Dizemque,
Vai no tempo que só se embarcava em navios, barcos. Com o passar do
tempo deu-se de se embarcar em outros meios de locomoção, não sem
a grita dos puristas, os moralistas da língua. Apesar deles
continuamos a embarcar e embarcamos em aviões e muitos já embarcam
no moralismo, que a continuar se acentuando, já já veremos muitos
se embarcarem nas suas opções mais cruéis.
19 de mai. de 2015
Dizemque.
Dizemque, certa feita se convocou uma coletiva no Palácio Rio Branco para informar que se havia encontrado uma obra de Cândido numa sala qualquer. E era verdade, um Cândido autêntico. Mas a coletiva foi cancelada, misteriosamente. Não era uma obra modernista. O Cândido que a assinava não tinha nada a ver com o autor de O Lavrador de Café. Era um pintor fissurado em Portinari, que doou um quadro à Prefeitura da sua cidade. Não encontrei essa notícia documentada, mas foi contada por um jornalista da cena cultural de Ribeirão nos anos 90. Bem provável que seja mais uma lenda urbana.
Dizemque, houve uma cena famosa numa TV estrangeira, em que o cantor Ricky Martin se escondeu no armário do quarto de uma adolescente ( programado por uma TV) sem que a adolescente ( apaixonada por Rick) soubesse, e a câmara escondida mostrava na TV ao vivo o que seria a surpresa, e dizemque a adolescente chegou ao quarto, lambuzou os genitais com creme foies gras e chamou seu cachorro que também se chamava Ricky para lambê-la, e pelo ponto a produção do programa pedia: Ricky não saia do armário ainda.
Ou outra, dizemque a prefeita Dárcy gostou tanto da leitura do Memorial do Convento, que gostaria de convidar a Sara Mago para vir a Ribeirão na Feira do Livro.
Dizemque, a maioria mesmo é marxista ( a moda Groucho): têm uns princípios, mas, se não agradam ao interlocutor, pode mudá-los: “sou um táxis, com bandeira livre a disposição de quem me contrate”
18 de mai. de 2015
Apesar dos pesares, a politica é fundamental.
Desde que a politica
foi posta às ordens das finanças e da economia, vivemos com medo. A
revolução conservadora, o esfarelamento do bloco soviético, a
globalização financeira e a desregulamentação provocou um
incremento tão ostensivo das desigualdades, que o grande capital
tem experimentado lucros como não se viam desde 1913. Vivemos com
medo da violência dos que ainda têm menos que nós, de perder o
emprego ou não encontrá-lo, de não conseguirmos nos emancipar, de
não ter recurso para enfrentar as dificuldades da velhice ou a
doença e a decrepitude.
Creio que a sensação
preponderante é que não controlamos a situação, nem como
indivíduos, nem como sociedade, e que politicamente não temos (ou
perdemos) a capacidade de regular os fatores que influenciam a nossa
condição de seres humanos e que determinam os limites da nossa
liberdade. Assim mesmo, esta não é uma situação espontânea,
senão que foi impulsionada e mantida por forças interessadas em nos
manter em tal situação. Estas forças não são unicamente
politicas, econômicas, militares, mas também simbólicas e mentais,
e em parte se pode dizer que trabalham desde o interior das nossas
consciências.
É possível que a
militância politica tradicional esteja em crise, mas não se pode
negar que tudo é politica e cada um de nós haveria de planejar se
está de acordo ou não com este sistema. Se quer tomar parte do
problema ou da solução. A dimensão politica continua sendo
transcendental, mas isso não implica, automaticamente, que os
esforços para produzir mudanças politicas e econômicas
substantivas, no país, sejam mais importante que as que devemos nos
fazer, simultaneamente, para transformar nossa mentalidade e nossa
consciência.
4 de mai. de 2015
Vindicação da Longa Caminhada.
A primeira esteira
para correr foi instalada ( como castigo) em uma penitenciária de
Brixton, perto de Londres, no ano de 1821, com a finalidade de manter
os prisioneiros em movimento. Ao mesmo tempo que mantinham em
funcionamento um moinho. Nos anos sessenta do séc passado, quando
caminhar na vida real começava a se converter em uma atividade
supérflua, apareceram as primeiras esteiras com motor para fazer
exercícios dentro de casa. Com o novo séc surgiram maneiras de
pensar que sublinham a relação entre caminhar e filosofar,
Frédéric Gros, Filosofia do Caminhar, disse numa entrevista que
“aprender a caminhar é aprender a desobedecer”. Este séc
insinua uma “dialética” entre segredo e transparência, privado
e público, poder e vida. E caminhar se encontra sempre com a
transparência, público e a vida. Nietzsche “Não acredito em
qualquer pensamento que não nasceu ao ar livre”.
Na simplicidade do
caminhar sem pretensões, parece haver a possibilidade de encontrar o
equilibrio entre otimismo e pessimismo, entre corpo e mente. Este
equilíbrio não é alcançado corrigindo o que fazemos ou nos
interrogando incansavelmente, senão que vivendo o presente, sem
julgar o que é ou não correto. Caminhar como um ato cultural tem
uma história de um par de séculos – já peregrinar é mais velho
– mas temos a oportunidade de reinventar a cada dia e usar, por
exemplo, para reivindicar o nosso direito, como cidadãos, explorar
as ruas, os campos, para gozar do tempo intermediário entre uma
coisa e a seguinte, e para recuperar o sentimento da nossa
existência, imersos numa forma ativa de meditação que mantêm
ocupados todos os nossos sentidos.
Texto baseado em
artigos e entrevistas de Frédéric Gros ao www.telegraph.co.uk
mobile.nytimes.com e e youtube. Já Nietzsche é um calo!
28 de abr. de 2015
A Caspa
A caspa.
A Caspa é um ser
estranho da fauna brasileira, não há nenhuma exclusividade nisso.
Não é, de modo algum, numerosa, tampouco se extingue para nossa
desgraça. É o fruto do cruzamento entre a garrulice que sobrevive
em certos âmbitos públicos e o retrogosto feudal que ainda lateja
na alma de alguma gente que não aceitou sequer o renascimento,
quanto mais o iluminismo, o humanismo (sequer entendem o sentido
dessa palavra, que em geral confundem com bondosidade). Estão aqui e
acolá a molestar, como nunca se propuseram a nada, a fazer nada,
pensar menos ainda. Os entendo quando agem como se o sistema fosse a
própria natureza das coisas, não pensam que tenha se naturalizado,
não é isso, nasceram antes de ontem e o mundo era assim e pronto.
No entanto, mesmo nessa selva há que se fazer picadas, para melhor
caminhar, e se andam por essas trilhas, é que muito esforço se fez
para tê-las, e se alguém cortou uma árvore ao abrir a picada,
talvez seja por não ter encontrado outra solução, pode-se até
questionar o fato feito quando feito, quando se fazia algo do qual
herdamos, humanidade. Afinal, humanismo é o ser humano no centro da
governança da própria existência. E humanidade é a qualidade
desse ser que busca a emancipação.
27 de abr. de 2015
A mítica camisa da Seleção nas manifestações.
A mítica camisa da
Seleção nas manifestações.
Quem pensa se
tratar de uma burrice dos dirigentes das manifestações o uso da
camisa canarinho, muito se engana. Por que na camisa amarela está a
ideia do sincretismo de classes da torcida canarinho, que
imediatamente se quer passar à ideia de Nação sincrética.
Se Nélson
Rodrigues lança mão da pátria de chuteiras, não é difícil se
vestir por completo, como o escrete Canarinho. Há muito que se quer
e se dilui o termo Burguês,( mundo afora) não o fato econômico,
tão somente a representação. Quem quis e conseguiu diluir-se
dentro da Nação é a Burguesia, seja ela qual for ao longo do
tempo, a do café, a da industrialização, seus espólios, ela se
diluiu e restou a Nação. Tanto é assim, que esses termos só valem
para as Elites do tempo histórico, “no tempo do império”, na
“cultura do café”, enfim lá atrás no tempo.
A burguesia aceita
a presença da esquerda na Nação, digo aceita porque no fundo a
nação é ela, porque o regime de propriedade deve permanecer o
mesmo, assim como a ordem burguesa e a ideologia burguesa. É muito
simples, com essa diluição, ou seja, a impossibilidade do uso da
denominação: “Burguesia”, desaparece a possibilidade da
denominação de seu caráter ideológico. Assim se faz crescer e
florescer a ideia de Nação, o que naturaliza a sua ideologia,
aonde a única ideologia é a da Esquerda.
Com esta bandeira,
quem se veste de ''Seleção” é a Nação, e não a burguesia,
logo quem não se veste de “seleção” é contra a Nação, e
irremediavelmente, quando, na verdade, só se é contra a burguesia,
porque o termo, a coisa burguesa já não existe, p. ex., no Manual
de Redação da Folha de São Paulo consta a proibição do uso do
termo Burguesia, e não só ele, mas todos os termos que
caracterizam o regime, o sistema e a ideologia, do lugar onde
vivemos, como: capitalismo, proletário etc. É como se, com o
desaparecimento dos termos os problemas sociais, e mesmo as classes
sociais houvessem desaparecido, mas isso é pura ideologia. Assim,
vestidos com a camisa da seleção representam a Nação canarinho,
os demais são os adversários, não deles, mas da Nação. Desse
modo além de diluída, não culpável por nada, e inviabilizando os
que não vestem a canarinho.
Assim, a camisa
amarela consegue deixar mais uma vez “anônima” a burguesia. E
esse anonimato ideológico se dissemina por todas as atividades,
judiciais, políticas, artísticas, propagandistas… e finalmente,
no escrete que foi tomado de assalto para representá-la.
P.S. Na tentativa de
denominação, se passou a usar ou se tentou usar o termo Elite, que
imediatamente passou a ser sangrado, cortaram-lhe o pulso para que
seu sangue esvaísse, a tal ponto que se pode provocar risos ao usar
o termo: as Elites. Criando propositalmente a confusão com as elites
intelectuais e do vanguardismo ‘verde’ etc.
23 de abr. de 2015
Me chamo Aristóteles.
Sou de boa família, já que meu pedigree está nos mais importantes registros de prosápia e premiada ascendência. Ora, também vivo numa casa de categoria, ao menos em aparência. São gentes com estudos, com responsabilidade, com renda, com patrimônio e ostentam um lugar proeminente na sociedade. Ademais, souberam me acolher nesta casa como um dos seus. Gozo de privilégios que muitos seres humanos não podem nem tão somente sonhar. Por consenso me batizaram com o nome de Aristóteles e eu, ufanoso, passeio pelas ruas e praças da minha cidade, mas desgraçadamente me faz mal quando me gritam em voz alta, já que algum possa me identificar como aquele que suja desrespeitosamente a nossa vila. O meu dono não recolhe os frutos das minhas necessidades básicas, me tiram de casa para passear, orgulhosos de minha estampa, empatia e também para evitar que suje a casa, pois não consideram o restante da vila como casa nossa, também. Se tivesse mãos e me dessem tempo e possibilidade os enterraria, como a minha família me ensinou desde pequeno. Quando os meus irmãos e eu nascemos, a nossa mãe comia tudo para não deixar rastro. Fui educado e por isso provei de fazer ver a meu dono que há de se recolher as minhas merdas, por respeito aos demais, e eles mesmos, pela saúde de todos os humanos e dos meus congêneres e, especialmente para evitar os olhares de menosprezo e nojo. Depois de cumprir com a natureza, procuro ficar ao lado das merdas, e olho meu dono com meu olhar mais suplicante e nada mais que um estralo de cinta e uns passos apressados são suas esperadas respostas. Então continuo até nossa casa com a cabeça baixa e com o sentimento de haver sido traído por quem me acolheu, um dono que não me merece.
Está provado que ter um amigo como eu em uma casa melhora a saúde, a felicidade e o bem-estar de toda a família, e está demonstrado que até riscos de infartos diminuem consideravelmente. Agradeço ao Cidão por escrever por mim esta desculpa pública, na qual os mostro a minha mais sincera vergonha e impossibilidade de cumprir com a norma elementar de civismo. Respeitar os demais na saúde e liberdade para desfrutar da cidade.
Assinar:
Postagens (Atom)