Como em cada vez que
me apaixonava, sentia naquele exato instante, o gosto do temor de
perde-la, da angustia, o sabor do luto que nascia exuberante dentro
do encantamento. Voltemos para a Canastra, disse, já afogado
nas lágrimas e moco que escorreriam e já se formavam
em suas fábricas em mim. Vá para o hotel que já
venho, tenho que passar no bar e comprar um cigarro. Liguei a
televisão e a estranhei, olhava pra mim e tentava me
encorajar. Desliguei. Deitei olhando o teto com seu ventilador
parado. Peguei um livro, já não sei a quanto tempo o
tenho aberto diante dos olhos. O silencio do hotel expõe suas
entranhas ruidosas, uma descarga, um salto perfurando o teto que
olho, e o salto o vara e se crava no meu peito, a lâmpada
idiota que ascende e apaga e não traz ninguém, noticia,
nunca tinha pensado que os moveis pudessem ser solitários,
mas estes são, um criado de cabeceira vazio, abro a janela e
a avenida é uma foto, aonde não corre o tempo, nenhuma
luz pisca, não pode haver movimento, nada mais passará
por ela, e acordo sentindo o frio de um velório. O bar se
fecha, saio pela avenida rumo ao hotel, posso ver minha janela
aberta, para que entrasse a fresca da madrugada, sem ter que ligar o
barulhento ventilador, pego um livro, adormeço e desperto com
o gosto de uma coroa de flores de velório, é o fim da
viagem. Fazer a barba, maquinalmente, juntar os cacos e comprar uma
coroa de flores.
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