4 de set. de 2012

Conhecimento.



Epistemologia. Teoria do conhecimento.

Hoje é muito comum acompanhar pela grande mídia a “economistas” falarem escreverem sobre educação. Nada mais, nada menos pelo simples fato de o conhecimento ter se tornado o maior fator de produção. Se na Grécia antiga a episteme, o logus, nada tinham a ver com o mundo do trabalho, com o fazer, com a técnica, hoje o conhecimento é tratado como valor de troca.

Então economista analista diz: A EDUCAÇÃO É FUNDAMENTAL. Com o argumento de que até 2020 o conhecimento no mundo será dobrando a cada 80 dias. É só uma confusão, pois ele está confundindo conhecimento, com informação. Conhecimento talvez esteja a crescer, mas difícil dobrar o volume, o que dobra de quantidade são dados de um banco de dados.
Diz-se também comumente: sociedade do conhecimento, mas na verdade é sociedade da informação, de dados e de banco de dados.
A base da sociedade são os bancos de dados. E a marca do dado, a característica do dado é a acumulação. Os dados de um banco de dados nos entopem, saturam, soterram. Quem dispõe de muitos bancos de dados, pode estar entupido de irrelevâncias.
Informação já envolve gentes, pessoas. A marca da informação é o veiculo e a comunicação que a faz circular entre as pessoas. Para se chegar a informação e preciso tratar os dados. Por exemplo, os gráficos, a estatística. Tudo que se faz na escola é tratar a informação. Trabalhar a informação para chegar ao conhecimento. O conhecimento se faz da informação, que se faz com dados. A vida do banco de dados depende das pessoas, do conhecimento.
A marca da informação é a efemeridade, e a efemeridade decorre da fragmentação.
Por isso a informação é caco, vidro estilhaçado. O jornal de ontem não serve para nada. A revista do mês passado está jocosamente associada a sala de espera.
O conhecimento é mais que isso. O conhecimento se constrói, evolui... não perde validade.
Conhecimento lembra primeiro teoria, que depois nos leva a compreensão.
Teoria é visão. Teoria e Teatro tem a mesma raiz grega, mas teoria é a visão que leva a compreensão. Teoria é uma visão organizada. Que nos faz entender. Para a educação agir sem teoria, é agir às cegas. A teoria mesmo que seja tácita, sempre há nela uma visão uma imagem que orienta, mesmo que seja uma proto teoria.
A escola nunca vai ser o melhor banco de dados, nem pode competir com a Internet. Nem significa “tecnologia embarcada” salas cheias de computadores, ipads, tabletes etc.
O foco da educação escolar, formal, é o conhecimento.
A primeira escola politécnica é francesa.
Para desempenhar tal profissão é preciso estudar tal coisa. Isso está na enciclopédia pela primeira vez. É o primeiro lugar que se encontra escrito, o mapa das matérias e das ocupações e suas bases curriculares. Porque anteriormente a universidade era onde se aprendia a cultura.
De nada vale tanta tecnologia a disposição se não se tiver nada a dizer.
Há uma enorme fragmentação. Mas a escola é multidisciplinar, apesar das fracas interações entre as disciplinas, por isso que depois se cria a interdisciplinaridade, é tentativa de melhorar.
O fenômeno mais recente – décadas recentes – é a intra disciplinaridade. Há disciplinas muito especificas, e de tão especificas, não convivem com a disciplina de origem, ampla.
Afunilamento não tem retorno, mas precisa ter conserto.
A busca moderna é a transdisciplinaridade. Ver alem da disciplina, objetos maiores.
Mapeamento genético é fundamental, mas Eutanásia pode? Clonagem pode? Essa resposta não está no DNA, nos genes, ou no aprofundamento da pesquisa, há momentos que há de tirar o olho do microscópio para ver além do pixel, ver a foto, imagem. Essa resposta é transdisciplinar. Por isso se fala em Bioética.
Há dois tipos de preocupação. Não se pensa em acabar com a disciplina. É preciso disciplinar. As disciplinas.
O primeiro currículo é o Trivium: lógica dialética, a gramática e a retórica, isso era o trivial. Era falta de civilidade tratar mal a língua. Era preciso argumentar. E preocupar-se com o outro, a retórica, convencer o outro, vencer com, junto, com o outro.
Curiosidade: A palavra 'autos' em latim é elevado e profundo.   

3 de set. de 2012

Educação Jogo Projeto Pessoa Cidadania Ética




Os sonhos da razão produzem monstros. Goya.

O projeto é o lugar do racional. Mas há o outro lado que é viver a vida como se fosse um jogo. O vaso comunicante é o risco, inerente ao jogo e ao projeto.
Uma coisa é reconhecer os limites do projeto. Outra é assumir a irresponsabilidade pelas ações. Vamos jogar. É o supremo da irresponsabilidade.
O tempo todo estamos projetando e correndo riscos.
Um louco matemático, Gedel, demonstrou que mesmo em sistemas formais, matemáticos, teoremas, a partir de um certo tamanho há proposições indecidíveis, se os objetos forem tantos quanto são os números naturais.
Mesmo no jogo tem muito projeto, mas nada está garantido, e mesmo nos projetos acontece de escapar por entre os dedos dos projetos.
A ação consciente é a ação projetada. Educar para a cidadania. O profissionalismo.
Antes era cultura. Arte.
O que é um profissional? Que este tem a ver com o cidadão e a pessoa?
Sem deixar de dizer dos desvios da ideia de pessoas, cidadão e profissional. Em tudo há desvios, se preferirem podem dizer corrupção. Uma coisa é o cidadão ideal outra o cidadão, a pessoa, o profissional!
Cidadania. Remete a Cidade Grega. Cidade Estado. Civis e Polis. Na origem cidadão e politico são a mesma coisa.
Naquela Grécia 60% dos gregos não eram cidadãos.
6% o eram.
Mulher não era cidadão.
O estrangeiro.
O ostracismo. Pessoas sem participação politica. Eram os Idiotas.
Os não cidadãos eram chamados idiotas. Idio. Idio pense você.
Velha Sabedoria grega : de um lado os políticos de outro os idiotas. .
Politicamente participantes cidadania. E quem fala de direitos deve falar de deveres.
Declaração universal de direitos humanos. 30 artigos. 27 direitos.
Deveres humanos é necessário.
É um desvio! Direito e deveres, mas se o cidadão não participa!!
As leis tem a função de organizar.
A cidadania tem âmbitos em que se exerce tal cidadania, que não se pode extrapolar.
A família não é uma democracia. Ninguém elege o pai.
A escola não é uma democracia. Tem que haver democracia na educação. Mas a escola não é uma democracia.
A universidade não é uma democracia.
Também não faz parte do âmbito da democracia a estética , o gosto, estas coisas não cabem na regra de maioria. O mesmo vale para “terreno” religioso, tanto que o estado deve estar separado do religioso.
Quando saímos do âmbito da democracia, estamos entrando no âmbito da pessoa, que ultrapassa o âmbito politico e do econômico.
Quais eram os grandes valores da revolução francesa. Liberdade, igualdade e fraternidade, mas tem âmbitos.
A liberdade no plano cultural.
A igualdade no terreno jurídico.
E no terreno econômico se pregava a fraternidade.
Liberdade, igualdade e fraternidade, era o que se queria, era o pensamento desejoso.
A questão chave é a pessoa.
A educação para a cidadania.
Mas tem que ser mais, tem que ser para a formação da pessoa,
que é mais que cidadão.
Somos iguais como cidadãos e diferentes como pessoas, e não se vai a escola para igualar.

A legitimidade da norma. É questão da ética. Foulcaut critica a escola caracterizada de determinada maneira. De como deveria ser.
Fatos. Declaração dos direitos do homem e do cidadão está lá. Mas no desenrolar a coisa desandou.
O PIB mundial per capta é 8000 dólares, 50 % tem 2 dólares dia. Esse é o fato.
Ter ilusão. É fundamental.
A Desilusão é luxo de minoria, e não é universalizável de modo algum, e por isso não satisfaz o primeiro pressuposto kantiano para se fundar uma ética. O Principio da Universalização. A desilusão não é uma norma.
A ideia de pessoa inclui a ideia de cidadão.
Educação pode formar o núcleo da pessoa, que é a cidadania, que é a igualdade no que tem que ser igual, perante a norma os costumes. É essa igualdade que capacita a viver a diferença.
Se formos desiguais onde devemos ser iguais, cidadania, não poderemos viver a diferença onde de fato somos diferentes que é no pessoal.
Persona. Per sonare.
Persona a máscara para representar. Teatro Grego, Per sonare, personagem, soar através da máscara.
Como pessoas somos um feixe de papéis, caracteres. Nosso primeiro papel é ser filho de fulana e fulano. Depois pais de fulano.
Candidato.
Assim nos Apresentam como pessoas: Fulano de tal. Casado. Tantos filhos. Esse feixe de papeis é que nos marca como pessoa.
Há papeis que se representa em âmbitos regidos por lei e nesse caso, pessoa e cidadão são o mesmo. Mas a religião.
A estética.
Gosto. Nestes âmbitos não.
O próprio terreno da ética é pessoal, pois se não fosse pessoal bastaria as normas, bastaria ser cidadão.
Agir de acordo com a lei é uma decisão da pessoa, isso é Ética.

2 de set. de 2012

Autoridade\Educação: Quem põe o guiso no gato?



A Educação é um golpe da Autoridade! Isso assusta cabeças que pensam com o bucho, coração e pele ao responder com a eriçamento da epiderme, o arrepio.
Ao entender-se que a eternidade é tempo, o elétron matéria e pulsos, educação é autoridade e essa educação. Educação\Autoridade autorizada, do contrário a autoridade não autorizada é educação tirânica, nada que não pura corrupção da autorização.
Assim educação remete a ação e coação! Se não vamos a isso.
Hanah Arendt, nos remete à relação educação e ação. Educa + ação.
Há a ação que conserva, como a ação que transforma o fazer próprio do ser humano, fazer com a palavra, com a consciência.
Nos remete também a coação. Ideia inicial de coagir, é inicialmente negativa. Ninguém gosta de ser coagido, soma-se que nem toda coação é legitima. E nesse contexto é que se coloca o conceito de autoridade. E autoridade tem sempre a ver com a ação sobre os outros.
Há nisso ou faz-se um grande mistério. O mistério de compreender qual é a coação legitima?
Se partimos a coisa em: Força, Poder e Autoridade.
A força é coercitiva e é sempre indesejável, todavia nem sempre evitável.
Do latim “Violare”é força e repito, violência é sempre indesejável.
Mas no Estado de direito a força existe, e seu monopólio é do estatal.
Assim e invariavelmente a coerção fora do âmbito estatal é anômala. Entretanto tal anomalia existe nas brechas do estado, por exemplo, a segurança privada. De todos os modos: Ordem, Legalidade e Justiça é função do estado de direito.
No Poder há consentimento, este vem da ameaça, vem da lei, mas mesmo assim posso não achar legitimo, mas sempre há o poder na organização do estado, consequentemente tem força. Não existe o poder que não disponha da força.
Hoje pensar o estado, é pensar a ideia de autoridade, e a coação deve ser legitima, e a legitimidade deve ter o aspecto legal, mas deve alem da legalidade ter o reconhecimento da autoridade. A autoridade que grite: me respeite! Não é autoridade.
A legalidade, pura, é o cadáver da autoridade. A autoridade que se baseia na lei, está morta. Há de haver o reconhecimento da autoridade.
O que leva ao reconhecimento da autoridade como legitima?
A passagem do legal para o legitimo é tema ético, que tentarei tratar noutro momento, entretanto pode-se adiantar alguma coisa, por exemplo, como se a autoridade\educação é a ação sobre os outros, sendo a autoridade válida se consentida, qual a fonte desse reconhecimento?
Uma história da história: Reconhecia-se o rei, porque a autoridade vinha de deus. Isso acabou com a revolução inglesa. Hoje só há simbolismo na autoridade do rei.
Com a revolução francesa, a autoridade real acaba definitivamente, nem simbolicamente ela persistiu. A autoridade foi substituída pelO povo, com a ideia de república. República é Executivo, legislativo e judiciário. É o arcabouço do poder. O poder nascendo do povo, mais que da delegação nasce do processo que leva a autoridade ao poder. E a autoridade é humana.
Mas todas as duvidas pertencem e permanecem nesse reconhecimento.
Há sempre algum tipo de regra da maioria, a eleição. Mas a eleição nunca cria uma autoridade. Um eleição legitima uma autoridade.
O processo eleitoral é meio de legitimar, a autoridade, e se legitima é porque estava presente.
Nesse ponto penso que a ideia de autoridade está diretamente ligada a ideia de autoria. Do latim“Augere”.
Augere é que dá origem à palavra autor. É concomitante que augere quer dizer aumentar. Logo Autor é aumentador. Alguém que cria, e depois da criação o mundo ficou maior do que era, porque agora contem “coisas” que antes não existiam.
E autoridade está, mediatamente, associada ao processo de iniciar, de fundação, aonde os fundadores são as fontes da autoridade. A autoridade dos pais que iniciaram os filhos, que os colocaram no mundo.
O não agir é uma forma de agir. o professor inicia coisa nos outros, por ação ou omissão.
Assim o professor cria, no sentido de iniciar, ele é um inciador, fundador do conhecimento, por exemplo.
Myrian Revault d'Allonnes Le Pouvoir dés Commencements, ensaio sobre a autoridade. O poder dos começos.
Nessa perspectiva, a ideia de autoridade se relaciona diretamente com responsabilidade. “Responsa” é resposta. Responder pelos outros. Quem responde pelos outros antes deve responder por si. Para responder por si, ninguém precisa de autoridade, mas para responder pelos outros, a autoridade é imediatamente necessária, é o mesmo ato. E o si mesmo como um outro, a consciência tem a ver com isso, ser responsável pelas próprias ações.
Assim a autoridade responsável, é pleonasmo. A autoridade é sempre responsável. Mas a autoridade tem limite. Não há autoridade para todos os âmbitos.
A tolerância está ligada a ideia de autoridade. A tolerância pelo que não é responsável, é arrogância.
No âmbito onde se responde, há que haver autoridade, tolerância é um atributo da autoridade.
A crise na educação é crise de autoridade. Franco atirador não é responsável por nada.
Dentro de cada pessoa há um âmbito em que ela é responsável por si, ninguém pode invadir esse âmbito. Há esse fundo insubornável de cada pessoa. É a marca da pessoa. Mexer ali é mudar essa pessoa. Então a pessoa assume a total responsabilidade desse fundo.





1 de set. de 2012

A Conveção de Clint!

 “Recordo quando Obama ganhou as eleições, há três anos e meio, e falava de mudanças e esperança e Yes, We Can. As pessoas acendiam velas, choravam, Oprah Winfrey chorava, Eu também chorei a noite que Obama aceitou a nomeação de seu partido. Disse Clint. Agora há 23 milhoes de pessoas sem trabalho”


Nem discurso, nem pura interpretação, falando a uma cadeira vazia. Falou da promessa de Obama de fechar Guantánamo, da retirada do Iraque, do titubeante apoia à guerra do Afganistão, “ Você pensava que estava bem. Não? Mais ou menos..” o pavilhão foi ao delírio quando Clint afirmou “ creio que chegou o momento de vir outra pessoa e resolver esse problema” e continuou “ Senhor Presidente, como lida com as promessas que não pode cumprir? Na sequencia: conheço gente do seu partido que está desiludida com Guantánamo, Nunca pensei que fosse boa ideia que os advogados se convertessem em presidente. Não seria melhor um empresário?
Muitos jornalistas estadunidenses disseram como Howard Kurtz do The Daily Beast, que havia sido o “momento mais estranho que haviam presenciado em uma convenção”.
O que andam dizendo por lá é que o episodio 'Obama invisível' de Clint na noite de quinta-feira em Tampa é o único que se vão recordar da convenção republicana.
Clint é um gigante da interpretação hollywoodiana, e agora o brilho de Eastwood ofuscou a Romney, nada é absoluto, muito menos essa assertiva, mas há o fato, e o fato é que agora não se fala da convenção de Mitt Romney, mas de Clint.
O mundo da política e o do espetáculo não se misturam correntemente. Normalmente provocam fricções, mal-entendidos e insidias. Mas sempre se tenta colar a fama do 'artista' no político, mas não raramente acabam por 'colar' certa frivolidade, elitismo e 'por fora da realidade' do povão!
Mas Mitt Romney tinha que arriscar, afinal é difícil encontrar um artista da envergadura artistica de Clint Eastwood com tendencias direitistas, tanto que vira noticia rapidamente, como esta 'Jon Voigt é republicano” aos quatro cantos se estampa.
E Clint diante da cadeira vazia conseguiu muito exito, estrondoso exito, e tanto que está em todas as mídias.
Clint Eastwood defendeu sua posição corretamente, é um libertário.   

31 de ago. de 2012

Fama. Rede Social. Meme. Argumento do filme "Superstar".


Kafka imaginou em A Metamorfose que um homem aparentemente normal, de nome Gregorio Samsa se dava conta ao se despertar, uma manhã qualquer, que lhe ocorria algo tão ameaçador quão insólito. Sem conhecer as razões, seu corpo se transformava. Um calvário surrealista e progressivo que deu no que sabemos.
Agora imagine um senhor solteiro, solitário e refugiado em sua rotina de trabalho, este em sim banal. Tudo na existência dessa personagem tende ao anonimato de cores esmaecidas, senão que cinzenta, mas ele é feliz, ou contente da vida. Ocorre que esse homem anódino, bom, invisível não para si, mas para os demais, e que não está, exatamente, se transformando em um inseto, senão que ao passear pela cidade, pelo Metro, pelas ruas, num supermercado, sua presença levanta um grandioso e inexplicável alvoroço. As pessoas o querem fotografar, mas não só, querem ser fotografadas ao lado dele, lhe pedem, lhe suplicam autógrafos, lhe demonstram amor e admiração.
Sem entender o motivo de sua fama repentina. Estupefato e aterrado, descobre que alguém postou sua foto, imagem na Rede Social, como o representante dos seres banais.
Assim sem que haja feito nada transcendental, nem nas redes sociais, esta criou um mito, meme, com sua pessoa. Milhares de seres humanos se identificam com sua banalidade. Agora este homem sofre com essa popularidade demente. A televisão, os paparazzi o perseguem. O querem para um 'realtty' . Sua celebridade atrairá todo tipo de urubu mediático, publicidades, advogados, protagonizará debates na TV tão surrealistas e dadaístas quanto cruéis. Então verá como essa gente o abandonará primeiramente, mas de seguida, começarão a odiá-lo e até mesmo agredi-lo. O pobre desgraçado seguirá sem entender, da fama, nem sua ascensão ou seu declínio.
Argumento do filme Superstar de Xavier Giannoli, Festival de Veneza.

Tecnologia.


  

A palavra 'tecnologia' tem origem grega. De um lado técnica do outro logos. Quer dizer o estudo a ciência da técnica. O engraçado é que a palavra em si não existia na Grécia antiga. Pois se tratavam de atividades distintas. De um lado a técnica a que se dedicavam os escravos, fazer sapatos, medicar, arquitetar, planejar e construir. Do outro o logos. As escolas, sejam Liceu, Academia, Stoa etc se dedicavam a estudar. Estudar não estava vinculado à técnica e por conseguinte ao trabalho. Assim o conhecimento tampouco tinha ligação direta com o trabalho. A técnica nessa época da humanidade tinha ultrapassado a etapa do fortuito. O tempo da técnica fortuita se deu quando todos faziam seus apetrechos, suas lanças, suas sandálias, suas facas etc. Porque todos sabiam fazer, se trata de técnica fortuita, por exemplo, lasca-se a pedra e faz-se o machado. Claro que não é tão simples quanto isso, mas uma vez que lascou-se a pedra e fez-se o machado, todos sabiam lascar a pedra e fazer o machado. Era a humanidade dando seus passos definitivos rumo ao domínio sobre a natureza. Pode-se questionar tal 'domínio', mas sem juízo de valor, não se tratava de o homem se adaptar à natureza, mas sim adaptar a natureza ao ele. Ainda que em escala muito menor, existem certo tipos de macacos que também lascam as pedras.
Mais tarde e por quaisquer motivos, os homens passaram a desempenhar alguma dessas técnicas ou atividades, eram os artesões. Os artesões faziam mesas, por exemplo, toda a mesa, dos pés ao tampo, não havia divisão de trabalho dentro de uma técnica artesã. Os gregos antigos estavam nessa etapa. Os escravos eram técnicos. Artesãos. Cada artesão praticava sua técnica dentro de uma divisão, mais de produtos, de atividades que de trabalho. Aqui também há paralelos na natura, como as abelhas, aonde cada classe tem sua expertise, incipiente, que seja.
Depois houve o aperfeiçoamento dessas técnicas, o homem fabrica a máquina de fazer sapatos, fazer panos. Mas ainda não deixavam de ser produtos. O grande salto se dá com o advento da produção de máquinas que produzem instrumentos de produção, não de produtos de consumo. Por exemplo, teares.
No estagio anterior, a humanidade basicamente produzia para o sustento, satisfação de necessidades biológicas. Comer, beber, vestir, dormir etc. Já no momento de produção de máquinas, instrumentos, que produzem instrumentos, é o momento em que se produz para além da necessidade e em que se produz para além do estritamente necessário à satisfação de necessidades biofisiológicas. É quando se chega à revolução industrial. Mas a revolução industrial tem um precedente: A Enciclopédia. O Iluminismo De Diderot, d'Alambert com auxilio luxuoso de Voltaire, Rousseau, Montesquieu. Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Assim se chamava a Enciclopédia, que no mais foi o maior empreendimento industrial, comercial de sua época. Mas fora isso, foi o momento, se se pretende juntar palavras, foi ali que se juntaram, ainda que não literalmente, mas sim conceitualmente, as palavras Técnica e logos. Pois na Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, podia-se encontrar a receita do que se tinha que fazer, estudar para produzir determinado objeto, por exemplo um navio. Portanto ainda que a palavra tecnologia não fosse verbete, ou tivesse artigo que se referisse diretamente a ela, toda a enciclopédia dizia isso. Foi assim que o conhecimento se transformou em produto vinculador de saber e esses saberes às modernas Academias, Liceus ou Stoas para que de lá saíssem e saiam trabalhadores.
Hoje é um tempo qual a tecnologia está disseminada, de tal maneira, que parece que voltamos à primeira fase da técnica, da técnica fortuita, mas não se trata de um retorno simples, mas de uma maneira, fazendo analogia musical, uma oitava acima.
Assim os estágios da técnica. Fortuita. Técnica\artesão. Tecnologia. Tecnologia disseminada\fortuitamente. 

28 de ago. de 2012

O que cria a identidade, cria a diferença.


Em palavras poucas, e mitigadas, é a cultura que normatiza nossas ações, e a cultura sofre carga ideológica da sociedade em que vivemos, e do e no processo de globalização.
Aqui o interesse é entender como os sujeitos são definidos e marcados. Como nos vemos uns aos outros! Para tanto fazemos ou pode-se fazer uso de algumas ferramentas. Historicamente a primeira é fundada no Iluminismo.
Para o Iluminismo a identidade do sujeito pouco se desenvolve ao longo da vida, porque tem um núcleo que pouco pode ser alterado pelo que ocorre no mundo ao seu redor, seja o famoso “de nascença”. Isso foi retomado por Hegel na geração de história absoluta, onde o sujeito peregrina pela história, tendo desde sempre sua identidade bem marcada. No mundo real que é onde vivemos, pode-se ouvir de professores, que determinado sujeito nasceu com talento, 'esse vai longe', ou o contrário, daquele que ouve ' esse não vai a lugar algum', 'esse não tem remédio'.
Outra concepção amplamente usada é a sociológica, aqui também o sujeito tem um núcleo de identidade, a diferença é que aqui o sujeito está atado à 'geografia' sociocultural do seu entorno de modo permanente. Na concepção iluminista, onde quer que nasça o indivíduo, nasce com plenamente capacitado ou não, aqui é o entorno que determina a identidade do sujeito. Quer dizer que o sujeito não escapa da rede sociocultural.
“Educação é de berço”, “coisa de mulher”, “ passou da idade”, representam questões de classe social, gênero e faixa etária que fazem muito barulho na discussão da questão educacional.
Por último o sujeito pós-moderno, essa concepção diz respeito às condições em que vivemos, e cria novas formas de representar identidades muito diversas das anteriores, além de tais identidades se modificarem com constância, à medida que modificam-se ele e o meio.
O novo modelo societário não apresenta valores soberanos e únicos para todos, ora “de nascença”, ora “de berço”. Multiplicidade de sujeitos em disputa de poder em meio ao mundo de significação que cada um participa e anseia. Essa multiplicidade de identidades não se organiza em unidade estruturada que produza o 'eu', o 'self', o 'sujeito', pois o sujeito é contraditório e transitório, o mais, como a sociedade.
O sujeito ainda é composto de várias identidades: de gênero, de classe, de origem étnica, de religião, de música entre tantas outras, a depender do momento e da cultura na qual está inserido, e todas são móveis, ou podem ser, ou deveriam ser, do mesmo modo que o sujeito sofre os efeitos das culturas, globalmente móveis.
A identidade é fruto do discurso, portanto da linguagem, e por conta está frequentemente diante de processos que tentam fixá-la, torná-la a norma.
O que sempre se pretende ao se fixar a identidade do sujeito, e fixar lhe um modo de ser é um modo e não outro. O outro, estabelecido em cada grupo cultural é tido como a diferença. A identidade só pode ser compreendida, em sua conexão com a produção da diferença. Assim o processo de produção de identidade não se completa. Está sempre adiada, é sempre processo, ou em processo. Isso ocorre porque as identidades, a diferenças só podem ser concebidas dentro de um processo de diferenciação linguístico, que define seus significados e como foi dito antes o processo de significação é processo de lutas entre vontades de verdade, vontades de poder, de fixar as coisas que estão em jogo. Isso pode ser aprofundado em A vontade de poder de Nietzsche, que buscou pressupostos na teoria do Senhor e do Escravo de Hegel.
Sendo produzidas em um processo discursivo e simbólico, as identidades e a diferenças estão sujeitas as relações de poder, manifestas em ações que oprimem certos indivíduos e grupos, cujos efeitos acabam por silenciar suas vozes, seus desejos, seus anseios.
Tal processo nas relações sociais está incumbido de estabelecer limites entre um e outro, para se poder compreender a identidade, a norma, o correto e consequentemente a diferença, que é o outro, aquele que é marcado na sua negação.
Mas é exatamente essa luta por posições e sentidos que favorecem a ocorrência de processos mais sutis de poder, que acontece no campo da identidade e da diferença.
Essa discussão concentra as reivindicações sociais e politicas de certos grupos.
Quem pode obter benefícios culturais?
Quem não pode?
Quem é tido como a norma?
Quem deve ser normatizado, corrigido?
Fica claro que afirmar a identidade, marcar as diferenças, tem a ver com questões de poder.
A forma como a diferenciação é marcada implica em quem deve ser marcado, e marcado hierarquizado na sociedade, e quem detém o poder de marcar e hierarquizar é quem determina quês e porquês.
Mas fundamentalmente essa diferenciação e hierarquização se dá de modo binário, o bem e o mal, o craque e o perna de pau, homem e mulher, civilizado e o primitivo, heterossexual e homossexual, negro e branco etc. E em todos os casos há a valorização de um em detrimento do outro, uma relação de poder que determina quem está dentro e quem está fora do grupo de pertinência. Quem é válido está dentro e quem não serve, o inválido, está fora.
Assim pode-se dizer que essa diferenciação é contingência cultural.
Essa classificação simbólica se utiliza de certos adereços de consumo, que se pode carregar ou não, como celulares, carros, roupas, perfumes, vinhos, escolaridade, cursos, atividades físicas determinadas, academias, filmes, músicas, onde faz as compras, onde toma o chopp, etc. Esses símbolos constroem significados sobre as pessoas e identidades de quem os consome e participa deles. Isso quer dizer que a diferenciação está em luta pelos acessos ao simbólico da sociedade.
Assim grupos diferenciados de pessoas são formados, desde a diferenciação simbólica, quando na verdade há mais identidades que diferenças entre eles.
Desse modo a concepção de uma identidade, única, se constitui associada à diferença. Mas não é a percepção de características diferenciáveis, senão que a construção da exclusão do outro, na relação de nós versos eles.
Essa identidade se constrói de modo que o sujeito se percebe como não tendo nada em comum com a outra identidade, negando a validade do conjunto das características do outro, porque lhes são opostas, de modo que somente uma das identidades pode ser válida, correta.
Esses sujeitos que podem ser de uma mesma sala, classe escolar, tendo como objetivo comum concluir o segundo grau, por exemplo, mas por se frequentar uma igreja, ou não, gostar de rock, ou sertaneja, ou hip-hop, se vêm e se colocam em mundos opostos, mesmo estando na carteira ao lado, cinco dias da semana, comendo da mesma merenda, ouvindo o mesmo professor a explicar o que é sintaxe.
Há ainda dentro de cada diferenciação, diferenças consideradas mais importantes do que outras, que são as diferenças das diferenças, como disse Souza Santos.
Nisso se criam, se constroem os grupos de pertencimentos. Esses grupos têm seus ritos e símbolos. E a coisa é circular, pois o pertencimento cria a diferença do não pertencimento.
Ao mesmo tempo que as diferenças são marcadas, basicamente, por recursos materiais, gerando efeitos sobre a materialidade, conquanto o não pertencer ao grupo, gera a exclusão frente aos recursos materiais, trazendo desvantagens econômicas e materiais ao excluído. As desvantagens geradas pela sentidas de forma diferente entre o que está dentro e o que foi excluído.