5 de jan. de 2012

Liberdade de expressão.


A liberdade de pensar, criar e escrever é constitucionalmente restringida, no artigo quinto inciso X. A sintaxe coage o ato, condicionando o texto, condicionará a noticia. E o texto receberá dos olhos do leitor uma derradeira mirada critica. A lei, a gramática e o outro. Antes destes a ideologia já aplicara seu código.
Os manuais de redação “proíbem” o uso de determinadas palavras, algumas construções, coisa que quer parecer tão-só uma cura do estilo. Normalmente não fazemos mossa. Mas, vai longe, e, sim, faz juízo de valores. Não é meramente cuidado estético. É também impedimento ao livre exercício da escrita, digamos, em nome da clareza, da economia.
Que dizer do tempo conselheiro da urgência e sincronicidade? Falo da urgência do texto, sem esquecer  da nossa. E acabamos por sapecar qualquer coisa no papel, papel virtual, que nem é possível amassar, como se o mundo virtual fosse o cesto. 
Mal começamos a escrever, e estamos rodeados de empecilhos roendo nossos melhores substantivos.
Quando venço, se venço, esses obstáculos ir-me-hei  de encontro ao poder de policia da hierarquia funcional. Um jornal, ou revista, têm sua missão muito bem estabelecida, sua cultura empresarial, suas metas e objetivos a serem auferidos, e suas estratégias de suporte às táticas de negócio. Ao contrário do que desejamos, o jornal tem uma unidade ligada a um centro de massa. A pluralidade está suspensa, por canalhices, várias, dentre tantas mais perniciosas, está também a democracia. Fatos anedóticos só confirmam, como o politicamente correto, que é coisa das mais democráticas.
A tudo o que antecede o ato criador e enquanto ele perdura, como fazer e seus suores, chamo de censura: intrínseca, interna e externa.
A gramática. A ideologia. A empresa. O consumidor.
O normal, o corriqueiro é que o produto seja controlado em todas as suas fases. O controle de qualidade é a normalidade. Uma incerta Censura, que por incerta, é esquiva. O fato de não haver mais demissões, nas empresas de jornalismo, revela o justo casamento do texto produzido com as necessidades da empresa e seu produto. Não sendo a demissão que aponta para a censura. Mas sim a não demissão apontando para a conformidade.



3 de jan. de 2012

Cronopios e Famas. Sem esquecer das Esperanças.

Cronópio desenhado uma andorinha sobre a tartaruga.
copiei daqui.




O ponto é: todo o sistema só consegue, efetivamente, garantir o direito à propriedade. O direito à liberdade de ideias, é uma mutação,  uma liberdade de proprietários. E liberdade de ideias quer dizer variedades de ideias de cada indivíduo que queira produzir ideias, e as ideias quase sempre se contrapõe. Assim que a liberdade de ideias implica em conflitos. Conflitos que devem se resolver no âmbito da democracia. Como as crianças e em casa. Assim, liberdade de ideias, no âmbito do mercado, é o que de mais oco e vazio existe. Nem sequer se pode dizer que exista. De verdade é uma abstração, uma aberração, não grito só com mais força digo: um aleijão. Me lembro dos Cronopios que ao chegar a uma cidade perseguem a baba do diabo. Enquanto os Famas foram ao cartório declarar seus pertences tão logo chegaram ao destino de turismo; antes já haviam reservado hotéis e não sei se conseguiram uma cadeira na praia.  Provavelmente, não gostaram do lugar, pois chovia, mas os Cronopios, estes disseram: é uma bela cidade. E provavelmente dançaram, coisa que alegrou as Esperanças. Trégua, Catala. 

2 de jan. de 2012

Castelo de areia.


 Absolutamente tudo comparado ao tempo universal é Efêmero. O é: a terra, o sol, a lua e por consequência a muralha da china.
Que dizer de meu amor, de qualquer paixão que tive, paixão que às vezes dura menos que uma cigarra.
Qual e quanto de meus amores e paixões se criaram isentos de vínculos fetichistas.
... que era andaluza, e se dizia Lole, ou ainda que todo mundo queria, era a mais bonita( do bar, da rua, da solidão) ou se parecia a grande mãe junguiana, era o meu espelho, onde eu narciso me afoguei ao cruzar a minha imagem, ou ainda por embriaguez de todo o anterior, ou por um par de copos, por ser um tipo ( eu ) de macho, pela música que sonava, para contar amanhã, pois estava tanto mais ébrio que tão-só de cachaça.
Enfim quando fui um ser centrado, sabedor e sensível do que podia ser para oferecer, das minhas qualidades humanas de haver nascido depois de suposto dilúvio, seja 10.000 anos de cultura humana.
Não estou querendo um poeta, que por verdadeiro é Poeta e cuja poesia é sensual. Quais poderia citar? Muitos. Um? Drummond.
Mas estou falando de ser Poesia. Viver poesia e como atos desta, verbos, adjetivos, rimas...
se não posso ser uma estrofe, que direi, uma poesia.
O sujeito.
O verbo.
O pronome.
O adjunto.

Ser.
Pleno.


29 de dez. de 2011

Antônio Niterói encontra pegadas do Proletário.

O espírito absoluto


O sol entrou pela janela, Maiara espreguiçou, Antônio Niterói confundia o perfume deixado no travesseiro. Você não vai trabalhar, hein Terói? Hum!? Homem se alevanta e vá buscar aonde é. Você já fez café? Só-o-que-me-faltava! arrumar, marido preguiçoso, nem um nem outro eu quero, chispa, corra trecho, vou tomar uma ducha e quando voltar quero sentir nem seu cheiro, alui, abale, home! Ai se eu te pego... O ruido da água caindo uma canção que foi se afastando e alonge embalava Antônio Niterói, sobre seu cavalo dialético, ia e voltava, afirmava e empacava, e era outro ele e o cavalo, que sonho mais doido, cavalo com nome de Histórico, eia Histórico, e lhe chegava a espora na virilha, refugava, mas chegava a lugar incerto. Incerta é essa vez, que só existe o que se pensa, mas o famigerado exige uma definição, acossado Antônio Niterói brada sua espada, surgiu um novo sujeito! Aquele que não pergunta: o que é? Açambarcou o todo, não há nada que não se possa conhecer, não depois do espirito absoluto a cavalo haver passeado pela Europa central, consolidando, botando as aspas e o inviolável ex nunc. Não há nada fora do cognitivo. O famigerado é o que faz, e a substância que faz é sujeito pois é feita de sujeito e pelo sujeito ao mesmo tempo que o famigerado é substância. Napoleão é a torre simbólica da apropriação do todo pela burguesia. Antônio Niterói sente certo refluxo ao pensar essa palavra, mas na fome come-se o que existe. Estão unidos o sujeito e a matéria ligados pela razão e todo o racional é real, é história é racional, voando no Pégaso dialético até pousar diante de Guilherme III. Absoluto.
'O touro mouro dos meus dias,Troa na praça o tumulto', Antônio Niterói vai despertar, mas Maiara adoça a voz, eis que aparecem os piratas, os campos africanos transformados em campos de caça de negros, jorros de sangue, fora daqui Niterói gritava Maiara com a única parte do corpo vestida sendo a cabeleira.

28 de dez. de 2011

Antônio Niterói numa cama rangedora com Maiara e as consciências enfrentadas. A Dialética.



No cafofo, a cama rangeu, o silêncio desmaiado substituiu de golpe o abalo, e ainda não aconteceu nada, somente consciências enfrentadas, começando, a História e o materialismo. Maiara pousa sua cabeça sobre o peito de Antônio Niterói, e apesar do calor canicular, assim fica ela encavalada sobre a coxa esquerda dele, babando sobre a casa do coração. A consciência negada, submetida à outra. Dormem. A História nina. Porem, a consciência negada, agora recolhe todas suas armas, as guariba e volta ao ataque e nega a outra. O Escravo nega ao Senhor, quando trabalha a matéria, criando a cultura. A cultura dá razão ao Escravo e este passa a se sentir produtor de razão e de história, sendo mesmo ela, ela sendo ele, se misturam a ponto de serem o mesmo, estão dentro um do outro, ao mesmo tempo que são dois em um transformados. O Senhor fica ocioso, se coisifica, desejoso de matéria e de natureza, se transforma em coisa, natural, naturalmente animal, a desejar como animal. Coisas.. Antônio Niterói esboça sonâmbulo sorriso, que logo substitui por um suspiro. Maiara limpa com as costas das mãos a baba que depositava na caixa torácica do nosso herói. Uma consciência nega a outra e se torna Senhor. O outro, Escravo constrói, na manipulação da pedra, a Cultura. Parece que a paz reina e reinará como algo, absoluto, inescapável, o triunfo do espirito absoluto. E Napoleão passeia a cavalo. Mas Antônio Niterói agora sonha com um filme, The Servant ( O Monge e o Executivo- O Criado) de Joseph Losey, acha que é Dirk Bogarde que está rondando sua Maiara que é a cara de Sarah Miles, o criado vai entrando em seu corpo e acaba por desocupá-lo de si, e nem ele dorme, e tampouco Sarah Miles ou Maiara babam no seu mamilo esquerdo e toda umidade que lhe queimava a coxa esquerda desaparece. Antônio Niterói fica confusamente sonhando, não há linearidade, em balbucios, o espirito absoluto a cavalo, pisoteia, esmaga sob suas ferraduras, a timidez do cogito, que se envergonha diante da coisa em si, dando coices no obscurantismo da coisa por si mesma, galopam aferrados um ao outro até a cisão que os aparta e os faz carregarem das partes de que são o fundamento, para se juntarem na calma de uma cama que range, um lençol que não os alcança e uma mosca que por isso, abusa.

27 de dez. de 2011

Antônio Niterói retorna ao começo da História.



Maiara sugeriu que Antônio Niterói subisse para o cafofo. Mas sua embriaguez e o Senhor e o Escravo o impediam de mover-se, pediu mais uma garrafa de Sidra, a chacoalhou e com a cabeça do mata-piolho em alavanca, ajudou que a rolha de plástico voasse como uma nave espacial. Estava lá , em nenhuma geografia, por isso, algures não serve, invisível ou transparente, a ver que uma das consciências desejantes se subordinasse ao outro desejo. Entenda, deixou anotado Antônio Niterói, ainda não há história, nada aconteceu, só a submissão. Mas tempo veio, que o desejo reconhecido como superior, impõe ao desejante de desejo medrado pela morte trabalhe para ele. O desejo subordinado, trabalha, produz e leva perante ao outro o produto que tanto necessita o desejo que o submete. A este Antônio Niterói chamou-lhe: Senhor, àquele Escravo. O Escravo seguiu fazendo o que mandava o Senhor. O Senhor queria maçã, o Escravo trazia maçã. Esta cena fez com que Antônio Niterói recordasse o filme A Comilança, aonde Ferrer (o diretor) claramente tenta passar essa ideia, tipica dos anos sessenta, aonde a burguesia comeria até morrer, e os proletários a trazerem-lhe a comida. Ferrer se enganou, a burguesia não morreu e continua comendo, ao passo que o proletariado ainda morre de fome. Voltemos ao princípio. Antônio Niterói com sua argúcia de detetive da escola Materialista-dialética-histórica, percebe que o Escravo ao trabalhar a matéria, só por este motivo, Antônio Niterói explica o materialismo, não quer dizer apego aos bens materiais, sim, trabalhar com a matéria, pois o Escravo seguiu trabalhando com a Matéria, transformando-a, estetizando-a, fazendo por fim cultura, e com a cultura criando liberdade, é louco, anotou, isso pode explicar o surgimento de muitos pratos típicos, darem-se justamente aonde a escassez abunda, a arte, note que a arte grega clássica é superior ao modo de vida grego da época da arte grega clássica, por isso Machado de Assis é superior a João Ubaldo Ribeiro, já estou viajando, vou aproveitar e deixar anotado uma reflexão livre sobre o amor sob o prisma dessa dialética do Senhor e do Escravo, percebam o quanto é comum que quem mais ama mais se subordina, e que aquele que menos ama: submete, eu vou mais longe que Sartre em o Ser e o Nada, digo que aquele que mais ama, na verdade sente mais o medo da morte, e se transforma num escravo do outro, e como tal trabalha a matéria do amor, que é o medo da morte, não sendo incomum, amor e morte andarem tão próximos. Antônio Niterói vê, o criador da cultura, criá-la alisando as arestas das pedras, e a rolha de plástico que havia batido nos dois lados do canto da parede acaba por retornar na sua testa e ele desperta. O bar está fechado, e Antônio Niterói sabe que Maiara o espera com suas formas redondas apontadas para ele, quentes e úmidas. Ele sobe as escadas rangentes, as formas redondas se mexem e a cama também range.

26 de dez. de 2011

Antônio Niterói, que creia o incrédulo, viaja ao princípio da História.



Sem geografia, e portanto mapas, e portanto impossível se perder, Antônio Niterói escondido ou transparente, para não interferir, como fazem, nos filmes, os americanos do norte quando viajam no tempo, expectava alegremente pelo nascimento da história, como soem fazer os da National Geography esperando o nascimento de uma ninhada de dragões em extinção. Sem que se desse pela coisa, dois humanos que aparentemente dialogavam, argumentavam, por fim exigiam o submetimento do desejo do outro ao seu e vice e versa. Antônio Niterói anotou em seus apontamentos. Desejam o desejo do outro. Ou melhor, eram duas consciências desejantes que se enfrentavam. Em palavras definitivas dois desejos que se desejavam, enfrentavam. E continuou anotando, e dizemque, Jean-Paul Sartre um dia teve em mãos esses apontamentos, que na verdade são várias as versões, outra é que Sartre, não acudiu a um curso do russo Alexandre Kojéve ou Koiev, onde estiveram presentes, Merleau Ponty ( que alguns petistas confundiram com Merlot de Romanee Conti) Jaques Lacan, Raymond Queneau e que Sartre conseguiu, sim, as anotações de António Niterói. Enfim qual seja a versão, Antônio Niterói estava lá, amoitado, a ver o que se passava entre os desejos. Antônio Niterói deixou anotado: há diferenças entre o desejo humano e o desejo animal, veja você. O desejo humano: deseja desejo, quer dizer que o outro o reconheça. Que o reconheça como seu superior. Que se submeta a ele. O animal deseja coisas. E as coisas que deseja, geralmente as come. Coisas naturais. O homem não deseja coisas naturais, esse é o achado, a consciência é desejo. Antônio Niterói não se dispersou: e viu que ambos os desejos desejantes do desejo do outro estavam em pé de igualdade, mas qual não foi o seu espanto, um refluxo quase a botar tudo a perder, tapou a boca com as costas da mão e implorou pela digestão do rabanete do dia anterior. Meu desejo é que você me reconheça, o meu é o mesmo desejo, que você se submeta ao meu desejo de submeter-lhe. Os dois sabem, as duas consciências desejantes sabem, que estão diante de um duelo mortal. Então uma das duas consciências tem medo, temor de morrer. Pois se trata de um duelo, e um duelo leva sempre um dos contendedores à morte. Ambos os rivais têm medo à morte. Mas em um deles o desejo de submeter ao outro é maior que o temor à morte, e se isso, o outro tem mais medo de morrer que desejo, por isso se submete. O que aconteceu meu querido? Pergunta Maiara. Começou a história diz entre dormido e acordado, como assim? Nossa dormi nessa mesa da Cristal? Sim, e o travesseiro e esse livro, e que tem isso? Vige, Maiara, descobri o inicio da História, e como é isso Teroi? O homem se submete a outro homem, gerando assim a relação de escravidão. Mas mal sabia Antônio Niterói que voltará ao princípio da história.