5 de set. de 2011

Das manhãs de setembro: 11.


  

Fui eu quem se fechou no muro
E se guardou lá fora
Fui eu quem num esforço
Se guardou na indiferença
Fui eu que numa tarde
Se fez tarde de tristezas
Fui eu que consegui
Ficar e ir embora...
E fui esquecida
Fui eu!
Fui eu que em noite fria
Se sentia bem
E na solidão
Sem ter ninguém
Fui eu!
Fui eu que em primavera
Só não viu as flores
E o sol
Nas Manhãs de Setembro... Vanusa.




Vivian sempre acordava mais cedo, para ficar zanzando por casa e em pelo pelo quintal. Vestia-se de Eva. Ligava o radio na radio que só tocava as mais tocadas. Naquela manhã, que ainda não era a manhã não esperada, não foi diferente. Eu teimava em dormir e metia o travesseiro nos ouvidos, sempre voltava a dormir. Naquela manhã mesma não foi diferente. Diferente foi o fato de Vivian vir me despertar, ela jamais me despertava, assim: Ô. Acorda Ô, ela me chamou pelo nome tão-só uma vez. E não foi naquela manhã que me despertou. Nua aos pés da cama, mordendo uma maçã, cheguei a me excitar com a visão do paraíso. Tive vontade de perguntar de que árvore era aquele pomo divino. Na verdade eu perguntei, mas ela não entendeu a piada. Então Vivian me disse: Ô, Mataram o Toninho do PT! Não! Vivian jamais diria dessa maneira. Ela disse foi: Ô, Mataram o Prefeito. Eu é que sabia que o prefeito era o Toninho do PT. E diante de minha incredulidade, me disse que estava passando na TV. Corri à TV. E lá estava a EPTV Campinas repercutindo o acontecido naquela madrugada, quando o Prefeito de Campinas fora alvejado por não se sabe, até os dias de hoje, por quem. Ocorre que o primeiro avião já havia encetado a uma das torres do WTC, e a repercussão da morte do prefeito foi interrompida para mostrar o que havia ocorrido em NY, e quando pensava que fosse um replay, era não, era outro avião varando a outra torre como uma frecha. Anos a ver cinema, anos a ver cenas de estética e técnica duvidosa. Ali estava a perfeição da realidade. A crueza da realidade, sem rococós, banal, a mais pura simplicidade, nem mais ou menos luzes. Concebi ali a crítica do que antes era só o meu tédio para aquele tipo de cinema, que sempre me tanto fez mimética kinéctica, cinética. Não houve tempo para tanta especulação, e as torres vieram abaixo. Especulavam supostos outros ataques, que de fato houveram, mas não pude vê-los ao vivo, eu tinha que levar Viviam, a “pegava” no Largo do Pará, mas com a tratativa de portá-la a sua casa na manhã seguinte, e aquela era a manhã seguinte.   

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