A estiagem prolongada,
secando o minguado rio Piracicaba. Quem viu o rio Pardo?
Esquálido. O complexo Cantareira secando, com isso não deixa
gota para o Atibaia fluir, desautorizando o fragmentário grego
Heráclito, o rio que passou não volta mais... isso noutras bandas
do estado aqui em Ribeirão...aqui a história é outra, aqui,
fashion é lavar a calçada com xampu, com a água cristalina,
aquífera, escorrendo pela sarjeta. A vassoura virou veículo de
varrer estacionado atrás da porta. A onda é wap, mas quem não tem
wap, tem esguicho, e quem não tem esguicho aperta a ponta da
mangueira, e o jorro se abre em leque e vai varrendo o xampu, as
fezes dos cães... Mas não é tudo, mutirões do dinheiro público
capinando as calçadas estéreis, capinadas, lavadas, enxaguadas,
regadas e nada produzem, nem a mera possibilidade de por elas
caminhar sem ''trupicar''.
21 de fev. de 2014
16 de dez. de 2013
Acidente não faz marcha ré!
As ruas de Ribeirão
registraram em 2012 16.461
acidentes de trânsito. 72 pessoas
morreram. 4769 se feriram. 339 foram atropeladas. A frota era de
467.589 veículos. Desde o ano de 2009 o número de vítimas fatais
está na casa dos 70 sendo que em 2011 perderam a vida 77 pessoas.
Se fosse do poder
público pensaria em semáforos de três tempos nos cruzamentos de
maior mobilidade de pedestres. Lombadas. Pilares (guard rail) em
certos pontos para proteger os que vão sem carro. Todo motorista num
dado momento desce do carro e então é um pedestre. Velocidade
reduzida, por exemplo, 30km\h no centro e em quarteirões específicos
dos bairros. Aumento de efetivos para vigiar e punir. Campanhas de
divulgação. Um exemplo é o semáforo que fica vermelho se o
motorista ultrapassa a velocidade limite. (tecnologia velha, desde
já, mas boa). Máximo cuidado nas redondezas das escolas. Priorizar
transportes à pé, bicicleta e transporte público. E educação de
trânsito para os escolares. Preocupação estratégica para com os
idosos.
Colocação de mais
radares, fixos, móveis e de semáforos, pois devemos ter em mente
que o objetivo dos radares é de dissuadir os abusos, e assim
funcionam no mundo todo.
Alguns pensam que
colocar radares é mera pretensão arrecadadora, mas se esquecem da
diferença entre as taxas e os impostos das multas. As taxas e os
impostos são para todos, mas as multas de radar ou de qualquer outra
forma, estas as haverão de pagar os que põem em perigo a vida dos
outros. Sem dúvida, de que uma multa imposta ajudará a economizar
nas reclamações judiciais, e estas e por falar nisso, as sentenças
judiciais deveriam ser exemplares, pedagógicas, quando se tratar de
um acidente grave. Porque, se grave ou não grave não existe marcha
ré.
12 de dez. de 2013
De dia, Bom Dia! De noite, Boa Noite!
"– Bonjour. Pourquoi viens-tu d’éteindre ton réverbère ?
– C’est la consigne, répondit l’allumeur. Bonjour.
– Qu’est-ce que la consigne ?
– C’est d’éteindre mon réverbère. Bonsoir."
O quinto planeta a que
visita o Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupèry, é o menor deles, e cabem ali um farol e o
faroleiro.
O moleque saúda o
faroleiro: “Bom dia, como é que apagas o farol?”.
“Bom dia, é a regra.”, lhe responde o faroleiro. “ Que é a
regra?” “ É a que diz que se há de apagar o farol. Boa noite”
e acende o farol. “ Mas por que o acende?” “ É a regra” diz
o faroleiro. “Não o entendo”. “ Não há nada a entender”,
diz o faroleiro. “ A regra é a regra. Bom dia” apagando
novamente o farol.
O
faroleiro explica ao moleque a sua história. A regra diz que se há
de acender o farol ao sol se por e de apagá-lo ao fazer-se de dia.
Bom Dia! O que é perfeitamente razoável. O problema é que, ano
após ano, o planeta foi girando cada vez mais depressa, e agora dá
uma volta por minuto, mas a norma, entretanto, não mudou! Boa Noite!
O
moleque acha graça que os dias durem, tão só, um minuto, mas ao
faroleiro nem nota. “ Faz um mês que estamos conversando!”, “Um
mês ?” Pergunta o moleque. “ Sim, um mês: trinta minutos,
trinta dias. Boa noite.”
Pobre
faroleiro, fiel à regra, acendendo e apagando o farol a cada minuto,
sem poder dormir nunca. A que vida mais absurda está condenado por
uma consigna que não muda, ainda que mudem as circunstâncias. Boa
Noite! Esta é, ponto a ponto, a imagem fiel de certas posturas. Boa
Noite.
“Dura
lex sed lex”, Bom Dia!. Sustêm os que, como o faroleiro, se
ajoelham diante das regras, ainda que tenham se tornado absurdas e
injustas no momento que perderam a sincronia – desajuste temporal –
com o motivo de seu nascimento. Boa Noite. Outros, tanto se
cristãos ou como se não, preferem outras palavras “O domingo foi
feito para o homem e não o homem para o domingo”, e sustêm que a
eficácia e a justiça das regras morais, das leis e dos marcos
constitucionais, não é outra que para servir aos indivíduos. Bom
Dia! Alem disso, ainda há ai a possibilidade de que as leis nasçam
mortas, isso sim, injustas. Boa Noite!
Desta
maneira eram as leis que permitiam a discriminação racial nos EUA,
contra as quais lutou Martin Luther King. Bom Dia! Ou as leis que
estabeleceram o regime tremendo do Apartheid na África do Sul a
partir de 1948, contra as quais lutou com todas as armas, todas,
Nelson Mandela. Bom Dia!
3 de dez. de 2013
Zé Flora.
Zé Flora vivia só com
uma gata amarela e o dorso caramelo. Vivia de uma modesta
aposentadoria por invalidez, por uma lesão na coluna vertebral que
lhe provocava dores crônicas. De manhã esquentava o leite à gata
enquanto ela se esfregava no tornozelo dele. Miau! A jardinaria era
a sua paixão: se ocupava de fazer florir onde aflorasse um torrão
de terra pelo bairro, e na calçada de sua casa, alem do jardim
interno, tentava sempre ter flores frescas. Zé Flora tinha especial
gosto pelas margaridas, azaleias e petúnias.
Depois de muitas
tentativas, havia conseguido que crescesse e florescesse diante de
sua casa variadas orquídeas.
Belo dia, um bando de
adolescentes começou a mijar sistematicamente nas flores do Zé
Flora. Zé Flora protestou, a urina mata, por excesso de ureia. Zé
Flora chamou a polícia, que disse: ''molecagem da molecada''. No dia
seguinte todas suas orquídeas estavam destroçadas e os vasos
quebrados. Zé Flora fotografava tudo com seu celular, para melhorar
sua denuncia. Um dos vizinhos que o detestava, por preto, começou a
gritar desde sua janela “pedófilo!” “ pedófilo!”. Outros
vizinhos, país dos autores da depredação, vão se unir aos gritos,
sem levar em conta que as fotos eram provas de um delito.
Alguém chamou a
polícia, que veio rapidamente e, não deu ouvidos às explicações
do Zé Flora, e o prenderam no lugar dos vândalos. Ficou dois dias
preso. Requisitaram seu telefone, vasculharam a sua casa, e não
encontraram indício de suposta pedofilia, mas sim tratados, revistas
de jardinaria e flores. Por fim o libertaram.
Enquanto isso, no
bairro o rumor sobre a pedofilia cresceu desbocadamente e ainda que
não se tivesse prova alguma contra ele, o insultavam constantemente,
picharam no muro de sua casa ''pedófilo'' e encheram de lixo a sua
calçada. Dois dias depois de ter voltado para casa, saia para
comprar sementes para refazer os jardins, dois jovens um de 19 outro
de 22 anos, o atacaram, agrediram a ponto de o deixarem inconsciente.
Depois, o empaparam com gasolina e lhe atearam fogo. Nenhum dos
vizinhos saiu em sua defesa, ou chamou a polícia e tampouco gritaram
de indignação ou espanto. Crime cometido em plena luz do dia. A
polícia chegou horas depois.
Por fim, prenderam os
culpados que deram entrevistas à TV e mostravam orgulho pelo
assassinato, e se diziam “vigilantes contra a pedofilia”.
Os vizinhos queriam
“fechar o triste capítulo de um lugar tranquilo” “virar
página”. Não transmitiram individualmente ou coletivamente
condolências à família.
Ninguém se ocupou das
plantas, mas uma vizinha se encarregou da gata.
2 de dez. de 2013
Cuba para um infante defunto.
Sou contra regimes
ditatoriais. CUBAA é governada por uma ditadura, que não tem meu
beneplácito, minha anuência, meu consentimento. As ditaduras têm
essa característica, não precisam dessas coisas, inda menos de mim.
Tirante isso, Cuba não
serve de argumento favorável ao capitalismo, inda mais o capitalismo
nacional, tupiniquim, mazombo e perneta.
Se fôssemos comparar
Cuba ao Brasil, claro que Cuba perde, por única.
Quem nunca foi a Cuba,
sinta-se nela em Ribeirão Preto
do centro para a zona Oeste, Norte,
Leste... com um agravante: a violência. É certo que de muitos
pontos destas zonas, se pode admirar o HC, que pode muito pouco fazer
por eles. Porque é um HC para muitas Cubas.
Mas se Ribeirão te é
desconhecida, vale dizer, Jundiaí. Toda a zona Norte e leste e oeste
de Campinas. Lá também tem um HC da Unicamp. Mas quantas Cubas
circundam Campinas. Hortolândia, Sumaré, etc.
De São Paulo não vou
falar por envolver exponenciação, coisa que não domino desde o
ginasial, mas São Paulo é Cuba ao Cubo!
E Salvador?
Me esquecia de Salvador! (me permito a próclise, fica mais suave). O
Pelourinho, reformados seus 4 quarteirões e destes somente a casca
que dá para seu interior seria uma Cuba restaurada, mas se se anda
um quarteirão para a Baixa do Sapateiro, mezzoCuba, mezzoLixo imunda
Cuba. Então desça o Lacerda e vire à direita, Cuba imunda abunda.
Tome um busão para o Mercado São Joaquim, não entre, por favor!
Cuba às moscas, bodes e bostas e seus olores!
Sabem
a famosa Ilha do João Ubaldo Ribeiro?
Pois atravesse do Mercado
Modelo pra lá em catamarã e vá apreciando a chegada à Cubinha em
miniatura. Claro que do outro lado da ilha do João, balda-se quem
pensa em algo que não-Cuba, mas Cuba da classe escolhida, que não é
do por pertencer aos altos escalões do Partido, mas que diferença
faz, Cuba preservada?
Deixo
os soteropolitanos em paz e os ilhéus com a família Magalhães, que
podia ser Castro, ou Fulgêncio Baptista (este caiu no mês e ano que
nasci, nasci em Cuba-Bonfim, não havia Fulgêncios nem Castros, mas
se construía uma Havana moderna no planalto central do Brasil,
Jacarezinho, avião!) e à sua volta: Cubas, Cubas sem umidade no
ar, Cubas comedoras de pequi.
Você
já foi a Jardinópolis, Frutal, Fernandópolis, Barrinha, Dumont?
Você já foi a Franca?
Araraquara?
Conchal?
Cubaê Cabloco, cuba lá e cá, cuba ê guerreiro, cuba ê meu pai,
não me deixe só...
Meu
dez do céu! Esquecia-me (importante a ênclise, por Machado de
Assis, seu inventor, além da outra Cuba que quer dizer penico, sem
diacrítico, pois pênico quer dizer Cartaginês) esquecia-me de
UbaCuba, CaraguataCuba tirante seus condomínios de veraneio, de
Angra dos Reis, terra firme, e dai pra diante até Vitória, (sempre
consagrando as exceções, os balneários, que Cuba também os têm,
para os amigos dos Castros, aqui a amizade... bem a amizade...) …
Belém,
Ver-o-peso?
Ilha do Mosqueiro?
Manaus?
Dez seja louvado, Imperatriz!
Pouso
Alegre, Varginha, Três Corações, o circuíto das águas (alí está
por excelência a Habana de um infante defunto) quem odeia os Castros
devia ler Habana para um infante defunto. Três Tristes Tigres. É
dum cubano que teve que fugir da ditadura Castro, Cabrera Infante, é
grande literatura, se puderem ler em espanhol, melhor ainda, traz a
musicalidade cubana nos sintagmas, estupendo, tanto a literatura
quanto à crítica ao regime.
Tome
um busão e suba pela BR 116. Meu dez! Magé, Muriaé. Teófilo
Otoni. Gov. Valadares. Vitória da Conquista. Jequié, saia um pouco
e vá a Valença, vá a Valença. Cidade que dá acesso à Morro de
São Paulo ( ilha hoje tomada por argentinos e italianos etc, uma
MultiCubalibre).
Lembra
da música do Milton: Itamarandiba\ pedra corrida, pedra miúda
rolando sem vida, como é miúda e quase sem brilho a vida, do povo
que mora no vale. Pois então passe por Turmalina, Diamantina...
Pedra Azul, pois fico triste, por vezes choro, como agora... porque
conheço Cravinhos, Serrana, bairro Ipiranga, os Quintinos
(bairros), porque uma vez errei o caminho e percorri toda a avenida
Brasil no Rio, sim o rio da Orla, e mesmo ai , quantas Cubas! O Rio
velho, a rua da Carioca, a Lapa, a Lapa é Cuba. As favelas não são
Cubas, são uma espécie de proto Atenas, sem o Parthenon,
Acrópole...
1 de dez. de 2013
Mata-burro.
"Em nome de uma pretensa
neutralidade, acomoda-se o pensamento à (pretensa) realidade,
que é a dominação. É justo no ''demi-monde'' que a dominação cravou suas garras, por coisas de pouca monta"
Corrupção?
Não! Obrigado! Quando se fala em Maquiavel, não é um livro, não
deve ser um livro, mas sim um conhecimento de mundo, do mundo real,
desse que tem mudança de horário, busão, semáforo ,
congestionamento e em qualquer destes fatos reais há uma disputa de
poder. No busão o Estado entra reservando assentos, limitando
lotação etc, para não nos engalfinharmos. A Política é disputa
pelo poder, que na família se o tinha como ''natural'' e não
histórico ( história é processo) a era do patriarcado, que ainda
persiste, mas já se lhe oferecem resistências. Desse modo esta
disputa se dá no Governo da União, Estados, Municípios, Distritos,
Bairros, Favelas, Ruas, Quarteirões... Nesta disputa há
contendores. Não se trata de todos contra todos.. nem muito menos,
mas sim, se trata de lados que se opõem. Não é aceitável o
apolítico, por ele, para ele, não pelos outros, porque nem debaixo
desses fios de energia que empesteiam a cidade, pode-se ficar
impunemente, pois logo uma pomba lhe cagará na cabeça.
Se
a questão que se põe em debate é a corrupção, e se de fato
houvesse o interesse, real, dos envolvidos nesse movimento, ela,
dejà, não existiria. Mas o que se vê é a instrumentalização da
corrupção, e como instrumento é apropriado pelos meios de
comunicação de massa, seu uso é e tem sido cirúrgico, tal
instrumental é apontado para um só lado, desde tempos imemoriais,
na política brasileira. Quem instrumentaliza e se apropria do
instrumento, tem sido os desde sempre donos dos outros todos
instrumentos, inclusivamente da força de trabalho. No mais, nada
fora do seu modo de operação, a dizer, o da promessa que não se
cumpre, liberdade e igualdade (possíveis, mas só possível,
parcial) como essa promessa da limpeza moral, ela também é
parcial. Queria, eu, ver todo este arsenal apontado para todos os
corruptos, com a mesma veemência, com a mesma litigiosidade e sangue
no olho dos cuspidores de vespas, celeridade, e o novíssimo
instrumental jurídico, a citar o ''Domínio de Fato”, que Ives
Gandra, em nome dos dedos, quase pediu a absolvição de Zé Dirceu,
tamanho o estrago que pode vir a fazer, nas suas hostes, tal
instrumento se aplicado aos processos que são bastantes, a envolver
os donos das corporações etc. Mas tiro meu cavalo da chuva e deixo
meu burro na sombra, este “Domínio de Fato” será abortado,
junto com seu promotor.
Assim
é como corrupção passa na avenida, vestida com paetês,
lantejoulas, penas de pavão, adereços e fantasias, é carnaval, e
o enredo é o mata-burro, e ninguém o ultrapassa. O mata-burro com
feições anticorrupção fazem esquecer o meio ambiente, a fuligem
da cana de açúcar, sexismo na linguagem, crueldade discriminatória,
estética urbana, urbanismo puro e simples( que aqui em Ribeirão não
existe, nem uma rouca voz, e vão se entulhando margens de rios,
ribeirões, nascentes, impermeabilizando solos (pelos seus donos) –
estes não estão aqui no facebook se martirizando com a corrupção,
pois são os corruptores) mobilidade urbana, lixo, lixo, lixo... o
Mata-burro assim, só limita o passeio de mugentes e semoventes.
25 de nov. de 2013
Havah Nagila.
P quando saiu de casa pela
primeira vez, foi para morar numa pensão cortiço que havia na
Florêncio quase a esquina com a São José! Um quarto de 5 ou 6
metros quadrados com um guarda-roupa, uma beliche, duas mesinhas, uma
moringa d'água, dois copos e duas cadeiras. Seu companheiro de quarto era
chinês, do qual não ouviu voz. Conseguiu numa manobra
delicada, junto com Antônio de Palestina, trocarem os parceiros, o de Antônio era só chato. E se juntaram. Ouviam Zé Bettio logo às
seis da manhã, na fila para ocuparem as primeiras fileiras do
anfiteatro. Faziam o famoso intensivão do Objetivo. Rapidamente se fizeram amigos, e no fim de semana, Antônio convidou P a visitar Palestina,
de carona. Foi a primeira para P, pedida com o polegar! Foi à frente com o
motorista que era muito sensível, a ponto de conseguir ver uma andorinha morrer
em pleno voo, e cair ao lado da pista, parou e a enterrou.
Chegaram a Palestina perto das dez horas da manhã. O primeiro
espanto de P foi o tamanho da casa de Antônio, ocupava um quarto de todo
o terreno do quarteirão, quadra de saibro, estande de tiro, piscina
e pomar. A casa estava em festa, porque retornava de Londres sua mana
Laura, estudava literatura inglesa. Antônio queria medicina, P, não
sabia. O pai de Antônio era médico, dono do hospital da cidade, do Clube
Harmonia, dos laranjais que circundavam Palestina, e de uma ilha no
rio Turvo. P se excitara em conhecer a moça da literatura inglesa, mas
Antônio decretou que o ambiente estava muito feminino, Laura não
saiu do quarto onde estava com amigas, e eles foram pela cidade encher a
camionete de cerveja, gelo e carne.
Aquele garoto pacato,
acabrunhado e duro, era dono da cidade, e no açougue não foi preciso
passar à frente de ninguém, porque a fila se abriu, assim, num gesto tímido demandou suas carnes preferidas, dentre elas cupim; quem
embrulhava as carnes era o filho do açougueiro que P conhecia do mesmo intensivão, mas as aparências estariam trocadas. Montaram as tralhas, haveriam de pescar. Depois de preterirem – mais Antônio que P – o almoço em casa, partiram para a ilha. A ilha
estava logo ao pé de uma pequena cachoeira do Turvo, que bifurcava, com sua
palhoça, e seu local para braseiro. Cruzaram o rio pelas pedras, com
toda a tralha. P se divertia com a piracema, com os tantos outros
amigos que vieram, sem que P tenha se dado conta de convites e com o
cupim lascado pouco a pouco. Laura apareceu com as amigas quando P insistia em pegar os infelizes peixes, que ao saltarem na tentativa de
ultrapassar a cachoeirinha, caiam em pequenas poças. Branca. Branca como uma página, antes que a maculem. P pegou a mão de Laura e
tentou ajudar, cavalheirismo, longe de Trafalgar Square, aprenderá, mas os borrachos pediam que a atravessasse nos braços,
ela olhou, se eles querem, que podemos fazer, e aquele trajeto de
cinco ou seis metros, como P via em filmes de cowboy, não se erra, P pensava,
embora o que se queria fosse justo, o erro. Pousou-a sobre terra
firme.
O jantar, Antônio não lhe furtou, porque também estava a ele obrigado, assim que foi atendido pela esquerda por uma serviçal. Seu tempo de centro das
atenções não passou do da boa educação, e logo se voltaram à filha que retornava. Falava de espetáculos, exposições, praças,
teatro, cinema e Ivan Rebroff?
Escusou-se, foi atendida pelo doutor, com um donaire, saiu e voltou com um LP que estampava o cantor com sobrancelhas arcadas, longos cabelos e barba cerrada. Laura havia presenciado um de seus espetáculos. Ela olhava P. Nunca de soslaio. Sempre de frente. Aquele pouco de sol, ardia seu rosto, pouco pelo chapéu da tarde. Da sala de jantar se dirigiam à sala de estar, onde ouviriam o russo helênico. P e o primeiro vinho do porto. Antônio estava aborrecido, mas não pedia cumplicidade. Assim P se envolvia, e acabou a dançar Havah Nagila, um passo que havia aprendido com seu tio, e se dança agachado, sentado sobre os calcanhares a estirar as pernas, nada mais folcloricamente russo em se tratando de dança. P mentiu e disse que tinha uma tia-avó lituana, não era de todo uma mentira, mas P nunca havia visto a tia-avó lituana. Acabaram numa roda, todos de braços dados a dançar Havah Nagila, outra e mais uma vez. O doutor se retirou para o escritório, a senhora desapareceu, e todos foram para a boate do Harmonia Club. Enfim. Voltaram enganchados. Aliás, estavam enganchados antes de se conhecerem, foi o que ela lhe disse, ao negar a aparecer, por saber que o irmão viera com um forasteiro. Da parte de P estava cozido. O trajeto do Harmonia até a casa, só não foi mais longo, porque o irmão insistia em entrar pela garagem. Laura e sua boca molhada pelo Dry Martine que ainda os acompanhava, convidava P a repartir a azeitona. O doutor os esperava com as pernas cruzadas vestido de um pijama azul vincado, lendo um romance recostado na poltrona. Ganhou muitos beijos. Antônio mostrou a P o armário do quarto, que estava trancado, rifles, rifles de repetição, dois canos, cartucheiras, pistolas, escopetas, carabinas, pica-pau, espingardas antigas, novas, revolveres, coletes, cintos de cartuchos, maquinetas para encher cartuchos, cartuchos vazios, pólvora, chumbos. Para P a infância não teria fim. Iriam caçar perdizes no domingo. P ficou a sós. Com todo o arsenal. Amou tocar a Winchester, com aquela alavanca que se leva com três dedos para frente e para trás, a fazê-la cuspir o cartucho vazio, e com o indicador puxa-se o gatilho. Quando ela entrou, P estava sentado à beira da cama, com a Winchester cruzando o peito, depositada a culatra na palma da mão, P se sentia El Hombre, num átrio de estação esperando a próxima carruagem.
Escusou-se, foi atendida pelo doutor, com um donaire, saiu e voltou com um LP que estampava o cantor com sobrancelhas arcadas, longos cabelos e barba cerrada. Laura havia presenciado um de seus espetáculos. Ela olhava P. Nunca de soslaio. Sempre de frente. Aquele pouco de sol, ardia seu rosto, pouco pelo chapéu da tarde. Da sala de jantar se dirigiam à sala de estar, onde ouviriam o russo helênico. P e o primeiro vinho do porto. Antônio estava aborrecido, mas não pedia cumplicidade. Assim P se envolvia, e acabou a dançar Havah Nagila, um passo que havia aprendido com seu tio, e se dança agachado, sentado sobre os calcanhares a estirar as pernas, nada mais folcloricamente russo em se tratando de dança. P mentiu e disse que tinha uma tia-avó lituana, não era de todo uma mentira, mas P nunca havia visto a tia-avó lituana. Acabaram numa roda, todos de braços dados a dançar Havah Nagila, outra e mais uma vez. O doutor se retirou para o escritório, a senhora desapareceu, e todos foram para a boate do Harmonia Club. Enfim. Voltaram enganchados. Aliás, estavam enganchados antes de se conhecerem, foi o que ela lhe disse, ao negar a aparecer, por saber que o irmão viera com um forasteiro. Da parte de P estava cozido. O trajeto do Harmonia até a casa, só não foi mais longo, porque o irmão insistia em entrar pela garagem. Laura e sua boca molhada pelo Dry Martine que ainda os acompanhava, convidava P a repartir a azeitona. O doutor os esperava com as pernas cruzadas vestido de um pijama azul vincado, lendo um romance recostado na poltrona. Ganhou muitos beijos. Antônio mostrou a P o armário do quarto, que estava trancado, rifles, rifles de repetição, dois canos, cartucheiras, pistolas, escopetas, carabinas, pica-pau, espingardas antigas, novas, revolveres, coletes, cintos de cartuchos, maquinetas para encher cartuchos, cartuchos vazios, pólvora, chumbos. Para P a infância não teria fim. Iriam caçar perdizes no domingo. P ficou a sós. Com todo o arsenal. Amou tocar a Winchester, com aquela alavanca que se leva com três dedos para frente e para trás, a fazê-la cuspir o cartucho vazio, e com o indicador puxa-se o gatilho. Quando ela entrou, P estava sentado à beira da cama, com a Winchester cruzando o peito, depositada a culatra na palma da mão, P se sentia El Hombre, num átrio de estação esperando a próxima carruagem.
Quando
os perdigueiros levantaram o rabo, dando a direção, P levantou a
ponta do cano, eles latiram, atirou, e a codorna alcançada em voo
reto, caiu.
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