenciar o seu produto. Não precisa ir muito longe, uma das marcas de cerveja mais cobiçadas pela massa, de memória, nada fez senão mudar sua apresentação, chegando ao cúmulo, para vender o mesmo como melhor,  diz que antes todas empanzinavam, incluso ela mesma. Aonde isso nos leva? Aos Santinhos.
Passei o dia 'ajudando' meu candidato. À porta da zona eleitoral, montes de santinho, santinhos aos montes, fica melhor.
Por que? Porque o eleitor, parte dele, de todas as classes, pesquisa visual, empirismo, pois o colégio onde 'trabalhei' é secção dos moradores dos condomínios que circundam Bonfim. Vi muita gente agachar e colher uma 'santa' criatura e ir por ele votar. Havia disfarces. Enfim detalhes novelescos. Somos um povo novelesco, atuamos como se fossemos personagens dessa grande novela. Não sabemos dizer o não ou o sim, sem intercalar uma novela. A prova cabal é a quantidade de votos totalmente fora de contexto, votos em candidatos que nem sequer colaram cartazes, ou vieram aqui, ou distribuíram santinhos antes, somente no dia forraram o asfalto, passou um eleitor, pegou, votou.
O desinteresse em participar da vida política, o que é em si fatal, leva a que o eleitor seja tratado como consumidor, o que é absolutamente real. Antes da eleição escrevia sempre pedindo a participação. Devemos participar, nem que seja com o espírito festeiro, porque é uma festa.
Um delegado de partido, ficou i-n-d-i-g-n-a-d-o com a montoeira de papeis, encontrou uma vassoura e começou a varrer, santa crueldade, o homem vestido pelo seu partido no limite da legalidade, teve a pachorra de ir buscar sua pick-up, também ela toda adesivada, estacionou bem na boca do colégio... eu estava lá, e disse-lhe, pouco, sendo do partido que era!
Agora para um povo que joga tudo na rua, restos de sorvete, copos de água, vasilhames em geral etc, coisas que fazem essa indignação novelesca, como já disse, é uma atitude hilariante por postiça.
O sujeito – verdadeiro suíço! - a se espantar com os santinhos, é para c. de rir.


5 de out. de 2012

YHVH.




Há muito tempo um povo esqueceu-se de como se pronuncia o nome de Deus. Na origem dos tempos, não há provas, esse povo pronunciava seu nome, mas com o passar dos tempos, deixou de fazê-lo. Dizem que era de difícil pronuncia. De tal modo que, delas, havia muitas. Mas sempre houve quem a soubesse fazer corretamente. Este, dizem, houve, por bem, espalhar a norma qual não se podia errar a pronunciação do nome divino. O povo que já não sabia corretamente, passou a não dizer seu nome. Para não dizer em vão. Passou então a representá-lo por YHVH e nem sempre, oralmente, o faziam integralmente, YHVH, mas ora Yha, Yoh , Ye ...Ie-hovah, ou em composição Jah (substituiu-se em português o Y por J) Jah é o Ser; Iao, iu-piter, com a mesma significação; ha-iah, hebr., foi; ei, grego, es; ei-nai, ser; an-i, hebr., e em conjugação th-i, Eu; e-go, ich, i, m-i, t-ibi, t-e e todos os pronomes pessoais nos quais a vogal i, e, ei, oi, representa a personalidade em geral, e as consoantes n, s ou t, servem para indicar o número de pessoas. No mais se discute acerca dessas analogias; eu não me oponho a isso, porque nessa profundidade, e com minha abissal ignorância, a filologia é uma nuvem ou puro mistério. O que importa é que a relação fonética dos nomes parece traduzir uma relação de ideias, não de pessoa.

Eu sou Eu, disse deus a Abraão, e trato contigo... E disse a Moisés: Eu sou o Ser. Falarás aos filhos de Israel, e lhes dirá: O Ser me envia a vós. Estas duas palavras o Ser e Eu, tem na sua língua original – a mais religiosa que jamais falaram os homens – a mesma característica. Numa outra ocasião YHVH, fazendo-se legislador por intermédio de Moisés, atesta sua eternidade e jura pela sua essência, diz, em forma de juramento: Eu: ou melhor redobrando energias: Eu, o Ser. Assim o Deus do hebreus é o mais pessoal e o mais voluntarioso de todos os deuses, e nada melhor que Ele para expressar a intuição da humanidade.
Esse isolamento e a falta de comunicação, manteve a alma humana absorvida no egoismo animal, e a ausência de movimentos divinos, foi mudando pouco a pouco a vida social que ficou rotineira e mecânica, eliminou a ideia de vontade e de providência divina. Isso foi mortal.
Os chineses por sua vez, conservaram em suas tradições a recordação de uma religião que havia deixado de existir entre eles desde o século V ou VI da nossa era. Coisa mais surpreendente ainda, é que esse povo – singular –, ao perder, esquecer o culto primitivo, parece ter compreendido que a dinvindade não é outra coisa que o eu coletivo do genero humano; de tal sorte que desde a mais de dois mil anos, China, nas suas crenças vulgares, já havia chegado às últimas novidades do ocidente. No I-Ching se diz: O que o céu quer e entende, não é mais o que o povo quer e entende. Ou ainda: O que o povo julga digno de recompensa e de castigo, é o que o céu quer castigar ou recompensar. Há uma comunicação íntima entre o céu e o povo; que os governantes estejam atentos e sejam reservados.
Confucio disse o mesmo de outro modo: Ganha o afeto do povo, e ganhará o império. Perde o afeto do povo e perderás o império. Essa a razão geral.
Em Tao-te-King, que não é mais que a critica da razão pura, ou seu esboço, Lao Tsé identifica com o nome de Tao a razão universal e o ser infinito.
É estranho, mas a religião morre pelo progresso e também, vide China, pela imobilidade.
Sem prejulgar a realidade ou não realidade de deus, admitamos, que deus seja outra coisa que a razão universal ou o instinto coletivo, é preciso saber o que é a razão universal. Porque a razão universal não está na razão individual, melhor, só existe empiricamente, quer dizer, não é possível deduzir, a priori, ou induzir ou sintetizar.
Noutras palavras, se tivesse nascido em Java, falava javanês, ainda mais desconcertante é o fato: se ainda houvesse nascido no Brasil, e desmamado levado a Java a uma família javanesa, falaria javanês. Supondo que ao contrário de ser levado a uma família humana, fosse levado a uma família de hipopótamos – e sobrevivido – não falaria coisa alguma, que não o hipopotamês.
Noutras palavras: Se toda humanidade desaparecesse, e deixasse vivo alguns casais de bebês e que estes sobrevivessem, e constituíssem sociedades, tardaria, talvez, uns milhares de anos para se estabelecer a ideia de deus, concordando que a tal sociedade repetiria os nossos passos, sem os saber.