Neo escravos.
A escravidão foi
abolida, legalmente há tempos, no entanto o trabalho por fazer
permaneceu. Alem de máquina, o escravo fazia o que se tinha que
fazer para que se concretizasse o mercantilismo, naturalmente um
sistema de ''produção'' de mercadorias em abundância controlada.
Sem máquinas ou quem faça o trabalho delas, não há mercantilismo,
volta-se, obrigatoriamente, alguns passos históricos. Assim que
ninguém queria fazer o trabalho que o escravo fazia, daí que se
penalizasse a preguiça, o ócio. Dai haver surgido o ''trabalho
dignifica'' o homem. O sistema tem o seus sábios e os percussores e
repercutentes dessas sabedorias. Inútil lutar contra essa coisa
posta. Tão inútil que os beatos do sistema liberal conceberam o
ócio criativo. Porque a preguiça, o ócio é a casa do demônio.
Quem é o demônio?
Ora, quem senão o outro, o ocioso, o preguiçoso. Porque o trabalho
é a melhor polícia, para vigiar e não permitir que de fato o outro
se forme, se estabeleça outro, livre que não seja uma engrenagem da
massa maquinal produtiva. Porque o trabalho é quem submete horas a
fio, toda uma vida. Aos tempos livres de trabalho se permite sequer
serem chamados ócio, tempo de preguiça. Não é aceito. E tanto não
é, que esse tempo livre é conduzido, tutelado para a imensa maioria
das pessoas. A coisa chega a tal desenvolvimento, que num campo de
futebol, onde as violências são representadas, a autonomia já rarefeita do sujeito que se torna espectador, e como tal incapaz de julgar, imaginar, vem mais se rarefazendo, como se fosse possível, a tal ponto que
já existem os telões nos estádios, para tirar a dúvida, seja um
lance que já era passado, volta em forma de replay, para que sequer
a imagem do lance se retenha, e o espectador saia do estádio sem
lembranças, e vá para casa rever o revisto. Isso é tutela. No
lugar de deus, isso. Tutelado por quê?
Porque não se pense.
Porque não se lhe inculque o demônio. Porque não se concretize
efetivamente o indivíduo que tanto alardeia o liberal. E cada
espectador tenha então a jogada mastigada. É no ócio, na
ruminação sem direção ou sentido que se forma o outro, em sua
plenitude de individualidade. Ora, porque o ócio é antípoda do
trabalho alienado, porque é certo que o trabalho no mercantilismo é
o trabalho de maquinaria, que substituiu a escravidão, e não me
venham dizer que as máquinas pensam, quem pensa, que pensa que
nasceu para determinado dom ou trabalho, nasceu ou foi transformado
em máquina, e já não sabe, e sequer sabe que não sabe. Tanto é
assim, que nossa ''atividade'' ''ociosa'' no facebook está longe de
ser um ''far niente'' antípoda do trabalho, cada clique faz a NASDAQ
subir um pontinho. Continuamos a trabalhar de graça.
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