15 de nov. de 2010

A classe média vai ao parque refletir.

Fernando Pessoa dizia: coisa intangível é entender o outro, pois para tanto haveríamos de sê-lo. Pode-se partindo de tal pressuposto chegar à nossa condição esquizofrênica. Outros dirão que o “Split” advém do desmame, somados com o modo de produção contraditório e o aprofundamento da separação do homem em relação à natureza. Certo é que esquizofrênicos, diversos da natureza e contraditórios; escolhemos o cachorro como melhor amigo pelas razões acima e sem prejuízo das esquecidas. É notório que o canino está mais próximo da natureza que o humano, muito pela desumanidade intrínseca deste. Assim o parque mais que qualquer lugar: é local para cães, gatos, periquitos, sabiás, aranhas e suas teias. Além das árvores, é claro! . O humano a visitar o parque é o torturador a levar flores ao torturado.” Viver é muito perigoso” dizia Riobaldo “desconfio de muita coisa, Sr. concedendo eu digo”. Local seguro é a granja moderna de ar-condicionado, aquecedor e telas postos impedindo a invasão de insetos. Há galinhas para todos os galos. O único risco é atingir o peso ideal. Kierkegaard não disse poderia ter dito que a vida é uma alcachofra. Sua carapaça dura, os espinhos e o coração. Para chegar-se ao âmago e descartar os espinhos e desfrutar da terna base, a vamos roendo pelas brácteas coriáceas, com azeite, limão e pouco alho. Por isso deveríamos “naturalmente” comê-la em regozijo, genuflexos e agradecidos à natureza, nunca para emagrecer. Aliás, uma bruta contradição, comer algo para emagrecer, um pleonasmo do avesso, subir para baixo.

13 de nov. de 2010

Felicidade.

... se ele vai querer comprar primeira classe para mim ele podia querer fazer no trem dando uma gorjeta ao guarda oh acredito que vao ter os idiotas de sempre dos homens olhando a gente com os olhos deles de estúpidos... trecho do monólogo de Moly Bloom em Ulisses de J. Joyce.



A felicidade é o exercício do poder sobre si mesmo, bastando com eliminar da vontade todo o fetiche. Isto implica: vida errante e instintiva, como a dos lobos. Suspender, descrer ou no mínimo duvidar das conquistas da “civilização” - modo de produção, suas estruturas politicas e jurídicas, religiosas e sociais - é essencial se estas implicam em juízo; que é a razão de ser da tragédia humana. Assim o prazer está na atividade em si, no comer, beber, ver, sentir na pele, ler, transar ou beijar. O amor e o ódio são estruturas sociais e psíquicas; geradas no atrito dialético do ser com a natureza e a circunstância – época, modo de produção, clima etc. - em que se encontra inserido. Assim amor e ódio se confundem na sempiterna tentativa de apropriação do outro e, de tal modo corrompidos são inúteis - espasmódicos e aflitivos - como instrumentos de presentear felicidade, já que a posse é juízo, contrato e no mínimo uma relação de poder. Isto me lembra do sofrimento de Luísa no Caetés de Graciliano Ramos e seu amante, quando a relação se despoja dos impedimentos.
A felicidade é o gozo do prazer imediato. Aí entra o Chico Buarque: se só lhe fizesse o bem\ talvez fosse um vício a mais... é a perfeita medida que se busca. É certo que há razões igualmente fortes para afirmar ou negar qualquer teoria. Mas não me nego o gozo desta retórica contorcida e espinhosa.

12 de nov. de 2010

Direito a preguiça.

Voltei para casa e o último trem, não voltou ou não partiu. No lugar da estação ferroviária, um imenso jardim sem nenhuma reminiscência. Fico com a estação que é de minha lembrança. Não se pode partir de um jardim. Não se retorna a um jardim. Minha estação. Digo minha, mas ela é universal. O logos de partir e chegar e retornar. Já vejo o trem serpenteando pelos subires e desceres levando minha estação. Quando a vi pela primeira vez, senti essa coisa. Essa separação. Esse retorno. Esse Manuel Bandeira. Essa nossa união. Ir e volver nunca à mesma estação. Hoje já nem preciso de sua arquitetura rústica de grandes tijolos avermelhados. Minha estação aos poucos quer se transformar em sintaxe. Em poesia. A estação dos sentimentos universais. Inapeláveis

11 de nov. de 2010

Futebol. Pébola.

Nosso parto como povo exclui as suas dores. Omitidas, ocultadas; mas nem sempre completamente; para que sem querer possamos de vez em quando fazer de conta que não a vemos. Negamos pai e mãe. Um aborto às avessas. Não somos o índio; por que se o fossemos: seriamos eles e não nós. Nem portugueses somos, por que estes mataram aqueles que seriamos se não houvessem vindo a matá-los. Impedidos de sê-los posto é que morto e assassino na mesma pessoa é o suicida. Por fim o nascimento se deu como abandono. Em meio aos excessos da natureza tropical: verdes matas, rios caudalosos, araras multicoloridas, jacas e bananeiras. Ironicamente o homem a cavalo escolhe as margens de um riacho para gritar: EU DESISTO.
- Pronto! Não o queríamos mesmo, melhor é que não nos queira. A casa virou República e que deus nos acuda, e ninguém quer lavar os pratos. Foi quando Machado de Assis, Ramos de , Arthur e Aluízio Azevedo, Raul Pompeia etc. nos esqueceu Joaquim Nabuco. Depois o Pixinguinha, o carnaval, a semana de 22 desesperadamente inventando Macunaíma, Leônidas o Diamante Negro, Garrincha e Pelé, guiados pelo cego Nelson Rodrigues. Era o caráter da época refletido na garrafa de pinga escondida na caixa de descarga, descoberta por Elza Soares. Da mesma forma que o encanto da arte grega não foi incompatível com a sociedade débil na qual floresceu. Engendrávamo-nos como mito e arte, precários infantis e inventivos. Nossa adolescência , o pragmatismo da auto imposição da maioridade diversamente aceita, é o desenvolvimento da sociedade. Que poderia Capitu frente ao Twiter, Orkut o Blog. E os olhos de ressaca diante da Dany surfistinha! Bentinho diante da Maria da Penha! Nem Apesar de Você, meus olhos já não te seguirão, nem mudarei de calçada, de nada vale, nem que caia as torres gêmeas mito, arte e ruina sobre mim. Pelé depois de Garrincha foi o último mito e o futebol ali foi arte. Parreira é um marco. Maradona, Messi, Ronaldo e Ronaldinho pura realidade e esta é insustentável posto que póstuma.

10 de nov. de 2010

De todas as mídias, a imprensa.

A Pexota, na verdade não se chamava assim, ela era a mulher do Peixoto que trabalhava na Subprefeitura de Bonfim Paulista nos anos 70. A mulher do Peixoto, a mulher-do-Peixoto, virou Peixota e depois de perder o marido para o pé-de-pato, dizem quê; perdeu o i e virou Pexota. A Pexota era levada da breca subia e descia a Coronel Furquim, e aos que moravam perto da Paróquia do Bom Jesus do Bonfim falava mal dos que moravam no centro e dos moradores do Canequinha onde ficava o Grupo escolar, que estudei, e vice-versa e nas transversais e paralelas quem falava era ela. Dizem que o Peixoto morreu de congestão. Por culpa dos amigos dizerem a ele que o falatório da mulher era por falta de comparecença. E o pobre foi acometido da congestão logo depois do almoço encima da cama e da Peixota. Ela ainda não tinha perdido o i. Mas há outra corrente. Na verdade boato. Posto que corrente deve tratar de coisas da razão, do pensamento. Mas não sei definir um conjunto de boatos de mesma índole caminhando ao longo do tempo. Pois que seja: boatos a repercutir que o Peixoto morreu quando soube que o Prefeito Duarte Nogueira, também era médico, afinal um homem poder ser mais e a estar enquadrado dentro de limites tão escassos, tanto que o Divo Marino quer prestar homenagem á categoria. Quem sabe o Divo Marino inclua esta história. Hein! Pois então o boato dizia que: O Peixoto amava a estação Ferroviária da Alta-Mogiana, onde era zelador. Era linda, meio-inglesa na verdade, mas linda; seu telhado assentado sobre aquele madeirame cheinho de filigranas, entalhes artesanais; o pé-direito altíssimo, paredes levantas a partir do vermelho-terra dos imensos tijolos, lembraria Londres, talvez. Tive uns meses de aulas ali, por ocasião da reforma do Grupo Escolar Francisco Bonfim. O depósito de café guardava o cheiro das sacarias e suor dos carregadores. A sala do depósito era imensa, couberam todas as classes da escola num mesmo ambiente, não houve separação por paredes, era o inicio da improvisação que mais tarde veio a chamar-se criatividade. Não havendo paredes interagíamos e a régua corria livre solta e a contento. Pelas imensas portas, de madeira maciça, abertas por causa do calor, víamos passar o Peixoto varrendo o porto, sempre parava e apoiando-se o queixo no cabo do escovão nos invejava, e nós o retornávamos, com nossas delicias infantis, bolinhas de papel. Esquecia-me da causa morte. Pois o Peixoto por fazer calar a mulher e os amigos, começou a comparecer várias vezes ao dia, inclusive depois do almoço, e foi aí no calor da luta que Peixota o fez saber que: O prefeito Duarte Nogueira vai construir uma praça em Bonfim Paulista. O prefeito Duarte Nogueira destruirá a Estação da Alta-Mogiana em Bonfim Paulista para em seu lugar... dizem que o Peixoto ainda perguntou a Peixota: O paredão também! Também. A parada dos ônibus de Araraquara também! Também.

9 de nov. de 2010

Sexo na web.

“É preciso colocar princípios nas grandes coisas; para as pequenas, basta a misericórdia" Camus.



Outro dia por um caminho uébico que não me recorda, cheguei a um vídeo no youtube. Aonde um casal adolescente, lado a lado, olhavam através de mim. Depois de um sinal não muito nítido se puseram em movimento. Deles o silêncio, se algum, o ruído das coisas. Ela abaixou as calças até o joelho e pôs-se de quatro sobre a cama. Ele postou-se atrás dela com calças arriadas. Algo não estava bem, se entreolharam e ambos para mim. Ele andou como um pinguim em direção à câmara. O que vi foi sua camisa fechar toda a imagem. Logo voltou a antiga posição. Falou algo a garota. Ela direcionou sua bunda para o centro da imagem e ajeitou o largo cinto que lhe prendia a camisa ainda vestida. Começaram. Era um consentimento reciproco. Consentimento bem distante da tolerância. Havia destemor no lugar de desejo. Jovens e bonitos como todos daquela idade. A inocência ou insídia substituída por cumplicidade e coragem. Olhavam para a câmara. Ele em nenhum momento tocava-a, com as mãos; agora pensando não consigo recordar que diabos ele fez com elas; ela agia como se despojadamente comesse uma barra de cereais de marca qualquer, a nutrir sem engordar, sem misericórdia ou generosidade, alheios. Ele chegou ao fim num avesso de transbordamento; subiu o jeans; ela desceu da cama, vestiu-se; me olharam mais uma vez, como se a satisfação não estivesse naquilo deles, mas sim em mim.

DISCRIMINAR. Retórica.

Nota-se que a tecnologia preferimos retórica. Participei de um processo seletivo. Alguns candidatos falavam em: perfil, pró-atividade, boas práticas de cozinha, segmentação de mercado, programa de qualidade etc. Quando este linguajar seria mais comum ao selecionador. Passada a seleção alguns estamos no mesmo barco; vejo que aquele discurso está dissociado da prática. Algo me diz que o selecionador ouvia o que afirmava o que ele não sabe efetivamente discriminar, mas a única que tem registrado.
A cena do filme dos Cohen é essa. Nicolas Cage é trazido por Holly Hunter perante uma junta|conselho|psicólogos da penitenciária, que ouvem o que queriam: Fui reeducado, não voltarei s a ver-me. O prisioneiro ganha a rua. A cena se repete mais vezes, como pede Milan Kundera, a repetição a fazer humor. O prisioneiro diz o que lhe imploram. Isto mostra que não basta ou não precisa ser do bem, há que se dizer o que se quer ouvir. Arizona nunca mais.
Comumente nos deparamos com brancos de olhos azuis defendendo perante brancos de olhos verdes negros e nordestinos. É o politicamente correto. Defender oprimidos quais sejam é fácil e bem visto. Entretanto no primeiro ato que se faz na direção de mitigar a opressão a coisa toma os mais variados matizes de irracionalidade. Bolsa escola, família, cotas etc.
É certa a relatividade de tudo, no Brasil inclusive a cor da cútis o é. Da mesma forma como o nordestinismo, de alguma forma Ribeirão é o nordeste de Jundiaí e esta de São Paulo, esta o nordeste de Barcelona, e esta o nordeste de Frankfurt, e diante de Bill Gates até Steve Jobs é um loser. Assim deveríamos concluir que somos causa e consequência de nós mesmo moldados como massinha na circunstancia. Mas preferimos concluir que se deve ao outro.
Por tanto, esse nada, nos impede de ser liberais como liberais norte-americanos e ingleses. Pois para isso haveríamos de praticar Kipling e seu poema: O fardo do homem branco. Dizendo a americanos do norte e ingleses seus deveres civilizatórios.
Aguentem o fardo do Homem Branco
—Enviem para a frente o melhor que tenham gerado—
(Take up the White Man's burden—
—Send forth the best ye breed—)
É a retorica imperialista liberal nua e cruel sem matizes; gostemos ou não, a dizer de nós, e como seres inferiores desde a proclamação da republica andamos com o rabo metido entre as pernas. Mas no dia-a-dia continua a intermitente retórica patológica.
A administração de empresas e organizações deu um salto cientifico nos anos setenta, quando por aqui se vivia sob o regime ditatorial. Havia nos quadros da ditadura um homem genial se não estivesse tão mal acompanhado: Roberto Campos, Bob Fields chamávamo-lo, seria equiparado facilmente a Peter Drucker, o guru mundial da administração.
Em Ribeirão Preto atual governo municipal padece do mal da retórica compulsiva. Depois de dois anos fará uma reforma administrativa. Depois de tentar medidas dramáticas, como o giro de capitais provocado pelo giro dos motores. Em síntese “injeta-se” 13.000.000,00 milhões de dinheiros público na promoção de um “evento” e observa-se que 13.000.000,00 foi acrescido à economia local, fazendo de Keynes um verdadeiro charlatão.