7 de nov. de 2013

Presenças ausentes...

As presenças ausentes...


Na manhã de finados, fui dar umas voltas pelo cemitério de Bonfim, já tem muita gente da família por lá, aqui presenças ausentes. Dei de cara com Joaquim, o Joca, o Joca e a Dirce. Fazia tempo que não os via. Anos. Dezenas deles. Com o Joca fazíamos uma turma desde pequenos, nadávamos no bosteiro, ribeirão Preto. Joca era muito engraçado, nos fazia cagar de rir. Uma vez propôs que mergulhássemos por baixo do toronço que passava boiando. Fui por ai, voltei, mas mesmo agora não coincidimos, quase nunca, frequento pouco a vila, sou mesmo um desertor. Fazia um tempo confortável, e naquele momento doce nos pusemos ao corrente, de nossas vidas e a dos amigos, velhos amigos. Recentemente morreu um da turma, tem uns dois que já são avós. Eles já casaram uma filha, que gesta um neto. Como pode ser? E ele responde que ainda ontem a ensinava a conduzir.
Nos aproximamos perigosamente aos sessenta disse. Ele não os aparenta, cabeleira cheia, magro e forte, como quando jogava futebol, um bom volante, sabia passar, fazer lançamentos para o Sérgio Dias com sua velocidade infernal, que também já se foi há pouco, passamos por sua nova morada, cheia de flores. Disse-me que jogou até pouco tempo atrás, mas então na defesa, andando pelo caminho das pedras, usando mais o braço e ombro que as pernas. Mas não se vê estes cinquenta e tantos nele, ali com seu jeans justo, afivelado à texana, um raiban de aviador. Desde uns dez metros, lhe daria trinta e poucos. Ela, pouco mais ou menos, digamos assim. Acho que é o amor que os mantém jovens. Já vão juntos quarenta e dois anos, onze de namoro e noivado e trinta e um de casados, disse a Dirce. Naqueles tempos de nossas coincidências, andavam grudados.
Relembramos alguns momentos compartidos. A viagem à Bahia, de carona, pra economizar os trocados. Vários dias, dormindo em cabines de caminhão, ou debaixo deles. Uma aventura que nos marcou e poderíamos ficar ali, recordando, com um detalhismo tal, se não houvesse algum cutucão da Dirce, eu não vi, mas certeza houve, íamos nos demorar os trinta e poucos dias que a viagem durara.
Joca confessou que sente muita saudade daquela época, algumas noites começa a olhar as fotos antigas, que guarda numa caixa de sapato, da sapataria do Wande
r, mas a Dirce não o deixa publicar no Facebook, e ao repassá-las se põe melancólico e diz que os olhos se umedecem.
Bem pensado, é uma sorte chegar a tanto, disse. Não é o melhor, ficar velho, porém tampouco tão ruim assim, digo. Concluímos que aquilo que fizemos, já não o fará ninguém. E apesar de saber que não se repetirá, sabemos também, que sempre podemos revivê-los na memória. Nos despedimos. Vamos nos vendo... E os observo como andam entre os túmulos, depois pela descida principal, sempre de mãos dadas.    

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