30 de dez. de 2015

Educação. 2015 aprendi que:

Educação.
2015 aprendi que:
a Educação/Escola se converte pouco a pouco num ramo da psicopatologia.
Que se pede à Escola que cure feridas reais e potenciais, da alma.
Que há 40 anos os Pais se preocupavam em dar carinho aos filhos, comida na mesa... A igreja dava uma assistência emocional e o Professor da Instrução.
Hoje a Família vive uma situação curiosa, a Mãe foi trabalhar e o Pai não volta, nunca voltou (convém que se espere?) e a Igreja sumiu, não prove.
A Escola vai assumindo pouco a pouco mais responsabilidades, e como é de se esperar, não dá conta de todas, e tais tarefas são abandonadas, umas mais outras menos. Definitivamente, abandonou a Instrução.


28 de dez. de 2015

Diz que pizza!




Romeu está diante da tv vendo com interesse mórbido o programa de William Waack, enquanto Julieta estica os braços e abre a boca, num misto de fome e sono, diz: “Acho que vou.. mas estou com fome”. Nisso o programa é interrompido por aqueles microfones que giram em torno, acho que de um planeta. Aparece Leila Sterenberg lendo um comunicado. “Atenção!” “Atenção!” Boletim especial. A cidade está em alerta laranja. As autoridades – José Serra e Geraldo Alckmin aparecem ao fundo – e continua Leila: “estamos sob um ataque de Zumbis. Procurem se abastecer de água e alimentos. Não saiam de casa. Repito: não saiam de suas casas”. Romeu e Julieta correm para a geladeira. A paisagem é desoladora, um iogurte grego aberto com prováveis fungos verdes, meio tomate murcho, um ovo com uma rachadura colado naquele seu compartimento, duas azeitonas que devem ter caído da embalagem, já enrugadas.
“Era a tua vez de ter ido ao supermercado”, disse Julieta, “não que não, era a tua” protesta Romeu.
Silêncio... A situação é crítica. Um o gato, dentro do estômago de Julieta, ronrona. A geladeira, um gato gigante, também ronrona. Romeu mira o imã. Disk Pizza Irá Já. 3972 2323. Peço uma pizza? Propõe Romeu. Em vinte minutos tocam a campainha. Romeu abre a porta. À sua frente aguarda um motoboy. Pela viseira levantada do capacete, Romeu, vê dois olhos líquidos que não piscam. O queixo gosmento dependurado suportado pela correia do capacete. Não vê seu braço esquerdo, o direito leva a bolsa térmica de onde sai uma caixa exalando orégano e catupiry. Fumegante. “ A quizzra...” murmura. Suas cordas vocais estão em decomposição e reverberam uma pigarra viscosa. O motoboy foi mordido, está infectado, mas a pizza está intacta. Bom serviço. Romeu dá dez reais de gorjeta. Isso será tema de controvérsias durante o jantar:

“Romeu, Você acha mesmo que foi uma boa ideia dar gorjeta a um zumbi?” com a boca cheia de catupiry, milho verde e frango desfiado. “Aonde ele a gastará?”  

Cinismo e Impotência.




Acredito que do pessimismo não brota nada transformador. Não sou de acreditar em profetas nervosos ou líderes providenciais. Acho que coincido com aquele verso de Caetano Veloso, “quem foi ateu e viu milagres como eu..” . E também porque desconfio das lideranças míticas, que em todo caso as escolas de negócios de certo modo conseguiram popularizar. Tudo junto, tenho cá comigo, mais que isso, estou convencido que ao 'progressismo' lhe restam uns quatro dias, e olha que mal acabava de nascer nessa terra do mais puro sentimento mazombo. Diria à boa gente que não convém perder tempo e tentar outras providências.

Politicamente, nossas decisões pessoais e o impacto que elas têm na dimensão grupal, estão ameaçadas pela impotência e o cinismo. O primeiro advém da constatação que quase nada do que fazemos modifica substancialmente a dimensão coletiva ( já que não escapamos do mundo) que vivemos. E como nada acontece como queremos ( a política nos decepciona, as ilusões não coalham e o esforço não traz resultados...) corremos o risco de buscar compensação, indexados pelo cinismo, o máximo de beneficio pessoal. Já vivi em outros países, e a coisa vai mais ou menos pelo mesmo caminho, com mais ou menos intensidade, nos encontramos ciclicamente cercados por essas duas ameaças. Talvez, tal fato tenha a ver com a nossa história, termos desaproveitado oportunidades. A pergunta é: que faremos? Penso que devemos reflexionar sobre o quê estamos fazendo, cada um de nós... O risco que corremos é acabar nos regendo pela desconfiança doentia na coletividade e esquecermos que o quê realmente conta é o esforço cotidiano e a coerência das nossas ações. A outra alternativa é perder tempo e ilusões discutindo seraficamente sobre quem é mais puro e como será o futuro, quando já estivermos mortos.

27 de dez. de 2015

Museu da Língua Portuguesa.

Museu da Língua Portuguesa.

Dizem que havia um poema de cem oitavas no Museu da Língua Portuguesa, chamado Ecos de Nhanderuvuçu ou Tupã, ou Prometeu. Exemplar único, não digitalizado. Alfredo Bosi cria que obra de Santa Rita Durão do final do séc XVIII. Não é a melhor obra da literatura brasileira. Mas de grande interesse, pois apresentava um Prometeu queixoso, tão melancólico que poderia dizer sem aresta: rousseauniano. Roubou o fogo dos deuses e o entregou aos homens. Assim, paga sua filantropia amarrado  à pedra da Gávea, e a cada manhã vêm os urubus comer seu fígado, que à noite se restaura, junto com sua melancolia, o fogo trouxe conforto aos homens, mas nada de bondade.

Este é o lamento de Tupã, que copiei da obra de A. Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira, Cultrix, 2005.

Ah! Quanto mais feliz minha sorte fora
se com alma plebeia em vil estado
Entre riscos e palmeiras conduzira
por um tempo minha inocência e gado. 

Festa Sem Fim.

De que vale um bela alma, se não sabe se expressar em palavras, se os flocos de neve se fundem antes de pousar numa árvore.  Haikai de  Hoshino Takashi, quer dizer tudo inclusive que as belas palavras nada querem dizer, ou ainda belas palavras escondendo um vazio interior, que a neve  permanece estática por um instante, que mais sei eu, divago, me distraio um pouco, no meio de uma festa que não quer acabar e por fim morre antes do fim...

26 de dez. de 2015

Jesus.

O mais divertido é que tudo ao redor do herói é trágico. Simplificando dos dois lados da equação, sem tragédia nada de heróis, e isso não quer dizer: ao se instaurar a tragédia e surge o herói, não, basta com aparecer um herói e tudo ao seu redor se reduz à tragédia. Se especulo, aonde há um Deus há um mundo, seguindo o fenômeno heróico. E como há quem necessite de herói os há que crêem em Deus e é a estes que o mundo, com Deus, se põe a rodar. Não precisamos ir muito longe para saber que cada povo tem ou teve seu deus. Havendo ainda aquele povo que escolhido por deus, ultrapassa as fronteiras e se faz povo em qualquer geografia, não se dissolve. Não preciso mudar de calçada para saber que há deuses dividindo uma família, digo isso para tentar responder a mim mesmo, se uma nação pode ter mais que um deus. Penso que deus, assim como os heróis, tiveram o seu tempo, e têm seu tempo, uma naturalidade temporal, porque sempre nos submetemos ao que admiramos naturalmente. Mas o que é, hoje, Natural? Quem é, hoje, nosso Deus? Para os povos indígenas os deuses são elementos da natureza, o sol, a lua, a água, o fogo... seja, uma continuidade natural, árvore, chuva, sol, fruto, comida... quaisquer desses substantivos naturais pode ser e é deus. Para mim este encadeamento natural se rompeu, em qualquer ponto dessa enumeração se pode intercalar adubo, pesticida, transgenia, bolsa de valores, sacola plástica, inflação, moedas, entre a árvore e a comida. Se pensarmos no mudo escrito, narrado, e quando estas se deram, aquele mundo estava muito próximo da criação, era um mundo ainda virgem, um mundo que não se conhecia global, então, nada mais natural que um criador.
Assim desarticuladamente, isso que escrevo, vejo Jesus como uma especificidade cristã. Um acontecimento raro, o nascimento de um Deus, isso é o que se comemora, seu aniversário, a encarnação de um Deus na fragilidade de um bebê que precisava de um jumento e uma vaca para que lhe dessem calor e uma estrela que apontasse o caminho àquele que quisesse o visitar, uma estrela no céu, mas a luzinhas coloridas e decorativas das ruas só fazem ofuscar qualquer estrela no céu.



18 de dez. de 2015

Enquanto houver vida há esperança, dizem. É a última que se perde




Enquanto houver vida há esperança, dizem. É a última que se perde. São palavras que não me confortam, não creio nem no emissor nem no receptor da mensagem. A esperança é uma virtude teológica que requer outra: A Fé.
Nunca cri no “futuro-natureza-morta”, ainda que bem pintado. E a Fé tem que ser Cega. Como crer em algo bom no futuro que parta desse desassossegado presente, se todo otimista é quase um Paulo Coelho, pueril? Todo profeta deve ser bem vigiado, e o profeta do otimismo idem, e suas profecias deveriam ser tratadas no âmbito da vigilância sanitária: A overdose, especificamente, de Otimismo é nociva à saúde. Não é possível ser feliz sem ter passado por boas desgraças. Não vindico a dor, só constato. Em toda a história há muito desespero e pouca esperança, particularmente na arte.
Deixo repousar a tristeza. Destilo o dramatismo. Fico nu. Apago os rastros do sentimentalismo. Escrevo isso desde uma primavera que não existe nesses trópicos, uma primavera verão invisível. O Natal não ilumina as sombras sigilosas. Selvagem e histriônico canto:
Oh Caridade,
desde um latão de cobre
esperança dá ao pobre
e ao rico fiança
tua mulata bondade
oh Caridade te peço
se me alcança essa bondade
dê ao rico esperança
e a mim estabilidade..

Para que conste, nem que um exército de otimistas corra atrás de mim, isso não me fará ter esperança, porque esperança é de desesperados, nem mesmo o ano novinho em folha, todo vincado, pronto para “estreiar”, são muitos os naufrágios e poucas as encostas para aportar.  

17 de dez. de 2015

Hipocondríaco Egocêntrico.






Reconheço, sou um estraga prazeres, um chato, um pé no saco, mesmo que Débora, minha esposa, diga isso de outra maneira; ' Você é um hipocondríaco egocêntrico que dá muito ouvido a si mesmo'. 'Tá'...! Tirante isso, tenho acessos de melancolia que enfezam a Débora como agora, que estamos na varanda, tomando uma cerveja, esperando pelo sudoeste, que já vem vindo, e me boto a falar sobre a morte. Não me deixe viver em estado vegetativo, digo a Débora, não suportaria viver dependendo de uma máquina, daquelas bolsas de soros e remédios ligados diretos na veia. Se algum dia estiver nesse estado, por favor, meu amor, desligue estes artefatos que me mantém vegetando, prefiro morrer. Débora se levantou,  me olhou com uma admiração que até então não havia sentido. Me senti um menino mentiroso, que crê que a mentira colou, roda a saia e desliga a tv, o computador, o roteador, o ipod e por fim, me retira o copo e a garrafa de cerveja.
Me invade uma sensação, que, uma por não conhecer e a outra não haver sentido,  chamo de paz e abandono. Ao meu redor tudo vai pouco a pouco escurecendo.... e lá no fundo do corredor vejo um led vermelho... ela se esqueceu da play station... rs

16 de dez. de 2015

Eu não gosto de cebola....sendo que talvez a cebola é quem pudesse dizer que não gosta de mim.

Eu Não Gosto de Cebola.

Outro dia ouvi uma menina dizer, “Antigamente...”, nada mais ouvi, sou curioso, mas não pude ser intrometido, por muito muito que quisesse saber o que vinha depois. Desse modo, antigamente pode ser ontem. No entanto, antigamente, para mim, é quando não havia nem eu, nem rádio, nem tv, nem gramofone... se lia partituras, se contavam contos, a volta do parafuso começa assim. Frankstein de Shelley nasceu assim. Dizem que num verão suíço, na Vila Diodati, havia muito talento debaixo do mesmo teto, Lord Byron, seu médico John Polidori, John Shelley e Mary Shelley, chovia há dias, o tédio andava rondado a casa, então, Byron sugeriu que escrevessem cada um um conto de medo. Dizem que John preferiu continuar matando o tédio com absinto. Byron deixou o conto no meio do caminho, sobre mulheres vampiros da Grécia. Polidori sem mais escreveu O Vampiro, não perdeu tempo para um título, história do dandy irresistivelmente atrativo e perverso manipulador, deixando claro que refletia sua relação de amor e ódio com Byron. Mary Shelley escreveu O Moderno Prometeu, o famoso Frankenstein.
Zequinha de Abreu vendia partituras de Tico-Tico no Fubá, fazendo quem quisesse ouvi-la, ler partitura, tocar algum instrumento. Disse Zequinha, mas havia muitos compositores, como Chiquinha Gonzaga, para ficar nos mais populares. A relação com a arte, em particular com a música era corpóreo-espiritual, exigia todo o corpo e a alma. Essa relação mudou drasticamente, fazendo do ouvinte uma mera orelha manipulável. O tema é imenso, mas fico nisso, que não estou preparado para um ensaio, fico nessa crônica. Mas a coisa se deu da mesma forma que na relação homem-natureza. Há pessoas tão jovens que não têm antigamente, que não sabem de onde vem o bife, tanto menos o Baião. Os livros se transformaram em imagens, filmes. A música vem da saveiro que passa toda noite pelo bairro a despertar galinhas, assustar gatos. Suponho que uma família rica de antigamente tivesse umas 100 partituras e um piano. Hoje, no pen drive do meu fusca tem todas as músicas que ouvi e gostaria de ouvir nos próximos dois mil anos.

É neste ponto, quando se disse que tudo quanto fosse sólido se desfaria no ar, que chegamos. Qualquer relação entre nós e a arte, ou qualquer outra atividade, nada nos esclarece sobre nós, senão que nos obscurece, posto que todos os complexos sentidos que tivemos para apreciar qualquer coisa se reduziu ao gosto preguiçoso e irremediavelmente ignorante. Eu não gosto de cebola....sendo que talvez a cebola é quem pudesse dizer que não gosta de mim.

receita.


Cebola empanada.
Dissolva fermento biológico em sal, acrescente água gelada, pode até botar umas pedras de gelo, acrescente farinha de trigo, faça uma massa espessa. Passe por ela as rodelas de cebola. Não deve escorrer facilmente. Leve a uma frigideira com abundante azeite. Frite. Coloque para escorrer excessos num papel absorvente.

Microconto.

“Quando acordei, o dinossauro ainda estava ali”.de Augusto Monterroso. 
“Sabia que estava sozinha no mundo, de repente, batem na porta”.
São contos brevíssimos bastante conhecidos. Gostei também do conto gótico de G.L.Frost, ainda que li em algum lugar que não queria, mas esqueci, aonde atribuíam - esse de bater a porta - sua autoria a Borges.
 Como sou leviano tomei a liberdade de mudar um pouco o começo, o meio e o final. E gostei mais desse jeito: Um disse para outro: Esse lugar dá calafrios. Você acredita em fantasmas? Pergunta o um, enquanto o outro diz não e desaparece.


Fechou o bar do Mané ou Hitler não fumava, Médici não fumava, Geisel não fumava, mas a cobra fumou




Fechou o bar do pernambucano Mané. Meu bar. A verdade é que me sinto desamparado, é mesmo uma sensação de desamparo. Me sinto um Homer, se o Moe fechar. Um ET apontando com o dedo para onde estava o bar – agora um açougue gourmet, pode? - e exclamo 'meu bar, meu bar' com voz lastimosa. Lembro de quando começou a lei antitabagista, e Mané, que fumava, me perguntou, eu que fumava, o que dizer àqueles, digamos manés, que queriam um cartaz de proibido fumar, eu disse que fizesse um aonde constasse o nome dos merdas metidos a bestas bonfinenses que morreram antes por pura sovinice e ignorância  e não fumavam e fui dando nome aos bois. Não seria nem louco de botar o nome de algum aqui, ainda que saiba dos herdeiros analfabetos, mas tem sempre os puxa-sacos que leem para os patrões, escrevem para os patrões, vigiam pelos patrões, chacoalham para seus amos...   Então para não correr risco de morte, ficaria assim transportando da ideia paroquiana inicial: Hitler não fumava, Médici não fumava, Geisel não fumava, mas a cobra fumou. Vou parando por aqui que comecei a misturar nostalgia com horror.  

Para que serve um amigo?

Para que serve um amigo?

Imagino que algum purista dirá que a amizade não serve, que cada um há de servir a ela, ou algo assim, aparentemente sublime, mas falso. Quero que meus amigos me sirvam. Quero, ademais, que sejam a medida de meu valor. Quero me conhecer conhecendo a eles. Quero, ainda, confirmar neles – já que me concedem sua amizade - que  algo bom vêem em mim. Pois bem, entre os amigos que mais me valem está o entranhado José Carlos..

Zé, como sinto saudades, de nossas conversas sobre o ser e o nada pelas ruas de Sousas ou sobre o divino do humano e o humano do divino pelas noites de segunda junto ao fogão. Se alguma vez nos esquecermos de que somos amigos, encontrarei em nosso esquecimento um sinal inequívoco de que perdi valor.   

15 de dez. de 2015

Quando eu vi Deus.

Todos sabem que sou ateu, de poltrona reclinável. Mas nunca contei que numa de minhas subidas de Ubatuba, pela estrada das curvas, me apareceu Deus. Subia a serra, estava completamente nublado lá embaixo, no entanto, de repente toda neblina desapareceu, o céu se vestiu de azul homogêneo, luminoso e próximo. Parecia que se quisesse sair do carro e subir na ponta dos pés, poderia com o braço levantado com a mão alcançaria o cosmo, inteiro. Tocava isso Soneto de Petrarca 104 liszt E foi o que fiz, foi incrível, me sentia parte de todo o universo, como se estivesse no meio de uma floresta, ou dentro do mar, perto da lua, ao lado de marte, da Ursa Maior, da Via Láctea. Sentia a expansão, a velocidade e a música universal.



Maurice Tillet, o Ogro em carne e osso.


Se chamava Maurice Tillet, apesar de seu aspecto tosco, falava 14 idiomas, era poeta, ator e um grande enxadrista, mas se fez famoso como peso pesado no Pressing Catch, aonde foi campeão mundial.
Aos 20 anos desenvolve a enfermidade da pituitária(hipófase), conhecida como acromegalia, - como Rondo Hatton –
que desfigura as feições, dando ao sujeito aparência ogro simiesca. Maurice decide interromper os estudos de direito e imigra para os Estados Unidos atrás de uma profissão mais de acordo com seu físico. Se converte em lutador profissional, O Anjo Francês, ou o Ogro do quadrilátero. Seu 'abraço de urso' não encontra rival na lona. Em 1944 derrota Triturador Casey, e se torna campeão mundial pela AWS.




Depois dos combates gostava de jogar xadrez com amigos, como Francis Scott Fitzgerald e Charles Laughton. Assim chego a Schrek. Que evidentemente se inspirou em Maurice, um ogro de aspecto amigável que recordasse uma pessoa sensível, como Dave Sheridan – desenhista – definiu sua personagem.


Íncubo!

Faz um monte de tempo, mais precisamente, logo depois do divórcio, convidei para jantar em casa os amigos Jão, Serguey, Aninha. Jão me ligou na noite anterior, Cidão, se importa se levo minha prima Suzane? Matutei, já começaram a me arranjar noiva, ele continuou, Ela está passando uma temporada em casa. É professora do Estado e lhe deram um afastamento psiquiátrico. Pobrezinha, não me espanto, assim como anda nossa educação. Te aviso que ela é especial. Ao ouvir especial, vindo do Jão, todos os alarmes dispararam. Como especial? Ela diz que à noite é visitada por um íncubo. Íncubo? Não havia google ainda, mas Jão me explica que é um espectro masculino que faz sexo com mulheres. Para quem ficou interessado há o súcubo, que são as mulheres que fazem com os homens. Ademais, ela gosta de contar, mas é inofensiva. Isso me tranqüiliza. Serguey e Aninha foram os primeiros a chegar, e os adverti para o caso de nossa convidada extra. Bom também! comentou Serguey, assim não faltará assunto. Logo depois chegou Jão. Só. Nos olhamos entre todos. E logo ele esclareceu que ela tinha médico e que já vinha, sim. Tocou a campainha, dei uma olhada pelo olho mágico, uma bela morena, pra lá de gostosa, de uns trinta e cinco anos. Tudo parecia normal até que ela começou a falar com a bolsa. Tenha juízo, dizia, não me faça passar vergonha. Pardelhas! murmurei, acabava de ler Ulisses por Houaiss. Na verdade durante o jantar, pimentão vermelho recheado com alho poró e bacalhau, e creme de pimentão verde para secundar, Suzane fora muito agradável. Não falava muito, mas tinha um riso musical – meia oitava – já na sobremesa chegou o momento que nos contou de seu incubo. Primeiro aparece só meio corpo fora da parede e me olha e eu estou deitada na cama numa espécie de transe, Serguey e Aninha trocavam soslaios. Depois vem até mim com um sorriso de orelha a orelha.
Isso me deixou inquieto, imagine um fantasma que se apresenta com um sorriso radiante como o gato de
Cheshire... Vem se aproximando e se deita a meu lado e sem deixar de me olhar fixamente, e... me..., me....
Te fode? Interveio Jão com olhos indulgentes de quem já ouviu a história antes. Me possui, corrigiu Suzane, meio enjoada. Aninha se aventurou... nunca pensou em mudar de casa? Me mudar? Parecia realmente surpreendida. Se estava criando uma tensão ... mas Suzane... Você sabe o bem que me isso me faz?

Serguey e Aninha estavam envolvidos por um estupor leitoso, atordoados, sonâmbulos que resistem a acordar. O ar estava parado, perguntei, alguém quer café? O ar se mandou a outra parte a cuidar de seus assuntos.   

13 de dez. de 2015

Dispersos versos persas mexe Gilgamesh no árduo fardo Gilgamesh no saco de letras do Arcebispo Tillotson mexe, descabido deão de deus, menoscabado, se mais Gilgamesh mexe mais se embrulha, Leão empunha agarra a letra A. Estréia mundo novinho em folha.

Dispersos versos persas mexe
Gilgamesh no árduo fardo Gilgamesh no saco de letras do Arcebispo Tillotson mexe,
descabido deão de deus, menoscabado, se mais Gilgamesh mexe mais se embrulha,
Leão empunha agarra a letra A.
Estréia mundo novinho em folha. 

10 de dez. de 2015

Tudo aconteceu tão rápido, que vou contar do mesmo modo


Tudo aconteceu tão rápido, que vou contar do mesmo modo


Quando ofereceram a Luiz Fernando o cargo de gerente da agência de Belém do Pará, aceitou sem pestanejar, estava em Sobral, no Ceará, com seu calor de mascar. Em poucas semanas conheceu Neide, foi amor a primeira vista, se casaram no mesmo mês. Neide era indígena por parte de mãe, que era uma feiticeira. Isso soube numa tarde em que se refugiou do aguaceiro recorrente num bar que simpaticamente imitava uma Oca com sua decoração feita de objetos indígenas. Pediu uma caipirinha de cupuaçu, antes uma pura curtida em sexo de boto, que desceu queimando. La fora o aguaceiro. Um velho se sentou a seu lado ao balcão. Luiz Fernando lhe ofereceu uma dose de pinga. O velho respondeu: cada um com seu cada um. O velho conhecia a família de Neide. Contou a Luiz que a mãe dela era uma bruxa conhecida por toda a redondeza. Luiz não se surpreendeu ao recordar aquela velha de pele cinza tisnada em partes e com verrugas no queixo e nariz. “Ande com cuidado, rapaz” advertiu o velho com um sorriso que parecia um corte de melancia, vai que tua Iara também seja. “Sabem o que fazem quando suspeitam que seu marido é infiel?, enterram sua cueca no jardim, e nunca mais vai sair de casa.” Luiz soltou uma gargalhada que parecia uma taquara rachando. Acabou sua caipirinha. No fundo estava inquieto com aquela conversa. Como se tivesse deixado o gaz aberto sem fogo no queimador, e aquele velho cheirava mercaptana.
Uma noite de lua cheia, estavam jantando, de repente, Neide lhe deu uma olhada, a queima roupa, suas pestanas se moviam como serpentes, então cravou: “Se um dia souber que me enganou, escondo sua cueca e nunca mais sairá de casa.” Luiz se enregelou ao ver como distorcia os lábios de modos a formar uma lemniscata.
Tudo aconteceu muito depressa, assim que farei o mesmo. Pouco depois, em 7 de setembro, houve a festa na empresa. Luiz estava bebaço, e foi com sua secretária a um sala deserta do seu escritório e lá foi infiel a sua esposa sobre uma fotocopiadora. Luiz voltou para casa sigiloso, como um ladrão de antigamente, esgueirando pelos muros, paredes,se assustando com a própria sombra, e tombou vestido ao lado de Neide, que parecia dormir profundamente. No meio da noite, Luiz se despertou, inquieto. Longe latia um cachorro e no silêncio da noite, aquele latido parecia um sino tinindo depois das badaladas, entrando nos ouvidos. Olhou para o lado, ninguém. “Se foi”, pensou confuso. Quando comprovou que Neide não estava em casa, supos que fora andando, pois não sabia dirigir. Deve ter ido para a Rodoviária, a alcanço de carro. Tentou sair de casa e não conseguiu. Tudo aconteceu tão de pressa que contarei do mesmo jeito. Cada vez que abria a porta não encontrava o jardim, senão que a sala de visitas que é de onde tentava sair. Tentou mais uma vez, abriu a porta, tudo estava escuro, foi apalpando a parede procurando o interruptor. Sem sucesso. Mas encontrou a televisão. Voltou para a sala, de onde acabava de sair e estava de costas para a porta da rua. Então correu para o guarda-roupa. Abriu uma gaveta. Faltava uma cueca. Compungido, Luiz suspirou: Justo a Boxer! .


lemniscata: o infinito, mais ou menos isso. uma cobra se engolindo pelo rabo, formando um oito na horizontal.

9 de dez. de 2015

Parede Meia.

Parede Meia.

“Puta que pariu, de novo, não!” - gritou Renato Anfrade, o gourmet, enquanto se servia uma dose de Armagnac (que sua sobrinha trouxe de Paris) com a segurança de quem houvera bebido Armagnac toda a vida, ou  como dizem os franceses 'avant la lettre', quer dizer, antes mesmo de sua existência, dele Armagnac. “É o Tide  e Odila... sempre cochichando, sussurrando, gemendo... até os ouço fazendo amor apaixonadamente toda a noite, com que energia, meu deus?” Renato se serviu outra dose e murmurou?

- Por que esta parede não está entre eles?

Conchas do Mar.

Conchas do Mar.


Da última vez que fui a praia trouxe uma concha enorme. Boto-a ao ouvido  sempre que estou com saudade da música das ondas sobre os recifes de corais, dos coqueiros bailando sob o sol, o ar quente, o sol, vou andando em direção das ondas, as ondas já me batem na cintura, um barco de pescadores, faz proa na minha direção. Estão todos armados? São piratas e me sequestram querem saber aonde escondi o tesouro, eu lhes aponto rumo norte. Parati.

O Povo Unido, Jamais será...

Um grupo de manifestantes percorre as redondezas do grande museu. Entram em formação de leque, mas não se demoram a formar um bolo compacto.
Depressa grita o líder. Os manifestantes agora estão em rigorosa fila indiana, alguns olham para as pessoas paradas nas calçadas, e gritam “Alienados”. Não ofendam os transeuntes, temos que chamá-los para o nosso lado. Agora gritam aos policiais.  Agora o grupo avança atropeladamente, como se estivessem sob o efeito de doses de Veronal ou barbiturato de dietilo. Uma massa em roupas coloridas, camisetas em cores biliosas, tantas as cores concordantes que há ali no meio. Um cachorro late furioso.
Vamos! Vamos! Não se percam em bobagens, grita o líder apressando a todos.
Um dos manifestantes explode:
'NOS TRATAM COMO REBANHO!'
nesse momento, já cai o sol e um garoto da calçada faz seu raio laser percorrer sua camisa biliosa.


8 de dez. de 2015

Beber o Morto.


Beber o Morto.

O atento gourmet Renato Anfrade, também sabe reconhecer uma língua estrangeira, aprendeu a imitar sueco com o cozinheiro sueco do Muppet, capta o ruído de folhas e galhos cortados, um golpe seco de picareta golpeando a terra e vozes. Renato reconhece o idioma. São caipiras, sem dúvida. Da janela vê a dois homens escavando em frente sua casa. Um é Tide, o sr. Aristide Spatafiori o outro Totonho, Antonio Menesguto. Sai ao jardim, ainda em seu roupão azul, e os saúda. “Dia!” E os homens agitam os ombros como se despertassem de um sonho, estão contentes ao ouvir o tratamento correto, mesmo de um gourmet. Renato prossegue em caipira “ Qui co cês tão cavucano? Uma piscina?”. Os cavucadores sorriem, procuram uma resposta. “Num se aperrei não, sô, é uma surpresa”, disse Tide separando com a enxada um terrão. “Ô, bitelo” e dá uma piscadela cúmplice ao gourmet Anfrade e este pensa: “São simpáticos”. Renato entra em casa. Faz um calor desgraçado, o sol inclemente. Renato se compadece, o suor e a terra se misturaram e estão enlameados. Abre a geladeira e comprova que tem umas cervejas geladas.
Uma hora mais tarde, Renato supõe que os caipiras terminaram o trabalho, já não ouve a picareta. Sai a janela e vê que a pá e a picareta estão deitadas e eles alçam os braços para trás para os desentumecer, enquanto contemplam o buraco. Renato vem até a porta e os convida a tomar umas cervejas. Aceitam encantados, quando entram o cheiro a suor e terra removida se tornam sólidos. Tide e Renato já se conhecem de outra jornada, aquele apresenta Totonho. Conversam animadamente, com as garrafas na mão, Totonho saca uma garrafinha de pinga da mochila, oferece aos parceiros, Renato declina, então Totonho a toma a moda caipira, sem botar o beiço na boca da garrafa e a passa a Tide. Agora Renato está de costas para Tide, que lhe toma a medida com uma trena. “Intão vamu gente!” disse Tide, apressando o gole de cachaça.
Saem ao jardim e se dirigem ao buraco. Totonho olha com curiosidade quase infantil para o gourmet.
“ Di verdadi que o sinhô não sabia qui tava morto?”
Renato medita um momento e sorri com suavidade. “ Na minha idade já se começa a se esquecer de algumas coisas”.... responde com um pouco de ironia, e se acomoda no buraco.
Tide enche a pá e faz um movimento pendular, um balanço, e de cima faz a terra cair: plaft! Totonho e Tide terminam de dar sepultura ao gourmet. Se despedem à moda caipira, tomam um trago de cachaça a sua saúde, e derramam um gole sobre a tumba e fazem uma breve pregaria. Foi assim e nesta ordem.



Ernesto Cabeza de Vaca. III. O Primata.

A moça teve o desplante de sumir e plantar Ernesto numa tremenda depressão. A tarde mal começava, ou começava justo com o rumiar seus obscuros pensamentos misturados com saliva, coisa que se tornou alucinógena..Cabeza de Vaca se dá conta que não está numa depressão, como pensou, e sim entre duas ondas. Já havia mergulhado duas vezes sem êxito na busca à sereia, uma vez regressado do mergulho, mais saliva fazia a mastigação do fracasso. À suas costas, na crista de uma onda, o macaco o escutava escorrer e discorrer ignorâncias sobre seu amor pela moça, meia banana descascada com as cascas caídas, um psicanalista. “ Por que empenhei minha palavra?” era o lamento de Cabeza, em voz alta. A palavra – como parecia saber o primata, a julgar pelo sorriso de deleite que se desenhou em seu rosto – era toda a possessão material que restava a Ernesto, depois de haver vendido a palheta da viola de doze cordas. “ Como farei para conjurar o frio neste trópico e que a sereia me queira? - Porra meo, este é um problema seu, deixe... acreditou ouvir Ernesto uma voz clara e paulistana vinda... adonde? Ajeitou a postura, procurou o dono da voz lacânica.de frase inumana. No entanto, ali, de humanos, capazes de tanta crueldade, só havia um.. Eu? O animal, observava o gif do Travolta desde cima com um sorriso, consciente, e a Ernesto pareceu, mesmo, feliz, de ser ele, o macaco, quem se sentia menos macaco.  

4 de dez. de 2015

Aécio e a Oposição.

Aécio e a Oposição.
Franqueou a fila o lugar tenente Carlos Sampaio, um sujeito rejeitado por Campinas e que teve que sair comprando votos em outras freguesias. Apoiados por todos os grande meios de comunicação. Contemple-se  as raras e fantásticas exceções. Cunha o esteio. Sua maestria? A chantagem.  Deram voz a Bolsonaro. A Malafaia.  Um liquidificador, que propunha o suco da libertação das garras Bolivarianas, o sono dos puros, o canapé para os meritórios, santos, impolutos e Justiceiros. Queimaram autóctones. Violaram jovens. Linchavam negros, por marginais, tudo narrado ao vivo por uma nigromante, num espetáculo de fazer medo a Goebbels. Até o craque Neto, a ignorância esculpida em carrara bandeirante, bradou. Um prato colosso dos colossos, uma vitela dentro de uma vaca, que carregava um porco, recheado com um cordeiro, que por sua vez levava dentro o próprio filho ofertado de Abraão, na grelha dos médias. Cartunistas sem imaginação e traço, polemistas a gritarem: vai pra Cuba!
E tanto gritaram que a violência que o tal Estado locomotiva pratica, não encontra paralelo em sequer um Estado do mundo atual, que não seja o Islâmico e a Venezuela.
E eles se calam. Não se tornaram uns bostas, pelas bostas petistas, já eram bostas antes, perfumadas, bostas em frascos de Channel 5!
Houve um tempo que se temiam os lobos em pele de cordeiro, mas o fedor é pior do que as garras e os dentes do lobo, espalha!

Falando de Privatizações e debelar inflação.

Falando de Privatizações e debelar inflação. Talvez para se poder discutir toda essa questão, devêssemos primeiro de tudo entender o que é um banco privado  no mundo e um banco no Brasil ( desde o Brasil Império). Pois todos eles serviram ao enriquecimento, particular, dependentes do Estado, isso no Brasil, enquanto lá fora, foram instrumento de financiamento de iniciativas privadas, vide railways estadunidenses. Só pra lembrar que barão de Mauá foi à Inglaterra buscar dinheiro, ainda que sabotado pela “intelligentsia” tupiniquins. Daí que se funda a necessidade de bancos estatais fortes. Seja, o Estado ( bancos) são fortes porque é fraca a iniciativa privada, dependente, tanto quanto os mamelucos desempregados.
 Foram Fundamentais os BB, Caixas, BNDE’s etc. Sem eles os bancos privados mal conseguem financiar a safra de grãos do país. Mamam no estado, apoiados mediaticamente pela grande mídia ( via boletins econômicos e o superficialismo das análises borsateis, vide Miriam Leitão e muitos outros) e sujeitos ( aparentemente livres) que abdicaram de qualquer crítica ao sistema Financeiro nacional e ao sistema de distribuição de rendas no país. Em geral por terem uma renda proporcionalmente grande caseiramente, mais pelo ridículo das mais baixas que pela grandeza em si das próprias ( Usamericano explicam isso em vários artiguetes despretensiosos) são os ricos do bairro pobre. Voltemos ao Tema.
O país flanava numa inflação ícara, no momento que o mundo ( primeiro mundo) queria levar a cabo (carry out) o processo de globalização. Não dava para fazer isso com as inflações disseminadas pelo mundo ( vide na época Israel, Colômbia etc. A inflação foi banida desses países num passe de mágica, derretendo a cera de suas asas, pela famosa URV e toda a pressão externa ( via  Thatcher). Novamente quem paga o ajuste? BNDE’s. PROER.
Depois todo o setor de telecomunicações e informações baseadas em bits começava a experimentar uma nova tecnologia, fundada em muito poucas infraestruturas, e em muita tecnologia ( dinheiraço). Mesmo a TELESP, CETERP, etc podiam carry out este processo, bastava injetar money. Aonde estava o money? No BNDE’s. O que fez o governo neoliberal de Fernando, optou por vender. Vender a quem? A telecom Portugal. A Telefónica de Espanha e a italiana! Todas estatais. E com que dinheiro? Com o dinheiro do BNDE’s.  O mesmo se deu nas siderúrgicas. Aonde estou errado? tecnicamente, of course! Veja que não falo em corrupção, a não ser da inteligência.

P.S. As estatais extrangeiras acima citadas, estavam no mesmo patamar tecnológico que a TELESP, quiçá inferior. O diferente é que na Itália a ficha se chamava Jeton!

3 de dez. de 2015

Escola Contra o Mundo de Alckmin.

F me envia  uma fábula, via email,   e esse seu generoso gesto me anima a ser indiscreto. E contar uma piada. “ A Escola contra o Mundo” ou será “ O Estudantado contra o Educador”? F comenta ou recorda de forma ímpia o que se pode chamar de “Pedagogia do governador Alckmin ”. Paradoxo, grita alguém desde o fundo do anfiteatro, isso é um oximoro. Com todo respeito que devo consagrar ao governador, ele é muito cabeção, que testa! Imagino o Secretário da Educação preparando a visita do governador a alguma cidade do interior, aonde passará a noite,   fora do seu palácio, deva dormir em algum hotel simples, despreparado para recebê-lo, deve, o secretário, pedir para que se encham as paredes de cabeças empalhadas de professores e alunos, para  quando chegue o governador, o secretário dirá: Tudo o que vês, apontado os ornamentos, saiu, Excelência, de nossas cabeças.    

Anacársis era um Cínico.

Anacársis.


Gosto de Diógenes, por punheteiro. Mas houveram outros bárbaros, como Anacársis. Filosofo cita. Como Diógenes, franco, sincero e provavelmente o precursor dos cínicos. Incerta feita, disse a Solon, não foi a Plutarco: estou admirado com a Grécia, aqui os filósofos falam e os tolos são quem decidem. Dizem que Anacársis disse que as

Leis São Semelhantes as Teias de Aranha, nas Quais os Animais Pequenos e Fracos Ficam Presos, e os Grandes as Rompem e Escapam. .


Ernesto Cabeza de Vaca. II. Do Ataque a Nhanderequei.Cabeza de Vaca Chama Nhanderequei de NabiAbiChedi.

Ernesto Cabeza de Vaca.

Nem deus nem rei, nem preguiça nem raposa. Cabeza cometeu essa mesma tarde a ruminada diatribe contra Nhanderequei. Começou propalando aos ventos que Nhanderequei era estéril e fora feito de fungos, o culpou de os cocos seguirem a lei gravitacional newtoniana e mesmo assim não racharem depois de sua queda livre até a areia, depois chamou de Nhandiroba. Nhambiquara, Nhambu, Nhambi e de Nabiabichedi. Então, por fim, atirou em seu penacho um grão de areia, aonde estava de férias um virus de Zica. Aqui estão as afrontas em versos,
Oh, Nhambiquara, o que anda se arrastando pela terra
a quem todo mundo pisa e a mandioca enterra
se queres que te respeite como um deus
faça me o favor,
acabe com esse seu mal humor
e não vista este pretinho básico
e tenha seus quinze minutos nesta vida vã,
bote neve neste céu
acabe com esse calor
do Leme a Piatã.
Cabeza de Vaca, olhava seu anchietismo arenoso e se orgulhava da obra acabada e lembrava que o por fazer é só com deus. Assim falava Cabeza de Vaca.
Caia a noite sem fazer barulho como a pena de Galileu em Pisa, Ernesto só queria algo pra comer e dormir, mas seus planos fracassavam, aparecia um macaco e lhe roubava a banana, e o calor aumentava como a pica nas manhãs por urina e Cabeza de Vaca voltava a mergulhar. Exatamente num desses mergulhos e voltando à areia fazendo jacaré, pelado para provar que os mexilhões eram ou não afrodisíacos, Cabeza viu surgir de entre as ondas a garota do escafandro, ficou nervoso e derrubou um castelo de areia. 
 - Calor ainda muito faz – disse a sereia. Ernesto não soube quê. Pareciam uma acusação, mas para um meteorologista, egresso do Instituto de Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de Paraguay, falar do tempo de modo superficial era difícil, como quem sabe que chove, sem saber porquê. Alem de que, estava preocupado, e todos os seus esforços se consagravam a rarefazer com as mãos a visão do membro atacado em honras a Abraão. No entanto a sereia moça se acalorava só de pensar em usar aquilo que ele escondia como fio dental, não entendia o significado da palavra pudor.- - Mãos sem nada bater as?
- É que estou na barreira, e se bater na mão é pênalti, mentiu Cabeza de Vaca, e seus olhos varavam o corpo dela, de tanto fingir não ver sua silhueta. E apesar de todas estas precauções, a coisa ameaçava escorregar entre os dedos. Houve um silêncio de mais ou menos umas três horas, como se fosse feito por deus. Cara a cara permaneceram sem se falarem palavra. Faltava mesmo era um baralho, fazer uma canastra real para matar o tempo. Por sorte a natureza não perde a hora e os raios de sol irromperam no levante baiano. Assim, Ernesto tinha um novo tema para a conversa. E como já aprendia o idioma assinalou: 
- Amanhece que pouco a viu pouco? E apontava para o levante sem mexer as mãos. A garota recuou espevitada e desandou uns passos buscando profundidade. Da parte de Cabeza de Vaca, sabemos que andava submergido num oceano de dúvidas, cavilações e desconcerto, mas a julgar pela aparência, estava com as bolas do jogo nas mãos.   

2 de dez. de 2015

Ernesto Cabeza de Vaca.

Ernesto Cabeza de Vaca.

Nascido na paraguaia Presidente Franco em meio a última era medieval brasileira, no último dia do governo Geisel, 14 de maro de 1979, no seio de uma família Caingangue, Ernesto Cabeza de Vaca ouvia desde a infância o chamado a se destribalizar e se misturar com outras tribos do continente, ainda que sua vocação de meteorologista criasse inimizades desde pequeno com muitos paraguaios da região. Caçula de sete irmãos, Ernesto foi o único a abrir caminho para o Instituto de Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de Paraguay a base de machado e facão. Sua companheira de banco escolar, Mercedez Sosa de Alpaca, imortalizou Ernesto ao descrevê-lo como um “sutil gatuno”. Ernesto voltou para casa com o diploma de Bacharel em Meteorologia e uma confiança cega no céu que se abria a seus olhos, mas sua mãe, que sempre teve os pés na terra, o aconselhou que pegasse o canudo e o desse um uso mais produtivo. Com vinte anos completados na véspera, e sem mais bens materiais que uma palheta para viola de doze cordas, nosso herói se lança aos caminhos, na esperança de construir um honrado porvir, mas muito antes foi obrigado a se abraçar à vida bandida, para levar algo mais que vento à boca. Para se justificar, evocava as palavras de sua mãe: “Vou apoiar Ernesto sempre, ainda que em seu caminho delinqüa”. Menos condescendente foi a policia do Mato Grosso, que a grosso modo o capturou, e mais a grosso modo ainda o sentenciou a quatro anos de assaltos forçados a uma cadeia de supermercados, sob pena de morte. Uma vez restituído o céu de brigadeiro de sua existência, Ernesto alçou velas e apontou proa e velas ao vento para o nordeste. Ao mesmo tempo que mal se aclimatava ao calor da Bahia, se dava conta que a partir de algum ponto de sua viagem havia sido privado do outono, do inverno e da primavera. Mas mais que o sol, o deslumbravam as meninas em flor que passeavam pela praia, todas jovens e exuberantes, afinal, se não completaram qualquer primavera, nem em abril ou outubro, meteorologisava. Uma tarde de sol como qualquer outra, dormia seu anjo da guarda, e Ernesto viu sair do mar, estridente como uma sereia, uma mulher escultural com ar de Juliana Paes. Foi até aonde chegavam as últimas espumas da onda quebrada e balbuciou aproximadamente estas palavras ao ouvido da moça: “Desculpe, não faz muito calor para escafandro?” no que ela respondia “faz mal não, e prosseguia abaixo lá frio muito faz. Estivesse acima aqui assim oxalá. Como não era poliglota, Ernesto entendeu lhufas, mas logo em seguida, compreendeu que a moça, em versos antigos queria dizer que menos lhe incomodava o frio da água do mar que o calor ali da areia. Cabeza de Vaca anotou o suplicio da moça e jurou não economizar esforços meteorológicos para a aliviar daquele calvário, te prometo, que antes do término dos doze meses desse verão, Você vai conhecer o que é tiritar de frio numa noite de inverno, mentalmente a espetava.
Naquela noite, atordoado pelo calor da lua cheia e afetado por um inexplicável tersol. Cabeza de Vaca não conseguia descolar as pálpebras de um olho, enquanto sonhava que esquiava com aquela mulher por dunas nevadas, ela vestia um anoraque, e a profusão de roupas o exitavam, a ponto de ser atacado por um caranguejo, que com sua pinça, por muito pouco não o circuncidava, pela glória de Abraão, despertou aos berros “ um caranguejo rabínico” “ um caranguejo rabínico”! Como já ia o sol alto, começou a urdir os planos meteorológicos para fazer tremer de frio o coração da sereia vieirense.
Porque o calor dissuade o pensamento, Cabeza se passou todo o dia elucubrando saches para um aromatizador de limão sicilianos, já que cravo e canela eram o cheiro da Bahia. Ali pelo meio da tarde do dia seguinte lhe ocorria a idéia, acreditou ter encontrado a mosca branca. Ofenderia o Nhanderequei e este descarregaria sua fúria sobre a Bahia na forma de tormentas de neve.


1 de dez. de 2015

O Diabo, Entediado, Balança o Rabo, pra Cima e pra Baixo Fazendo Anotações, sobre Nietzsche.


O gato quando se sente bem com a presença humana, abana o rabo lentamente, para um lado e para o outro; o cachorro é opostamente rápido, é lá e cá, lá e cá. Já o Diabo... ah! o Diabo, no seu tédio, faz anotações sobre os animais, em particular as vacas, em Nietzsche.
... para praticar deste modo a leitura, como arte, se necessita antes de mais nada uma coisa que precisamente hoje em dia a mais esquecida... uma coisa para a se há de ser quase vaca, e em todo caso, no homem moderno: ruminar...”
F. Nietzsche, A genealogia da moral.



Plebe arriba, plebe abaixo! Que significam hoje ''os pobres'' e '' os ricos''? Esqueci essa diferença , e por isso fugi para longe, cada vez mais longe, até que cheguei perto destas vacas.

Cobiça, lascívia, inveja, soberba, rancor amargo, orgulho plebeu: tudo isso me foi atirado na cara. Não é verdade, já que os pobres são bem-aventurados. O reino dos céus está hoje entre as vacas.



    Colocamos nossa cadeira bem no meio – isso diz seu sorriso satisfeito – e a igual distância dos gladiadores agonizantes e dos porcos divertidos (...) Mas isso é... mediocridade, ainda que se diga moderação” ( essa é do caralho, que é um animal com o corpo preso a um bosta).


Assim falou Zaratustra.

Ão e sua Arcana Sabedoria..

Se minha geração foi um animal, foi o burro, e fui um burro empacador, assim que soube o que é apanhar como burro empacador, apanhei mais que um burro empacador. Recordo muito bem uma bordoada que levei no lombo do Humberto T., que quase me deixou socrático como uma vaca, Humberto, em si um sujeito asnal, tinha o sobrenome de ilustre radialista ribeirão-pretano chamado Wilson, que passou a vida, a zurrar, a dar porretada a torto e a direito, nos políticos da cidade, sendo um deles, não me lembro que tenha se auto-flagelado. Sendo isso uma outra história, digo que todos sabem que tenho um gato, se não sabem, que saibam agora, e se chama Ão. Que domina imperativamente em minha afetividade felina. Custaria muito viver com dois. Uma olhada gatuna carrega suficiente enigma para mim. Com frequência Ão vem se sentar a meu lado, sobre esta secretária, donde escrevo. As vezes, decide se tombar diretamente sobre o teclado do computador e se irrita de verdade se o aparto, com o quê, se o que tenho a dizer é urgente, como tudo que que tenho a dizer é urgente, fico invocado, como diziam os bonfinenses que foram burros de carga como eu, dou uma bronca, da qual não saio sempre ileso. Mais de uma vez, me perco em seus olhos, com a suspeita de que insinuam alguma sabedoria arcana, que me é completamente indecifrável, mas creio que tem a ver com o passar do tempo.
Suspeito que quem escreveu o prólogo de um Sêneca, que suspeito não ter lido, senão que houvesse ao menos uma vez decifrado a mirada de Ão, mas vejam o que escreve quem escreve: “Indubitavelmente, o descobrimento do tempo não pode ser verificado mais que em um momento negativo dentro da própria vida, no qual estávamos enchendo alguma coisa e a perdemos: o tempo é a substância da nossa vida e por isso está a ela subjugado, como fundo permanente de tudo o que vivemos; descobrir esse fundo tem algo de queda, que só acontece em estado de angustia, desengano e vazio. Descobrir o tempo é descobrir o engano da vida “ .

Leio o texto em voz alta para Ão, que se lambe parcimoniosamente, e deixando de vez em quando que me atinja um olhar sesgo.