Dia da casinha.
Retrete.
Outro dia – 19
novembro – foi dia da casinha, retrete, trono etc. Não creio
querer divagar a respeito, mas sei que há muita pedagogia nas
intenções da ONU, e muita hermenêutica para ser dixavada a
respeito. No mais os tais 'dias internacionais' têm mesmo esta
serventia: um mote para iniciar uma conversa qualquer, séria,
bem-humorada, de escarnio etc. Tenho outro motivo, um trono, talvez o
mais interessante no qual fiz o que mais sei fazer. Foi nos
Pirineus. Mais precisamente em Esterri d'Àneu, numa Fonda (pousada),
numa de muitas idas à montanha para colher cogumelos. O catalão é
micólogo e eu embarquei no gosto, é mesmo que ir pescar por estas
bandas, sou meio Zelig, me adapto tão facilmente quanto me
desadapto. Pois, a tal Fonda guardava uma relíquia; um banheiro onde
existiam as louças normais e correntes, além de uma, que para
alcançá-la havia que se subir uma escada de pedras, uns 6 degraus,
para se sentar no trono, um verdadeiro trono, pois desde uma fenda na
parede, se divisava todo o vale que se perdia de vista, num
horizonte de montanhas com picos brancos de geleiras eternas, ao lado
havia a pertinente frase esculpida numa tabuleta: “se domina, con
el ojo ciego, buena parte del mundo.”
A merda para aquele povo é
coisa séria, tanto que um de seus maiores expoentes das artes
culinárias, um desafeto de Ferran Adriá, Santi Santamaria, dizia
que a comida é boa se a merda for boa, tudo isso na TV. E a conversa
andava por este prisma, quando Augusti, dono da Fonda, me contava
que Ava Gardner, o animal mais belo do cinema, contou no seu livro
para levantar grana para sua velhice, que na Espanha nem as privadas
funcionavam a contento, e acrescia o sujeito, se ela que esteve por
muitos retretes do país, tivesse houvesse ali se sentado, não teria
escrito aquilo.