É velha e velhaca a intenção velada, de muitos escritores, de dominar o mundo por meio das letras. Fazer com que o leitor siga suas receitas, e que esse faça do mundo lugar melhor ou pior, que sempre dá no mesmo lugar, à beira do abismo, ora real, ora abstrato. Leitor, não acredito nem em receita de bolo, por sinal tem sempre muitos furos. Mas meu amigo Tengo Miedo de la Muerte y Epitafio, levava a coisa de favas contadas. Não duvido que conseguiria, sem esquecer que duvido e tudo, por profissão, sou Investigador de Policia, trabalho impossível no pais que banalizou o crime perfeito, entendo crime perfeito como absolvição. Usei o passado no caso Tengo Miedo, levava a coisa..., pois morreu. Sim. Agorinha. Está aqui diante de mim, ainda mole, tombado sobre o teclado do seu notebook. Tengo Miedo levou no bico umas tantas mulheres, com a estoria de um dia ser escritor. Dizia isso, escreveria, com intuito, claro, de eludir-se a dar milho e falar em alemão aos pombos de alguma praça, futuro que lhe fora desenhado por uma moça que lia mãos, e não caiu no conto não escrito, que lhe ocorreu na San Marco de Veneza, mas ele pensava que ela não tomara ciência. Agora que escrevia, nem engambelava donzelas, ou história do milho. Tengo Miedo, como dizia no afã de dominar mentes, descobrira em Edgar Allan Poe, um dos primeiros a estabelecer paradigmas dessa ciência, se é que podemos assim nominá-la. Ciência tem normas estritas. Igual receita de soufflé, se abrir o forno, antes da hora, pode-se ter incluso uma pizza, menos o soufflé. A ciência é rígida como a Vênus de Milus, não dá para torcer o braço, quebra. Paradigma que se diga de uma vez por todas é o doce quebra-queixo, não é de chupar ou de morder, é algo ai no meio. Pois o paradigma de Poe baseia-se no fato de existir uma percepção extra inconsciente de e no texto. Noutras palavras: um conjunto qualquer de significantes amarfanhados produz uma vontade de ser naquele que o lê, antesmente, ao que escreve. Qualquer texto, que intencionalmente, ou não, tem essa capacidade de impor ao leitor um comportamento, um entendimento, que está além da conduta rotineira dele leitor, e além da, dele compreensão, da consciente e inconsciente, qualquer que seja é por vezes arrancada como pus de um furúnculo pelos psicanalistas, a inconsciência. Mas isso não se restringe ao leitor, está no mesmo saco o autor, este também não tem controle sobre o que escreve. Um caso vivo e triste – até engraçado - é de um escritor que se chama Paulo Coelho, que acredita e é um mago, um alquimista que busca a pedra filosofal, não uma pedra abstrata, mas a pedra concreta e suas arestas polidas, e se redonda, não seixo, sua tangente, em linguagem popular: uma pedra em carne e osso que lhe faça e produza filosofias. É notório que ele a encontrou. No entanto para Poe há uma inconsciência para lá do inconsciente. Uma cebola. Uma alcachofra. Um repolho. Múltiplas camadas. Umas mais profundas que outras. Mais tenras, virgens, banais e fedidas! Da mesma forma é o texto. De La Muerte y Epitafio sabia tudo isso e mais. Sabia da lapidar frase de Heráclito de Éfeso: o porco se lava na lama, que carrega com ela todos os mecanismos de se apoderar do tecido mais interno de cada ser, ainda que ele – esse ser - não a houvesse sequer ouvido completamente. Apesar disso, a frase, sobreviveu aos encantos e nos cantos de jornais, inoculada, por vezes, via anal, na falta de papel higiênico, como em um romance célebre e longo. para a necessidade rápida e matutina. Sobreviveu no próprio porco, que o humano dá muita importância a sua sobrevivência. Se fosse Heráclito diria: o homem preserva o que mais deseja, matando. Mas isso é, a , história, e você não está preparado para ler. Tengo Miedo é como se fosse meu filho. Conheci sua mãe Vívia de La Rua y Perra no exato dia que, ela, havia lido um texto de Tengo Miedo intitulado: Ardência. A encontrei na esquina, inteirinha dentro de uma minissaia, onde não cabia mais que uma, havia duas bandas. Dei-lhe alguns conselhos, um que me lembro diz respeito ao traje, disse-lhe que não fazia falta parecer piranha, ao contrário, deveria parecer santa, que é como vêm os homens às suas pudicas mães. Ela demorou a praticar, mas foi só começar e a clientela quintuplicou, e me senti o mais idiota dos bossais. Pois ela chegava cada dia mais tarde da noite. Até o dia que me cansei de dividi-la, ofereci-lhe metade do meu salário.
5 de jul. de 2011
4 de jul. de 2011
Chip Tim!
Do trabalho ao terminal rodoviário, há dois – razoáveis – trajetos que posso percorrer. Um pela Jeronimo Gonçalves, outro pelo coração da Baixada. A reforma da Jeronimo já me cansou. Grande demais para ser pequena, e pequena demais para ser grandiosa, problemas de dimensões na estética do belo, além de que com seu aspecto asseado, onde está finalizada, faz saltar ao olhos a desgraçada vizinhança. Assim que desgraça por desgraça vou pela José Bonifácio. Ontem quando cheguei à esquina do mercadão, meio-dia e meia, uma moça se me ofereceu eu perguntei quanto, ela disse quinze. A loja do lado tocava uma música com todos os imbecis decibéis. Eu disse dez, ela disse não posso! Moço! Eu tinha dez. Fiquei ouriçado. Hoje eu retirei mais dinheiro antes de fazer o mesmo trajeto. Tudo ajudado por estar lendo Lolita, confesso que a coisa reacendeu, melhor dizer, nunca apagou. Acendeu. E fui pensando na morena, na verdade pensei nela antes de dormir, ao despertar. Enquanto trabalhava, pensava nela. Pensei no calor de sua boca, no cetro do meu império a escovar sua dentição branca. Antes mesmo de chegar à esquina a divisei. Havia muita gente pela calçada. Minhas pernas davam o sinal que tanto gosto, é o movimento de partida que termina naquilo que todo mundo sabe, mas não dá para narrar, por parecer de mal gosto, pelo menos as todas vezes que li, mas como contar um instante justo ele em momento de inenarrável inconsciência, não sei sequer que se passa, nem sei se é possível interromper, uma vez impetuosamente adentrado nesse estardalhaço. Meu único temor é, que ela peça mais, nessas horas não sei regatear, um bicho, pago o que tenho. Como um cachorro que não consegue esconder sua carência e seu desejo me aproximei, e ouvi de seus lábios grossos com delicioso sotaque: Um Chip Tim! Fui tomado por uma desilusão tão grande, que desorientado entrei no mercadão e quando dei por mim estava no quarto pastel.
3 de jul. de 2011
INVERNO DE FOLHINHA.
Começou o inverno na folhinha. Alguma vez senti o inverno de verdad. É tempo lento, solitário e gostoso como um cappuccino ou pouco mais que isso, a neve pousando na soleira, um livro no Café, um café com conhaque, uma adega empoeirada, uma sopa de frutos do mar e umas nádegas quentes, depois do sexo quase religioso e do cigarro. Já os invernos de almanaque me são incalculáveis sem o apoio do próprio calendário. Hoje li no A Cidade a crueldade dos invernos, na crônica de vários escritores, senão todos, tanto que me espantou. Todos andavam nostálgicos: Vicente com Wenceslau, Júlio com o General, Marino – Vovô - com o “nono” Juliano, Ely com um tempo que nunca existiu – depois do renascimento –, o Prof. Sérgio e a querência de fazer da mass education educação pré-industrial, sinto que até o Hamilton - no tempo da mutuca - sentia o peso desse inverno, hollywoodiano de dias voando duma folhinha que se esmaece em preto e branco.
1 de jul. de 2011
FANTASMAS.
Como dizia Alceu Valença: eu desconfio de tudo, pior que Nixon em meio Watergate. Mas entendo que em politica não existe verdade, sim maioria: mais ou menos de um total de 100, 51% verdade, onde 49% não verdade, resumo da opera: Meia-verdade. A meia-verdade é fundamentalmente politica e esta em essência: meia-verdade. Sendo os assessores de vereadores cargos políticos, por antonomásia: meio-cargos, meio-assessores, meio-homens e meio-fantasmas. Até ai tudo bem, está na lógica. Agora, totalmente fantasmas! Dá um clima de Hitchcock, de morcegos em revoadas. Imagino o vereador - ele também um fantasma - indicado por cameral fantasmagoria, à fantasma presidente da mesa. Pois esse presidente fantasma, entra na sala do assessor fantasma, e vê o paletó. Se estiver no espaldar da cadeira, muito que bem, ponto. É do jogo. Mas, e, se estiver vestindo o assessor, Uuuu! que meda!
30 de jun. de 2011
Caçador de obras fantasmas.
Administrar – no sentido pequeno, a la português de padaria - é difícil. Mais difícil ainda será – claro levando a sério - se se fala em missão, visão, estratégia e gestão de pessoas. Não basta o resumo de Peter Drucker, às vezes não “cai” na prova. Mas, ora vamos, vestir o velho estilo com estas miçangas sob luz dicroica, convenho, é só brilho. Há problemas que parecem, por crônico, insolúveis, com tendencia a piorar. Exemplo é o transporte coletivo. Peter Drucker – diga-se já ultrapassado - aproximou os vários setores e hierarquias da empresa, acabando com os vazios de mando e distribuição de poderes e responsabilidades nessa geografia. Por aqui, aponta-se justo o contrário, a criação de vazios, só por um acaso, aumentando o custo do transporte, não só coletivo, mas a logística urbana. Ficam os terrenos baldios, criando “de um tudo” mesmo pequenos bosques. Mas, se se entende que lutar com unhas e dentes para perpetuar um evento é o máximo. Sabe-me mui amaro, ágrio show.
Falar mais é coisa para Ghostbusters. Ou Ghostobrasbusters.
28 de jun. de 2011
Fumo: Serra e FHC.
Unidos e separados pelo Fumo, Serra e FHC vêm-no, um como inimigo dos homens, portanto aliado politico, via saúde; este o toma por aliado pensando no voto do maconheiro pasmado das décadas de 80-90 do século passado, ao que parece ter se tornado Classe C, e se esquece que maconheiro é mais traíra que a própria e ele próprio, fuma mas não traga. Serra não entende que tudo que passou, não volta; FHC, que é próprio do fumo ser a não solidez de uma fogueira que se apaga.
26 de jun. de 2011
ODE AO FUMO.
ODE AO FUMO.
Oh, Fumo redentor, que alegrais os meus pecados.
Fumo do meu passado.
Fumo da primeira luz, filho de toda a honra e glória, aquele Fumo que do pé de um havano e lentamente alastrastes os seus fios dançantes de Fumo interminável, subistes ao céu da câmara que eu habitava, habitação, quarto amigo, restaurante, bar ou onde outras almas perdidas repousavam nas altas horas, nos baixos círculos.
Oh, Fumo de claridade, Fumo de tempo elementar, quando entre os meus dedos consumíeis e queimáveis os minutos que faltavam para acender a fogueira eterna, onde crepita o canto dos deuses inalcançados, que se escondem para não me perdoar.
Fumo do meu passado. Fumo do meu primeiro sopro cinzento e espesso. Fumo que me deu sentido e gosto ao sabor de todas as coisas. Fumo que me livrastes do mal, do bem e da insípida alface.
Oh Fumo do meu presente, que é o Fumo do Fumo dos meus passados e dos passados de todos aqueles Fumos que me acompanharam na glória de todas as solidões de fumantes que se buscam e se encontram e se dissipam pela leveza da essência.
Oh, Fumo de hoje que velais por mim, que chegais lá onde minha profunda ignorância, não chega. Vades e percorrais os caminhos, os abismos por mim. Oh, Fumo do instante que carregais o pecado do mundo, sinuoso e quente, na boca aberta dos homens boquiabertos.
Fumo fugaz e eterno Fumo.
Fumo sincero.
Fumo que na tua morte e ressurreição vivestes e morrestes para me salvar. Fumo meu de cada dia, te confesso, oh Fumo todo-poderoso, que pequei por minha culpa: eu traguei.
Tenhais piedade. Fumo que ascendeis ao além de todos os olhos, nos altares das coberturas conjugadas, do milagre dos anéis de depois de amanhã, que escondeis entre os dedos que apontam o caminho, que asfalteis os caminhos entre palavras pronunciadas.
Fumo, Verbo que em ti cada manhã fostes e sois o primeiro, pura revelação, mistério e santidade.
Oh Fumo do meu futuro, te exilaram, estais proscrito, te abjuraram, e agora clamais no deserto, Vós, Fumo do amanhã e de toda esperança e fé. Fumo que subis o Calvário, crucificado pelos pregos dos ignorantes, tenhais piedade.
Agora que és fumaça, recordação longínqua, sacrifício meu, apiedai-vos de mim. Oh Fumo onipresente, guardai a tua ira, o gosto da minha alma pecadora, e esperai-me no teu paraíso infernal; enquanto espreito com minha língua, isenta de sua impureza, a triste paisagem granjeira; a hora de botar o ovo, de bicar a ração, de virar pasto. Eu, seu consorte e comparsa, a cometer o pecado, saneado, desnatado, esterilizado, pasteurizado, bombado e lubrificado e infalível, como se falhar não fizesse parte da própria infâmia.
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