12 de out. de 2015

Do Amor e do Luto. O Fim Nasce Com o Começo.

Como em cada vez que me apaixonava, sentia naquele exato instante, o gosto do temor de perde-la, da angustia, o sabor do luto que nascia exuberante dentro do encantamento. Voltemos para a Canastra, disse, já afogado nas lágrimas e moco que escorreriam e já se formavam em suas fábricas em mim. Vá para o hotel que já venho, tenho que passar no bar e comprar um cigarro. Liguei a televisão e a estranhei, olhava pra mim e tentava me encorajar. Desliguei. Deitei olhando o teto com seu ventilador parado. Peguei um livro, já não sei a quanto tempo o tenho aberto diante dos olhos. O silencio do hotel expõe suas entranhas ruidosas, uma descarga, um salto perfurando o teto que olho, e o salto o vara e se crava no meu peito, a lâmpada idiota que ascende e apaga e não traz ninguém, noticia, nunca tinha pensado que os moveis pudessem ser solitários, mas estes são, um criado de cabeceira vazio, abro a janela e a avenida é uma foto, aonde não corre o tempo, nenhuma luz pisca, não pode haver movimento, nada mais passará por ela, e acordo sentindo o frio de um velório. O bar se fecha, saio pela avenida rumo ao hotel, posso ver minha janela aberta, para que entrasse a fresca da madrugada, sem ter que ligar o barulhento ventilador, pego um livro, adormeço e desperto com o gosto de uma coroa de flores de velório, é o fim da viagem. Fazer a barba, maquinalmente, juntar os cacos e comprar uma coroa de flores.    

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