1 de jun. de 2012

Sacola sem transparência.



Não sei precisar quanto tempo faz que começaram a dizer o que já se sabia, que as sacolas de plásticos eram um perigo para nosso microcosmo, para a vida do planeta, para o futuro da humanidade.
Todos têm conhecimento da existência de plásticos biodegradáveis quais basta os olhar, para que se convertam em adubo de jardins, pois tudo já fora dito. A propedêutica ou prolegômenos mediáticos fizeram sua parte, assim que não nos pegaram desprevenidos, mais que isso, estavamos bem dispostos, à força ou de bom grado a assumir o pagamento pelo uso para que não pague quem fabrica as horrendas sacolinhas.
Assim as grandes superfícies começaram a 'vender' sacolas plásticas desde 25 centavos a até três ou mais reais. Mas como sempre a boa fé míngua diante da realidade. Porque se é verdade a questão do plástico, o consumo em geral arrebenta com a ecologia e o futuro do planeta, posto que o mercado só pensa mesmo é no dia de hoje, quando muito no futuro imediato, e também, que o não uso da 'sacolinha' só tem efeito psicológico, coisa ridícula diante do problema ecológico, se não se tratar de coisa trágica, já que tudo dentro destas 'grandes superfícies' está engarrafado ou embalado em plástico, e sem ir mais longe, há até alguns seios são de plástico, o sexo é de plástico e cúmulo da 'elegância' é sair do 'shopen' com sacolão com volume de 20 litros, mas recheado de um frasquinho de desodorante com olores da primavera chinesa...
De tudo que tenho visto o fato marcante é que as sacolas biodegradáveis, ou nem, querem significar um passo a frente, a própria evolução da espécie Humana e que usar a cor verde é estar na mais pura sintonia com a natureza.


31 de mai. de 2012

Eu não tenho a bomba.



As vezes – sempre, mais vezes, recorrentes nesses tempos bicudos – penso como é, e tem sido lastimosa a fragmentação em tantos campos do conhecimento – poderia se dizer cultura, mas me parece que há sempre que se definir ou redefinir tal sintagma – ou da informação e o fato de que muitos se salvaguardem em multiplicidades de interesses e perspectivas com as quais nos vemos e vemos o mundo; a miúde, nada mais que inevitáveis modos de sobreviver à hostilidade externa e por que não à própria, interna, coisa que nos têm conduzido a uma atomização pessoal e social, com a qual nos tornamos incapazes de ter prioridades, em quaisquer dos campos da nossa curta história individual e coletiva.

Releio o parágrafo anterior. Convicto, comigo, sei que nem os mais ferrenhos seguidores da crônica humanista se perdoariam do uso de tanta subordinação sem conclusão. Faço uma pausa. Me despenalizo sem fazer juízo de mim, para dizer pouco. No mais como acontece – e como se justificam políticos, a “alta” elite, responsáveis de todas as cores, sejam nacionais, internacionais ou dos arredores - àqueles que se têm permitido cantar este império do absurdo e que feliz ou infelizmente nem existente...
Pergunto: por que não eu?


Me suspendo na suspensão do parágrafo anterior, porque sei da inutilidade de continuar e ainda mais diversificá-lo. Ao mesmo tempo, começo a me envergonhar por compartilhar com outras pessoas esta inutilidade, que tem sido apontar caminhos diferentes às rotas inevitáveis das reações coletivas e talvez definitivas, porque amanhã continuarei incapaz de qualquer ação também não inercial. Falarei da ditadura encoberta da mídia, da falácia própria da democracia, da arte ditatorial da arte, da música tornada verme, das palavras obrigatórias ou da dualidade partícula-onda, dos orbitais sp, dos entrelaçamentos de nuvens eletrônicas, irei mais fundo no spin como momento angular intrínseco, mas não terei definitivamente o artefato explosivo.


28 de mai. de 2012

CONTO.


Conto.


Aparentemente, disse ele ao médico, tudo começou na pelada da semana passada, quando o brutamontes do Dudu, no campinho da praça perto de casa... Uma bola alçada pelo goleiro adversário, que vinha na minha direção, descreveu sua parábola costumeira, mas antes mesmo do ponto de inflexão fui tomado de antiga fantasia, que não seja outra que a de dar uma matada a Ademir da Guia, o que implica em inclinar o corpo todo a frente, enquanto o pé de apoio se mantem vertical o outro que receberá a bola, que primeiro tangenciará o meu peito e assim seguirá até o outro que alinhado com o restante do corpo haverá será afastado uma mica e o pé receberá o balão como se fosse uma colher e a com a bola ali segura e morta se deslocará ainda mais para trás. Como dizia o Dudu pisou no dedo menor que tenho no pé. A unha não caiu, ao contrário, ficou negra na hora, ou preta se preferir. Segui as instruções do Dudu. Água quente, água fria, gelo, beladona e enfaixei. No dia seguinte quando tirei a faixa todo o peito do pé estava preto, ou negro se preferir. Continuei com as compressas, que o Pedrão da farmácia, um farmacêutico prático recomendou. Trabalhei todo o dia e quando cheguei em casa e fui a ducha estava negro, ou preto até a cintura. Tomei diclofenaco, que me recomendou Júlia, e que me acariciou, me acalmou, e que me pareceu disfarçar certo contentamento. Fizemos amor, como a tempos não fazíamos. E voltamos ao sexo na madrugada, ela irradiava prazer. Quando despertei estava, assim! Como vê, totalmente negro. Mas, e ela? Perguntou o doutor. Ela! disse ele, ela disse, bem, tire o dia de folga, mor!  

3 de mai. de 2012

Uma resposta para a pergunta: Por que há algo e não, mais bem, nada?

Eu vou dizer: Por quue há tudo o que há? Por que há filosofia? Música? Literatura? Pintura? Escultura? Arquitetura? Por que de tudo isso? Por que há a arte? Porque em todas as formas de expressão o homem tenta se imortalizar, transcender-se a si mesmo. Todas estas tentativas existem porque o homem é um ser finito. Porque o homem morre. Quando digo homem digo mulher também. Deveríamos fazer uma revolução e usar a palavra mulher, mas de alguma forma daríamos no mesmo. Então o homem é um ser finito, tem os dias contados, e ainda que mortal, tem fome de imortalizar-se, ou de imortalidade. Ninguém quer morrer! Shakespeare houvera trocado Hamlet, Macbeth por dois anos a mais de vida. Otelo por mais seis meses, se houvesse uma garantia. O homem sente pavor da morte. E mesmo assim finito e mortal se pergunta por ela. O por quê da finitude? A enfrenta, afronta sem a negar. Há entretanto negações como a droga, o sexismo e um montão de cerimônias para ocultar o fato de saber que se morre. Mas a filosofia bota essa questão adiante e sabendo-se um ser finito sabe, que  e por isso  se angustia. E se angustia porque morre. Quando a angustia revela ao homem que seu destino é o nada, ou lhe aparece a ideia do nada e a ideia do nada o leva a saber que ele, homem, vai ser nada por muito tempo,  ser nada na eternidade.
É nisso que reside a grandeza do homem, e essa grandeza se revela não somente na filosofia, mas em muitas manifestações, nos romances, na pintura, na música e em tudo que termina, e quando termina a partitura, a música, nos angustiamos. Por isso também existem os livros, montanhas de livros escritos sobre isso, a morte, mas não só, muito há para que possamos pensar nossa situação nesse mundo. E aqui e agora precisamos pensar nossa situação. Como país precisamos pensar. Não pensar o que querem que pensemos. Não estamos em outro lugar que senão o Brasil. E é no Brasil e como brasileiros que devemos pensar e devemos pensar agora, por que não sabemos se vamos poder fazê-lo depois, mais adiante. Porque o homem é aberto a milhares de possibilidades, mas em todas essas possibilidades e em algum momento está a morte, mas ainda assim, sem urgência, sem desespero temos que considerar que cada minuto é absolutamente precioso, e agora, agora tem uma densidade de ser, da qual temos que participar e nos comprometermos e que 'filosofar' é necessário. Por quê? Porque este pais necessita pensar! Precisamos abandonar tudo aquilo que nos distraia, toda a pataquada e estupidez, tudo que trabalha para nos estupidificarmos, em todos os meios, tudo quer colonizar nossa subjetividade. Toda gente se diz contra a colonização, mas o que se dá, é justamente a colonização do subjetivo do cidadão. Noutras palavras sujeitar o sujeito. Muitos médias estão para, com seu infinito espetáculo triste de pataquadas, atar o sujeito, sujeitá-lo! E sujeitado, está impedido de ver a própria situação. 

Por que há algo, e não, mais bem, nada?


Estou aqui, você ai. Estamos nesse mundo e há o mundo e caminhamos nele daqui para lá e de lá para cá. Poderia ter ocorrido de não haver nada. Absolutamente nada. Não posso conceber o nada. Nem imaginá-lo. O que sabemos é que há algo, está tudo isso, está a terra, o céu, os miramos, estão as estrelas! Dai surgem as perguntas, e algumas são definitivas. Só os humanos podem fazer estas perguntas. Estamos aqui, imperfeitos em meio a tanta perfeição do universo. Somos seres finitos diante da temporalidade infinita do universo. Somos carentes em meio a abundância que nos rodeia.
Me sinto por demais pequeno ante tanta grandeza. E talvez a única amostra de grandeza possível para mim seja justamente afrontar esse sentimento de coisa pequena. Por que há algo?
Se a terra é um mero peão que gira em torno de si e do sol. E sobre este peão estamos nós esses serzinhos metafísicos. E este ser metafísico é o homem. O homem metido sobre um peão, pequeno, finito, mortal, cheio de angustia, é mortal e mesmo assim segue vivendo e tem ademais a grandeza de perguntar por tudo, tudo é tudo o que há, e tudo o que há é a totalidade, por que há algo e não mais bem nada? Faço-me essa pergunta e me enche a angustia, porque, quiças, não tenha resposta.
Porque tampouco haverá resposta se a pergunta for: qual o sentido do universo? Um universo em expansão. Wood Allen, em algum filme dele, um garoto não quer ir mais a escola, e diz que não adianta estudar se o universo está em expansão, para que estudar se ele nunca o alcançará, porque ele segue expandindo. Wood Allen gosta disso, em outro momento, quando lhe dizem que Einsten disse que Deus não joga dados, então Wood Allen diz que Deus não joga dados, mas sim a escondidas. E isso podemos tomar como o silêncio de Deus. O que Wood Allen pode ter querido dizer é que Deus está pavorosamente ausente de nossos queixumes.   

1 de mai. de 2012

Pequena biografia de Tengo Miedo.


Houve o tempo que os caminhos se bifurcaram. Sempre os há. E porque nada é casual – nem a roupa  que assim se diz – mesmo o acaso que é casual – para nós se torna causal, porque cria algo que nos modifica, ou se modifica em nós – tem origem causal, pois pode inclusive ser hábito de uma pessoa, de um objeto e mesmo  uma lei da natureza que ignorávamos, por exemplo a gravidade, quando caímos pela primeira vez.
A professora botou uma gravura ou uma foto, Tengo Miedo não se lembra exatamente o veículo que transportava a cena, pode que fosse uma folhinha bem comportada, sabe que botaram aquela imagem frente a sua miopia, real e intelectual, e sabe que era uma árvore com flores amarelas em meio a outras árvores sem flores, e as árvores então, para Tengo Miedo não tinham nome, exceto as frutíferas: pé de manga, pé de goiaba, pé de maracujá e não havia quem o fizesse dizer tamarindeiro. Ele era da roça. A natureza era o que tinha que vencer e o deixava com as mãos calejadas e o nariz quase em carne viva pelo sol das tardes, aos dez anos de idade, e as meninas bonitas da classe gostavam de lhe dar as mãos, somente para depois se rirem de seus calos.
De uma feita, por uma ictericia, frequentou o Hospital das Clínicas na Quintino Bocaiuva em Ribeirão, e para lá chegar passavam, Tengo e sua mãe, pela avenida Nove de Julho, e caminhavam desde a parada do ônibus, pelo canteiro central, que na estação se encontrava forrado de amarelo, com as flores das sibipirunas. Da imagem oferecida na gravura agarrou o que o interessava: as flores amarelas. Delas falou como se de um tapete de flores se tratasse e por ele ele havia caminhado e aquilo o lembrara da procissão de Corpus Cristhis. ( Que na Alemanha tem um nome divino: Maria voa ao Céu. Maria fliegt nach Himmel, ou in den Himmel.) A professora lhe deu nota baixíssima pelos erros de português, língua que não era a sua, e, ela salientara, que fugira do tema. Tengo Miedo havia saído, mesmo, era da gravura. A sorte é que sabia os tipos de sujeitos que havia nas orações, e dependia pouco das redações para 'passar' de ano, porque estas serviam justamente a ajudar aos que não sabiam, tampouco o que era o sujeito. Filho de uma empregada doméstica, Tengo Miedo trabalhava nos tomatais depois das aulas e havia escrito que caminhara sobre o tapete de flores, quando os outros diziam que no canto esquerdo havia uma árvore com flores amarelas e se confundiam, já que era o direito da gravura em si.
Faz tempo que Tengo Miedo tenta sair da gravura. Há tempos que sempre podendo e mesmo quando não devia, elege a si mesmo. E em cada ocasião que assim escolheu foi castigado. Pelo que, foi descobrindo que a liberdade é dolorosa. Ainda hoje lhe dói a liberdade que não é apêndice, que possa ser extirpado. Ainda que seja um orgulho inútil, sente essa veleidade. O que não o faz um sujeito leviano ou irresponsável, já que responde integralmente pelos seus atos. Está situado, posto que sabe onde está e produz para viver desde a mais tenra idade. É o que é e está onde nasceu, geograficamente, na terra, é sociável, que onde passa busca deixar as pegadas de um homem livre, nos limites, em que o sofrimento pela liberdade não signifique a morte, seu único temor. Reconhece-a, sem urgência ou desespero, e espera o mesmo denodo da parte dela, porque cada minuto é precioso. E agora, daquilo que fizeram dele e sobre este veículo acrescentou camadas, fazendo o que é, que é a base, o pedestal e se nele sobe é porque são os próprios ombros.


Alegoria da Caverna.


Penso que quando partimos para julgamentos morais e éticos entramos num mundo de sombras, e as sombras são incertas, por dependerem da fonte de luz. Basta com se olhar a própria sombra ao sol e se verá o quanto ela muda com o giro da terra. Até bem pouco tempo, em termos de civilização, era o sol que transladava e houve quem escapou dessa mesma fogueira, tendo que, como se diz hoje, engolir as palavras proferidas. Hoje nos assombramos, quando tais julgamentos vêm à luz, porque a amplidão do espectro da moralidade depende da manipulação desta. O toco de vela ilumina menos, mas faz sombra maior, imprecisa e tremulante.
Os tocos de velas estão apontados para pontos de interesse de quem os manipula, de modo que todo o demais, na escuridão ai desapareça. Licitação do lixo. Plano diretor. Licitação da mobilidade social. Educação. Asfalto. Água. Natureza. Saúde. Dinheiro público a recuperar propriedades privadas. Etc. São importantíssimos os vereadores. Quanto devem ganhar? Não sei. Quantos devem ser? Não sei. Sei que deixamos essas crianças à merce dos mágicos lobistas, com suas cartolas cheias de guloseimas e surpresas.
O erro não está em eleger palhaços, mas em exigir que palhaços façam mágicas.
Muitos dos que estão na Câmara, foram para lá catapultados, graças a imensa popularidade, que os mesmos veículos, que hoje lhes fazem oposição, proporcionaram. E “pagamos o mico”, “o sapo”, enfim, nessa linguagem que nos é particular, “pagamos um pau”. Sabe por que? Porque nos dizem em quem votar. Votamos. Então dizem, que não sabemos votar. Se esquecem, para então recordar, tão só para dizerem que “nós” não temos memória. Assim acabamos por fazer essa estupidez, que é lutar para rebaixar o salário dos outros, quando é pelo aumento dos nossos que devemos sair pelas ruas, sejamos professores, policiais, enfermeiros, médicos, cozinheiros ou balconistas. Não devemos andar a olhar as estrelas para saber se há vida lá, e cairmos no buraco da calçada.