As presenças
ausentes...

Nos aproximamos
perigosamente aos sessenta disse. Ele não os aparenta, cabeleira
cheia, magro e forte, como quando jogava futebol, um bom volante,
sabia passar, fazer lançamentos para o Sérgio Dias com sua
velocidade infernal, que também já se foi há pouco, passamos por
sua nova morada, cheia de flores. Disse-me que jogou até pouco tempo
atrás, mas então na defesa, andando pelo caminho das pedras, usando
mais o braço e ombro que as pernas. Mas não se vê estes cinquenta
e tantos nele, ali com seu jeans justo, afivelado à texana, um
raiban de aviador. Desde uns dez metros, lhe daria trinta e poucos.
Ela, pouco mais ou menos, digamos assim. Acho que é o amor que os
mantém jovens. Já vão juntos quarenta e dois anos, onze de namoro
e noivado e trinta e um de casados, disse a Dirce. Naqueles tempos de
nossas coincidências, andavam grudados.
Relembramos alguns
momentos compartidos. A viagem à Bahia, de carona, pra economizar os
trocados. Vários dias, dormindo em cabines de caminhão, ou debaixo
deles. Uma aventura que nos marcou e poderíamos ficar ali,
recordando, com um detalhismo tal, se não houvesse algum cutucão da
Dirce, eu não vi, mas certeza houve, íamos nos demorar os trinta e
poucos dias que a viagem durara.
Joca confessou que
sente muita saudade daquela época, algumas noites começa a olhar
as fotos antigas, que guarda numa caixa de sapato, da sapataria do
Wande
r, mas a Dirce não o deixa publicar no Facebook, e ao
repassá-las se põe melancólico e diz que os olhos se umedecem.
Bem pensado, é uma
sorte chegar a tanto, disse. Não é o melhor, ficar velho, porém
tampouco tão ruim assim, digo. Concluímos que aquilo que fizemos,
já não o fará ninguém. E apesar de saber que não se repetirá,
sabemos também, que sempre podemos revivê-los na memória. Nos
despedimos. Vamos nos vendo... E os observo como andam entre os
túmulos, depois pela descida principal, sempre de mãos dadas.
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